ETNOMATEMÁTICA: ENSINANDO A ENSINAR MATEMÁTICA

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Transcrição:

ETNOMATEMÁTICA: ENSINANDO A ENSINAR MATEMÁTICA 94824860210 Eixo Temático: Etnomatemática e as relações entre tendências em educação matemática Palavras-chave: Matemática escolar; Matemática da vida; Etnomatemática, Contextualização. Introdução Existe, no contexto escolar brasileiro, a crença de que a Matemática é uma disciplina de difícil aprendizagem o que acarreta certa aversão e dificuldade, em muitos alunos, em percebê-la e utilizá-la nas situações-problema do dia-a-dia. Essa realidade foi percebida durante dois anos de estágio supervisionado vivido em escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio, no município de Parintins, Estado do Amazonas. Em decorrência desse panorama, decidiu-se desenvolver uma pesquisa com o objetivo de compreender as concepções de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental sobre a matemática aprendida na escola e a percebida na vida, na qual os sujeitos da pesquisa foram os alunos de uma turma de 9 ano da Escola Estadual Gentil Belém. Para a obtenção de informações, utilizou-se observação direta em sala de aula, estudo do meio, do qual foram extraídas notas etnográficas e, a aplicação de questionários. Os resultados da investigação, que teve duração de 18 meses, apontam para a necessidade do professor de Matemática ser conhecedor dos fundamentos da etnomatemática, para que nas suas aulas possa utilizar-se de estratégias didáticas que levem os alunos a reconhecer e valorizar os diversos tipos de ideias e noções matemáticas desenvolvidas por distintos grupos socioculturais e presentes no dia-a-dia. Matemática escolar: matemática sem contextos? A percepção das dificuldades enfrentadas por alunos e professores, no que tange ao ensino e a aprendizagem de determinados conceitos matemáticos, no contexto escolar, despertou o interesse de buscar subsídios para uma prática docente menos traumática, mais útil e ativa e isso conduziu a pesquisadora ao conhecimento da etnomatemática.

A etnomatemática que embasa este trabalho é entendida com uma concepção pedagógica de identificação, valorização e utilização das diversas formas de matematizar o mundo, como ponto de partida para o ensino da Matemática formal, pois: [...] Na linguagem disciplinar, poder-se-ia dizer que é um programa interdisciplinar abarcando o que constitui o domínio das chamadas ciências da cognição, da epistemologia, da história, da sociologia e da difusão, o que inclui a educação (D AMBROSIO, 2005, p. 60). Assim, a etnomatemática abre possibilidades para uma prática docente diferente daquela pautada no ensino livresco, sem contextualização imbuída de uma linguagem altamente formalista. Permite um ensino de matemática mais ativo desencadeador de situações desafiadoras que exigem do aluno um pensamento multi e interdisciplinar para buscar soluções aos problemas propostos. Viabiliza um ensino diferente da realidade percebida, com raras exceções, na prática dos estágios durante o desenvolvimento da pesquisa. (SILVA, 2009). Em virtude da observação e posterior aplicação dos questionários, pode-se perceber a concepção dos alunos do 9 ano sobre a presença e a importância da Matemática em suas vidas: 75% dos alunos afirmaram que a Matemática é muito importante em sua vida, mas somente 40% souberam justificar essa importância e identificar a Matemática em situações do seu cotidiano. Os alunos que justificaram e atribuíram grande importância à presença da Matemática em suas vidas, possuíam em comum um convívio direto com o comércio, devido ao fato de participar, junto com seus familiares, em atividades comerciais, sejam elas formais ou informais. A maioria dos alunos participantes da pesquisa acredita ser importante saber Matemática, mas na hora de justificar o porquê, atribuíam a necessidade de aprender para passar de ano, para se dar bem na série seguinte, para passar no vestibular ou em concurso público. Essa realidade permite questionar sobre o significado da Matemática que está sendo ensinada, de modo geral, nas escolas: uma matemática que se mostra por meio de algoritmos, regras, axiomas e teoremas sem um contexto sócio-históricocultural, sem considerar os conhecimentos prévios, sem relação com a realidade vivida e concebida pelos alunos, sem contextualização. Certamente, a ideia de contexto aqui defendida não é redutora às situações do cotidiano do aluno, é mais abrangente e inclui situações internas a própria matemática

onde o aspecto utilitário é apenas mais um componente (VASCONCELOS; RÊGO, 2010). Assim, pensa-se, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN, que o ensino de matemática na escola deve criar e recriar situações de aprendizagem, pois: Um conhecimento só é pleno se for mobilizado em situações diferentes daquelas que serviram para lhe dar origem. Para que sejam transferíveis a novas situações e generalizadas, os conhecimentos devem ser descontextualizados, para serem novamente contextualizados em outras situações (BRASIL, 2001, p.36). A descontextualização do conhecimento matemático para uma nova contextualização e posterior generalização, pode ser alcançada por meio da utilização da etnomatemática como fio condutor das práticas docentes numa aula de Matemática, pois possibilita ao professor utilizar distintas situações da vida real, nas quais há a presença de um pensamento matemático. Etnomatemática: contextualizando o ensino de matemática As condições reais do ensino de matemática são muito complexas e seus resultados, no Brasil, ainda permitem questionamentos sobre as formas de ensinar Matemática que mais se adequam à realidade dos nossos alunos e isso, certamente, requer a consciência da diversidade sociocultural que conforma o panorama escolar brasileiro. Nesse sentido, apresenta-se a etnomatemática como uma postura pedagógica que permite contextualizar a Matemática formal em diversas situações da vida em sociedade, pois é a forma pela qual, diferentes grupos culturais, matematizam os fenômenos naturais ao contar, medir, comparar, relacionar, classificar e inferir, ações que são a expressão de um pensamento matemático que pode ser o ponto de partida para o ensino de muitos conceitos previstos nas propostas curriculares de Matemática do ensino fundamental e médio (D AMBROSIO, 1984). A Matemática ensinada e concebida no contexto escolar, de modo geral e nas escolas de Parintins em particular é resultado do pensamento grego, porém para D Ambrósio (1998, p.6), há distintos grupos culturais que desenvolvem técnicas, habilidades e práticas de lidar com a realidade, de manejar os fenômenos naturais, e mesmo de teorizar essas técnicas, habilidades e práticas de maneira distinta [...]. Esses grupos culturais podem ser um grupo de adolescentes, de pedreiros, de costureiras, de

alunos de uma grande cidade ou alunos de uma escola ribeirinha, todos têm posturas conceituais e enfoque cognitivos distintos criados e validados no grupo ao qual pertencem. Assim, não se pode pensar formas idênticas de ensinar Matemática a grupos culturalmente distintos, pois grupos distintos possuem formas próprias e específicas de ensinar e aprender. Nesse contexto a etnomatemática pode contribuir para que o ensino se torne mais significativo, pois é um programa de pesquisa que caminha juntamente com a prática escolar e permite a utilização dos conhecimentos prévios de alunos de distintos grupos culturais (D AMBROSIO, 1998). A Etnomatemática é a área de investigação que estuda os vários perfis das relações e interconexões entre ideias matemáticas e outros elementos constituintes culturais, como a língua, a arte, os artesanatos, a construção, a educação. É a área de investigação que estuda a influência dos fatores culturais sobre o ensino e a aprendizagem da matemática [...] (GERDES, 2007, p.54). Então, guiada pelos pressupostos da etnomatemática é que se desenvolveu um estudo do meio com os alunos participantes da pesquisa, no qual os alunos foram levados a observar e estabelecer relações comerciais num supermercado ao medir, comparar, pesar e comprar distintos produtos. Também foram levados a uma praça, na qual perceberam que muitos dos conteúdos que já haviam estudado ou estavam estudando podiam ser identificados nas construções ali presentes. Porém, não foi somente a identificação de conceitos matemáticos que o estudo do meio permitiu, talvez a maior contribuição tenha sido a percepção, dos alunos, das diferentes formas que um pensamento matemático pode se manifestar e isso foi atingido quando a aula de Matemática se desenvolveu com uma postura etnomatemática.

Considerações finais A pesquisa mostrou que a experiência educacional dos alunos é construída em interação direta com a prática docente. Geralmente, é a forma como o professor de Matemática desenvolve suas aulas que desperta no aluno o interesse ou não pelo o que está sendo ensinado, por isso é imprescindível que o professor tenha conhecimento das diversas formas de se estabelecer conexões entre o conhecimento matemático formalizado e os saberes matemáticos culturais, pois dessa relação pode surgir o significado para o conteúdo matemático que está sendo ensinado. A forma como os alunos percebem e concebem a Matemática em suas vidas é reflexo da forma como a aprendem na escola. Sendo assim, é necessário que a Matemática ensinada no contexto escolar seja mostrada além do rigor, da linguagem e da disciplinaridade. É necessário mostrá-la de forma contextualizada, como uma construção humana com raízes socioculturais que se modificam de grupo para grupo, mas que são em essência decorrentes da universalização das formas de contar, medir, comparar, classificar, localizar, relacionar e inferir. Ações que conformam os meios de ensinar e aprender Matemática em sociedade. Referências BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. 5ª a 8ª séries. MEC/SEF, 2001. D AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. D AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. São Paulo: Ática, 1998. D AMBROSIO, Ubiratan. Socio-Cultural Bases of Mathematical Education. Adelaide: Prodeedings of ICME-5, 1984. GERDES, Paulus. Geometria e Cestaria dos Bora na Amazonia Peruana. Estados Unidos da América: Lulu Enterprises, Morrisville, 2007. NC 27560. SILVA, Veleida Anahí da. Por que e para que aprender Matemática? : a relação da matemática de alunos das séries iniciais. São Paulo: Cortez, 2009. VASCONCELOS, Maria Betânia Fernandes de.; RÊGO, Rogéria Gaudêncio do. A contextualização como recurso para o ensino e a Aprendizagem da matemática. VI EPBEM. Monteiro, PB, 2010. Disponível em www.sbempb.com.br/epbem.