ANOREXIA E BULIMIA UMA ABORDAGEM PSICANALÍTICA
ESTRUTURA PSÍQUICA E SUBJETIVIDADE O homem fala porque deseja saber sobre o que lhe falta. Heráclito já dizia que é disso que o paciente sofre. Toda fala é sintomática de algo que não se sabe. A psicanálise opera sobre o sentido dado ao discurso na fala.
O sintoma alimentar perverte o que seria da ordem da necessidade para a sobrevivência. A razão é inconsciente. No bebê, no lugar da necessidade surge uma demanda nascida da demanda da mãe.
CIRCUITO PULSIONAL DEMANDA DE SE DEIXAR ALIMENTAR DEMANDA DE ALIMENTAR
O ALIMENTO O ALIMENTO QUE NÃO PODE FALTAR AO BEBÊ HUMANO É A PALAVRA, SIGNO DO INVESTIMENTO, DO AMOR E DA PRESENÇA EFETIVA DOS PAIS.
ANOREXIA Pode ser definida como privação deliberada do apetite. Oriunda do grego OREXIS, cujo significado é o desejo em geral.
PONTOS FUNDAMENTAIS Ligação entre anorexia e depressão Pregnância e influência do meio ambiente Cautela na direção do tratamento Interdisciplinariedade Atenção familiar Disponibilidade para atendimentos diários
CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA X TRANSTORNO ALIMENTAR Freud: no rascunho G, associa anorexia à neurose histérica. A anorexia está ligada à sexualidade, sobretudo ao aparecimento das diferenças corporais e do desejo sexual. Lacan: qualquer estrutura clínica pode apresentar um transtorno alimentar. Todo distúrbio está diretamente ligado à aquisição da fala e da linguagem, no tempo de estruturação psíquica do sujeito.
TRATAMENTO Sessões individuais, onde o psicanalista deve ter prudência, precisão nas intervenções, evitando dar sentido ao sofrimento do psicanalisando. Acompanhamento sistemático do tratamento realizado pelos demais profissionais. Sessões com a família e o psicanalisando.
BULIMIA Caracteriza-se pela perda do controle sobre a função alimentar,levando os pacientes a devorar os alimentos a qualquer hora do dia e/ou da noite, mesmo sem o estímulo da fome.
RITUAL DE EXPULSÃO DA BULIMIA Relatada nas Questões Convivais, de Plutarco, era identificada à expulsão do que prejudicava a saúde e aquisição de riqueza. Fome de boi - comportamento ruminativo, com expulsão, por meio de vômitos e ou purgação ( laxantes, exercícios físicos em excesso).
Primeiros relatos médicos surgem por volta de 1874, associados à uma paciente anoréxica. A bulimia está frequentemente associada à anorexia, os pacientes alternam períodos de um e outro desses distúrbios. No início do século XX, foi observado o sintoma de hiperfagia em pacientes com diabetes mellitus e malária, bem como em pacientes com outras doenças metabólicas. No entanto,estes não tinham o sintoma de vômitos provocados ou purgações.
Jovens internados por longos períodos em escolas ou hospitais, podem apresentar os mesmos sintomas comuns aos bulímicos. A causa está associada ao isolamento da família, o que gera angústia e depressão. Quando o sentimento de vazio comparece para alguém fragilizado emocionalmente, o sujeito reage como se uma ameaça, real ou imaginária, estivesse se abatendo sobre ele.
Para trazer de volta a sensação de conforto e proteção sentida pela presença de quem inspirava confiança, demanda de amor dirigida ao outro materno, a pessoa come. Mas o quê ela come? A memória inconsciente do que se percebeu na relação com o outro materno fica marcada. Toda vez que algo perturba a estabilidade emocional de alguém, ele reage recorrendo ao registro da memória, tentando bloquear o que o ameaça repetindo a ação que presidiu a resposta dada, no passado.
A falta percebida pelo bulímico leva-o a comer até o limite do insuportável. Come-se para preencher o vazio mas, ao fazê-lo, é preciso vomitar, expurgar para reiniciar o ciclo. As mulheres são as mais atingidas por este distúrbio, no entanto, tem havido um aumento significativo da bulimia, em homens
É sempre o olhar do outro que desperta a angústia: Ele me vê gorda(o)! Todo distúrio alimentar parte do mesmo princípio: a comida é signo do investimento recebido, seja sua falta, seja seu excesso.
Pode-se dizer que nossa contemporâneidade apresenta uma epidemia dos distúrbios do comportamento alimentar, reflexo das exigências sociais em relação à uma imagem idealizada e impossívelde ser atingida. A valorização de corpos esculturais é entendida como uma exigência necessária, um sinal de boa saúde física e mental e, portanto,abre portas no mercado profissional.
A obrigação de ser magro coloca jovens rapazes à beira do mesmo precipício que muitas mulheres. Os mecanismos são os mesmos, sempre começando com uma pequena dieta para melhorar a aparência.logo aparecem os pensamentos obsedantes, a exigênciaem perder mais e mais peso. Em seguida, surge a seleção dos alimentos, o medo de comer, a angútia.
O stress causado pelas pressões profissional e social levam à tentativa de compensação pela ingesta excessiva de comida( estímulo primário de demanda ao Outro, inconsciente).como esse procedimento é insatisfatório, reinicia-se o ciclo do comer, levando o sujeito ao expurgo do alimento para não engordar.
TRATAMENTO Tal como a anorexia, a bulimia pode ser tratada com sessões de psicanálise individuais, semanais. O psicanalista precisa entender que a bulimia é um sintoma que mostra a fragilidade emocional de seu analisando e que, portanto,é preciso que ele se ofereça como compensação aos momentos de crise,no lugar onde antes estava o alimento.
O psicanalista deve ter disponibilidade para receber seu analisando, tantas vezes quanto for preciso, seja no consultório, por telefone, emails, mensagens, etc. Agindo deste modo, permite que a palavra fale onde, antes, o silêncio calava com a comida.
A transferência é a via usada na direção do tratamento psicanalítico, para que o sujeito rememore, no aqui e agora das sessões, a causa do seu sofrimento, vivido na relação com o outro. Nutricionistas, nutrólogos, psiquiatras e a família do paciente, devem trabalhar em conjunto com o psicanalista, para que haja eficácia de resultados.
A bulimia, como sintoma, não esgota a dor de existir. Uma vez desfeita a perturbação, restam as questões que fazem, do analisando, um sujeito que sofre da fala e da linguagem.
OUTROS SINTOMAS ALIMENTARES A grande maioria das pessoas que se queixa de ter desenvolvido um sintoma alimentar, tem uma distorção da imagem corporal. Ter um corpo gordo numa sociedade em que a comida é escassa, é sinal de poder e riqueza. Ter um corpo magro numa sociedade em que há abundância de alimentos, denota auto controle, competencia e, sobretude, disciplina.
Viver em sociedade exige das pessoas muitas renúncias, que são observadas como uma enorme insatisfação. A aparência do indivíduo faz parte do contexto contemporâneo: ser livre mas sendo obrigado a ter uma imagemque obedeça à certos critérios, para ser aceito e ter sucesso. O corpo é o lugar onde se operam vários tipos de intervenções, na vã tentativa de moldar uma imagem satisfatória. As mulheres sào as maiores vítimas desse problema, podendo apresentar diversos distúrbios alimentares como anorexia e bulimia, onde o emagrecimento e a modelagem do corpo passam a ser o único objetivo desses sujeitos.
Esses distúbios que causam alterações de comportamento, mas não chegam a ser um distúrbio alimentar clássico, já que não atendem à todos os critérios observados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, são classificados como transtornos alimentares não especificados. Abordagens não adequadas podem levar a um agravamento do problema. Os profissionais procurados por este tipo de paciente precisam ter clareza sobre o quadro clínico e critérios na indicação de dietas e/ou medicamentos.
O Brasil é um dos maiores consumidores de anorexígenos e por isso, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) proibiu o uso da maioria deles. Algumas mulheres na menopausa, quando perdem a capacidade reprodutiva e apresentam uma diminuição expressiva de hormônios bem como observam a saída de casa dos filhos, e muitas vezes do marido ou companheiro podem experimentar, além de uma baixa de libido, normal nesse período de vida da mulher,uma depressão, curiosamente manifestada por um excesso de investimentona imagem. Consequentemente tornam-se obsessivas com os exercícios físicos, dietas, compras, cirurgias, etc. O corpo torna-se objeto da compensação, nunca satisfatória, de perdas não elaboradas.
DIREÇÃO DO TRATAMENTO Sessões individuais Acompanhamento nutricional Medicação, quando necessário: antidepressivos, ansiolíticos.