Nosebleed recurrence prognostic factors

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Transcrição:

Factores de prognóstico de recidiva na epistáxis Nosebleed recurrence prognostic factors João Laffont Ana Sofia Melo Ricardo Caiado João Casalta João Carlos Ribeiro Carlos Ribeiro António Diogo Paiva Resumo Objectivos: Avaliar os fatores clínicos prognósticos de recidiva de epistáxis. Desenho do estudo: Estudo retrospectivo. Materiais e Métodos: Foram incluídos os doentes que recorreram ao SU-CHUC no ano 2013 por epistáxis. Foi testada a correlação entre recidiva de epistáxis e antecedentes pessoais, características da epistáxis, métodos de tratamento, sazonalidade, clima, demografia, recomendações pós-alta e internamento. Resultados: Observaram-se 549 episódios de 396 doentes com 27.9% de episódios de recidiva. Verificou-se anticoagulação em 17,3%, epistáxis activa em 39,3% e internamento em 9,8%. Foram identificados como factores prognósticos de maior recidiva de epistáxis a anticoagulação, epistáxis activa, coagulopatia e tabagismo. O internamento foi um factor protector de recidiva. Não houve associação entre recidiva e nenhuma das técnicas utilizadas. Conclusões: A anticoagulação, coagulopatia, epistáxis activa e tabagismo activo foram identificados como factores predisponentes e o internamento como factor protector. É importante conhecer os factores de risco hemorrágico na orientação terapêutica da epistáxis. Palavras-chave: Epistáxis, recidiva, factores prognósticos Abstract Objectives: To evaluate nosebleed recurrence prognostic factors. Study Design: Retrospective observational study Material e Methods: Inclusion criteria was nosebleed in ENT emergency department in 2013. Correlation with recurrence was tested for pathologic factors, nosebleed characteristics, treatment methods, seasonality, climacteric conditions, demographic factors, recommendations and hospital admittance need. Results: We observed 549 nosebleed episodes from 396 patients with 27.9% recurrence episodes. In 17.3% patients were prescribed anticoagulants; 39.3% the nosebleed was active in the ED and hospital admittance was necessary in 9.8%. Recurrence prognostic factors included, anticoagulant medication, active nosebleed, coagulation disorders and smoking. Hospital admittance was a recurrence protective factor. No association between recurrence and any of the used techniques was identified. Conclusions: Nosebleed recurrence negative prognostic factors included anticoagulant use, previous coagulation disorders, active nosebleed and active smoking. Hospital admittance was a positive prognostic factor. It s of utmost importance to have them in consideration during nosebleed management. Keywords: Nosebleed, recurrence, prognostic factors ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE João Laffont Ana Sofia Melo Ricardo Caiado João Casalta João Carlos Ribeiro Carlos Ribeiro António Diogo Paiva Correspondência: joaolaffont@gmail.com Artigo recebido a 21 de Abril de 2015. Aceite para publicação a 15 de Março de 2016. INTRODUÇÃO Epistáxis é definida como hemorragia da mucosa nasal, e é das patologias que mais frequentemente motivam recurso ao Serviço de Urgência (SU) de Otorrinolaringologia (ORL). Há vários estudos sobre epistáxis e respectivos factores de risco, mas pouco se sabe sobre factores de risco para a sua recorrência (1). Em SU são observados diariamente doentes com epistáxis de diferentes causas e gravidade, havendo heterogeneidade na técnica de hemostase usada e orientação terapêutica na alta. A sua morbilidade é elevada, implicando por vezes internamento hospitalar e eventual cirurgia. Este estudo pretende avaliar os factores prognósticos de recidiva de epistáxis após episódio de urgência. MATERIAIS E MÉTODOS Estudo retrospectivo, observacional, onde se incluíram os doentes que recorreram ao SU do Centro Hospitalar Universitário Coimbra (CHUC) no ano de 2013 por epistáxis. Classificaram-se como recidiva episódios em que havia uma ida anterior ao SU até 28 dias antes por epistáxis do mesmo lado. Foi avaliada a presença de correlação entre recidiva de epistáxis com factores demográficos (idade e género), VOL 54. Nº2. JUNHO 2016 119

comorbilidades (Hipertensão Arterial (HTA), coagulopatia, diabetes, dislipidémia, patologia nasal, acidente vascular prévio, cirurgia nasal recente, hábitos tabágicos e gravidez), medicação habitual (anti-hipertensores, anti-agregantes, anti-coagulantes, flebotónicos, vasoconstritores nasais, ácido aminocaproico e corticóides nasais), local de hemorragia (mancha vascular, corneto inferior, corneto médio, posterior e não-identificável), actividade de epistáxis durante o episódio, métodos de hemostase (Merocel, Cauterização com nitrato de prata, Spongostan, gaze iodoformada, gelo, captopril e vasoconstritor local), medicação instituída aquando de alta (antibiótico, ácido aminocaproico, vasoconstritor nasal, flebotónico, gelo, ansiolítico, anti-hipertensor, suplementos vitamínicos e anti-histamínico), sazonalidade (meses do ano e concentração polínica), condições climatéricas (temperatura máxima/média/mínima, humidade relativa e pressão atmosférica), duração de tamponamento, local de destamponamento (meio hospitalar ou centro de saúde) e necessidade de internamento. A análise estatística foi realizada com o software IBM SPSS Statistics v.20.0.foi realizada análise inferencial univariada e multivariada (incluídos os factores significativos em análise univariada); erro tipo I de 0,05. RESULTADOS Observaram-se 549 episódios de urgência de 396 doentes perfazendo 153 (27.9%) episódios de recidiva de epistáxis. Verificou-se ligeira preponderância de incidência de epistáxis no género masculino com 57,7% dos casos e a idade mediana foi 67±17 anos (gráfico 1). Observou-se maior incidência de epistáxis nos meses de Inverno (gráfico 2). Foi encontrada correlação estatisticamente significativa entre temperatura média mais baixa e incidência de epistáxis, mas não com recidiva (gráfico 3). Concentração polínica, pressão atmosférica e humidade relativa não apresentaram correlação com incidência nem recidiva de epistáxis. GRÁFICO 1 Idade GRÁFICO 2 Meses 120 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

GRÁFICO 3 Temperatura média ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE A distribuição entre lado direito ou esquerdo de hemorragia foi igual (43,7%), sendo bilateral ou sem informação nos restantes casos. Em 68,7% dos casos não se identificou causa para a hemorragia, em 23,5% associou-se a pico hipertensivo, em 2,9% a traumatismo nasal, em 2,9% dos casos a infecção das vias aéreas superiores e em 2% a destamponamento nasal. Foi descrita a presença das comorbilidades enumeradas na tabela 1, e testada a correlação com recidiva de epistáxis, sendo encontrada correlação positiva com a existência de coagulopatia e tabagismo activo. Foi avaliada a medicação habitual de cada um dos doentes e procurada correlação com recidiva de epistáxis, sendo encontra correlação positiva com anti-coagulação (tabela 2). Em 216 casos (39,3%) verificou-se epistáxis activa no SU, tendo estes casos uma correlação positiva estatisticamente significativa para recidiva. Relativamente ao foco hemorrágico, este foi identificado em 77,4% dos casos, sendo em 67,6% TABELA 1 Comorbilidades % p-value OR HTA 60,7% 0,047 1,487 Dislipidemia 28,8% 0,059 1,469 Diabetes 16,2% 0,109 1,481 Patologia nasal 9,3% 0,558 1,205 Acidente vascular 9,1% 0,179 1,517 Coagulopatia 5,3% 0,036 2,205 Cirurgia nasal 2,0% 0,190 2,196 Fumador 1,8% 0,032 4,000 Gravidez 0,5% 0,189 5,232 Nenhum 26,8% 0,003 0,493 dos casos da mancha vascular, 15,5% não identificável, 7,1% posterior, 6,3% do corneto inferior e 1,5% do corneto médio. Dos 77,4% de casos com foco identificável, 30% recidivaram, os restantes casos recidivaram em 25% dos casos. O tratamento mais prevalente foi Merocel em 236 casos (43,0%), tendo sido utilizadas associações em 267 (48,7%). TABELA 2 Medicação habitual % p OR Nenhuma 39,0% 0,001 0,493 Anti-hipertensor 43,4% 0,063 1,426 Anti-agregante 26,4% 0,731 1,076 Anti-coagulante 17,3% <0,001 2,449 Flebotónico 5,5% 0,492 1,315 Vasoconstritor nasal 1,1% 0,673 1,298 Ácido aminocaproico 1,3% 1,000 1,036 Corticóide nasal 0,9% 0,622 1,735 Não foi identificada associação entre recidiva e nenhuma das técnicas utilizadas (tabela 3). Na alta do serviço de urgência foi frequentemente prescrita medicação para ambulatório conforme enumerado na tabela 4. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre a medicação instituída e recidiva de epistáxis (Tabela 4). Verificou-se necessidade de internamento em 54 (9,8%), com uma duração mediana de internamento de 5 dias. O internamento apresentou uma correlação negativa com recidiva de epistáxis, constituindo-se como um factor protector (OR=0,296, p=0,004). Foram realizados tamponamentos anteriores e 231 casos (42,1%), tendo sido destamponados no centro de saúde de VOL 54. Nº2. JUNHO 2016 121

TABELA 3 TABELA 4 Métodos hemostase % p OR Combinação 48,7% --- --- Merocel 43,0% 0,264 1,304 Nitrato Prata 25,0% 0,968 0,991 Spongostan 23,3% 0,293 0,783 Gaze iodoformada 11,7% 0,521 1,203 Gelo 8,4% 0,454 1,280 Captopril 8,0% 0,097 1,708 Vasoconstritor 5,5% 0,789 1,116 Dexpantenol 0,5% 0,189 5,232 Surgicel 0,5% 1,000 1,296 Compressa (dardos) 0,4% 1,000 --- Embolização 0,18% --- --- Laqueação arterial 0,18% --- --- área de residência em 87,3% dos casos, e no hospital em 12,7% dos casos. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre o local de destamponamento e recidiva de epistáxis. Os resultados obtidos na análise multivariada encontram-se descritos na tabela 5. Mantiveram-se como factores prognósticos significativos preditores de recidiva de epistáxis a medicação habitual com anti-coagulante, antecedentes pessoais de coagulopatia e de tabagismo; o internamento manteve-se como factor protector significativo nesta análise. Dos 153 casos que recidivaram, 49% recidivaram nas 48 horas seguintes, notando-se um marcado decréscimo a partir do 3º dia (gráfico 4). Medicação ambulatório % p OR Antibiótico 42,8% 0,016 1,583 Dexpantenol 32,2% 0,635 0,907 Ácido Aminocaproico 15,7% 0,299 0,752 Vasoconstritor nasal 10,2% 0,902 1,039 Venotrópico 8,9% 0,375 0,730 Gelo 8,4% 0,778 0,906 Ansiolítico 4,6% 0,988 1,007 Anti-HTA 1,6% 0,068 --- Vitaminas 1,3% 0,405 1,960 Anti-histamínico 0,9% 0,622 1,735 TABELA 5 Factor p HR IC95% HR Anti-coagulação 0,001 2,258 [1,388; 3,675] Coagulopatia 0,015 2,792 [1,221; 6,384] HTA 0,148 1,380 [0,892; 2,136] Tabagismo 0,037 4,200 [1,094; 16,128] Internamento 0,002 0,230 [0,093; 0,571] Antibiótico 0,918 1,024 [0,657; 1,599] GRÁFICO 4 Dias até recidiva 122 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

DISCUSSÃO A epistáxis ocorre em 60% dos adultos durante a sua vida, e necessita de tratamento médico 10% das vezes (1,2). Essa elevada frequência é explicada pela acentuada vascularização nasal, que recebe irrigação sanguínea de ramos provenientes da artéria carótida interna e externa também (3,4). Na nossa amostra verificou-se uma maior incidência de epistáxis a partir dos 50 anos (75% dos casos), no género masculino (57,7%), na sua maioria idiopática e com foco hemorrágico principal na mancha vascular septal (69,6%), sendo dados que se encontram de acordo com o descrito na literatura (1,2,5,6). Relativamente à sazonalidade, verificou-se uma maior incidência de epistáxis nos meses com temperaturas médias mais frias (Dezembro a Março). Tal relação já foi previamente descrita noutros estudos (7,8), provavelmente devido à maior frequência de infecções do tracto respiratório superior nesta altura, e à maior diferença de temperatura e humidade entre o interior e exterior dos edifícios, cujo choque térmico e desidratação por aparelhos de ar condicionado pode levar a fissuração de mucosa com consequente epistáxis. Algumas séries descrevem também relação com menor humidade (7,8) o que não se verificou na nossa amostra. Relativamente às comorbilidades estudadas, foi encontrada uma correlação positiva estatisticamente significativa entre recidiva de epistáxis e a existência de coagulopatia e hábitos tabágicos. Os casos de coagulopatia identificados foram doentes seguidos por cirrose hepática, síndromes mielodisplásicos e/ou trombocitepenia, podendo explicar-se a maior taxa de recidiva de epistáxis nestes doentes como consequência de uma menor capacidade de formação do coágulo ou menor estabilidade deste (3). O mesmo mecanismo provavelmente também se poderá aplicar aos doentes que se encontravam sob medicação anticoagulante como varfarina, que nesta amostra apresentaram uma correlação positiva estatisticamente significativa com maior recidiva de epistáxis (5,9). Tem havido alguma controvérsia em torno da relação entre epistáxis e hipertensão arterial (HTA), havendo quem defenda haver uma relação causal (10,11), enquanto que outros não encontraram qualquer relação, tal como na nossa amostra (4). Está bem estabelecida a relação entre acidentes vasculares cerebrais (AVC) e HTA, e foi também já descrita relação entre epistáxis de repetição e maior risco de AVC, podendo a HTA ser um factor etiológico comum tanto às epistáxis como a AVC (11). Tem também havido debate relativamente à toma de fármacos antiagregantes e epistáxis (5,11 13), não tendo sido identificada qualquer correlação no nosso estudo, apesar de alguns autores os apontarem como factores de risco major para epistáxis (12). Foram ainda encontradas duas outras correlações com maior taxa de recidiva de epistáxis que não encontrámos previamente descritas na literatura: uma foi com a presença de epistáxis activa no SU (39,3% dos casos). Tal relação talvez possa ser explicada pelo facto de apenas os doentes com epistáxis de maior gravidade, ainda chegarem ao SU com hemorragia activa, traduzindo uma menor probabilidade de eficaz hemostase sem assistência médica. A outra foi com hábitos tabágicos. Nesta amostra, cujos dados foram baseados em registos de urgência, não nos foi possível quantificar a carga tabágica, embora nos pareça que seja um dado pertinente a ter em conta em futuros estudos. Esta relação poderá relacionar-se com o facto de haver repetida exposição da mucosa nasal a substâncias químicas irritantes, com consequente desidratação e fissuração (14). No nosso Serviço existem vários métodos disponíveis para a hemostase de casos de epistáxis, havendo heterogeneidade na abordagem conforme o Médico e a situação. O método mais frequentemente usado foi tamponamento nasal anterior com Merocel (43%), seguido de cauterização com nitrato de prata (25%), Spongostan (23,3%) e tamponamento anterior com gazes iodoformadas (11,7%). Em 48,7% dos casos foram usadas combinações destas e outras técnicas de hemostase (enumeradas na tabela 3). A aplicação destas técnicas foi testada individualmente e em combinação, não tendo sido encontrada nenhuma correlação positiva ou negativa com maior taxa de recidivas de epistáxis. Na literatura há uma crescente evidencia a favor da cauterização eléctrica ou química em primeira linha quando o foco hemorrágico for identificado, ficando o tamponamento nasal reservado para casos refractários a esta terapêutica ou cujo foco não se identifique (1,5,13,15 17). Existem estudos em que o uso de tamponamento nasal anterior se relacionou com maior risco de recidiva de epistáxis (1). Em casos cujo controlo hemorrágico não seja conseguido com tamponamento anterior e posterior, pode ainda ser equacionada angio-embolização ou intervenção cirúrgica com eventual laquação da artéria envolvida (mais frequentemente artéria esfenopalatina ou etmoidal anterior) (5,15). Na nossa amostra, houve um caso submetido a embolização e outro submetido a laqueação cirúrgica de artéria esfenopalatina, ambos sem complicações nem posterior recidiva. Neste estudo foi também testada a relação entre recidiva de epistáxis e a prescrição medicamentosa mais frequente aquando da alta do SU, como ácido aminocaproico, vasoconstritores, anti-histamínicos, anti-hipertensores, flebotónicos, ansiolíticos, suplementos vitamínicos, cicatrizantes de mucosa como Dexpantenol. Não foi encontrada correlação com nenhum dos fármacos prescritos. Nos casos em que foi necessário tamponamento nasal anterior (42,1%), o tempo mediano até destamponamento foi de 4 dias, e o local de destamponamento foi hospitalar em 12,7% dos casos, e no Centro de saúde em 87,3%, não se tendo verificado diferença estatisticamente significativa na recidiva de epistáxis, com a duração de tamponamento ou local de destamponamento. Foi encontrada correlação negativa estatisticamente significativa entre recidiva de epistáxis e internamento, sendo este um factor protector de recidiva. Esta correlação poderá ser devida ao melhor controlo da tensão arterial e de alterações da coagulação em meio hospitalar, assim como a realização de menores esforços físicos pelo doente e uma menor exposição a diferenças de temperatura. Acresce ainda ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE VOL 54. Nº2. JUNHO 2016 123

o facto de a duração mediana de internamento ter sido de 5 dias, abrangendo o período de maior taxa de recidiva de epistáxis que identificámos neste estudo (60,1% nas primeiras 72 horas). Este estudo apresenta como limitações apresentar um elevado número de variáveis em estudo, o uso frequente de combinações de várias técnicas de hemostase, a baixa frequência de utilização de algumas técnicas de hemostase na nossa amostra e o facto de que algumas recidivas poderão ter sido assistidas noutras instituições, pelo que os resultados podem não ser representativos da população geral. CONCLUSÕES Foram identificados como factores prognósticos negativos a anticoagulação, coagulopatia, epistáxis activa, tabagismo activo e factor prognóstico positivo o internamento. É importante tê-los em conta na orientação terapêutica da epistáxis. 11. Saloheimo P, Juvela S, Hillbom M. Use of aspirin, epistaxis, and untreated hypertension as risk factors for primary intracerebral hemorrhage in middleaged and elderly people. Stroke. 2001;32(2):399 404. 12. Soyka MB, Rufibach K, Huber A, Holzmann D. Is severe epistaxis associated with acetylsalicylic acid intake? Laryngoscope. 2010;120(1):200 7. 13. Hettige R, Mackeith S, Falzon A, Draper M. A study to determine the benefits of bilateral versus unilateral nasal packing with Rapid Rhino packs. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014 Mar;271(3):519 23. 14. Collins MM, Hawthorne M, El-Hmd K, Gray J. The subjective effects of smoking on nasal symptoms. Clin Otolaryngol Allied Sci. 1999 Aug;24(4):324 7. 15. Dedhia RC, Desai SS, Smith KJ, Lee S, Schaitkin BM, Snyderman CH, et al. Cost-effectiveness of endoscopic sphenopalatine artery ligation versus nasal packing as first-line treatment for posterior epistaxis. Int Forum Allergy Rhinol. 2013 Jul;3(7):563 6. 16. Pope LER, Hobbs CGL. Epistaxis: an update on current management. Postgrad Med J. 2005 May;81(955):309 14. 17. Toner J, Walby A. Comparison of electro and chemical cautery in the treatment of anterior epistaxis. J Laryngol Otol. 1990;104(August):617 8. Protecção de pessoas e animais Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial. Confidencialidade dos dados Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes. Conflito de interesses Os autores declaram não ter nenhum confito de interesses relativamente ao presente artigo. Fontes de financiamento Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. Referencias bibliográficas 1. Soyka MB, Nikolaou G, Rufibach K, Holzmann D. On the effectiveness of treatment options in epistaxis: an analysis of 678 interventions. Rhinology. 2011 Oct;49(4):474 8. 2. Kucik C, Clenney T. Management of epistaxis. Am Fam Physician. 2005;71(2). 3. McLarnon CM, Carrie S. Epistaxis. Surg. 2012 Nov;30(11):584 9. 4. Kikidis D, Tsioufis K, Papanikolaou V, Zerva K, Hantzakos a. Is epistaxis associated with arterial hypertension? A systematic review of the literature. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2014 Feb;271(2):237 43. 5. Spielmann P, Barnes M, White P. Controversies in the specialist management of adult epistaxis: an evidence based review. Clin Otolaryngol. 2012;382 9. 6. Ando Y, Iimura J, Arai S, Arai C, Komori M, Tsuyumu M, et al. Risk factors for recurrent epistaxis: importance of initial treatment. Auris Nasus Larynx. Elsevier Ireland Ltd; 2014 Feb;41(1):41 5. 7. Danielides V, Kontogiannis N, Bartzokas A, Lolis CJ. The influence of meteorological factors on the frequency of epistaxis. Clin Otolaryngol Allied Sci; 2002; 170, 84 88. 8. Rijal A, Maharjan S, Joshi R. Epistaxis and its Relation with Temperature and Humidity. Nepal J ENT. 2012;4 5. 9. Lavy J. Epistaxis in anticoagulated patients: educating an at risk population. Br J Haematol. 1996;(Fig 1):195 7. 10. Manfredini R, Portaluppi F, Salmi R. Circadian variation in onset of epistaxis: analysis of hospital admissions. BMJ. 2000;321(NOVEMBER):2000. 124 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL