Desafios da pecuária de corte no Brasil: pecuária na Amazônia José Féres (IPEA)
Dinamismo da pecuária na Amazônia Legal Crescimento do rebanho bovino na Amazônia respondeu pela maior parte do crescimento do rebanho bovino no país
Cattle herd in Legal Amazonia and in the rest of Brazil, 1975-2003 (million heads) 200 180 160 140 Rest of Brazil Legal Amazonia Million heads 120 100 80 60 40 20 0 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 Fonte: IBGE - PPM
Evolução do rebanho bovino (em 1.000 animais) 1990 1995 1998 2000 Taxa de crescimento 1990-2000 Brasil 147.102 161.227 163.154 169.875 15% Mato Grosso 9.041 14.153 16.751 18.924 109% Pará 6.182 8.058 8.337 10.271 66% Rondônia 1.718 3.928 5.104 5.664 230% Fonte: IBGE
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Viabilidade privada da pecuária da Amazônia Legal Viabilidade técnica e econômica: alta rentabilidade do ponto de vista do produtor privado Baixo preço da terra Alto desempenho das pastagens/ condições goe-ecológicas favoráveis Rentabilidade não é decorrente dos incentivos fiscais Existe racionalidade econômica subjacente ao processo de expansão da pecuária na AML
Receita líquida por hectare da pecuária e TIR Município Receita líquida (R$/ano) TIR Alta Floresta/MT 138,91 14,5% Ji-Paraná/RO 132,87 11,5% Paragominas/PA 95,39 11,0% Redenção/PA 65,83 9,1% Santana do Araguaia/PA 95,80 14,7% Tupã/SP 65,32 6,4% Fonte: Margulis (2003)
Preços de vendas de terras - pastagens R$/Ha* 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Brasil 1.543,60 1.768,96 1.932,44 2.236,51 2.480,82 2.681,35 2.710,70 Região Norte 723,68 776,92 766,45 682,51 720,29 727,72 767,17 Região Nordeste 727,85 770,50 744,94 746,09 756,69 811,12 967,99 Região Sudeste 2.590,73 2.820,34 2.824,07 3.282,16 3.467,33 3.875,53 4.268,87 Região sul 2.586,77 2.828,49 3.086,35 3.844,25 4.291,21 4.380,75 4.473,38 Região Centro-oeste 1.425,88 1.768,14 1.960,17 2.273,89 2.665,05 2.784,15 2.851,30 Fonte: Gasques (2008) * valores deflacionados pelo IGP-DI de dezembro/2007
Pecuária e desmatamento Rentabilidade privada da pecuária pressão por desmatamento Mudanças no uso do solo apontam a pecuária como principal fonte do desmatamento na Amazônia
Evolução do uso da terra na Amazônia Legal, anos censitários 1970 1975 1980 1985 1995 Áreas desmatadas 3,0 4,0 6,2 7,7 9,5 Lavouras totais 0,3 0,6 1,0 1,2 1,1 Pastos plantados 0,7 1,4 2,6 3,8 6,6 Inutilizadas + Descanso 2,0 2,0 2,6 2,7 1,8 Áreas não desmatadas 97,0 96,0 93,8 92,3 90,5 Reservas/Áreas públicas 87,9 84,5 79,6 77,3 76,3 Pastos Naturais 4,0 4,5 5,1 4,7 3,6 Florestas privadas 5,1 7,0 9,1 10,3 10,6 Fonte:IPEA/DIMAC
Uso da terra - % da área dos estabelecimentos agrícolas Tipo de uso 1975 1980 1985 1995 2006 Lavoura Permanente 0.4 0.8 0.8 0.8 4.0 Lavoura Temporária + Em descanso + Não utilizadas 16.5 16.8 16.2 11.4 8.9 Pastagem Total 37.9 37.6 37.5 42.9 48.0 Floresta Total 45.1 44.8 40.6 41.5 37.3 Fonte: IPEA
Custos e benefícios sociais do desmatamento O fato do lucro privado da pecuária ser positivo não garante interesse social da atividade Necessidade de se avaliar benefícios sociais líquidos da pecuária Comparação com benefícios de outras atividades
Custo social do desmatamento na Amazônia - Seroa da Motta (2002) Parcelas estimadas Valores de uso associados ao extrativismo madeireiro, não- madeireiro e ecoturismo Valores de uso indireto associados à estocagem de carbono Valores de opção relativos à bioprospecção Valores de existência relativos à preservação da biodiversidade Ano de referência: 2000
Estimação dos valores de uso Extrativismo madeireiro: Almeida e Uhl (1995): manejo florestal Região de Paragominas: US$ 28,50/ha/ano Extrativismo não-madeireiro: IBGE: pesquisa de produção extrativa vegetal municipal Valor: US$ 0,20/ha/ano Ecoturismo Potencial equivalente ao atual potencial da região do Pantanal Valor: US$ 9,00/ha/ano
Uso indireto estoque de carbono Densidade adotada: 100 ton de C/ha Fearnside (1997): 191 ton de C/ha Andersen et al. (2001): 150 ton de C/ha Justificativa: desmatamento maior nas áreas de transição (menor biomassa)
Bioprospecção e valor de existência Bioprospecção: Dificuldade de se medir benefícios associados à descoberta de fármacos e seus princípios ativos Valor adotado: USD 21,00/ha/ano Valor de existência: US$ 31,20 ha/ano
Custos do desmatamento Valor anual Valor presente US$/ha US$/ha/ano 10% a.a. 6% a.a. 2% a.a. Valor de uso direto 37,7 377 628 1884 Produtos madeireiros 28,5 285 475 1425 Produtos não-madeireiros 0,2 2 3 9 Ecoturismo 9,0 90 150 450 Valor de uso indireto 18,0 180 300 900 Estocagem de carbono 18,0 180 300 900 Valor de opção 21,0 210 350 1050 Bioprospecção 21,0 210 350 1050 Valor de existência 31,2 312 520 1560 Total 108 1080 1800 5400
Custos e benefícios: pecuária X conservação Custo econômico do desmatamento (excluindo uso direto): US$ 70,2 = R$128,00 Custo de oportunidade da mata para pecuaristas e agricultores varia com grau de risco: R$ 45,00/ha (com aversão a risco) R$ 200,00/ha (neutro ao risco)
Custos e benefícios: pecuária X conservação Soma total dos custos e benefícios poderá ou não cobrir os custos de oportunidade dos pecuaristas, dependendo do seu grau de aversão ao risco Áreas de maior aversão ao risco: possibilidade de se compensar perda dos produtores e conservar Áreas de menor aversão ao risco: impossibilidade de se cobrir o custo de oportunidade dos produtores Problema: ausência de mecanismos de transferência para efetivar compensação
Custos e benefícios: manejo florestal X pecuária Sob a ótica privada, manejo mostra-se menos atrativo que a pecuária Valor presente líquido manejo: US$ 203/ha Valor presente líquido pecuária: US$ 500/ha
Custos e benefícios: manejo florestal X pecuária Sob o ponto de vista social, manejo é superior à pecuária Valor presente líquido manejo: US$ 1.100/ha Incorporação dos valores de uso e não uso da floresta Valor presente líquido pecuária: US$ 500/ha Como extrativismo madeireiro não sustentável geralmente é seguido pela pecuária, manejo florestal compete com a soma das duas atividades necessidade de intervenção governamental para implementar solução socialmente desejável
Preservação e pecuária: possíveis soluções? Estratégia: trabalhar com pecuaristas, e não contra eles Zoneamentos participativos como instrumento de negociação entre os agentes econômicos (incluindo pecuaristas) e governo Ocupação pela pecuária (ou intensificação da atividade) em regiões adequadas do ponto de vista social, econômico e ambiental
Preservação e pecuária: possíveis soluções? Adoção de instrumentos econômicos Mecanismo de troca: flexibilização da Mecanismo de troca: flexibilização da reserva legal - permitir que áreas mais férteis e produtivas se beneficiem de maior percentual de desmatamento, com compensação de aumento de áreas de reservas legais em regiões ecologicamente mais ricas
Preservação e pecuária: possíveis soluções? Taxação de desmatamentos Necessidade de taxas elevadas para reduzir desmatamento Compensação aos agentes para que não desmatem