Universidade de Brasília (UnB) Faculdade de Direito (FD) Teoria Geral do Processo 2 Turma: A. Professor: Vallisney de Souza Oliveira



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Transcrição:

Universidade de Brasília (UnB) Faculdade de Direito (FD) Teoria Geral do Processo 2 Turma: A Professor: Vallisney de Souza Oliveira Comentários sobre o Princípio da Lealdade Processual em Acórdão do STF Aluno: Marcos Vinícius Nunes da Costa Matrícula: 14/0063528

Ementa do acórdão a ser analisado EMB.DECL. NOS EMB.DECL. NO SEGUNDO AG.REG. NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 776.337 DISTRITO FEDERAL RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO EMBTE.(S) : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL - ANABB ADV.(A/S) : EDINO CEZAR FRANZIO DE SOUZA E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) : ARISTELLA INGLEZDOLFE DE MELLO CASTRO EMBDO.(A/S) : UNIÃO PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL E M E N T A: CUMULATIVA INTERPOSIÇÃO DE DOIS (2) RECURSOS CONTRA A MESMA DECISÃO, FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS - OFENSA AO POSTULADO DA SINGULARIDADE DOS RECURSOS - NÃO CONHECIMENTO DO SEGUNDO RECURSO - EXAME DO PRIMEIRO RECURSO - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DE EMBARGABILIDADE - RECURSO UTILIZADO COM O OBJETIVO DE INFRINGIR O JULGADO - INADMISSIBILIDADE - ABUSO DO DIREITO DE RECORRER - IMPOSIÇÃO DE MULTA - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. - O princípio da unirrecorribilidade, ressalvadas as hipóteses legais, impede a cumulativa interposição, contra o mesmo ato decisório, de mais de um recurso. O desrespeito ao postulado da singularidade dos recursos torna insuscetível de conhecimento o segundo recurso, quando interposto contra a mesma decisão. Doutrina. Precedentes. - Os embargos de declaração - desde que ausentes os seus requisitos de admissibilidade - não podem ser utilizados com o indevido objetivo de infringir o julgado, sob pena de inaceitável desvio da específica função jurídico-processual para a qual esse tipo recursal se acha instrumentalmente vocacionado. Precedentes. - O abuso do direito de recorrer - por qualificar-se como prática incompatível com o postulado ético-jurídico da lealdade processual - constitui ato de litigância maliciosa repelido pelo ordenamento positivo, especialmente nos casos em que a parte interpõe recurso com intuito evidentemente protelatório, hipótese em que se legitima a imposição de multa. A multa a que se refere o art. 538, parágrafo único, do CPC possui função inibitória, pois visa a impedir o exercício abusivo do direito de recorrer e a obstar a indevida utilização do processo como instrumento de retardamento da solução jurisdicional do conflito de interesses. Precedentes.

Comentários ao acórdão O processo, segundo asseveram Grinover, Cintra e Dinamarca (2013, p. 50), é um instrumento a serviço da paz social. Isto significa dizer que tal instrumento é o meio encontrado pelo Estado para dirimir conflitos no âmbito da tutela jurisdicional, com vistas ao bem-estar e equilíbrio da sociedade e dos indivíduos que a compõem. No decorrer do processo judicial, as partes envolvidas podem, eventualmente, estar com ânimos exaltados, impedindo ou dificultando que estas ajam com integridade no âmbito jurídico. Com o intuito de garantir tal virtude, o direito brasileiro adota o princípio da lealdade processual. As partes não podem utilizar do processo para objetivos fraudulentos ou abuso de direito. Desta forma, todos os partícipes do processo, incluindo partes, juízes, auxiliares da justiça, advogados e integrantes do Ministério Público, devem orientar suas ações segundo o eixo axiológico de dignidade e integridade. O Código de Processo Civil confere atenção especial ao princípio ora apresentado, relativamente a todos estes participantes do processo, em seus artigos 14, 15, 17, 18, 31, 133, 135, 147, 153, 193 e seguintes, 600 e 601. Conforme se nota, por exemplo, em um dos artigos supracitados: Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - proceder com lealdade e boa-fé; III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito. V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado. No caso exposto na página 2 deste trabalho, a Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil interpõe dois embargos de declaração contra a mesma decisão da Segunda Turma, relacionada a segundo agravo regimental no agravo de instrumento de número 776.337, que favoreceu a União (ora embargada). A embargante pretende que a Turma reavalie e rediscuta matéria em que isto já fora extensivamente realizado. Se observado o art. 535 do Código de Processo Civil, verificar-se-á que Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. E, conforme aponta o ministro Celso de Mello, relator, em seu voto: (...) o magistério jurisprudencial desta Corte tem sempre ressaltado que os embargos de declaração - desde que ausentes, como no caso, os seus requisitos de admissibilidade - não podem ser utilizados com a finalidade de sustentar eventual incorreção do acórdão ou de propiciar um novo exame da própria questão de fundo, em ordem a viabilizar a desconstituição do ato decisório proferido pelo Tribunal. A primeira conclusão a que se chega é a de que não cabem embargos declaratórios no caso em questão, visto que tal instituto não aprecia novamente a matéria, mas tão somente obscuridades, contradições, omissões ou dúvidas em decisão ou acórdão. Não obstante, a embargante, resignada com a primeira decisão, interpôs não apenas um, mas dois recursos contra a mesma decisão. Assim, a segunda conclusão a que se chega é a de que a interposição destes recursos não tem o intuito de tirar eventuais dúvidas quanto ao acórdão, mas somente protelar a execução deste.

Conforme se observa no texto da decisão, o abuso do direito de recorrer, ora observado no caso em questão, é prática incompatível com o postulado ético-jurídico da lealdade processual. Verificada a infringência ao princípio da lealde, a Segunda Turma, então, resolveu negar provimento aos primeiros embargos declaratórios e não conhecer os segundos. Além disso, seguiu o que determina o parágrafo único do art. 538, do CPC, que estipula que, na ocorrência de interposição de embargos meramente procrastinatórios, deva ser aplicada multa de 1% sobre o valor da causa ao embargante, que será devida ao embargado. O relator afirma que a função desta multa é inibitória, impedindo o exercício irregular do direito de recorrer, entretanto, como tal prerrogativa já fora exercida, esta pena também possui certo caráter punitivo. A Suprema Corte não poderia ter agido de maneira diversa, haja vista a verificação de violação de princípio essencial do Direito brasileiro, o da lealdade processual. A violação de princípios não é menos grave que a da própria lei; ao contrário, como observa Celso Antônio Bandeira de Mello (2000): Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada. Os recursos de que as partes dispõem devem ser utilizados para defender direito, não para protelar execução de sentença ou acórdão, prática que se caracteriza onerosa também para a outra parte no processo, ofendendo, destarte, a moralidade e integridade que devem nortear a lide judicial.

Referências Bibliográficas GRINOVER, Ada Pellegrini ; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo ; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 25. ed. São Paulo: Malheiros Ed., 2009. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm>. Acesso em: 20 abr. 2014.