A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES Angélica Borges dos Santos Graduanda IG/UFU/Bolsista PIBIC/CNPQ. Adriany de Ávila Melo Sampaio Profa. Dra. LEGEO-IG-UFU Av. João Naves de Ávila, 2121, Campus Santa Mônica, Bloco H, sala 1H09, Uberlândia- Minas Gerais. Fone: 3239-4169 Ramal 34. angel_ufu@yahoo.com.br; prof_adriany@yahoo.com.br 1 INTRODUÇÃO Este trabalho busca compreender as necessidades educativas especiais apresentadas por alunos com Altas Habilidades, em particular na Geografia. O ensino em Geografia deve despertar nos alunos um olhar atencioso sobre o meio no qual eles estão inseridos. Os pensamentos individuais devem ser estimulados pelos educadores para que as singularidades transpareçam nas salas de aula, permitindo assim que a criatividade possa ser despertada. Com isso a educação de postura inclusiva poderá ser buscada, tendo em vista o desenvolvimento intelectual dos alunos, uma vez que a educação é um direito de todos e como tal deve ser respeitada e melhorada sempre. Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um desafio que precisa ser assumido por todos os educadores. É um compromisso inadiável das escolas, pois a Educação Básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social de um país. Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por
meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar. (MANTOAN, 2002, p.2) O ensino regular atua com alunos que possuem várias diferenças, dentre as quais estão as Altas Habilidades, superdotação ou talentos, por sua vez as pessoas envolvidas com a educação têm que estar atentas a essas especificidades dos educandos. A legislação brasileira prevê que todos têm direito à educação e que: a educação especial se destina às pessoas com necessidades especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiências física, sensorial, mental ou múltipla, quer de características como altas habilidades, superdotação e talentos. (BRASIL, 2001, p. 55) Porém de acordo com os princípios da educação inclusiva todos os alunos, independente de suas individualidades, devem desenvolver-se em conjunto levando em conta suas diferenças individuais e encorajando o desenvolvimento de seus talentos, competências e habilidades diversas. Já que os humanos são seres sociais que têm que conviver, compreender e respeitar as diferenças. Segundo Pérez (2003) escolas ou classes especiais somente acarretarão uma visão parcial do mundo e dificuldades para lidar com a diversidade alem de serem meios favoráveis para exacerbar comportamentos competitivos e individualistas. 2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ALTAS HABILIDADES As Altas Habilidades, em geral, caracterizam-se pela elevada potencialidade de aptidões e talentos, bem como pelo alto desempenho evidenciado nas diversas áreas do conhecimento do educando. Várias concepções são apresentadas por estudiosos da área. No Brasil a partir das Diretrizes Gerais para o Atendimento Educacional aos Alunos Portadores de altas Habilidades/Superdotação e Talentos, de 1995,
estabelecidas pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e Desporto foi proposta a seguinte definição: Altas Habilidades referem-se aos comportamentos observados e/ou relatados que confirmam a expressão de traços consistentemente superiores em relação a uma média (por exemplo: idade, produção ou série escolar) em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se entender por traços as formas consistentes, ou seja, aquelas que permanecem com freqüência e duração no repertório dos comportamentos da pessoa, de forma a poderem ser registradas em épocas diferentes e situações semelhantes. (BRASIL, 1995, p.13) Segundo Simonetti (2009), da Associação Brasileira para Altas Habilidades, ABAHSD, Superdotação é um conceito que serve para expressar alto nível de inteligência e indica desenvolvimento acelerado das funções celebrais, o talento indica destrezas mais específicas. A identificação de pessoas com Altas Habilidades não é fácil e deve ser realizada, principalmente por meio de observações dos professores. Logo nas séries iniciais, uma possibilidade seria aplicação de testes individuais ou coletivos de inteligência, de baterias de aptidões diferenciadas, de testes de rendimento e de desenvolvimento escolar, dentre vários outros meios de identificação que devem ser combinados com a interação com os pais; pois estes têm maiores informações sobre as crianças. Porém esses testes convencionais não conseguem identificar todas as habilidades e os talentos. Esses alunos demonstram sinais que devem motivar este processo de identificação, como por exemplo, o interesse e a busca constante por algum assunto ou atividade podem ser considerados como indicativos para uma possível habilidade. Morin, 2010 Na sala de aula esses alunos, conforme apresentado por Brandão e mostram-se curiosos, criativos e rápidos. São capazes de expressar com fluência e organização suas idéias, muitas vezes incomuns ou antecipadas; revelam considerável motivação, envolvendo-se com perseverança em tarefas que satisfazem seus interesses e curiosidades. Possuem facilidade para perceber, fazer análise-síntese, utilizar raciocínio lógico elevado até a abstração; apresentam capacidade de associação de temas específicos com outros mais amplos, estilos singulares de aprendizagem e tendência a atingir, com facilidade, objetivos considerados difíceis pela maioria das pessoas Assim essa identificação sendo feita o mais cedo possível possibilita que esta pessoa /criança se auto-conheça e se valorize como tal, e assim possa ser
respeitada pelos outros que com ela se relacionam. Já que, de um modo geral, a superdotação é despercebida e desatendida. Nas poucas circunstâncias em que a preocupação com o superdotado se faz presente, há uma predominância de abordagens limitadas ou mesmo inadequadas. A identificação permite que a família, em conjunto com a escola, busque ações que favoreçam a estimulação e o desenvolvimento destas crianças. A educação inclusiva das pessoas com Altas Habilidades deve partir primeiramente do reconhecimento das habilidades individuais dos alunos pelos pais, uma vez que as necessidades destas pessoas não são visivelmente detectáveis. À medida que os pais e professores reconhecem estas crianças como pessoas com Altas Habilidades e que, por isso, possuem necessidades educativas especiais, diferentes do modelo educacional atual (desmotivante e repetitivo), e desmitificarem seus conceitos referentes às altas habilidades, haverá uma maior probabilidade de que tais alunos tenham seus direitos educacionais realmente cumpridos e se desenvolvam pessoalmente. Alencar (2007, p.374) ao enumerar os problemas enfrentados na educação de alunos com altas habilidades mostra que: [...] Muitos dos problemas que se observam entre alunos que se destacam por um potencial superior têm a ver com o desestímulo e frustração sentida por eles diante de um programa acadêmico que prima pela repetição e monotonia e por um clima psicológico em sala de aula pouco favorável à expressão do potencial superior. A escola não atende, de forma adequada, os alunos que apresentam habilidades intelectuais superiores, o que ajuda a explicar a apatia e ressentimento apresentados frequentemente por estes alunos. A preparação do professor em uma formação continuada se faz necessária para a instalação de uma visão mais ampla do sistema educacional que se atente às necessidades de seus diferentes alunos. De modo geral, o ensino regular é direcionado para o aluno médio e abaixo da média, e o superdotado, alem de ser deixado de lado neste sistema, é visto, muitas vezes, com suspeita por professores que possuem muita dificuldade para lidar com alunos que se destacam por um potencial superior e que tem reduzido grau de preparação docente para favorecer o desenvolvimento mais pleno do potencial humano. (Alencar, 2009. p.3) O processo de inclusão de pessoas com necessidades especiais e, particularmente com altas habilidades causa extremas mudanças e, por vezes,
desconfortos na sala de aula. Não apenas os professores precisam estar capacitados para enfrentar esse novo desafio, mas principalmente, alunos, pais e comunidade precisam compreender como a convivência com alunos incluídos poderá enriquecer a formação humana de seus membros. Com isso se percebe que a educação inclusiva de pessoas com altas habilidades só se torna possível por meio de um conjunto de práticas educacionais que visem o reconhecimento e o desenvolvimento (tanto emocional, social, psicológico quanto pessoal) destes alunos. Segundo a Secretaria de Educação Especial SEESP do Ministério da Educação- MEC, (BRASIL 1995) durante o processo educacional, os alunos com necessidades educativas especiais apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem que podem não ser vinculadas a uma causa orgânica especifica ou relacionadas às condições, disfunções, limitações e deficiências, abrangendo problemas de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos. No Brasil estudar é um direito de toda criança e adolescente, pois segundo o Estatuto da criança e do adolescente, LEI N. 8069 de 13 de julho de 1990, Capitulo IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer Art. 53: a criança e o adolescente têm direito a educação, visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho assegurando- lhes: igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino.(brasil,1995.) Esta lei expressa a necessidade humana de evoluir, independente das dificuldades de cada um no decorrer deste processo. Contudo, o corpo docente da maior parte das escolas se perde em meio às diferenças e desafios com os quais se esbarram no âmbito educacional. A falta de preparo para lidar com novas situações tem causado um grande transtorno na educação. É necessário ressaltar neste trabalho a diferença existente entre educação inclusiva e educação especial, a qual se apresenta numa grande variedade de formas incluindo escolas especiais, unidades pequenas e a integração das crianças com apoio especializado. O ensino especial é desde sua origem um sistema separado de educação das crianças com necessidades especiais, fora do ensino regular, baseado na crença de que as necessidades
das crianças com deficiência não podem ser supridas nas escolas regulares. Já a educação inclusiva, traz os alunos com necessidades educativas especiais para dentro das escolas regulares. Para se ter uma educação inclusiva é necessário um reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam às diferenças dos alunos. É uma abordagem humanística e democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos. Neste âmbito, o professor de Geografia tem um papel muito importante na socialização e na interação com o meio que vive, preparando-o para ser um cidadão atuante no seu tempo e espaço. Na educação inclusiva, antes de tudo, é importante identificar o tipo de necessidade que os alunos de uma determinada sala apresentam, para então utilizar meios que auxiliem no seu aprendizado. Após começar a compreender o tipo de necessidade educativa que o aluno possui ficará mais fácil para o professor de Geografia interagir com o aluno e ajudá-lo no seu desempenho e melhor aproveitamento educacional em sala. Trabalhar com educação inclusiva, mais que um dever, é uma necessidade que qualquer sociedade tem para que a única exclusão que exista seja a do preconceito. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a abertura da Escola para a inclusão, tem-se na sala de aula uma maior heterogeneidade de estudantes. E entre tantas diferenças e dificuldades comuns da vida escolar, encontram- se as altas Habilidades. Este estudante, entre os demais, necessita de todo o apoio para prosseguir com sua aprendizagem e precisa acima de tudo aprender a ser autônomo, não se deixando desestimular para que se possa participar e contribuir com a sociedade da qual faz parte.
Nesta perspectiva a revisão bibliográfica (leis, artigos e livros) referentes à Educação Especial e a Altas Habilidades é de extrema importância para buscar uma melhor articulação e entendimento do assunto, bem como conceitos e modalidades das Altas Habilidades. Entende-se aqui que o professor de Geografia precisa estar preparado para atender estas novas necessidades e realidades educativas. Pesquisas sobre o tema podem auxiliar a formação do futuro professor de Geografia, no entendimento de como e porque os estudantes com Altas Habilidades enfrentam dificuldades nas aulas e na Geografia, e como este professor pode o ajudar a aprender, de forma a melhorar o quadro educacional visto hoje na educação brasileira. REFERÊNCIAS: ALENCAR, E. M. L. S. Características sócio-emocionais do superdotado: questões atuais. Revista psicologia em estudo, Maringá, v. 12, n. 2, p. 371-378, maio/ago.2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-73722007000200018&script=sci_arttext&tlng=directory. Acesso em: 2009 ALENCAR, E. M. L. S. O aluno com altas habilidades no contexto da educação inclusiva. Disponível em: http://www.altashabilidades.com.br/altashabilidades/upload/publicacoes_context o%20da%20edu.%20inclusiva_144939.doc. Acesso em 22 de abril de 2009. BARBOSA, A. J. G; ROSINI, D. C; PEREIRA, A. A. Atitudes parentais com relação a educação inclusiva. Revista Brasileira de Educação Especial. Marília, Set- Dez. 2007. V. 13, n.3, p.447-458. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbee/v13n3/a10v13n3.pdf. Acesso em: 2009 BRASIL, Ministério da Educação, Diretrizes gerais para o atendimento educacional dos alunos portadores de Altas Habilidades/ Superdotação e Talentos. Brasília: MEC/ SEESP, 1995. BRASIL. Ministério da Educação, SEESP. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC- SEESP, 2001.
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