PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIAS 1. O CENÁRIO DO SETOR AGROPECUÁRIO BRASILEIRO A economia brasileira tem passado por rápidas transformações nos últimos anos. Neste contexto ganham espaço novas concepções, ações e atitudes, em que produtividade, custo e eficiência se impõem como regras básicas de sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado (IEL et al, 2000). A conscientização dos pesquisadores, técnicos e produtores rurais envolvidos nesse sistema, bem como, o ajuste para este novo cenário é primordial para a competitividade da atividade. 2. CONCEITOS DE PLANEJAMENTO O planejamento estratégico é um instrumento elaborado para que o empresário possa visualizar sua atuação futura, sendo assim, normalmente, é projetado para longo prazo, com uma abordagem global, definindo o que produzir, como e o quanto produzir nos anos seguintes. Algumas etapas são importantes para estabelecer o planejamento estratégico. Embora existam diferentes definições, planejamento (ou planificação) é, antes de mais nada, a formulação sistemática de um conjunto de decisões, devidamente integrado, que expressa os propósitos de um indivíduo, grupo ou associação de indivíduos, e que condiciona os meios disponíveis para estes mesmos propósitos, através do tempo. O planejamento é, assim, um processo dinâmico e, portanto, deve ser bem diferenciado de plano, programa e projeto, que são documentos, na forma de relatórios, contendo todas as informações necessárias à implantação, execução e controle das proposições feitas.
2.1 Determinação dos objetivos É o ponto principal do planejamento, com definições genéricas, como os propósitos da empresa relacionados ao ramo de atuação, pretensão futura, busca pelo lucro, segurança, prestígio, social entre outros. 2.2 Análises do ambiente externo É necessária a busca de informações mais precisas possíveis com relação às ameaças, oportunidades e restrições no cenário nacional e mundial que possam aumentar ou diminuir a rentabilidade da atividade. Fatores como preço das commodities, juros, balança comercial, análise de mercado (oferta e demanda), estudo de tendências futuras, barreiras alfandegárias, taxas de exportações e importações, entre outras. 2.3 Análises interna da empresa É uma análise dos recursos existentes na empresa como os físicos, financeiros, administrativos, mercadológicos, humanos. Sendo necessário levantar suas disponibilidades, necessidades, fornecedores, etc. 2.4 Geração e avaliação das metas e estratégias Após estabelecer os objetivos e analisando o ambiente externo e a empresa, através de dados de pesquisas, de experimentação e da experiência são definidas as estratégias para alcançar as metas propostas no projeto. Para determinação das metas alguns fatores deverão ser avaliados como: recursos disponíveis na fazenda - solos, vegetação, relevo, animais, recursos hídricos, recursos financeiros disponíveis, mão-de-obra qualificada, estradas, energia elétrica, benfeitorias, etc.; imposições ambientais, legais e de mercado; objetivos do empreendedor.
Definido qual o projeto parte-se para a sua implantação e execução das estratégias que serão executadas pelos gerentes, técnicos e funcionários da propriedade. Um ponto fundamental neste planejamento é a coleta de dados das informações de produção (técnica e econômica) levantadas, pois, a partir destas, faz-se o monitoramento comparando o planejado com o realizado. Pelo monitoramento consegue-se avaliar quais os pontos críticos do sistema e se alguma estratégia planejada não está correta, sendo assim, avalia-se a possibilidade da inclusão de uma nova estratégia alternativa que possa atender aos objetivos. Ou ainda, corrigir os erros cabíveis e continuar com a mesma estratégia. Estas mudanças dos planos podem ocorrer devido à: modificações na área de produção (compra arrendamento, venda utilização para outra atividade, intensificação do sistema); mudanças nas condições externas de mercado, relações de preço, nova legislação ou política agrícola; circunstâncias e atitudes pessoais (aversão ao risco e carga de trabalho desejada); respostas imprevistas do sistema identificadas no monitoramento. 3. GERENCIAMENTO DO CUSTO DE PRODUÇÃO Embora seja de importância fundamental para a tomada de decisão dos agricultores, o custo de produção é uma variável desconhecida pela imensa maioria dos produtores brasileiros. Com honrosas exceções de alguns produtores mais tecnificados, a grande maioria não tem nem como saber quanto está tendo de lucro (ou prejuízo), ou que ajustamentos podem ser feitos para reduzir custos e melhorar a rentabilidade de suas propriedades A falta de controle de custos, apontada anteriormente, faz com que os agricultores baseiem-se em apenas um ou poucos parâmetros para tomar a decisão de venda de seus produtos. Além das "regras" de preços, algumas vezes as decisões são tomadas em função de situações contingências. Alguns produtores vendem quando necessitam de capital de giro, enquanto outros o fazem quando não têm mais como
manter, por exemplo, os animais no pasto. A carência de controles gerenciais tem levado os agricultores ao uso de regras de decisão muitas vezes inadequadas no sentido de maximizar seus lucros. Isso mostra que de nada adiantaria a adoção de tecnologia moderna, caso os mesmos cuidados não fossem tomados sob a ótica gerencial. 3.1 Análises econômicas e de investimentos O sistema de custos é um conjunto de procedimentos administrativos que registra, de forma sistemática e contínua, a efetiva remuneração dos fatores de produção empregados nos serviços rurais. Tem os objetivos de auxiliar a administração na organização e controle da unidade de produção, revelando ao administrador as atividades de menor custo e mais lucrativas, além de mostrar os pontos críticos da atividade. Além disto, oferece bases consistentes e confiáveis para a projeção dos resultados e auxiliar o processo de planejamento rural para tomada de decisões futuras Toda produtividade agropecuária deve passar por um teste econômico, para verificar se a tecnologia ou o sistema de manejo empregado estaria levando a custos compensadores de produção A estimativa do custo de produção está ligada à gestão de tecnologia, ou seja, a alocação eficiente de recursos produtivos, e ao conhecimento dos preços destes recursos. O custo total de produção constitui-se na soma de todos os pagamentos efetuados pelo uso dos recursos e serviços, incluindo o custo alternativo do emprego dos fatores produtivos. Estes recursos podem ser classificados em custos fixos e variáveis, como se segue: Os custos fixos são aqueles correspondentes aos recursos que não são assimilados pelo produto no curto prazo. Assim, considera-se apenas a parcela de sua vida útil por meio de depreciação. Também se incluem neste grupo os recursos que não são facilmente alteráveis no curto prazo e que seu conjunto determina a capacidade de produção, ou seja, a escala de produção. Enquadram-se nesta categoria: terras, benfeitorias, máquinas, equipamentos, impostos e taxas fixas, etc. Os custos variáveis são aqueles referentes aos insumos que se incorporam totalmente ao produto no curto prazo, não podendo ser aproveitados ou claramente aproveitados para outro ciclo. Aqueles que são alteráveis no curto prazo, ou seja, durante a safra podem ser
modificados. Também os recursos que exigem dispêndios monetários de custeio durante a safra, enquadram-se nesta categoria: fertilizantes, agrotóxicos, combustíveis, alimentação, medicamentos, manutenção, mão-de-obra, serviços de máquinas e equipamentos, entre outros. A análise econômica é a comparação entre a receita obtida na atividade produtiva com os custos, incluindo, em alguns casos, os riscos, permitindo a verificação de como os recursos empregados no processo produtivo estão sendo remunerados e como está a rentabilidade da atividade comparada a outras alternativas de emprego de capital (Reis, 2002). Para se fazer esta comparação podem ser utilizados os seguintes indicadores: Margem bruta = receitas totais - custos variáveis. Renda líquida em dinheiro = receita total - desembolsos. Lucro operacional = renda líquida em dinheiro - depreciações. 3.2 Análise de investimento Outra maneira de se avaliar a rentabilidade da atividade é a análise de investimento. Uma empresa é estruturada para maximizar lucros de seu investimento. Desta forma, os critérios de investimento permitem determinar o valor de um investimento ou de um grupo de propostas de forma que se possa escolher entre elas, a partir de uma ordenação das mais lucrativas Outros indicadores financeiros que podem ser usados para se avaliar um investimento são segundo : Retorno do capital investido = Remuneração do capital capital investido na atividade. Retorno do Capital Investido com terra (% ao ano) = 9,51 Retorno do Capital Investido sem terra (% ao ano) = 9,54
4 EXEMPLO DO PLANEJAMENTO DE UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO RURAL 4.1 JUSTIFICATIVA O objetivo central do projeto Planejamento Rural e gestão dos empreendimentos agropecuários dos produtores cadastrados no programa de fortalecimento do Agronegócio Familiar no município de São Miguel do Anta configura-se em melhorar a utilização dos recursos produtivos, financeiros e da renda da atividade agropecuária dos agricultores familiares no município de São Miguel do Anta. Através da liberação de crédito rural por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, portanto, torna-se importante orientar os produrores contemplados na melhor utilização desses recursos, por meio do planejamento de suas atividades e gestão dos empreendimentos agropecuários 4.2 - OBJETIVOS O segmento de planejamento rural e controle dos negócios das famílias atendidas, tem por principal meta organizar os planos de produção agropecuários, elaborar e analisar os projetos para promover melhor seleção e combinação dos empreendimentos visando melhor utilização dos fatores de produção, aumento das eficiências técnica e econômica e, por conseguinte, melhoria da rentabilidade econômica e da renda familiar. Assim como também, capacitar os produtores nos aspectos de tecnologia de produção, gestão administrativa dos negócios e comercialização da produção agropecuária. Uma vez que essas estratégias promoverão redução dos custos de produção, melhoria de renda e qualidade de vida. 4.3 -ETAPAS - Cadastramento e seleção de potenciais produtores rurais assistidos pelo sistema de crédito rural, através do PRONAF, no programa de planejamento rural;
- Reuniões, visitas e palestras com os agricultores sobre a importância do programa de planejamento rural; - Elaborar, por meio de um planejamento participativo, orçamentos e análise econômica e financeira dos empreendimentos agropecuários recomendados aos produtores rurais, com vistas à seleção dos empreendimentos e tecnologia de produção. - Realizar os registros de uso dos fatores de produção de cada família atendida pelo programa, utilizando um software de contabilidade rural próprio, para que nas reuniões com os produtores, possa vir a apresentar e discutir a evolução dos resultados econômicos e financeiros e seus respectivos impactos na qualidade de vida dos atendidos. - Acompanhar a aplicação dos recursos financeiros, estimulando a implementação de instrumentos gerenciais de controle técnico e financeiro. - Utilizar os dados do acompanhamento do uso dos fatores de produção, dos custos de produção e da renda, para servir de base à assistência técnica dirigida aos produtores. - Estruturar, analisar e divulgar os resultados do trabalho, para contribuir para o avanço da assistência técnica e gerencial aos agricultores familiares. Ademais, espera-se que esse projeto contribua de forma decisiva para que os instrumentos de política agropecuária para a agricultura familiar cheguem a esse público alvo e que sejam aplicados de forma eficiente, gerando aumento da renda na agricultura familiar e o desenvolvimento do meio rural. - Promover o desenvolvimento da sustentabilidade, através da qualificação e ampliação do programa de planejamento rural para demais produtores e regiões. 4.4 CRONOGRAMA abril: - Reunião com os agricultores envolvidos no programa - análise do mercado e esboço do plano estratégico para 5 fazendas - coleta de informações sobre aplicação de recursos anteriores
maio: - obtenção de dados das fazendas a serem acompanhadas - cadastramento dos produtores - reuniões, visitas e palestras para produtores rurais e lideranças sobre planejamento - elaboração de orçamentos para fazendas selecionadas junho: - cálculo de indicadores financeiros, análise de cenários e modelos de maximização de renda para fazendas selecionadas - apresentação dos resultados - Implantação do sistema informatizado para acompanhamento das fazendas julho: - discussão com grupos de agricultores sobre os resultados do planejamento das fazendas selecionadas agosto: - elaboração de propostas individuais de cadastramento - envio das propostas setembro: - acompanhamento da liberação dos recursos outubro: - acompanhamento dos agricultores atendidos pelo program - utilização da informática no gerenciamento das fazendas novembro:
- acompanhamento e controle da aplicação dos recursos dezembro: - sistematização, divulgação e análise dos resultados do projeto RESULTADOS Espera-se através deste programa de planejamento rural, componente indispensável ao processo de tomada de decisão e de gestão dos investimentos, a capacitação dos produtores rurais e suas famílias, para que os mesmos possam elaborar e analisar seus projetos, promovendo possíveis seleções e combinações dos empreendimentos, visando uma melhor utilização dos fatores de produção, propiciando aos mesmos melhoria da rentabilidade econômica, bem como na condição de vida e inclusão social. Isto é; através de uma ação de caráter instrumental, onde os projetos de produção, comercialização e controle dos negócios são elaborados juntamente às próprias famílias rurais, para que as mesmas possuem e dominem os conhecimentos, habilidades e atitudes que lhes permitam assumir a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento de forma autogerencial e autodependência.