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MANDADO DE SEGURANÇA Nº 320093-65.2012.8.09.0000 (201293200930) COMARCA DE GOIÂNIA IMPETRANTE : BISMARCK BERNARDO E SÁ IMPETRADO : SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE GOIÁS RELATOR : DES. FRANCISCO VILDON JOSÉ VALENTE R E L A T Ó R I O E V O T O Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por BISMARCK BERNARDO E SÁ, contra ato coator atribuído ao SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE GOIÁS, consubstanciado na negativa de isenção do ICMS e do IPVA para a aquisição de veículo automotor. O Impetrante, inicialmente, informa ser portador do mal de Parkinson (doença degenerativa cerebral) e que possui 73 (setenta e três) anos de idade. Assevera que em razão da mencionada mazela, não detém capacidade para conduzir um veículo autonomamente, necessitando, desta feita, do auxílio de terceira pessoa para os fins de mister. 1

Diante de tais considerações, afirma que vem requerendo perante as Fazendas Públicas federal e estadual a isenção de tributos para aquisição de veículo automotor. A seguir, obtempera que conseguiu junto à Delegacia da Receita Federal a liberação do recolhimento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Todavia, o Fisco estadual não lhe deferiu a isenção do IPVA e ICMS, nos termos entabulados no despacho administrativo anexado a f. 27. Entrementes, advoga, em suma, que impedir as isenções fiscais postuladas na peça de ingresso é desrespeitar o princípio constitucional da isonomia. Após transcrever textos de lei e arestos jurisprudenciais sobre o tema, requer o deferimento de liminar a fim de que seja concedida isenção do ICMS e do IPVA para a aquisição de veículos novos. gratuita em seu favor. Requer, ainda, sejam concedidos os benefícios da justiça Ao final, pugna pela concessão da segurança em definitivo, confirmando-se o teor da liminar pleiteada. Instruem a inicial os documentos de fls. 11/30. pleiteada in limine. Às fls. 32/36, proferi decisão pela qual deferi a medida O ESTADO DE GOIÁS apresenta contestação às fls. 44/50, ocasião em que requer a denegação da segurança, diante da ausência de ato abusivo ou ilegal, bem como o prequestionamento de todas as 2

questões federais e constitucionais suscitadas. O prazo para o Impetrado prestar as informações solicitadas transcorreu em branco (fl. 51). A Procuradoria de Justiça, por intermédio do Dr. José Carlos Mendonça, manifesta-se pela concessão da segurança (fls. 53/58). É o relatório. Passo ao voto. De início, cumpre salientar que, diante das particularidades que envolvem questões como a tratada nestes autos, devem ser rigorosamente apreciados os requisitos necessários ao deferimento da isenção pretendida. Isso porque não se pode ignorar o fato de que a dita benesse traz reflexos à arrecadação estadual o que, em última análise, influenciará, também, nos investimentos estatais dela decorrentes. Por tal razão, diante das inúmeras implicações e da relevância da matéria, deve ela ser apreciada e decidida de modo cauteloso, sendo, inclusive, imperativa a negativa de trâmite ao mandamus quando não instruído suficientemente de modo a deixar evidente a certeza e liquidez do direito postulado. Não obstante, creio que tal entendimento não deve ser aplicado às hipóteses em que a providência liminar já tenha sido deferida, e, inclusive, assegurada a aquisição do automóvel, sem a incidência dos tributos aqui discutidos, já que tal medida não me parece razoável, tampouco 3

proporcional. Ademais, há expressa previsão no instrumento regulamentador do benefício quanto à viabilidade de que sejam tomadas medidas administrativas, caso demonstrado, posteriormente, o desvio da finalidade que ensejou o deferimento da isenção. questão aqui delineada. Feitas tais considerações, passo à análise do mérito da Conforme visto, a pretensão deduzida no mandamus cingese em obter do Poder Público Estadual a isenção de IPVA e ICMS para aquisição de veículo automotor, diante da constante necessidade de locomoção do Impetrante para realização dos tratamentos condizentes com a debilidade da qual é portador. O pleito foi indeferido administrativamente perante a Secretaria da Fazenda ao argumento de que o Impetrante não apresentou o laudo médico acompanhado da portaria de designação da junta médica, fornecido pelo DETRAN/GO, nem a Carteira Nacional de Habilitação CNH, com a respectiva restrição para dirigir veículo adaptado. Ocorre, entretanto, que por se tratar de doença degenerativa cerebral, cujos efeitos refletem nos movimentos do Impetrante, a conclusão que se chega é a de que o veículo será conduzido por terceira pessoa, motivo pelo qual não subsistem razões para que se apresente a Carteira Nacional de Habilitação com restrição para que o Impetrante conduza veículo adaptado. 4

Ressalte, ainda, que, inobstante a regra do art. 111 do Código Tributário Nacional, a qual impõe a interpretação restritiva da legislação tributária no tocante às isenções, tenho que, para não ofender preceitos constitucionais, a referida legislação deve ser analisada de forma extensiva, a fim de se incluir o portador de deficiência que, em razão do maior grau de incapacidade, não tem condições para dirigir pessoalmente automóvel, precisando, pois, da ajuda de terceiros. Isso porque a aplicação meramente literal do ordenamento tributário em situações tais fere princípios como o da isonomia, da razoabilidade, da proporcionalidade e, ainda, da dignidade da pessoa humana. Certamente não parece ser este o intuito da lei, devendo ser ultimada uma interpretação que resguarde a inclusão social dos portadores de necessidades especiais, facilitando-lhes a aquisição de veículo para sua locomoção, ainda que conduzido por outra pessoa. Em sentido semelhante, aliás, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça quando do julgamento do Recurso Especial nº 523.971, ocasião em que o Ministro Franciulli Netto, Relator, consignou a impossibilidade de que a isenção seja negada ao portador de deficiência severa pelo simples fato de não poder este conduzir pessoalmente o automóvel, argumentando para tanto que, assim como decidiu a Corte de origem, "a pessoa portadora de deficiência física mais grave, e, portanto, mais merecedora da atenção estatal, estará alijada do favor fiscal, ao passo que será por ele contemplado o portador de menor deficiência física, o que, com a devida vênia, conduz à perplexidade, bem como não corresponde à mens legis, pois a lei isentou da incidência do IPI os veículos adquiridos pelos portadores de deficiência física, não para que eles pudessem dirigir veículo 5

adaptado, mas sim para facilitar sua aquisição, independentemente do fato de que o veículo viesse a ser conduzido pelo deficiente físico ou não". O julgado em questão restou assim ementado: RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA "A". MANDADO DE SEGURANÇA. IPI. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO POR PORTADORES DE DEFICIÊNCIA FÍSICA. ISENÇÃO. EXEGESE DO ARTIGO 1, IV, DA LEI N. 8.989/95. (...) A peculiaridade de que o veículo seja conduzido por terceira pessoa, que não o portador de deficiência física, não constitui óbice razoável ao gozo da isenção preconizada pela Lei n. 8.989/95, e, logicamente, não foi o intuito da lei. É de elementar inferência que a aprovação do mencionado ato normativo visa à inclusão social dos portadores de necessidades especiais, ou seja, facilitar-lhes a aquisição de veículo para sua locomoção (...). (STJ. 2ª Turma. Recurso Especial nº 523971/MG. Rel. Min. Franciulli Netto. DJ de 28/03/2005). Grifei Nestes termos, é de se concluir que a Legislação Fiscal em apreciação deve ser interpretada em consonância com as disposições da Lei nº 7.853/89, que, ao tutelar o interesse dos portadores de necessidades especiais, assegura-lhes o seguinte: Art. 1. Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei. 1. Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito. 2. As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de deficiência as ações governamentais necessárias ao seu cumprimento e das demais disposições constitucionais e legais que lhes concernem, afastadas as discriminações e os preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria como obrigação nacional a cargo do Poder Público e da sociedade. 6

Tendo em conta que o Impetrante é portador de doença de Parkinson, e sem possibilidade de melhora, necessitando sempre da ajuda e cuidados de seus familiares, dos quais é dependente, faz-se necessário o reconhecimento quanto à urgência na aquisição de veículo automotor a fim de tornar menos penoso o seu transporte para a realização do tratamento. Corroborando o entendimento em questão, os julgados deste Tribunal a seguir transcritos: MANDADO DE SEGURANÇA. PESSOA PORTADORA DE NECESSIDADES ESPECIAIS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO. ISENÇÃO DE ICMS E IPVA. INDEFERIMENTO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO. 1. A isenção legal de impostos à aquisição de veículo por pessoa deficiente, para uso próprio, não pode ser interpretada restritivamente, sob pena de violar princípios constitucionais. 2. A isenção de tributos como ICMS e IPVA tem como objetivo facilitar a aquisição de automóveis por pessoas deficientes, amenizando as dificuldades próprias da respectiva condição, não podendo beneficiar apenas aquelas capazes de dirigir um 'veículo adaptado', sob pena de discriminar outros que, pela extensão das dificuldades, podem até necessitar mais desse meio de locomoção, como é o caso do tetraplégico e do doente mental grave. Segurança concedida. (TJGO. 1ª Câmara Cível. Mandado de Segurança n 247683-77.2010.8.09.0000. Rel. Des. Leobino Valente Chaves. DJ 666 de 22/09/2010).(Destaquei). DIREITO CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ISENÇÃO DE ICMS E IPVA. NEGATIVA FUNDADA NO FATO DE NÃO SER O PRÓPRIO DEFICIENTE HABILITADO PARA DIRIGIR. A interpretação literal do convênio ICMS nº 03/2007, que aceita a isenção do tributo com características específicas para ser dirigido por motorista não se coaduna com o princípio da igualdade previsto no art. 5º, da CF/88, que não admite o estabelecimento de diferenciação sem um fundamento razoável, no caso, o tratamento desigual de pessoas portadoras de deficiência física. Da mesma forma, cabe ressaltar, os diversos dispositivos constitucionais que encampam proteção especial para os portadores de deficiência (artigos 7º, inciso XXXI; 23, inciso II; 24, inciso XIV; 37, inciso VIII; 203, incisos IV e V, 208, inciso III; 227, inciso II e parágrafo 2º, todos da CF), demonstram de forma clara a finalidade da 7

norma de isenção tributária para os deficientes físicos que pretendem adquirir veículo automotor, qual seja, diminuir as barreiras de locomoção e efetivar sua inclusão de forma ampla na sociedade, não sendo razoável afastar tal possibilidade para aqueles deficientes que dependem dos familiares e de terceiros para levarem a termo tarefas e necessidades básicas. Segurança concedida para corrigir a ilegalidade e autorizar a isenção dos impostos estaduais ao deficiente físico (TJGO. 2ª Câmara Cível. Mandado de Segurança nº 18584-6/101. Rel. Des. João Waldeck Félix de Sousa. DJ 498 de 14/01/2010). (Destaquei). Portanto, mostra-se inconteste a existência do direito alegado pelo Impetrante, considerando que expresso na norma legal que lhe dá fundamento e confirmado pelo pacífico entendimento vislumbrado na jurisprudência deste Tribunal, o que impõe a concessão da ordem nos exatos termos em que requerida. Há de se registrar que o benefício em referência é concedido no intuito de assegurar a inclusão social dos portadores de deficiência física, facilitando-lhes a aquisição de veículo e resguardando o direito de locomoção e de dignidade de tais pessoas. Exatamente em função dos fins a que se destina, a legislação de regência estipula que cessado o motivo que lhe deu causa, cessa a isenção (art. 94, 1º, da Lei nº 11.651/91 - Código Tributário do Estado de Goiás). Em igual sentido, a disposição trazida pelo Convênio ICMS 03/07, que prevê a obrigação do adquirente pelo recolhimento do imposto devido, devidamente corrigido, caso o veículo seja transmitido a pessoa que não faça jus ao mesmo tratamento fiscal, nas hipóteses em que se promovam alterações em suas características ou quando não lhe seja dada a finalidade que justificou a isenção. Deve-se, por fim, salientar que, nos termos do que dispõe 8

o já mencionado convênio, o estabelecimento que efetuar a operação isenta deverá fazer constar no documento fiscal de venda do veículo o número de inscrição do adquirente no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda CPF, o valor correspondente ao imposto não recolhido e as declarações de que a operação é isenta de ICMS e de que nos primeiros 03 (três) anos, contados da data da aquisição, o veículo não poderá ser alienado sem autorização do Fisco. EM FACE DO EXPOSTO, acolho o parecer ministerial de cúpula e, convalidando a liminar anteriormente deferida, concedo a segurança pleiteada nestes autos, para determinar à Autoridade Impetrada que conceda ao Impetrante a isenção do ICMS e do IPVA para aquisição de veículo automotor novo, observado o valor máximo previsto em lei, bem como as restrições impostas ao adquirente notadamente no que se refere à alienação do bem e alteração da destinação que justificou a isenção e as devidas anotações que devem constar nos documentos do automóvel. Determino igualmente ao Impetrante que mantenha cadastro atualizado perante o Fisco Estadual, a fim de que o aludido ente possa empreender as diligências necessárias à averiguação acerca da regularidade da destinação conferida ao veículo, salientando, ainda, que deve este ser adquirido em nome do Postulante, expedindo-se também em seu nome os documentos respectivos. É o voto. Goiânia, 24 de janeiro de 2013. DES. FRANCISCO VILDON JOSÉ VALENTE Relator 9

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 320093-65.2012.8.09.0000 (201293200930) COMARCA DE GOIÂNIA IMPETRANTE : BISMARCK BERNARDO E SÁ IMPETRADO : SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE GOIÁS RELATOR : DES. FRANCISCO VILDON JOSÉ VALENTE EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. PORTADOR DE DOENÇA DEGENERATIVA. PARKINSON. PRETENSÃO DE AQUISIÇÃO DE VEÍCULO COM ISENÇÃO DE ICMS E IPVA. LAUDO MÉDICO E PORTARIA DE DESIGNAÇÃO DE JUNTA MÉDICA NÃO COLACIONADOS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO. EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO COM A ANOTAÇÃO DA RESTRIÇÃO PARA QUE O IMPETRANTE CONDUZA VEÍCULO AUTOMOTOR. TERCEIRA PESSOA CONDUTORA DO VEÍCULO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ISONOMIA TRIBUTÁRIA E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRESENÇA DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. Embora a regra do art. 111 do Código Tributário Nacional imponha a interpretação restritiva da legislação tributária no tocante às isenções do ICMS e IPVA, deve aquela ser analisada de forma extensiva, a fim de compatibilizar sua incidência com os princípios da 10

isonomia, da razoabilidade, da proporcionalidade e, ainda, da dignidade da pessoa humana. 2. Não se mostra viável a adoção irrestrita da disposição legal, que exige como condição para a concessão de isenção de ICMS e IPVA aos portadores de necessidades especiais, que estes sejam capazes de conduzir pessoalmente o veículo. A adoção de tal entendimento conduziria à inaceitável situação de ver-se excluída da esfera de contemplação do benefício a pessoa portadora de deficiência física mais grave, e, portanto, mais merecedora da atenção estatal, ao passo que seria contemplado o portador de menor deficiência física, o que, por certo, não corresponderia à intenção da lei de regência 3.Não é razoável a exigência de apresentação da Carteira Nacional de Habilitação CNH, com restrição para que o condutor só conduza veículo adaptado, quando o beneficiário não é o seu condutor. 4. Há de ser averiguado, em cada caso, o grau de necessidade do postulante, a fim de que lhe seja concedida a facilitação trazida, pela lei, com a aquisição do veículo automotor. SEGURANÇA CONCEDIDA. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Mandado de Segurança o nº 320093-65.2012.8.09.0000 11

(201293200930), da comarca de Goiânia. Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em sessão pelos integrantes da Terceira Turma Julgadora da Quinta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conceder a Segurança, nos termos do voto do relator. Votaram com o relator, os Desembargadores Gerson Santana Cintra e Alan S. de Sena Conceição. Conceição. Presidiu a sessão o Desembargador Alan S. de Sena Wellington de Oliveira Costa. Representou a Procuradoria Geral de Justiça o Dr. Goiânia, 24 de janeiro de 2013. DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE 12