REFLEXÕES SOBRE O ACOMPANHAMENTO DA PRODUÇÃO LEGISLATIVA DA CÂMARA MUNICIPAL DE GUARAPUAVA-PR Área Temática: Direitos Humanos e Justiça Andressa Kolody (Coordenadora da Ação de Extensão) Andressa Kolody 1 Emilie Faedo Della Giustina 2 Sônia Mari Ramos 3 Enrique Ernesto Ráez Martinez 4 Palavras-chave: Democracia, Sociedade Civil, Controle Social, Extensão Universitária. Resumo: Este resumo tem como objetivo explanar as atividades desenvolvidas por uma das frentes de trabalho do projeto de extensão Democracia e controle social: estudos e vivências no município de Guarapuava-PR. Trata-se da frente de trabalho chamada Produção legislativa da Câmara Municipal de Vereadores, que desenvolve suas atividades em parceria com o Observatório Social de Guarapuava (OSG), por meio de estudo da legislação específica, análise das sessões da Câmara, preenchimento do formulário de monitoramento, observação e análise de conteúdo. O relato de experiência realizado neste trabalho é acompanhado da revisão de literatura que possibilita compreender as vivências e suas conexões com o objeto de intervenção extensionista. Até o presente as vivências permitiram conhecer o papel e o funcionamento do legislativo, propor alterações no formulário de monitoramento utilizado pelo OSG e acompanhar como a Câmara Municipal de Guarapuava fiscaliza o executivo municipal. Espera-se que estas vivências possam cooperar para a construção de processos democráticos com vistas à cidadania e a transparência. Introdução O projeto de extensão Democracia e controle social: estudos e vivências no município de Guarapuava-PR está vinculado ao Departamento de Serviço Social e se propõe a desenvolver ações de controle social em parceria com o OSG. O projeto se organiza a partir de três frentes de trabalho: 1) Enfrentamento à corrupção e Qualificação dos processos de controle social; 2) Monitoramento da Lei de Acesso à 1 Mestre. Docente do Departamento de Serviço Social da UNICENTRO, campus Santa Cruz. Email: andressakolody@yahoo.com.br 2 Mestre. Pesquisadora da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Coordenadora Pedagógica da Ação de Extensão. Email: emiliefaedo@hotmail.com 3 Acadêmica do Curso de Serviço Social da UNICENTRO, campus Santa Cruz. 4 Acadêmico do Curso de Serviço Social da UNICENTRO, campus Santa Cruz.
Informação e 3) Produção legislativa da Câmara Municipal de Vereadores; objeto de relato deste trabalho. Esta frente de trabalho tem como objetivo acompanhar a produção legislativa da Câmara de Guarapuava e como a instituição fiscaliza o executivo municipal. A ideia é verificar os objetivos e as atividades na relação com os princípios da administração pública, sobretudo no que tange à supremacia do interesse coletivo. Esta ação quer fortalecer o controle social do Estado por meio da sociedade. O controle social revela-se como complemento indispensável ao controle social institucional exercido pelos órgãos fiscalizadores. Trata-se da interferência da sociedade civil na gestão, tanto no que se refere ao planejamento quanto à execução e avaliação dos serviços públicos visando o interes público, uma forma especifica de participação da sociedade em relação direta como Estado (KOLODY; LUIZ, 2013, p. 02). A legitimidade do controle previsto também no artigo 5, inciso XXXIII da Constituição Federal de 1988 recentemente foi reforçado com a criação da Lei de Acesso à informação Pública (Lei n 12.527, de 18 de novembro de 2011), que se propõe a desenvolver uma cultura de acesso a informação, atributo primordial para o exercício do controle social democrático. A partir de então o acesso passa a ser direito de todos os cidadãos e dever do Estado, que deve possibilitar o acesso de forma eficiente e clara. Neste sentido, a parceria com o OSG tem o intuito de contribuir com a transparência da gestão pública, sobretudo, no que tange a administração dos recursos públicos e, consequentemente interferir na qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. A parceria figura como um complemento ao controle institucional realizado pelos órgãos da estrutura administrativa que fiscalizam os recursos públicos. Entende-se que ao analisar a práxis do poder legislativo no município de Guarapuava, estimula-se a participação popular na gestão pública e contribui-se com a socialização destas informações necessárias ao controle do Estado por parte da sociedade civil. Este trabalho possibilita conhecer e compreender melhor as atividades desempenhadas pelo legislativo municipal, de modo a entender a partir da problematização do cotidiano institucional, as características e os desafios que compõem o exercício dessa função; é possível ainda identificar as particularidades da atuação de cada um dos seus membros no que tange a produção e desempenho legislativo. Metodologia As atividades desta frente de trabalho acontecem por meio do estudo das legislações e subsídios, a saber, Lei de Acesso à Informação Pública; artigo 5, inciso XXXIII da Constituição Federal de 1988; Convenção das Nações Unidas contra a corrupção; artigo 10 e artigo 13 do Pacto internacional dos direitos civis e políticos; artigo 19 da Lei Orgânica do Município de Guarapuava e o Manual do
Vereador; sistematização e análise do conteúdo das sessões e constituição de um perfil dos vereadores no que se refere à produção legislativa. Para isso, a equipe de trabalho se reúne semanalmente, assiste às sessões da Câmara Legislativa (disponibilizadas online); discute e registra os aspectos que mais se destacam no que se refere ao exercício do controle social dos gastos públicos; e preenche a Planilha de Produção do Legislativo. Esta planilha é preenchida após o monitoramento das sessões e da ordem do dia (documento onde são descritos as pautas a serem votadas nas sessões), feitas a cada sessão pelo OSG. Em posse dos registros, o grupo tabula os dados e instrumentaliza a Prestação de Contas do OSG. A prestação de contas do OSG é realizada quadrimestralmente e é aberta a toda comunidade. A intenção é que os dados também possam contribuir para estudos sobre a temática e para serem divulgados nos meios de comunicação, já que a socialização pode favorecer processos de participação popular. A rotina de trabalho deste grupo foi constituída após diálogos entre a equipe do OSG e a equipe de projeto, elaboração do plano de ação e realização de oficina de aprendizagem. A interação entre a equipe do projeto e do OSG aconteceu através de visitas à sede do OSG, palestras e orientações sobre: a administração pública; o funcionamento das sessões da Câmara Municipal e a participação do cidadão no controle social. O OSG disponibilizou material informativo, subsídios elaborados pela Controladoria Geral da União (CGU), e material elaborado pelo próprio OSG para fortalecer os acadêmicos no exercício do controle social da Câmara Municipal. Importa mencionar que estas atividades se articulam e se relacionam com as demais frentes de trabalho. Este movimento acontece através dos encontros de estudos e socialização de vivências, supervisão direta e produção científica (estratégias metodológicas previstas pelo projeto de extensão). Os encontros mensais de estudos e socialização de vivências acontecem na sala e orientações do Departamento de Serviço Social. A equipe de extensão se reúne para estudar a literatura referente à democracia e ao controle social e para socializar as vivências; os encontros proporcionam a interação das frentes de trabalho e das práticas realizadas por cada equipe. [...]. Acredita-se que a troca, a problematização e a reflexão favorecem o necessário diálogo entre as vivências e os fundamentos teóricos, metodológicos, éticos e operativos e possibilitam a produção de sínteses (PROJETO DE EXTENSÃO, 2014, p.6). A supervisão direta dos subgrupos pelas coordenadoras do projeto acontece ao longo de todas as atividades e pode: [...] auxiliar no desenvolvimento do projeto político-profissional do acadêmico. Tem a ver com a contribuição para o desenvolvimento do senso crítico, do pensar autônomo, do saber indagar e problematizar e, consequentemente, investigar, planejar e executar propostas qualitativas, na dinâmica das relações entre Estado, sociedade civil e instituição de
ensino, com vistas a composição de respostas sociais às demandas que estão postas para a profissão (PROJETO DE EXTENSÃO, 2014, p.06). A produção científica acontece por meio da submissão de trabalhos e participação em eventos que tenham relação com a temática e/ou que sejam de natureza extensionista, de modo a ampliar as habilidades dos acadêmicos em torno da temática, ampliar os espaços de vocalização de uma cultura política democrática e exercitar a relação entre ensino-pesquisa e extensão. Resultados e discussão A partir da concepção de que qualquer cidadão pode e deve através de seus representantes (sabendo que fazemos parte de um Estado democrático de direito) acompanhar, fiscalizar e verificar o correto funcionamento dos serviços prestados à comunidade por parte dos órgãos públicos, a sociedade civil se torna um importante espaço de controle social, se não o mais efetivo, dada a sua abrangência (presencial e territorial - o cidadão obviamente está presente em cada município do país). Sendo assim, o fortalecimento da participação popular é de vital importância para o controle social e a gestão dos recursos públicos. A Constituição Federal de 1988 no Art. 1 inciso I,II e III declara e expressa como premissa a soberania popular: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta constituição", ou seja, o modelo de democracia brasileiro TEM ELEMENTOS DE PARTICIPAÇÃO DIRETA. O projeto de extensão em tela; em parceria com o OSG tem o objetivo de incentivar o exercício democrático, contribuir para a transparência e a correta administração dos recursos públicos, uma vez que: [...] o controle social é entendido como a possibilidade da sociedade civil organizada de participar da formulação e fiscalização das políticas sociais, bem como acompanhar e fiscalizar as ações do Estado brasileiro em seus três níveis federais. Da mesma forma, os movimentos sociais foram protagonistas no processo de crítica à democracia representativa liberal e na construção da democracia participativa e deliberativa (CALVI apud KOLODY, 2011, p. 93). O exercício democrático é incentivado e gradativamente exigido ao longo dos anos, mas observa-se que na atual conjuntura existe um interesse maior por parte da população em relação à reivindicação dos seus direitos. O que pode favorecer a superação de práticas retrógadas de setores públicos, a exemplo da confusão entre público e privado. Nesse sentido, o enfoque do projeto é perspectivar relações democráticas, tendo a participação cidadã como via, contribuindo para que os interesses da população sejam atendidos. Estes cinco meses de atividades desta frente de trabalho possibilitaram compreender os mecanismos utilizados pela Câmara Legislativa e suas atribuições, bem como refletir sobre as possíveis limitações.
Dentre os desafios observados está o não cumprimento das normas regimentais no que se refere ao protocolo de votação dos projetos e a duração das sessões, que em função do curto espaço de tempo, nem sempre possibilita ampla discussão das ideias e propostas em pauta. A experiência da equipe também possibilitou propor alterações na planilha da produção legislativa usada pelo OSG (inserção de uma nova aba para registros dos projetos e outra para registro das datas das três votações). As alterações exigiram a apreensão do aspecto dinâmico da realidade e a compreensão de que as especificidades dessa prática demanda um instrumental que seja o mais eficaz possível. Trata-se de um movimento importante que expressa a capacidade criativa para formulação de novos instrumentos de intervenção, onde os meios são subsumidos aos fins e não ao contrário. Considerações finais Entende-se que é de extrema importância o papel da Universidade Pública no que tange ao estímulo ao controle social democrático. O projeto de extensão tem a intenção de sensibilizar e mobilizar estudantes, professores e cidadãos em geral sobre a importância da transparência na administração pública. Em se tratando da frente de trabalho Produção Legislativa o foco é exercer o controle social da Câmara de Vereadores, e através do monitoramento fortalecer a fiscalização do executivo na gestão do município. Pretende-se assim continuar contribuindo com uma efetiva participação democrática, em conjunto com o OSG, contribuindo para que a sociedade organizada utilize as ferramentas para o alcance de tais objetivos. Referências: BRASIL. CONTROLE SOCIAL Orientações aos cidadãos para a participação na gestão pública e exercício do controle social. Controladoria-Geral da União. Brasília DF 2011 O vereador e a fiscalização dos recursos públicos municipais/presideência da República, Controladoria-Geral da União.- Brasília DF 2009 OBSERVATÓRIO SOCIAL DO BRASIL. Manual de Implantação e Operacionalização de um Observatório Social, 2011. Disponível em: http://www.observatoriosocialdobrasil.org.br/uploadaddress/osb_manual_vf%5b376 96%5D.pdf. Acesso em: 04 de maio de 2014. KOLODY, Andressa; Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Guarapuava/PR: A sociedade civil e o controle social. Ponta Grossa, 2011. 221 p. Dissertação (mestrado) em Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual de Ponta Grossa. RELATÓRIO FINAL. Projeto de extensão Controle Social: socialização e vivências no município de Guarapuava, 2013. ROSA, Carla Buher Salles; LUIZ, Danuta Estrufika Cantóia. Democracia: Tipologia, Relações e Expressões Contemporaneas. In: Aurora, ano V n 8 Agosto de 2011