INFLUÊNCIAS SÓCIO-FAMILIARES E DEPRESSÃO NA INFÂNCIA [2014] Paulo Correia Psicólogo Clínico Assistente Principal Centro de Saúde de Barcelos ACES do Cávado III Barcelos, Portugal Paulo Mariano Psicólogo Clínico Assistente Centro de Saúde de Amares ACES do Cávado II Amares, Portugal Paulo Passos Psicólogo Clínico Assessor Superior Centro de Saúde de Braga ACES do Cávado I Braga, Portugal E-mail de contato: pvpassos@gmail.com RESUMO O artigo referencia-se nos constructos inerentes ao desenvolvimento na infância, no que concerne a modelos relacionais, valorizações familiares e sociais. Faz alusão às inquisidoras limitações da consciencialização e elaboração mental, que têm impedido a promoção do confronto e actualização das representações psicológicas, promovidas familiar e socialmente. A ornamentada imaturidade social e histórica tem mantido os sistemas no obscurantismo da conveniência e da cegueira, com enraizamento na visão acrítica para a ajustada evolução. Desperta intentos de exploração, nos escombros da história social circunscrita, de modo a viabilizar cenários relacionais facilitadores da implicação dos protagonistas, em detrimento da clássica subalternidade e obediência à oligofrenia institucional da existência, que têm impedido o ajustado padrão evolutivo, tanto individual como comunitário. Ambiciona despertar acessos de liberdade e igualdade, conduzindo à facilitação de desenvolvimento, pela via do renascimento, do direito e da justiça. Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos 1 Siga-nos em
Intenta denunciar os medievais mecanismos inerentes às matrizes familiares e sociais, enquanto fomentadores e perpetuadores da paralisante ode à mendicidade, à dívida, à manipulação, ao preconceito, à menoridade e pequenez, à mansidão e à glorificação do medo. Palavras-chave: Influências, infância, sistemas sócio-familiares, depressão. O homem em rebelião contra a fatalidade, negando-se a sofrê-la passivamente, revoltado, criando em função dessa revolta Artaud (Marselha 1896 Paris 1948). Considerando os processos de influência social, como determinantes para o registo da construção dos conteúdos perceptivos, aceita-se que todas as matrizes fomentadoras de estimulação estão para além da organização da individualidade. De facto a história ontogenética começa na exterioridade, começa no objecto, no outro, sendo este o local de controlo de motivações e acções, nos procedimentos iniciais de desenvolvimento. Actualmente, e pelos motivos inerentes ao formato evolutivo dos sistemas sociais, as fontes estimuladoras são de tal forma variadas e intensas que a disponibilidade para o ajustado poder de relacionamento, poderá ficar comprometido, nas suas valências de facilitação de desenvolvimento, de integração e de adaptação. Na sequência destas ocorrências e por necessidades de salvaguarda, perante as adversidades e perigosidades relacionais, é imperioso (para salvaguarda) a construção e o recurso a redes defensivas, que ultrapassam a capacidade de consciencialização e consequente actualização das representações mentais, parasitando o natural intento espaço de sanidade. A insatisfação (ou o medo) não desaparece quando desaparece a estimulação persecutória e castradora, nem desaparecem os efeitos da prolongada vivência desorganizadora, ambivalente e ansiogénica, verificando-se sim uma acumulação passiva de danos, grande parte das vezes não percepcionada, nem identificada, e muito menos elaborada. Contrariamente observam-se caracteres residuais de ruína e conflito (tanto intrapsíquico como de relacionamento inter-pessoal), que não são mais do que um terreno de construção e desenvolvimento da ansiedade, angústia e depressão. Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos 2 Siga-nos em
As considerações sobre a naturalidade da adaptação, com premissas de desenvolvimento ajustadas estão, efectivamente, aquém das exigidas, denotando o impacto da eventual perigosidade na maturação dos diversos enquadramentos sociais. Muito para além das vigências correntes, estão as reais necessidades individuais e grupais, que deverão ser construídas através da consciencialização da emissão comunitária e ambiental, onde se referencia, genuinamente, o natural movimento da questão existencial da infância. A coartação do desenvolvimento, fomentado pelos próprios sistemas sociais e familiares, encontram suporte nos enquadramentos institucionais e políticos, estes travestidos por directrizes e discursos repletos de conveniência, de promotora obediência e mansidão e de roupagem figurativa para satisfação da subalternidade (como se existissem alternativas formas de dignidade e de honestidade!!!). Contudo, na oportunidade da pobreza política, sócio-histórica e cultural, abundante nos cenários de relação familiar, continua-se a sobrevalorizar o contexto pré-estabelecido, a prioritar a opinião transformada em certeza e centrada na subjectividade e conveniência dos interesses próximos, em nada cumpridoras das directrizes básicas de promoção de saúde mental infantojuvenil. Sujeita a sistemas rígidos de hierarquização, de normalização e conformismo, no enquadramento sócio-familiar e institucional, a possibilidade do ser criança actuante é facilmente transformada em ser criança submissa (nas diversas variantes sintomáticas), refreando as vias de integração participante, contrariando a naturalidade do registo motivacional para a lógica, construtora e coerente interiorização de material das esferas relacionais. Os panoramas patológicos infanto-juvenis (de onde se salientam os manifestos depressivos) são o grande contributo para a fiel avaliação dos contextos relacionais, sublinhando-se o sentido ascendente da tendência das frequências de disfunção, onde prima a quase epidémica depressão, como alerta a Organização Mundial de Saúde quando refere que a depressão pode atingir cerca de 20% da população, bem como se tornar na principal causa de incapacidade no ano de 2020. A consciencialização e a introjecção/interiorização das normas deverão passar por patamares de implicação futura no seu cumprimento, sem o cariz punitivo, ao qual só é possível escapar no quadro das regulações patológicas. É indispensável a adequada função da instância reguladora dos princípios de normalização, no psiquismo humano, de modo a que as noções de justiça, de direito e de dever se instalem para as intenções de desenvolvimento ambiental e comunitário, ultrapassando a saturante vertente individual, idiossincrática, circunstancial e fatalmente protocolada. Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos 3 Siga-nos em
As medidas preventivas em saúde mental infanto-juvenis intentam no desenvolvimento centrado na seriedade das exigências de direito que, a qualquer criança não se poderá continuar a negar, como também não se deverá continuar a permitir a constante sobrevalorização de encantos e vontades do oportunismo institucional, político, social e familiar, criando desencantos, falsidades e dissonâncias na vivência da infância. No registo da psicopatologia funcional o problema é e está na família; é e está nos sistemas sociais de proximidade e de influência, sendo a criança, tão só (e com a auto-estima na regência do exterior) a portadora do problema/sintoma. Para o cínico e esclavagista alívio familiar e social, as medidas defensivas de difusão de responsabilidades e de atribuições causais canalizadas para a externalização, são um recurso constante, ausentando-se assim de culpa e responsabilização, mantendo-se nas suas inúteis funções de imitadores. Sublinha-se que os contextos diagnósticos estão enquadrados na análise discriminativa da semiologia depressiva da criança e diferenciados pelos critérios: respostas depressivas; sintomas ligados ao sofrimento depressivo; sintomas como defesa contra a posição depressiva e equivalentes depressivos, onde a materialização desse diagnóstico estrutural (não, simplesmente, sintomático) compete, tão só, a quem, profissionalmente hábil e competente se movimenta na esfera da saúde e da doença mentais. Propõe-se, assim, a ênfase na simples justificativa do ser criança, por si só, em detrimento das usuais qualificações de conveniência, corrupções discursivas, adulterações de prioridades e versatilidades das incoerências, cuja única condenável vantagem apenas se encontra na satisfação pela auto-congratulação (alimentador narcísico) e na continuidade do processo de domesticação da infância. Interrompamos o clássico, o imaturo, o caduco e funesto conceito e o etiopatogénico desonesto valor familiar/social/institucional de chefe-de-família e de dona-de-casa, e façamos promover o genuíno relacionamento de pares (com os flexíveis e devidos estatutos e papéis, no registo de aproximação das referências e pertenças), onde os dignitários protagonistas são: - A criança; - O pai e a mãe; - Os dois pais; - As duas mães, - O pai; - A mãe; - Os outros. Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos 4 Siga-nos em
Contudo, o legado Deus, Pátria e Família, lamentável e perturbadoramente em contramão, ainda está intrusamente enraizado no âmago dos sistemas sócio-familiares, onde os seus tóxicos vestígios continuam implacavelmente visíveis e influentes, aproveitando-se da passiva, submissa, pálida, medrosa e torturante imaturidade sócio-familiar, bem como da fragilidade e da dependência oferecida pela própria infância. com o insuperável desprezo pela miserável, corrosiva, subalterna, castradora, obediente e inquestionável fiel mansidão Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos 5 Siga-nos em
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