XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação Universidade do Vale do Paraíba



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Transcrição:

Resumo Habitação Social em São José dos Campos Um estudo do caso Pinheirinho (2004/2012) Autor ¹:Camila Goulart Duarte Autor ² : Emmily Caroline Leandro Orientador: Paulo Romano Reschilian ¹ ² Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo, ¹camilagduarte@hotmail.com ²emmilycaroline@yahoo.com.br A cidade de São José dos Campos vem apresentando um grande aumento populacional nas últimas décadas, devido à atração de melhores oportunidades no setor financeiro. Tal fato causou muitas transformações espaciais e gerou uma disputa no mercado imobiliário, causando um intenso crescimento da mancha urbana nas áreas periféricas, sem que o Estado estabelecesse um ordenamento deste território em expansão. Foram realizados programas habitacionais e criadas zonas especiais de interesse social, mas ainda existe um déficit de moradia. Em meio a esse caos urbano, surge a ocupação do Pinheirinho na zona sul da cidade, reflexo de uma política habitacional que não atente por completo a população de mais baixa renda. A forma com seu deu o desdobramento do caso Pinheirinho revela uma política de segregação sócio-espacial que divide a cidade e gera disparidades que dificilmente podem ser revertidas. Metodologia O método utilizado deverá se apoiar na análise comparativa dos vetores de crescimento, por meio de cartas geográficas, dados socioeconômicos, fotografias aéreas e demais instrumentos geográficos. Contando também com textos analíticos e críticos sobre a questão da habitação. Palavras-chave: segregação sócio-espacial, habitação social, política habitacional e planejamento urbano. Introdução A cidade de São José dos Campos está situada no eixo Rio São Paulo e faz parte da Região Metropolitana do Vale do Paraíba, que se destaca por seu alto desenvolvimento econômico. Dados do IBGE de 2009 mostram que São José é o município com o maior PIB da região, cerca de R$ 22,018 bilhões. A renda per capita do ano de 2009 da população é de R$ 35 mil. No ranking das 100 cidades do país com maior PIB, São José pulou do 21º para o 19º lugar. No final da década de 1970 com a expansão da atividade industrial para além da Região Metropolitana de São Paulo e devido ao II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) que tinha como finalidade estimular o desenvolvimento de bens de capital, alimentos e energia, o município de São José dos Campos, por sua localização privilegiada, recebeu fortes incentivos dos governos federal e estadual, especialmente na construção de rodovias, que por certo tempo possibilitaram a facilidade de escoamento da produção e permitiu que o processo de industrialização comandasse o crescimento da cidade. A chegada de novas indústrias gerou uma queda de desemprego no município, aumentando também a demanda de atividades de serviços, comércio, construção civil, entre outros. Esse aumento na busca de mão de obra causou não só a migração de sua zona rural, mas também de outros municípios da região para o centro da cidade e gerou um aumento na procura de unidades habitacionais, para suprir a necessidade de moradia dos trabalhadores das indústrias e destes novos centros tecnológicos. 1

Quadro 1: Fonte: Censo 2000 - IBGE O Quadro 1 mostra a evolução populacional em São José dos Campos, a expansão de áreas industrializadas que atingiu o Vale do Paraíba contribuiu para o crescimento populacional na região. Com o aumento populacional acelerado e a ausência de uma política habitacional consistente, ocorreu uma reestruturação da área urbana, um intenso processo de urbanização e ampliação dos desníveis sociais, tendo como reflexo a segregação sócio-habitacional. (...) Há uma forte disputa entre as classes sociais em torno da produção do ambiente construído. Entretanto, o que as classes sociais realmente disputam quando da produção desse ambiente, é mais que o comando do espaço urbano em si; é o controle do tempo despendido em deslocamentos intraurbanos, já que o tempo não pode ser controlado diretamente. (VILLAÇA,1986,p.40). As áreas centrais e suas proximidades foram valorizando-se e tornaram-se alvos de domínio do mercado imobiliário, empurrando a população de baixa renda para aéreas mais periféricas ao centro, produzindo os loteamentos e bairros clandestinos que hoje se faz presente na cidade. Contexto histórico da habitação social em São José dos Campos A cidade de São Jose dos Campos, em função da dinâmica que se acelera e que cria novas demandas, apresentou a partir da década de 1970 programas habitacionais sendo que, em primeira instância, beneficiavam as classes de renda média, enquanto que a população de mais baixa renda ainda não era atendida. A partir de 1980 foram criados conjuntos habitacionais na zona sul da cidade, destinados à população de baixo poder aquisitivo, como o Conjunto Habitacional Campo dos Alemães e Elmano Ferreira Veloso. Essa iniciativa municipal, de fazer os conjuntos habitacionais na zona sul gerou um aumento na segregação sócio espacial separando os pobres dos ricos, visto que outros conjuntos habitacionais foram instalados nesse vetor da cidade posteriormente, bem como no setor leste. A partir de 1996 as políticas municipais revelaram uma postura de desfavelização. Como o próprio nome já diz, a proposta era erradicar as favelas existentes nas áreas centrais da cidade e transferir seus moradores para conjuntos habitacionais em locais periféricos que na maioria dos casos não possuíam infraestrutura, ou seja, os equipamentos públicos básicos para a população. Exemplo dessa ação municipal são as favelas Vila Nova Tatetuba, Nova Detroit e Caparaó, sendo que os moradores foram retirados desses locais e transferidos para o Jardim São Jose II, na região leste da cidade(reschilian, 2004;, p.). O programa de desfavelização não oferecia nenhum mecanismo posterior de geração de renda para essas famílias, ou seja, muitas foram morar em locais que dificultavam o deslocamento para o trabalho, escola e outros locais que anteriormente tinham fácil acesso. Seguindo principio previsto no Estatuto da Cidade Lei 10257/2001, a criação das ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social pode enfim reconhecer as favelas e loteamentos clandestinos existentes, tornando-os oficiais. Porém essa realidade de exclusão nos limites do perímetro urbano não teve suas necessidades atendidas por completo. A simples constatação da existência dessa cidade ilegal não é suficiente para combater o déficit habitacional de São Jose dos Campos.(FORLIN, 2006, p.132). Apesar dos programas habitacionais ativos no município a classe de mais baixa renda ainda sofre sem alternativas para moradia, pois mesmo os programas de financiamento exigem condições que aqueles que possuem renda de 0 á 3 salários mínimos não têm como cumprir. A política municipal por vezes tem negligenciado os bairros chamados populares, atendendo somente os bairros pertencentes em sua maioria as classes mais altas, fazendo obras de infra-estrutura, o que traz benefícios para o mercado imobiliário com a valorização dos imóveis nessas áreas. A cidade possui muitos vazios urbanos, mas nem se quer é cogitada a hipótese de se implantar nesses locais moradias populares. O mercado imobiliário faz com que esses locais sejam tão valorizados que a população de baixa renda não tenha condições de acesso a terra. (VILLAÇA, p.45, 1986.): O Estado, em primeiro lugar, faz nas regiões onde se concentram as camadas de mais alta renda, 2

enormes investimentos em infra-estrutura urbana, especialmente no sistema viário, ao mesmo tempo em que abre frentes para o capital imobiliário...quanto mais perto o centro fica para a classe dominante, mais longe fica para os dominados. As alternativas para a população de mais baixa renda são os loteamentos clandestinos, ou mesmo as ocupações e favelas. Exemplo dos efeitos dessa exclusão é a ocupação que existia no local conhecido como Pinheirinho. O universo e particular do Caso Pinheirinho. O Pinheirinho localizava-se na Região Sul de São José dos Campos próximos aos bairros residenciais populares Campo dos Alemães, Parque Dom Pedro I e II, que passaram por recente regularização e aonde a mancha urbana mais cresceu na cidade nos últimos anos. Isso acontece, pois se trata de uma região distante do centro da cidade, com pouca infra-estrutura e por conta disso os valores dos lotes são acessíveis a população de baixa renda. O Pinheirinho apresentava certas especificidades, como por exemplo, por se tratar de uma ocupação, que pode ser analisada diferentemente de uma favela, pois essa surge de iniciativas individuais, ou pequenos grupos e a ocupação ocorre por decisão de um grupo grande de famílias que se organiza para ocupar um local. (FORLIN, 2006, p.137). A ocupação urbana do Pinheirinho teve inicio em 25 de fevereiro de 2004 por trabalhadores sem tetos com a justificativa de que o terreno estaria abandonado e não tinha dono. Deste modo cerca de 240 famílias começaram a construir suas casas e dividir a área em lotes. Muitas dessas famílias vieram depois de serem retirados pela prefeitura por ordem judicial de uma ocupação irregular da CDHU no Campo dos Alemães. O terreno ocupado possui 1,3 milhões de metros quadrados e não cumpre qualquer função social. Pertence ao grupo Selecta S/A, de propriedade do empresário Naji Nahas (protagonista de um dos maiores escândalos do sistema financeiro nacional, caso em que acabou sendo absolvido em 2009). Logo após a ocupação a Selecta entrou com uma ação de reintegração de posse e a prefeitura municipal tentou por mais de dez vezes desocupar a área. A empresa Selecta tinha, até 2012, uma divida com a Prefeitura de São José de R$ 17 milhões referentes a débitos de IPTU. (O Vale, 15/08/2012.) Mesmo assim a prefeitura insistia na retirada dos moradores do local, pois a área não é de interesse social e o valor da divida estaria sendo cobrada na justiça. Até 2012 o Pinheirinho chegou a ter mais de 7 mil moradores, o correspondente a cerca de 1500 famílias, muitas dessas vieram de outras regiões da cidade, ou até de outro estado. A organização do local era realizada pelos próprios moradores. Antes de entrar nas áreas escolhidas, os lotes foram divididos igualmente a todos os integrantes, pelo líder da comunidade com metragem de 25 m x 10 m. A maioria das moradias foram construídas com pedaços de madeira e coberta com lonas plásticas, entretanto algumas foram construídas com tijolos de barro ou cimento. Possuía ruas largas de 12 ou 8 metros de largura, mas eram precárias e sem pavimentação. Havia no local áreas destinadas a implantação de dois campos de futebol e dois parques infantis e praças. Existia também cerca de 100 estabelecimentos comerciais como padaria, mercadinhos e bares, até uma igreja. A infraestrutura ficou por conta dos próprios moradores, pois a prefeitura desde o inicio do processo demonstrou uma postura pouco tolerante com os ocupantes da área do Pinheirinho. Só não concluiu efetivamente a reintegração de posse antes, por iniciativas políticas e jurídicas tanto dos Sem Teto, quanto do Sindicato dos Metarlugicos. Em 2005 a Prefeitura conseguiu uma liminar para cortar o fornecimento de energia elétrica e água, mas essa liminar foi derrubada perto de se tornar realidade. A administração municipal não elaborou nenhum tipo de política social para os moradores desde o inicio da ocupação. A possibilidade de fornecer algum programa habitacional não foi aceita alegando que a fila de espera para financiamento de casa já possuía muitas pessoas e que não era possível que os moradores do Pinheirinho passassem a frente destes. As alternativas para os ocupantes da área do Pinheirinho eram poucas já que a faixa de renda da maioria estava entre 0 a 3 salários mínimos, tornando a possibilidade de conseguir financiar um imóvel pouco provável. Vista área do Pinheirinho, 2010 Fonte:http://www.sindmetalsjc.org.br 3

Recentemente em 2010 o Governo do Estado estudou a possibilidade de compra do terreno pela CDHU. Mas a prefeitura não confirmou o fato como a ser realizado. A ocupação do Pinheirinho teve muitas oportunidades de ser negociada com a administração municipal, porém esta não levou em consideração os instrumentos urbanísticos presentes no Estatuto da Cidade que permitiam a utilização do terreno para fins de habitação social, ao contrario, o interesse sempre foi de desocupar o terreno. Fato esse que aconteceu em 2012. A reintegração de posse do Pinheirinho foi permeada de lacunas e decisões mal explicadas tanto no setor político quanto jurídico. A legislação torna o caso de responsabilidade municipal, dessa forma o governo estadual e até mesmo federal não podem interferir. Quanto ao poder judiciário, apresentaram-se divergências, pois embora tenha sido determinada pela 3ª vara cível a desocupação do Pinheirinho, horas antes do fato a juíza federal substituta suspendeu a ordem de remoção das famílias. Mais tarde o juiz titular da 3ª vara federal cassou essa liminar mantendo a reintegração de posse. Não vamos no alongar no que diz respeito às decisões jurídicas, mas é evidente que esse impasse serve de exemplo para as questões envolvendo direito a terra, não tendo a certeza de que os preceitos explícitos na legislação sejam cumpridos em sua totalidade. A forma como a reintegração de posse se deu foi expressiva e de repercussão mundial, atraindo até mesmo a Organização dos Direitos Humanos. Os moradores foram retirados de suas moradias de madrugada por policiais armados e com equipamentos de grande porte como helicópteros. Conforme noticiado muitos dos moradores não tiveram tempo de tirar todos seus pertences antes que suas casas fossem derrubadas. A cena de demolição das moradias foi chocante e sofrida para os moradores que em sua maioria esperavam que a área um dia se tornasse realmente seus lares. O Estado expõe seu favoritismo à classe dominante através do espaço urbano, pois quando um terreno no centro da cidade que está vazio apenas á espera de alguma valorização é ocupado a conduta para com os pobres, ou com os movimentos que lutam por moradia, é digna do apartheid à brasileira... No Brasil o direito á propriedade está acima do direito à moradia. O que no Estado Patrimonialista faz sentido. (FERREIRA,p.79,2011) Semanas se passaram e muitos dos antigos ocupantes da área permaneciam alojados em escolas e galpões. A prefeitura fez a reintegração de posse, mas não adotou nenhuma política de habitação para essas pessoas, fornecendo apenas uma bolsa aluguel. Algumas perguntas surgem como, por exemplo: Porque a prefeitura adotou essa postura de descaso com os moradores do pinheirinho sendo que em outros casos similares, foram fornecidas alternativas de habitação popular em outros locais da cidade? E porque isso não foi feito antes visto que foram mais de oito anos de ocupação? Atualmente a divida da Selecta aumentou. Além dos R$ 17 milhões referentes a débitos de IPTU, a empresa deve mais R$ 28 milhões após receber uma multa pelo abandono da área desde a remoção dos sem-teto. Do total, apenas as dívidas de impostos municipais já foram levadas à Justiça. As multas ainda estão em fase de recursos. (O Vale, 15/08/2012.) Segundo o mesmo jornal o terreno vai a leilão no final de setembro por R$ 187 milhões, o dobro do valor venal da área, estimado atualmente em R$ 92,7 milhões. Considerações Finais São Jose dos Campos como reflexo de outras cidades médias e grandes apresenta um caso muito representativo de exclusão e segregação sócio-espacial. Exemplos como o Pinheirinho não são eventos isolados. Eles acontecem em muitos municípios brasileiros. Os desdobramentos desses casos são em sua maioria a favor das elites, enquanto que os mais necessitados são ora transferidos para outras regiões da cidade, com pouca infra-estrutura ou nenhuma, ou como no exemplo do Pinheirinho, passam a ser considerados apagados pela gestão municipal. O Estatuto da Cidade Lei 10257/2001 deixa claro que a propriedade urbana deve cumprir uma função social, apesar disso raramente o poder público faz o uso dos instrumentos legais dispostos, e quando o faz acautela-se de favorecer interesses da classe dominante. A cidade está cada vez mais densa, ao mesmo tempo mais dividida e segregada. Cada grupo dentro da sociedade tem seus interesses e esses grupos se distanciam por suas diferenças, se fechando cada vez mais e esquecendo que para melhorar a qualidade de vida dos que habitam a cidade é preciso pensar em favor do coletivo. Essa realidade já vem sendo exposta atualmente como frisa Maricato (2011, p.8) O contraponto à urbanização da pobreza periferização ou favelização - está na chamada urbanização dispersa (urban spraw), responsável pela formação dos característicos subúrbios americanos, que podem ser vistos também nas cidades dos países da periferia do capitalismo, 4

dividindo o entorno das cidades regiões com a ocupação irregular de baixa renda. Enquanto o processo de urbanização baseado na dinâmica do mercado imobiliário imperar no Brasil, será mais difícil adotar políticas de habitação social que realmente atinjam aqueles que mais precisam. E não tão somente fazer conjuntos habitacionais, mais do que isso integrar e diminuir disparidades sociais evidentes. Como salienta Ferreira (2011 p.85) isso depende principalmente de uma mudança de conduta individual, que possa contaminar a sociedade. Para enfim podermos viver em uma cidade mais justa é necessário conhece-la profundamente e reestrutura-la de forma mais igualitária e sem preconceitos, com políticas habitacionais que realmente tenham por objetivo garantir moradia digna a todos, sem parcialidades, ou interesses. Em uma sociedade que segue moldes capitalistas essa mudança só acontece por iniciativas que influenciem a política existente e que sejam capazes de gerar um planejamento urbano priorizando a todos e não somente a uma minoria. Referencias Bibliográficas FERREIRA, João Sette. São Paulo: cidade da intolerância, ou o urbanismo à braileira. Estudos Avançados. USP, São Paulo, 2004. VILLAÇA, Flávio. O que todo cidadão precisa saber sobre habitação. São Paulo, SP.: Global Editora, 1986. ANDRADE, Inácio. Movimento social, cotidiano e política: uma etnografia da questão identitária dos sem-teto. Dissertação (Mestrado em Antropologia). USP, 2010. FORLIN, Luiz Gustavo. Urbanização e segregação sócio-espacial na cidade de São José dos Campos:caso Pinheirinho. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia). UNIVAP, São José dos Campos, SP, 2006. RESCHILIAN, Paulo Romano. Habitação Social e Ordenamento Territorial: A dinâmica socioespacial do processo de inclusão precária em São José dos Campos, SP. In: Costa, Sandra Maria Fonseca da; Mello, Leonardo Freire de. (Org.). Crescimento urbano e industrialização em São José dos Campos. Crescimento urbano e industrialização em São José dos Campos. 1ed.São José dos Campos: Intergraf, 2010, v. 5, p. 163-181. Jornal abaixo: O VALE, matérias disponíveis nos liks Imagem: http://www.ovale.com.br/regi-o/vale-e-mais-rico-dejacarei-a-pinda-diz-pesquisa-do-ibge-1.194339 http://www.ovale.com.br/2.621/area-dopinheirinho-vai-a-leil-o-por-r-187-milh-es-1.299124 http://www.ovale.com.br/em-7-meses-selectaacumula-divida-de-r-28-mi-em-multas-1.295715 http://www.sindmetalsjc.org.br/imprensa/sala-deimprensa/fotos-paraimprensa/42/justica+suspende+reintegracao+de+p osse+no+pinheirinho.htm Noticias sobre a reintegração de posse do Pinheirinho disponíveis nos links abaixo: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,oi5577 861-EI5030,00- Reintegracao+de+posse+do+Pinheirinho+e+concl uida+diz+pm.html http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimasnoticias/2012/01/22/policia-e-moradores-seenfrentam-em-reintegracao-de-posse-empinheirinho-no-interior-de-sp.htm http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/pmcumpre-reintegracao-de-posse-em-sao-jose-doscampos/n1597591441505.html MARICATO, E.. Metrópoles desgovernadas. Estudos Avançados (USP. Impresso), v. 25, p. 7-22, 2011. SOBRINHO, Angélica; SILVA, Danielle; MARTINS, Elisabete; RIBEIRO, Morgana; SENA, Nívea; Relatório: Urbanização da Favela do Pinheirinho. UNIVAP, São José dos Campos. 2011. 5