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1 de 5 22/05/17, 14:46 Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 01522/14 Data do Acordão: 03-05-2017 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: FONSECA CARVALHO Descritores: EXECUÇÃO FISCAL EMBARGOS DE TERCEIRO APREENSÃO LETRA EMBARGOS LEGITIMIDADE Sumário: Nº Convencional: JSTA000P21787 Nº do Documento: SA22017050301522 Data de Entrada: 18-12-2014 Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: BANCO A..., SA E OUTRO Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral I - Face à nova redacção do artigo 237 do CPPT os embargos de terceiro não têm como finalidade apenas a defesa da posse ofendida por qualquer acto judicial de apreensão ou entrega de bens mas também a ofensa de qualquer outro direito que seja incompatível com a realização da diligência de que seja titular um terceiro. Por tal razão os direitos de crédito titulados por letras podem ser objecto de embargos de terceiro. II - Não tendo o endosso de letra sido efectuado de acordo com o disposto no artigo 18 da LUL o mesmo tem de qualificar-se como endosso próprio ou translativo. III - Tratando-se de um endosso perfeito ou translativo o endossado portador torna-se o credor do direito de crédito que a letra titula pelo que tem legitimidade para embargar de terceiro quando não sendo parte na execução vê o direito que a letra endossada titula bem como o próprio título ofendido por apreensão em execução fiscal em que o endossado não é parte. Texto Integral: Acordam os Juízes da Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo Relatório Não se conformando com a sentença do TAF de Aveiro que julgou procedentes os embargos de terceiro deduzidos por Banco A SA contra penhora, efectuada em 21 12 2007, na execução fiscal nº 4170200315069943. Em que é executada a sociedade B.. Ldª, de duas letras de câmbio no valor global de 33549,70, veio a Fazenda Pública dela interpor recurso para a Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo formulando as seguintes conclusões: 1 Na contestação o RFP invocou a ilegitimidade do embargante devido ao facto de os direitos de crédito não serem susceptíveis de posse para além de entender que o endosso em causa deveria ser qualificado como endosso impróprio ou imperfeito. 2 Contudo a sentença julgou improcedente a excepção da ilegitimidade processual determinando a procedência dos embargos o que implicou o cancelamento da penhora e a condenação da Fazenda Pública ao pagamento das custas. 3 Ora o embargante não pode utilizar o incidente de embargos de terceiro com os fundamentos alegados devendo ser declarado parte ilegítima para figurar na lide 4 No caso sub judice estão em causa direitos de crédito que pela sua natureza são insusceptíveis de posse e consequentemente não podem ser deduzidos embargos de terceiro contra as penhoras que incidam sobre os direitos de crédito (Vide ac da Relação do Porto de 20 11 1985 in processo 5550785. 5 A posse só é admissível em relação às coisas que podem ser objecto de propriedade ou direito real. 6 A propriedade e os restantes direitos reais incidem somente sobre as coisas corpóreas. 7 A propriedade do título de crédito (o documento físico que representa a letra de câmbio) não é susceptível de defesa através de embargos de terceiro. 8 O direito de crédito é a posição activa na relação obrigacional: o direito de exigir de outrem a prestação. 9 A titularidade do título de crédito (documento) habilita ou legitima o respectivo portador a exercer o direito nele incorporado mas não é susceptível de defesa através de embargos de terceiro pois o documento não consubstancia uma res corpórea. 10 Por outro lado estamos perante aquilo que a jurisprudência e a doutrina designam de endosso impróprio uma vez que neste caso por via do endosso não se transmite ao endossado os direitos emergentes dos títulos de crédito, sendo o efeito apenas o de habilitar o endossado (Banco.. SA) a cobrar o montante da letra em nome e por conta do endossante C. Ldª) titular desses direitos valendo o endosso como procuração. 11 O endosso impróprio não produz a sua plena e normal eficácia translativa na medida em que os direitos emergentes da letra continuam a pertencer ao subscritor do endosso (geralmente o sacador) não podendo por isso o endossado dispor desses mesmos direitos. 12 Esta espécie de endosso é geralmente concedida às instituições bancárias para cobrança de títulos de crédito em que ao banco endossado é concedido procuração ou mandato para cobrança, o banco é pois um procurador do depositante (cliente) agindo não só por conta deste mas também em seu nome na modalidade de mandata regulado no artigo 1178 do CC. 13 Consequentemente em caso de endosso impróprio o cumprimento por parte do endossado traduz-se na obrigação de diligenciar em tempo pela cobrança dos valores titulados pela letra e integrá-lo na respectiva conta de depósitos à ordem ou no caso de insucesso devolvê-lo ao cliente endossante. Estando o banco obviamente habilitado a reclamar e receber o pagamento correspondente. 14 No caso concreto ao embargante não foi transmitido por via do endosso em branco qualquer dos direitos inerentes às quatro letras de câmbio em apreço tendo apenas sido incumbida pela B Ldª de proceder enquanto mandatária e em nome desta à cobrança do valor titulado por aquelas letras 15 Também não se vislumbra que o embargante seja titular de um direito incompatível com a realização ou âmbito da penhora efectuada no processo de execução fiscal subjacente ao caso sub judice uma vez que

2 de 5 22/05/17, 14:46 a penhora das letras de câmbio não é incompatível com o direito de crédito que a embargante detém sobre a executada já que ele dispõe do contrato de desconto sob B Ldª para garantir esse crédito. 16 De facto as letras que lhe foram entregues pelo endosso funcionam apenas como elemento acessório à cobrança. 17 Sendo certo que a penhora das letras a efectuar pela Administração Tributária em nada obsta o embargante (descontador) de accionar os vários contratos de desconto subscritos pela B Ldª (descontário) com vista a obter o valor por ela descontado 18 Acrescente-se que o desconto é um contrato atípico em que o descontador apesar de usufruir simultaneamente de dois instrumentos aptos a obter a satisfação do seu direito no momento oportuno só poderá accionar um dos créditos pois só um é devido 19 A sentença a quo enferma de erro de julgamento devido a errónea apreciação da legitimidade processual do embargante Deve a sentença ser revogada e os embargos de terceiro ser julgados improcedentes. Contra alegou a embargante pugnando pela manutenção do decidido. O Mº Pº neste Supremo Tribunal emitiu parecer do seguinte teor: Objecto do recurso: sentença declaratória da procedência de embargos de terceiro deduzidos em processo de execução fiscal nº 4170200315069943 S Feira 4 Fundamentação: 1 Enquadramento jurídico tributário: I A letra de câmbio é um título de crédito pelo qual uma pessoa (sacador) ordena a outra pessoa (sacado) que lhe pague a si ou a terceiro (tomador determinada importância- O desconto bancário é a operação pela qual um banco paga a quem lhe endossa uma letra a importância nele inscrita antes do vencimento mediante o pagamento de prémio / comissão (denominado desconto) equivalente ao juro correspondente ao período que medeia entre a data de pagamento e a data do vencimento do título. O endosso transmite todos os direitos emergentes da letra artigo 14 da Lei Uniforme relativa às Letras e Livranças O detentor do título é tido como o portador legítimo quando justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos artigo 16 da LUL O portador legítimo tem direito ao crédito emergente do título artigo 43 da LUL cf Dicionário Comercial e Bancário; Menezes Cordeiro manual de direito bancário 5ª edição II Qualificados como incidente do processo de execução fiscal os embargos de terceiro constituem meio adequado de defesa não apenas da posse mas de qualquer direito incompatível com arresto penhora ou qualquer acto judicialmente ordenado de apreensão ou entrega de bens (artigos 167 e 237 nº 1 do CPPT) A larga amplitude da previsão legal confere tutela judicial mesmo em casos em que seja discutível a posse de títulos de crédito ou de quotas de sociedades (Jorge Lopes de Sousa in CPPT anotado 6ª edição 2011 art 167 anotação 5, pp.56 III Características do caso concreto A sociedade executada B Ldª emitiu em 31 de Julho de 2007 e 28 de Setembro de 2007 duas letras de câmbio com prazos de vencimento em 30 de Setembro de 2012 e 31 de Janeiro de 2008, respectivamente (probatório nºs 3 e 4). As letras foram objecto de operações de desconto bancário efectuadas em 07 Agosto de 2007 e 28 de Setembro de 2007 (probatório nºs 5 e 6). Estas operações transmitiram aqueles títulos de crédito por endosso simples na ausência de qualquer dos requisitos que permita classificá-los como por procuração imperfeito ou impróprio artigo 18 da LUL A apreensão dos títulos de crédito pela administração tributária verificou-se em 30 de Dezembro de 2007 (probatório nº 14) Neste contexto o Banco A.. SA ao qual as letras foram apresentadas a desconto antes dos respectivos vencimentos é portador legítimo e credor da sociedade aceitante das letras tendo o seu direito de crédito sido ofendido pelo posterior acto de apreensão efectuado pela administração tributária. Conclusão. O recurso merece provimento. A sentença impugnada deve ser confirmada. Colhidos os vistos cumpre decidir. Fundamentação De Facto Foi a seguinte matéria de facto que o Tribunal a quo deu como provada e que as partes não questionam: 1 Em 19 10 2003 foi autuado pelo Serviço de Finanças de Santa Maria da Feira -4 o processo de execução fiscal nº 4170200301506943 para cobrança de dívidas em nome de B.. Ldª Nif.. provenientes de IVA dos anos de 2000 e 2001 no montante global de 251792,92 folhas 1 e segs do PEF que constitui o PA. 2 Por carta registada cujo aviso de recepção foi assinado em 03 02 2004 foi a executada citada para pagar a dívida em causa folhas 9 vsº do PA. 3 Em 31 07 2007 foi emitido um título de crédito nº 500792887066210100 no qual consta que tem subjacente uma transacção comercial titulada pela factura nº 239 no montante de 19 412,03 com vencimento em 31 12 2007 que o sacador e tomador é B. Ldª e sacado e aceitante é a sociedade C Ldª sobre conta desta domiciliada no.. de S. João da Madeira folhas 16 dos autos 4 Em 28 /09 /2007 foi emitido um título de crédito nº 500792 887066222885 no qual consta que tem subjacente uma transacção comercial titulada pela factura nº 248 e 250 (parte) no montante de 14137,67 com vencimento em 31 01 2008 que o sacador e tomador é B.. Ldª e sacado e aceitante é a sociedade C. Ldª sobre conta desta domiciliada no de S João da Madeira folhas 15 dos autos 5 Em 07 08 2007 o título de crédito descrito em 3 foi objecto de uma operação bancária designada tipo C

3 de 5 22/05/17, 14:46 sujeita além do mais a spread de 5,0000000 e taxa de Operação de 9359000 e no seu verso consta a menção pague-se ao Banco A. SA e a assinatura de responsável da B.. Ldª folhas 17 dos autos 6 Em 28 09 2007 o título de crédito descrito em 4 foi objecto de uma operação bancária designada tipo C sujeita além do mais a spread de 5,0000000 e taxa de Operação de 9594000 e no seu verso consta a menção pague-se ao Banco A.. SA e a assinatura de responsável da B.. Ldª folhas 17 dos autos. 7 Em 04 12 2007 através do sistema de penhoras electrónicas a AT notificou a sociedade C. Ldª nif. da penhora de eventuais créditos da executada folhas 11 PA 8 Por fax de 05 12 2007 a sociedade C.. Ldª respondeu à AT que existe o registo de seis aceites relativos às facturas subjacentes do fornecedor B.. que discriminou e de que juntou cópias no valor global de 120401,86 entre as quais as dos títulos referidos em 3 e 4 supra folhas 12 a 17 do PA 9 A data do vencimento de cada um dos aceites situa-se no intervalo de 31 12 2007 e 31 03 2008 folhas 12 a 17 do PA 10 Por ofício de 06 12 2007 enviado sob registo postal cujo aviso de recepção foi assinado em 07 12 2007 a AT notificou a Agência do de S. João da Madeira local de domiciliação constante dos títulos da apreensão dos referidos seis títulos de crédito folhas 18 do PA. 11 Por ofício de 06 12 2007 enviado sob registo postal cujo aviso de recepção foi assinado em 07 12 2007 a AT notificou a sociedade C na qualidade de sacado e aceitante da apreensão dos referidos seis títulos de crédito folhas 19 do PA. 12 Por ofício de 06 12 2007 enviado sob registo postal cujo aviso de recepção foi assinado em 1 12 2007 a AT notificou a sociedade B. na qualidade de sacador da apreensão dos referidos seis títulos de crédito folhas 20 do PA 13 Em 19 12 2007 o sacador e executado B. informou a AT de que os títulos emitidos em 31 07 2007 e 17 09 2007 com os valores de 19412,03 e 14 137,67 e com datas de vencimento em 31 12 2007 e 31 01 2008 respectivamente no valor global de 33 549,70 já tinham sido descontados na Agência do Banco A. da freguesia de.. Santa Maria da Feira folhas 3 dos autos e 21 do PA 14 Por ofício de 20 12 2007 enviado sob registo postal cujo aviso de recepção foi assinado em 21 12 2007 a AT notificou a Agência do Banco A.. da apreensão dos referidos títulos de crédito e de que deveria entregá-los no prazo de 8 dias folhas 13 dos autos e 22 do PA 15 Por carta registada de 27 12 2008 e entrada no Serviço de Finanças da Feira -4 em 01 01 2008 a agora embargante Banco A.. respondeu à AT que tomou conhecimento da penhora e apreensão através da comunicação acima referida e que as referidas letras foram endossadas ao Banco A SA em 07 08 2007 e 28 09 2007 aquando das operações de desconto bancário de que foram objecto folhas 19 dos autos e 23 do PA 16 Por ofício de 04 01 2008 enviado sob registo postal cujo aviso de recepção foi assinado em 07 01 2008 A AT respondeu à Agência do Banco A. de acordo com o teor constante de folhas 85 o qual se dá aqui por reproduzido. 17 Por carta datada de 17 01 2008 entrada no Serviço de Finanças da Feira -4 em 21 01 2008 a agora embargante entregou à AT os títulos em causa nos autos folhas 2 verso e 26 do PA. Com base na petição apresentada em 18 01 2008 o Serviço de Finanças da Feira 4 autuou administrativamente em 18 02 2008 o processo de embargos de terceiro nº 4170-08/800002.6 que originou a presente instância folhas 2 de 3 dos autos. De direito Perante a factualidade dada como provada o Mº juiz analisou a pretensão dos embargantes tendo em conta que a AT afirmava a anterioridade da penhora ao acto do endosso a favor do embargante e a ilegitimidade processual do embargante por os direitos de crédito não serem susceptíveis de posse e por o endosso em causa não ter por efeito a transmissão dos direitos emergentes do título de crédito. E considerando que o endosso consubstancia uma verdadeira transmissão de direitos, provada que estava a anterioridade do endosso face à data da penhora e a qualidade de terceiro do embargante, julgou os embargos procedentes. A Fazenda Publica não se conforma com esta decisão e em sede de recurso reitera a falta de legitimidade dão embargante na medida em que considera serem os direitos de crédito insusceptíveis de posse além de que no caso o endosso se deve qualificar como um endosso imperfeito que não consubstancia uma efectiva transmissão de direito mas apenas habilita o endossado a exercer a cobrança dos mesmos em nome do endossante. Por sua vez a recorrida como se vê das conclusões das suas contra alegações sustenta a sua legitimidade por ser o possuidor legítimo das letras em causa, posse essa derivada dos endossos translativos efectuados no âmbito dos contratos de desconto sendo que essa posse foi ofendida pela apreensão da AT. Vejamos. Estipula o artigo 237 do CPPT: Artigo 237.º Função do incidente dos embargos de terceiro. Disposições aplicáveis 1 - Quando o arresto, a penhora ou qualquer outro acto judicialmente ordenado de apreensão ou entrega de bens ofender a posse ou qualquer outro direito incompatível com a realização ou o âmbito da diligência, de que seja titular um terceiro, pode este fazê-lo valer por meio de embargos de terceiro. 2 - Os embargos são deduzidos junto do órgão da execução fiscal. 3 - O prazo para dedução de embargos de terceiro é de 30 dias contados desde o dia em que foi praticado o acto ofensivo da posse ou direito ou daquele em que o embargante teve conhecimento da ofensa, mas nunca depois de os respectivos bens terem sido vendidos. (Lei n.º 109-B/2001 de 27 de Dezembro) (Redacção anterior) Decorre da leitura do preceito acima transcrito que são três os requisitos da procedência deste meio de tutela judicial: a tempestividade da sua dedução. A qualidade de terceiro do embargante e a ofensa da posse ou de qualquer direito de que o terceiro, seja titular por motivo de penhora arresto ou qualquer acto que na execução fiscal decrete a apreensão de bens. No caso dos autos o mº juiz a quo decidiu e bem quer da tempestividade da apresentação dos embargos de terceiro quer da qualidade de terceiro do embargante realidade que a Fazenda não contesta em sede de recurso. Todavia a recorrente discorda do decidido e sustenta que a apreensão ou penhora das duas letras de

4 de 5 22/05/17, 14:46 câmbio possa ofender a posse ou qualquer outro direito do embargante. Entende em primeiro lugar que as letras de câmbio são insusceptíveis de posse e em segundo lugar que não houve transmissão dos direitos para a esfera do endossado o embargante já que o endosso em causa foi uma forma de o habilitar a cobrar os montantes que as letras titulavam mas em nome e por conta do endossante. A sentença em nosso entender analisou profundamente as questões suscitadas pelo recorrente. Efectivamente o mº juiz a quo debruçando-se sobre a invocada ilegitimidade processual passiva do embargante que Fazenda Pública fazia decorrer da insusceptibilidade de posse dos direitos de crédito e do aludido endosso imperfeito entendeu que a simples incorporação de um direito numa letra não extingue a relação subjacente ao direito, não constituindo por isso na falta de acordo expresso em sentido diferente tal incorporação, novação. Todavia considera que a criação de um título de crédito pressupõe a sua circulação fácil e segura e que o endosso é, como resulta do artigo 11 da LUL, o modo de transmissão das letras de câmbio. E tem como efeito jurídico nos termos do artigo 14 do mesmo diploma legal a transmissão para o endossado de todos os direitos emergentes da letra. Sendo o endosso nos termos do artigo 15 do diploma legal citado o garante do aceite e pagamento da letra. E considera que, por outro lado, o artigo 16 da LUL prescreve de forma expressa que o detentor de uma letra é considerado portador legítimo desde que justificado o endosso. Reitera contudo a recorrente que no caso em apreço se está perante endosso imperfeito ou impróprio já que não se transmitiu ao endossado os direitos emergentes das letras em causa mas apenas o poder de proceder à cobrança do montante por elas titulado em nome e por conta do endossante C Ldª. O endosso em causa valeria, assim, apenas, como procuração. Mas não tem razão. Como bem refere o mº juiz a quo o endosso para ser considerado por procuração teria de ser efectuado nos termos do artigo 18 da LUL. Sendo que o endosso determina a transferência da titularidade do direito cambiário para o endossado, o que significa que com ele se opera a transferência de um direito de crédito sem nenhum vício intrínseco, atentos os princípios da autonomia e abstracção, a legitimidade do embargante não pode deixar de ser considerada assegurada dado que por força do endosso o endossado passa a ser agora o credor da letra. Por força do acto cambial que o endosso é, o endossante deixa de ser credor do título sendo o crédito agora do endossado. O endosso em causa não só legitima a posse do endossado sobre o título, o que também o endosso impróprio sempre asseguraria, mas transfere também para o endossado o direito ao crédito tornando-o credor, dessa forma extinguindo o direito ao crédito do endossante efeito que o endosso impróprio não assegurava. Trata-se assim de um endosso próprio translativo. Todavia a recorrente sustenta que a penhora das letras de câmbio não é incompatível com o direito de crédito que a embargante detém sobre a executada já que ele dispõe do contrato de desconto sob B. Ldª para garantir esse crédito. Alega para tanto o endosso em causa tem apenas uma função de garantia do crédito mutuado derivado do contrato de desconto. Sobre esta questão, afastando a função garantista do endosso pronunciou-se e bem o mº juiz assinalando que o desconto bancário sendo uma operação pela qual o particular de um letra ainda não vencida é abonada do seu valor pelo banco deduzidos os juros compensatórios até ao vencimento e as comissões ou prémios a que haja lugar implica que o descontário transfira o título mediante endosso ao descontador o qual no vencimento cobra a letra para si reembolsando a quantia líquida paga o primeiro e respectiva remuneração. De facto o desconto de letra desconto de letra bancária é um contrato bancário que permite transformar um direito de crédito em dinheiro imediato (liquidez), sem ter que esperar pela data de vencimento da letra sendo certo que a posse da letra derivada do endosso translativo tornando o endossado credor e extinguindo direito do endossante permite ao seu portador cobrar o direito que a letra titula. Neste sentido veja-se também o acórdão do STJ de 14 10 de 2003 in Revista nº2662/03 cujo sumário com a devida vénia se transcreve: I - No desconto bancário o banco - descontador - procede ao adiantamento da quantia correspondente ao valor nominal do título submetido a desconto, mediante o pagamento (por meio de compensação imediata) da remuneração devida pela antecipação do crédito e pelos encargos inerentes à operação, e a entrega pelo descontário do título devidamente endossado que facultará, na data do seu vencimento, ao banco - descontador a cobrança do seu crédito. II - Enquanto mútuo o contrato rege-se pelas disposições desse tipo contratual previstas nos art.ºs 1142 a 1151 do CC; na perspectiva de dação pro solvendo, a entrega do título descontado pelo descontário ao banco descontador não extingue a obrigação, que só se opera quando o credor (descontador) realizar o valor correspondente ao montante da prestação a que tinha direito, de acordo com o que estabelece o art.º 840 do CC. III - Da noção de contrato de desconto bancário extrai-se que o descontador fica munido de dois títulos ou causas de pedir com a entrega de letra de câmbio em dação pro solvendo: o mútuo, em relação ao crédito causal; e o endosso e posse da letra, com referência ao crédito cambiário; apresentando-se a obrigação decorrente do mútuo como autónoma em relação à obrigação cambiária, de modo que é lícito ao banco descontador, portador legítimo do título de crédito descontado, accionar o descontário com base no mútuo (obrigação causal) ou qualquer dos intervenientes no título com base no seu direito de crédito cambiário (obrigação cartular). IV - O autor, enquanto descontador e portador legítimo da letra de câmbio descontada, podia optar por demandar o descontário com fundamento no contrato de desconto bancário (mútuo) com ele firmado ou qualquer dos intervenientes cambiários com base na relação cartular. V - Nestas duas situações os prazos de prescrição são diferentes; na acção cambiária o prazo de prescrição é o previsto no art.º 70 da LULL, enquanto que na acção fundada no contrato de desconto bancário (mútuo com dação pro solvendo) o prazo prescricional é o prazo ordinário de vinte anos previsto no art.º 309 do CC. VI - A assinatura de favor aposta na letra descontada derivada de um pacto entre o réu, autor do favor, e o

5 de 5 22/05/17, 14:46 favorecido vincula, assim, juridicamente, o obrigado de favor, que deve honrar o compromisso que assumiu com a aposição da sua assinatura, cumprindo as obrigações daí emergentes, ainda que tal tenha sido do conhecimento do banco autor. Decisão Por todo o exposto e porque se concorda com a fundamentação de direito da sentença recorrida, acordam os juízes da Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso. Custas pela recorrente. Lisboa, 3 de Maio de 2017. - Fonseca Carvalho (relator) - Isabel Marques da Silva - Pedro Delgado.