Carmo EL do; Leonel M; Bicudo SJ; Pádua JG de; Duarte Filho J. Comportamento do ciclo vegetativo de clones de Comportamento do ciclo vegetativo de clones de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). 2010. Horticultura Brasileira 28: S2323-S2329. Comportamento do ciclo vegetativo de clones de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). Ezequiel Lopes do Carmo 1 ; Magali Leonel 1 ; Sílvio José Bicudo 1 ; Joaquim Gonçalves de Pádua 2 ; Jaime Duarte Filho 3 1 UNESP/FCA Centro de Raízes e Amidos Tropicais. Rua José Barbosa de Barros, 1780, 18610-307 Botucatu SP, ezequielcerat@gmail.com, mleonel@fca.unesp.br, sjbicudo@fca.unesp.br; 2 EPAMIG Núcleo Tecnológico de Batata e Morango. Avenida Pref. Tuany Toledo, 470, 37550-000 Pouso Alegre MG, padua2008@gmail.com, 3 CATI Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. RuaRanimiro Lotufo, 202, 18607-050 Botucatu SP, jdfilho2004@gmail.com RESUMO A raiz de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) é um dos alimentos mais importantes para fins alimentícios. Entretanto, o Brasil apresenta apenas uma cultivar e uma variedade de interesse econômico, não tendo grande diversidade genética, podendo tornar um risco em relação ao ataque de pragas e doenças, além de dificultar a expansão da produção e do consumo. Portanto, este trabalho objetivou avaliar o desenvolvimento da parte aérea de nove clones avançados de mandioquinha-salsa em novo ambiente de cultivo, durante o ciclo vegetativo, verificando o comportamento da altura nas condições de cultivo do Estado de São Paulo. Houve maior crescimento no clone BGH 6414, seguido pelo BGH 5744 e pela cultivar Amarela de Senador Amaral. Os clones BGH 6513 e BGH 4560 apresentaram os menores crescimentos. Palavras-chave: Batata-baroa, cultivo, desenvolvimento. ABSTRACT Behavior of the vegetative cycle of clones of peruvian carrot (Arracacia xanthorrhiza Bancroft)/Sao Paulo State/Brazil. The root of peruvian carrot (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) is one of the most important food for food. However, Brazil has only one cultivar and a variety of economic interest, not having high genetic diversity and may become a risk in relation to the attack of pests and diseases as well as to hinder the expansion of production and consumption. Therefore, this study aimed to evaluate the development of the foliage of nine advanced clones arracacha in new growth environment during the growing season by checking the behavior of the height of cropping conditions in the State of São Paulo. There was greater growth in clone BGH 6414, BGH 5744 and followed by the cultivar Amarela de Senador Amaral. Clones BGH 6513 and BGH 4560 showed the lowest growth. Keywords: Arracacha, cultivation, development. A mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft), cujas raízes são comestíveis, é muito importante na alimentação devido às qualidades nutritivas e versatilidade no preparo de alimentos. É considerada um alimento de função energética, pois, na sua composição destacam-se alto teor de carboidratos, além de níveis consideráveis de minerais como cálcio, Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2323
fósforo e ferro e boa fonte de vitaminas A e niacina (Sediyama et al., 2005). Comparando-se os teores desses minerais, o consumo diário de mandioquinha-salsa é suficiente para suprir as necessidades diárias do consumo humano. Apresenta ainda amido com características especiais que favorecem grandemente a digestibilidade, sendo recomendada para todas as idades, além de doentes e esportistas. No Brasil, a produção de mandioquinha-salsa é quase exclusivamente destinada ao consumo caseiro (Sediyama et al., 2005). O cultivo de mandioquinha-salsa é caracterizado, predominantemente por pequenas áreas, pouco uso de insumos (Santos, 1993) e quantidade expressiva de mão-de-obra familiar sendo, portanto, de grande importância social e econômica. O País apresenta uma área plantada com mandioquinha salsa aproximada de 23 mil hectares com produção média de 250 mil toneladas anuais e cerca de 95% desse volume é consumido in natura (Carvalho, 2008). Minas Gerais é um dos maiores produtores desta olerícola, com lavouras concentradas nas regiões do Sul de Minas, Zona da Mata e Campos das Vertentes, com produtividade média de 13,13 toneladas ha -1 e uma área cultivada de aproximadamente 1100 hectares (Carvalho, 2008). O rendimento obtido nessas regiões é superior à média nacional que é de 9 t ha -1 ou à média da região Andina que é de 6 t ha -1 (Silva, 1997), embora existam clones com produtividade de 25 t ha -1 (Santos, 1997). O Estado de São Paulo apresentou na safra 2007/2008, aproximadamente 547 hectares plantados com a cultura da mandioquinha-salsa, destacando os municípios de Piedade e Serra Negra, com 170,50 e 104,40 hectares, respectivamente, (CATI, 2009). Aliado a essa produção, o estado é um dos maiores pólos de comercialização dessa raiz. A planta é herbácea, de porte baixo, com altura variando entre 40 e 60 cm, podendo as folhagens alcançar até 1,5m de altura, sendo anual quanto à produção das raízes. De acordo com a cultivar ou clone e as condições edafoclimáticas, a cultura poderá apresentar variações na coloração das raízes (Santos & Câmara, 1995), no desempenho vegetativo, bem como, no rendimento e qualidade das raízes. Nas regiões de altitude elevada e clima ameno, o plantio da mandioquinha-salsa pode ser feito durante todo o ano. Em Minas Gerais, as melhores épocas de plantio compreendem os períodos de março a junho e de setembro a outubro (GRANATE et al., 2007). No Estado de São Paulo, a época recomendada está compreendida entre os meses de março e maio (Câmara & Santos, 2002). A mandioquinha-salsa no país restringe-se a poucas cultivares, o que resulta em características semelhantes e grande uniformidade genética. Os materiais mais difundidos são a cultivar Amarela de Senador Amaral e a variedade Amarela de Carandaí, sendo o primeiro, largamente cultivado. Há também a variedade Branca que apresenta raízes de coloração branca, cuja planta é bastante vigorosa em relação às variedades de raízes amarelas, apresenta porte alto e expressiva produção de massa verde, chegando a produzir até sete quilos de raízes por planta (Santos, 1993). Porém, seu cultivo é restrito, pois suas raízes não têm boa aceitação pelo consumidor, devido à quase total ausência do aroma característico, do sabor adocicado e mesmo pela sua coloração e aparência. A uniformidade genética entre os materiais cultivados no Brasil é um risco em relação a pragas e doenças, além de limitante a expansão do cultivo em condições ambientais diferentes das tradicionais. A propagação comercial, de caráter exclusivamente assexuado, aliada a baixa variabilidade observada entre as variedades cultivadas no Brasil, conduz a Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2324
possibilidade desta espécie estar em alto grau de heterozigose, apresentando baixa produtividade e ciclo considerado longo (Santos, 1994). As plantas que produzem raízes de coloração amarela têm, geralmente, ciclo vegetativo mais longo, apresentam maior resistência às condições climáticas e produzem raízes maiores. As plantas de raízes brancas ou roxas são menos resistentes às variações climáticas e às vezes produzem raízes menores, porem são mais precoces, têm raízes de consistência mais suave e são as preferidas pelos consumidores dos países andinos (Carrasquilla, 1944 & Muñoz, 1969). No Brasil, a mandioquinha-salsa é comumente colhida a partir de oito meses após o plantio (Granate et al., 2007). O sinal fisiológico da maturidade das plantas está associado ao progressivo amarelecimento das folhas, finalizando com o total desfolhamento (Santos et al., 1991). O período de colheita na mandioquinha-salsa pode ser retardado à espera de melhores preços. Porém, esse período não deve ser prolongado, visto que as raízes tornamse mais alongadas e grossas, ao mesmo tempo em que vão ficando mais fibrosas, reduzindo seu valor comercial como olerácea (Santos, 1997). Tendo em vista a importância sócio-econômica e nutricional da mandioquinha-salsa este trabalho teve por objetivo avaliar o desenvolvimento da parte aérea de nove clones avançados de mandioquinha-salsa em novo ambiente de cultivo, durante o ciclo vegetativo, verificando o comportamento da altura nas condições de cultivo do Estado de São Paulo. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental São Manuel, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu-SP, localizada no município de São Manuel-SP. As coordenadas geográficas da fazenda são de latitude 22 o 46 35" Sul e longitude 48 o 34 44" Oeste, em relação a Greenwich, com altitude de 750 m. O clima da região segundo a classificação de Köppen é do tipo Cfa, ou seja, temperado quente e úmido, com temperatura média do mês mais quente acima de 22 C. As médias anuais do município são de 1433 mm de precipitação, 71% de umidade relativa do ar e 23 o C de temperatura (Cunha & Martins, 2009). O solo foi classificado como Latossolo Vermelho Escuro distrófico epieutrófico, A moderado, textura média, fase cerrado tropical, relevo suave ondulado (Carvalho, 1998). O solo foi analisado quanto a composição de macro e micronutrientes, bem como ph, matéria orgânica, CTC e V%, no Dept o. de Solos da FCA, seguindo a metodologia proposta por Raij et al. (2001). Os tratamentos constaram de nove clones oriundos do Banco de Germoplasma de Hortaliças da Universidade Federal de Viçosa - BGH (4560, 5741, 5744, 5746, 5747, 6414, 6513, 6525 e 7609) e da cultivar Amarela de Senador Amaral, utilizada como testemunha. As mudas foram selecionadas de plantas sadias, higienizadas por cinco minutos com água sanitária diluída em água na proporção de 1:10 e posteriormente secadas à sombra. No dia seguinte foram cortadas em formato de bisel simples e colocadas em bandejas de isopor para o pré-enraizamento. Quando atingido aproximadamente 0,12 m as mudas foram plantadas definitivamente. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com três repetições. A parcela foi constituída de duas linhas de plantio com 10 plantas, no espaçamento de 0,80 m entre sulcos e 0,40 m entre plantas, com total de 20 plantas na parcela. A partir de sete dias após o plantio, quinzenalmente, foi avaliada a altura de plantas, com auxílio de uma régua, em quatro plantas por parcela e os valores apresentados mensalmente, através da regressão. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2325
RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificadas diferenças no crescimento para todos os materiais avaliados. Os resultados mostram que houve tendência de máximo crescimento no mês de agosto para os clones BGH 6414 e BGH 5744 com alturas de 0,49 m e 0,40 m, respectivamente (Figura 1). Os clones que apresentaram menores crescimentos através da equação de regressão foram BGH 6513 e BGH 4560 com alturas de 0,27 m e 0,28 m, respectivamente, em agosto (Figura 1). A tendência de máximo crescimento para a testemunha foi de 0,36 m de altura, no mês citado anteriormente (Figura 2). Ainda no mesmo mês, o clone 5747 apresentou tendência de máximo crescimento com 0,32 m de altura (Figura 1). Os demais clones apresentaram crescimentos intermediários em relação aos crescimentos máximos e mínimos, citados anteriormente, além de apresentá-los após o mês de agosto. Através desta informação, pode-se inferir que estes clones estão ligados às plantas com ciclo mais tardio, bem como à interferência nas produções de raízes. Os clones que apresentaram máximo crescimento no mês de setembro, através da equação de regressão, foram 5741 e 6525 com 0,31 m e 0,30 m de altura, respectivamente (Figura 1). Finalmente, os clones 7609 (Figura 2) e 5746 (Figura 1) apresentaram máximo crescimento em outubro, com 0,31 m e aproximadamente 0,30 m de altura, respectivamente. REFERÊNCIAS CÂMARA FLA; SANTOS FF dos. 2002. Cultura da mandioquinha-salsa. In: CEREDA MP (ed). Agricultura: tuberosas amiláceas latino americanas. São Paulo: Fundação Cargill. p. 519-532. CARRASQUILLA JD. Datos para la aclimatación de arracacha en Europa. 1944. Revista de la Academia Colombiana de Ciencias Exactas, Físicas y Naturales, Bogotá 20: 470-482. CARVALHO S. 2008. Informações sobre mandioquinha-salsa. Centro de Informação Agropecuária (Ciagro); Assessoria de Mercado e Comercialização (Asmec); Departamento Técnico Emater MG (Detec). Adaptação. CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. 2009, 18 de agosto. Levantamento censitário das unidades de produção agropecuária do estado de São Paulo. Disponível em http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa/mapaculturas/mandioquinha.php CUNHA AR; MARTINS D. 2009. Classificação climática para os municípios de Botucatu e São Manuel, SP. Irriga 1: p. 1-11. GRANATE MJ; SEDIYAMA MAN; PUIATTI M. 2007. Batata-baroa ou mandioquinha-salsa Arracacia xanthorrhiza Banc. In: PAULA JÚNIOR TJ; VENZON M (eds.). 101 Culturas Manual de tecnologias agrícolas. Belo Horizonte: EPAMIG. p. 137-142. MUÑOZ EH. 1969. El cultivo de la arracacha en la sábana tropical. Colombia 3: 139-146. SANTOS FF. 1997. A cultura da mandioquinha-salsa no Brasil. Informe Agropecuário. 190: 5-7. SANTOS FF. 1994. Mandioquinha-salsa: potencial de uma cultura. Horticultura Brasileira 2: Contra capa. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2326
SANTOS FF. 1993. Características sócio-econômicas no processo de produção de mandioquinha- salsa no Brasil. Horticultura Brasileira 1: 95, 1993. SANTOS FF; CÂMARA FLA. 1995. O cultivo da mandioquinha-salsa Arracacia xanthorrhiza Bancroft. Botucatu: Unesp-Cerat/Brasilia: Embrapa-CNPH. 13p. (Série Raízes, 1). SANTOS FF; VIEIRA JV; PEREIRA AS; LOPES CA; CHARCHAR JM. 1991. Cultivo da mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). Brasília: EMBRAPA-CNPH. Não paginado. (Instruções Técnicas, 10). SEDIYAMA MAN. 2005. Boletim técnico 77 - Cultura da mandioquinha-salsa ou batata-baroa. Belo Horizonte: EPAMIG. 28 p. SILVA HR. 1997. Irrigação da mandioquinha-salsa. Informe Agropecuário. 190: 42-44. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2327
Figura 1. Desenvolvimento de clones de mandioquinha-salsa em função do ciclo vegetativo (Figure 1 - Development of clones arracacha a function of growth cycle). UNESP/CERAT, Carmo et al., SP, 2009. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2328
Figura 2. Desenvolvimento de clones de mandioquinha-salsa em função do ciclo vegetativo (Figure 2 - Development of clones arracacha a function of growth cycle). UNESP/CERAT, Carmo et al., SP, 2009. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S2329