1 de 5 22/06/2017 15:36 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO Identificação PROCESSO nº 0020930-29.2016.5.04.0006 (RO) RECORRENTE: SINDICATO DOS ENGENHEIROS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RECORRIDO: AGROSAFRA SEMENTES EIRELI RELATOR: ANDRE REVERBEL FERNANDES EMENTA DIFERENÇAS SALARIAIS. ENGENHEIROS. JORNADA DE OITO HORAS. O art. 5º da Lei nº 4.950-A/66 estabelece que o engenheiro sujeito a seis horas de trabalho por dia faz jus ao salário-base mínimo de seis vezes o maior salário mínimo vigente. Conforme o entendimento constante na Súmula nº 370 do TST, a lei supramencionada estabelece uma remuneração mínima proporcional ao número de horas de trabalho. Logo, empregados engenheiros que laborem em jornada de oito horas fazem jus ao salário profissional de 8,5 salários mínimos. Recurso do sindicato a que se nega provimento, no aspecto. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. ACORDAM os Magistrados integrantes da 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região: por unanimidade, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO ORDINÁRIO DO AUTOR, Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio Grande do Sul, para conceder a ele o benefício da justiça gratuita, bem como para determinar que as diferenças salariais deferidas aos substituídos observem o salário mínimo vigente em cada exercício. Valor da condenação que se acresce em R$ 10.000,00. Custas majoradas em R$ 200,00. Intime-se. RELATÓRIO Porto Alegre, 07 de junho de 2017 (quarta-feira). Irresignado com a sentença (id. fafbc72), o sindicato recorre. Busca a reforma dos seguintes pontos da decisão: benefício da justiça gratuita; salário mínimo profissional equivalente a nove salários mínimos; recebimento do piso da categoria durante toda a contratualidade (id. 99ea04f).
2 de 5 22/06/2017 15:36 Sem contrarrazões, os autos são remetidos a este Tribunal para julgamento. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO RECURSO ORDINÁRIO DO SINDICATO. 1. SALÁRIO PROFISSIONAL. Decide a Juíza de primeiro grau (id. fafbc72, págs. 3/4): [...] julgo parcialmente procedente o pedido para condenar a ré a pagar aos substituídos diferenças salariais, pela observância do salário mínimo profissional previsto na Lei 4950-A/66, sendo que, aos substituídos que cumprem jornada de trabalho diária de 8 horas, deverá ser observado o valor do piso profissional de 8,5 salários mínimos (sétima e oitiva horas com adicional de 25%) no momento da contratação, com repercussões em horas extras, adicional noturno, adicional de periculosidade, adicional de tempo de serviço, férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário, abonos, gratificações de função, FGTS e indenização compensatória de 40% (para empregados dispensados), em parcelas vencidas a partir de 21/06/2011 (tem em vista os limites do pedido, já que o próprio sindicato invocou a observância da prescrição quinquenal - art. 141 do CPC/2015) e vincendas. O autor, Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio Grande do Sul, não se conforma. Requer seja que o piso salarial dos engenheiros corresponda a nove salários mínimos, bem como seja observado o valor vigente em cada exercício do período contratual. Com parcial razão. A Lei nº 4.950-A/66 dispõe, no seus arts. 3º, 5º e 6º: Art. 3º Para os efeitos desta Lei as atividades ou tarefas desempenhadas pelos profissionais enumerados no art. 1º são classificadas em: a) atividades ou tarefas com exigência de 6 (seis) horas diárias de serviço; b) atividades ou tarefas com exigência de mais de 6 (seis) horas diárias de serviço. [...] Art. 5º Para a execução das atividades e tarefas classificadas na alínea a do art. 3º, fica fixado o salário-base mínimo de 6 (seis) vezes o maior salário-mínimo comum vigente no País, para os profissionais relacionados na alínea a do art. 4º, e de 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo comum vigente no País, para os profissionais da alínea b do art. 4º. Art. 6º Para a execução de atividades e tarefas classificadas na alínea b do art. 3º, a fixação do salário-base mínimo será feito tomando-se por base o custo da hora fixado no art. 5º desta Lei, acrescidas de 25% as horas excedentes das 6 (seis) diárias de serviços
3 de 5 22/06/2017 15:36 No caso dos autos, a empresa ré é declarada revel e confessa, pelo que se presume que tenha em seus quadros trabalhadores contratados como engenheiros. Assim, aplicável a Lei nº 4.950-A/66, que dispõe sobre a remuneração de profissionais diplomados em Engenharia, Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária. Ressalte-se que a Constituição Federal de 1988 não revogou a Lei nº 4.950-A/66, pois o que é vedado pelo art. 7º, IV, da CF é a utilização do salário mínimo como fator de indexação. Da mesma forma, a Súmula Vinculante nº 04 do STF estabelece que: Salvo os casos previstos na Constituição Federal, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. Na hipótese dos autos, não se está utilizando o salário mínimo como indexador, mas como a própria vantagem. Assim, aos empregados contratados para a função de engenheiro, caso dos substituídos, aplica-se o salário profissional previsto na Lei nº 4.950-A/66, conforme decidido na origem. Não pode a parte ré recursar-se ao pagamento do salário legalmente previsto, que é garantido, inclusive, pelo art. 7º, V, da CF. Porém, é preciso considerar que a Lei nº 4.950-A/66 não estabelece jornada de seis horas para os profissionais engenheiros, mas apenas fixa o salário mínimo profissional para os empregados com jornada igual ou superior a seis horas diárias (art. 3º). Em relação ao último caso, há previsão de que o piso salarial observará o "custo da hora fixado no art. 5º desta Lei, acrescidas de 25% as horas excedentes das 6 (seis) diárias de serviço" (art. 6º). Portanto, para os substituídos que trabalham em jornada de oito horas, deve incidir o adicional de 25% sobre as horas excedentes à 6ª diária, ou seja, sobre a 7ª e a 8ª horas, devendo ser consideradas como extras somente as excedentes à 8ª diária, nos termos da Súmula nº 370, in litteris: SUM-370 MÉDICO E ENGENHEIRO. JORNADA DE TRABALHO. LEIS NºS 3.999/1961 E 4.950-A/1966. Tendo em vista que as Leis nº 3.999/1961 e 4.950- A/1966 não estipulam a jornada reduzida, mas apenas estabelecem o salário mínimo da categoria para uma jornada de 4 horas para os médicos e de 6 horas para os engenheiros, não há que se falar em horas extras, salvo as excedentes à oitava, desde que seja respeitado o salário mínimo/horário das categorias. Dessa forma, diferentemente do que alega o sindicato, o salário-base pago aos substituídos contratados para trabalhar oito horas diárias deve observar o piso de 8,5 salários mínimos. Sinale-se que a fixação do salário profissional previsto na Lei nº 4.950-A/66 é feita de acordo com a jornada contratada, e não com a carga horária semanal ou mensal. Assim, o cálculo do salário mínimo para o empregado submetido à jornada de 8 horas corresponde à seguinte equação: 6 + 1,25 + 1,25 = 8,5. Isso porque, como já referido, sobre as horas excedentes a 6ª diária, ou seja, sobre a 7ª e a 8ª horas, deve incidir o adicional de 25%.
4 de 5 22/06/2017 15:36 Seguem decisões desta Turma e do TST no mesmo sentido: DIFERENÇAS SALARIAIS. ENGENHEIRO AGRÔNOMO. LEI Nº 4.950-A/66. O salário-mínimo da categoria profissional do reclamante, engenheiro, deve ser calculado de acordo com a Lei nº 4.950-A/66, sendo de 8,5 salários-mínimos para uma jornada de 08 horas diárias e 44 semanais. (TRT da 4ª Região, 4a. Turma, 0001288-70.2012.5.04.0019 RO, em 29/06/2016, Desembargador George Achutti - Relator) RECURSO DE REVISTA. ENGENHEIRO. PISO SALARIAL MÍNIMO. JORNADA DE 8 HORAS DIÁRIAS. O profissional de engenharia, ao cumprir jornada de oito horas diárias, conforme previsão contida no art. 3º, alínea ' b', da Lei 4.950-A/66 e levando-se em conta a dicção do art. 6º do mesmo diploma legal, faz jus ao piso salarial de 8,5 salários mínimos. Recurso de revista conhecido e provido. (RR - 881-81.2014.5.03.0129, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 05/10/2016, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/10/2016) De outra parte, assiste razão ao sindicato quando argumenta que o piso salarial dos substituídos deve observar o valor do salário mínimo vigente ao longo da contratualidade, e não apenas na época da contratação. Reitera-se, a propósito, que não se está utilizando o salário mínimo como indexador, mas como a própria vantagem, de modo que devem ser consideradas as variações ocorridas durante os contratos dos trabalhadores. Esta Turma chegou à mesma conclusão ao apreciar o processo nº 0001256-65.2012.5.04.0019, em 17.08.2016, relatado pela Desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse. Pelo exposto, dá-se provimento parcial ao recurso ordinário do sindicato para determinar que as diferenças salariais deferidas aos substituídos observem o salário mínimo vigente em cada exercício. 2. JUSTIÇA GRATUITA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. O sindicato pugna pela concessão da assistência judiciária gratuita. Com razão. Quando a entidade sindical postula como substituta processual dos integrantes de sua categoria profissional, como ocorre no presente caso, não se pode exigir a declaração individual de cada substituído acerca de sua insuficiência econômica (Lei nº 7.115/83), mesmo que apenas na fase de liquidação, pois seria temerário, já que aproximaria ativamente o empregado do litígio. Foi justamente procurando evitar este confronto direto entre o empregado e o empregador que se fortaleceu o instituto da substituição processual na Justiça do Trabalho. Dessa forma, em que pese se tratar o sindicato autor de pessoa jurídica, atua na presente demanda como substituto processual. Entende-se que os destinatários do benefício
5 de 5 22/06/2017 15:36 pleiteado são os substituídos e não a pessoa jurídica do sindicato, o que constitui causa suficiente para que a gratuidade da justiça seja concedida. Pelo exposto, dá-se provimento ao recurso ordinário do sindicato para deferir a ele o benefício da justiça gratuita. ANDRE REVERBEL FERNANDES Relator VOTOS PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: DESEMBARGADOR ANDRÉ REVERBEL FERNANDES (RELATOR) DESEMBARGADORA ANA LUIZA HEINECK KRUSE JUIZ CONVOCADO MARCOS FAGUNDES SALOMÃO Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: [ANDRE REVERBEL FERNANDES] 17042716223788700000011585560 https://pje.trt4.jus.br/segundograu/processo /ConsultaDocumento/listView.seam