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Transcrição:

O BRINCAR COMO ORGANIZADOR E CONSTITUINTE DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 1 THE PLAYING ACT AND ITS ORGANIZER AND CONSTITUENT ROLES IN CHILD DEVELOPMENT Aline Da Silva Jurack 2 1 Projeto de extensão realizado no curso de Psicologia da Unijuí 2 Aluna do curso de graduação em Psicologia da Unijuí - alinejurack@yahoo.com.br INTRODUÇÃO O presente trabalho faz parte da experiência de observação participante de crianças de Educação Infantil, a partir do projeto de intervenção, a partir da disciplina Estágio Supervisionado e Seminário em Psicologia e Processos Educacionais, realizado com alunos de uma escola municipal, da préescola, com idades de 5 e 6 anos, que estão iniciando o processo de alfabetização formal. A turma constituída de 22 crianças. A idade das crianças levou a questionamentos como: O que é o brincar e suas contribuições para o desenvolvimento das crianças em período de educação formal. A infância é uma fase onde o individuo acumulará experiências e vivências que irão servir como suporte na formação da sua subjetividade, começando assim a constituir a sua personalidade, como é mencionado no artigo de Melo e Silva (2012), A Psicanálise de Crianças: o Brincar como Recurso Terapêutico. Os autores ainda mencionam que para haver a construção da personalidade da criança é necessário haver um equilíbrio entre as relações de apego desenvolvidas com os pais e a resolução do Édipo e também a influência da cultura, da forma como a família e a sociedade tratam de forma diferenciada os sexos, os papéis sociais atribuídos. Sendo assim, a partir da observação participante sobre o brincar das crianças desta turma, será relatado sobre os jogos ditos universais, as principais brincadeiras observadas e a importância do brincar na constituição da criança. METODOLOGIA O trabalho da psicologia tem ultrapassado os espaços clínicos e começa a se inserir, em diferentes espaços em que surgem demandas de trabalho. Um destes espaços é o educacional, onde se trabalha de forma interdisciplinar com questões que envolvem o ensino aprendizagem. O projeto de intervenção que tem como tema O psicólogo no contexto escolar: com o que trabalhar?, visa abranger todas as instâncias presentes no contexto escolar e todos os sujeitos que fazem parte dela. O projeto foi acolhido em uma turma da pré-escola. A metodologia utilizada no projeto consiste em observação participante, onde se busca observar a realidade do local. Faz parte do projeto à observação participante, o acompanhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem e o acompanhamento do desenvolvimento infantil. Para construção deste artigo foram usadas as observações acerca do brincar e referencial teórico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Jogos universais Uma criança desta turma, um menino de cinco anos de idade, chamou atenção com seu comportamento. Horas falando sozinho sobre monstros e dragões e gesticulando junto com a fala. Neste menino em questão, estão presentes os jogos constituintes, chamados de universais. O jogo do fort da, como Freud (1920) observou no brincar de seu neto, o qual brincava com o aparecimento e o desaparecimento de um objeto. Uma das funções do brincar, a qual se pode observar também no jogo do fort da, é a intervenção do externo e interno, onde a criança poderá fazer a distinção do que é do corpo dela/interno e o que não é do corpo dela/externo, sendo este um processo de simbolização bastante trabalhoso para a criança. Está, não está. Sendo assim, O jogo auxilia a fazer a operação de separação: insere significantes numa experiência vivida, transformando-a em brincar. Brincar assim, permite fazer novas experiências e prescindir da presença do outro. Neste sentido, o brincar é um novo significante incluído no universo simbólico da criança (BACKES, p.140). Um exemplo o qual se pode trazer deste menino observado, é o esconder-se atrás de baldes de brinquedos para não ser visto pela professora. Outro exemplo, em um momento no qual a professora explicou a atividade e após ele quis ser a professora e eu ser ele. Como explica Freud (1920) no início, achava-se numa situação passiva, era dominada pela experiência; repetindo-a, porém, por mais desagradável que fosse, como jogo, assumia papel ativo (p. 26), da passividade buscou tornar-se ativo. Outro exemplo deste mesmo menino, numa aula de Educação Física, realizada numa pracinha perto da Escola, na qual ele estava brincando sozinho. Corria em cima do muro (o qual era de uma altura suficiente para pessoas poderem sentar) e pulava, descendo, fazendo o trajeto até poder retornar e fazer o mesmo ato diversas vezes. Num dado momento uma professora pergunta o que ele esta fazendo. Ele responde Estou pulando o penhasco. Neste momento, a professora dramatiza perguntando se ele sabe o que acontece com as pessoas que de lá pulam (fazendo referência que estas morrem, como nos filmes). Neste exemplo trata-se dos jogos chamados de transicionais, este faz alusão da ausência, insistência da presença por meio da repetição, como salienta Jerusalinsky (2010), ela fica nesta brincadeira de cai, não cai (p.158). Ou ainda, em atividades na sala de aula, contorna as figuras, diversas vezes com lápis de cor, em vez de pintá-las. Ora em suas atividades em sala de aula, põe sua mão sobre as atividades e assim contorna sua mão sobre ela. Neste jogo de borda, delimita até aonde vai seu corpo, o que não se pode ser simbolizado torna-se real.

Outro tipo de brincadeira é este é o outro, onde a criança substitui o objeto de desejo. Onde antes era o seio da mãe, passa a ser o paninho ou o bichinho de pelúcia. Na fase de adaptação escolar, como salienta Rosa (2011), é comum que crianças tenham consigo algum objeto ou que tenham o dia do brinquedo (podendo assim, trazer um brinquedo de casa). Brincadeiras frequentes A criança começará a usar símbolos ou representações mentais para se lembrar e a pensar coisas que não estão fisicamente presentes, começando assim a desenvolver a função simbólica. Começará com as brincadeiras de faz de conta ou denominadas de jogos dramáticos, o qual coloca a criança no terceiro nível de brincadeira segundo Smilansky (1968, apud PAPALIA, 2013, p. 296). Os jogos dramáticos segundo Papalia (2013, p. 297) envolveram uma combinação de cognição, emoção, linguagem e comportamento sensório-motor. O qual se desenvolverá nos anos préescolares para os jogos formais de regra, o que antes era uma simples brincadeira se torna algo rigoroso. Tendo como exemplo quando as crianças brincam com determinado enredo, começam a estabelecer uma história e encená-la. Certa vez, as crianças observadas, estavam brincando de ser cachorro, hora morria um e hora outro morria. Após algum tempo começam a colocar regras ele não pode morrer, pois ele vai me salvar e a história foi se desenrolando e assim criando um companheirismo ou discórdias que serão resolvidas por vezes por intervenção de um terceiro. A criança quando brinca, já estará apresentando traços do que futuramente virá a ser um trabalho. Onde era o brincar, o trabalho deverá advir (RODOLFO, 1990, p.158). Exemplos de brincadeiras observados nas crianças são o brincar de papai, mamãe e filhos, montar uma casinha, bater em baldes num determinado ritmo, correr ou organizar peças de madeira formando castelos. A importância do brincar O brincar como aponta Papalia (2013) não é apenas diversão. Vai além, se torna significativo para a criança desenvolver o físico e o mental, podendo assim, conhecer o mundo a sua volta, usar sua imaginação, descobrir objetos e resolver problemas e ir se preparando para futuro. Freud (1920) não se dedicou a análise de crianças, porém em sua obra Escritos criativos e devaneios aproxima a atividade lúdica de crianças da atividade criadora de um escritor, já que ambos criam um mundo próprio. Um enquanto brinca e o outro em suas produções literárias. A partir das brincadeiras as crianças vão se organizando para assim iniciar o desenvolvimento de contatos sociais e a iniciação de relações emocionais como aponta Winnicott (2015, p.163). Deste brincar, a criança começará a desenvolver as amizades e os inimizades, enquanto para o adulto isto se dá através do trabalho. Normalmente crianças relatam para a professora ou para outros adultos que fulano não é mais meu amigo quando por vezes acaba discordando de algo, situação considerada pelos adultos, extremamente fútil, enquanto que para a criança foi de grande importância.

Quando se atinge a vida adulta, temos a ideia que o brincar é somente uma função exclusiva das crianças. Porém isto é uma renúncia de algo prazeroso, o qual o adulto prefere esconder, pois é atrás do brincar que aparecem desejos, que sentimos receio de demonstrar. Porém há traços deste brincar presentes ainda na vida adulta, tendo como exemplo a paixão dos sujeitos pelas bordas (2010, p.158) como é mencionado por Jerusalinsky, onde o sujeito ao escolher o local de férias busca encontrar um local a beira do mar ou a montanha. Isto é, o fascínio pelas bordas perdura pelo resto da vida (JERUSALINSKY, 2009, p. 248). Conclusão O brincar não servirá somente como uma forma de passa tempo infantil, tomará proporções de constituinte para seu desenvolvimento físico, mental e psicológico. Será um meio de interação, pelo qual a criança passará a interagir com outras crianças e começará a desenvolver papeis sociais e trabalho a partir do brincar - o que mais tarde virá a ser um possível trabalho e papeis sócias que poderá exercer quando se tornar adulto. Com a psicanálise tomamos como base que a criança, no seu brincar, não se inibirá, sendo que o seu brincar está como associação livre para o adulto. Assim sendo, com o auxilio de um instrumento lúdico, a criança estará falando algo que foi doloroso para ela, enquanto que para o adulto estará aparecendo a partir da fala, associação livre, e assim podendo vir amenizando seu sofrimento. Por meio do brincar, a criança estará falando, e caberá alguém ouvi-la e ajuda-la. Eis ai, uma possibilidade de trabalho do psicólogo junto ao campo educacional. Palavras chave: Psicologia educacional; Educação infantil; Jogos constituintes; Desenvolvimento infantil. Keywords: Educational psychology; Child rearing; Constituint games; Child development. REFERÊNCIAS BACKES, Carmen. Do brincar ao trabalho: os avatares na passagem da infância à adolescência. Revista Associação Psicanalítica. Porto Alegre, n.40, p.133-145, jan./jun.2011. DA ROSA, Dorisnei Jornada. A Educação Estruturante na Educação Infantil. Revista Associação Psicanalítica. Porto Alegre, n.40, p.99-108, jan./jun.2011. FREUD, Sigmund. (1920) Além do Principio do Prazer. In: Obras Completas: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996. JERUSALINSKY, Julieta. A criação da criança: letra e gozo nos primórdios do psiquismo. Doutorado Em Psicologia Clínica - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. SÃO PAULO 2009. 263 f. JERUSALINSKY, Alfredo. Psicanalise e desenvolvimento infantil: um enfoque transdisciplinar. 6. Ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2010. MELO, Polliana Oliveira Coutinho; SILVA, Alderon Marques Cantanhede. A Psicanálise de Crianças:

o Brincar como Recurso Terapêutico. Disponível em: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/a-psicanalise-de-criancas-o-brincar-como-recurso-t erapeutico. Acesso em: 25 de setembro de 2016. PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12. Ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. RODULFO, Ricardo. O brincar e o significante. Porto Alegre: Artes Medicas, 1990. WINNICOTT, D. W. A Criança e o seu mundo. 6 Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.