Remição de Pena por Leitura: A Efetivação de Políticas Públicas Educacionais no Sistema Penitenciário Brasileiro

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Transcrição:

Remição de Pena por Leitura: A Efetivação de Políticas Públicas Educacionais no Sistema Penitenciário Brasileiro Reducción de la Pena para la Lectura: La Implementación Efectiva de las Políticas Públicas en el Sistema Penitenciario de Brasil Adonias Calebe de Moraes 1 Fabiana Irala 2 José Felipe Vicente 3 Niara Barbosa Krauss 4 Resumo O seguinte artigo aborda as relações entre o cárcere e a educação no Brasil. Primeiramente, será feita uma revisão bibliográfica sobre o histórico da políticas públicas no sistema penitenciário brasileiro e seus diferentes objetivos ao longo da história, para isso serão estudadas perspectivas criminológicas. Em um segundo plano, será feita uma análise do papel da educação no processo de humanização dos apenados, será compreendido como se dá a legislação que preconiza o acesso à educação para estes e, por fim, o impacto desse mecanismo em sua ressocialização. O objetivo geral do artigo é, portanto, explanar a realidade em que se vive e contribuir para a melhoria da sociedade e a efetivação das leis que garantem igualdade, desenvolvimento e proteção de seus indivíduos presentes no sistema prisional. O procedimento metodológico utilizado é o de pesquisa bibliográfica, com a tabulação de dados, fatos e críticas, e espera-se chegar a uma relação estrita entre os dois aspectos anteriormente citados. Palavras-Chave: Direito à Educação, Políticas Públicas, Ressocialização, Sistema Prisional. Resumen El siguiente artículo se ocupa de la relación entre la prisión y la educación en Brasil. En primer lugar, una revisión de la literatura se hará sobre la historia de las políticas públicas en el sistema penitenciario brasileño y sus diferentes propósitos a través de la historia, para que las perspectivas criminológicas será estudiado. En el fondo, un análisis del papel de la educación en el proceso de humanización de los condenados será, será entendido cómo es la legislación que exige el acceso a la educación de éstos y, por último, el impacto de este mecanismo en su rehabilitación. Por lo tanto, el propósito general del artículo es explicar la realidad en la que vivimos y contribuir al mejoramiento de la sociedad y de la aplicación de las leyes que garantizan la igualdad, el desarrollo y la protección de sus individuos presentes en el sistema penitenciario. El enfoque utilizado es a la literatura, con la tabulación de los datos, hechos y crítica, y se espera que para llegar a una estrecha relación entre los dos aspectos mencionados anteriormente. Palabras clave: Derecho a la Educación, Políticas Públicas, resocialización, sistema penitenciário 1 Acadêmico do curso de Direito na Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE; Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil; adoniasmoraes@hotmail.com 2 Mestra pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-mail: fabiana_irala@yahoo.com.br. 3 Acadêmico do curso de Direito na Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE; Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil; josefelipevicente@gmail.com. 4 Acadêmica do curso de Direito na Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE; Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil; niarakrauss@hotmail.com. 1

1. Introdução Anais I Seminário Latino-Americano de Estudos em Cultura - SEMLACult O presente ensaio possui como tema a análise da remissão por pena por leitura, política pública educacional implementada no sistema carcerário. A temática escolhida se deve ao ímpeto de pesquisar em que medida a educação influencia os detentos em sua ressocialização ou seja, a forma com que retornam à sociedade e sua importância dentro das prisões. Importante ressaltar que, tanto nas famílias quanto nas escolas, a educação possui uma função política extremamente importante, na medida em que faz parte da construção do ser humano, do cidadão capaz de conviver em sociedade. Sob tal conjuntura, a escolarização possui um papel imprescindível na constituição do indivíduo (OLIVEIRA, 2002), e o não acesso à escola ou o seu abandono possui uma gravidade tamanha, não só à esfera particular, mas à sociedade como um todo. Sob esse prisma, assim explicita a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 205: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. De mesma sorte, a prisão se fundamenta segundo Foucault (2014) na transformação do indivíduo a partir da privação da liberdade. E a quem é privado de liberdade, a Lei de Execução Penal dispõe de suas garantias e assistências, na forma dos artigos 10 e 11. Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência entende-se ao egresso. Art. 11. A assistência será: [...] IV educacional; (BRASIL, 2016) Trabalhos anteriores indicam os benefícios da educação ao objetivo do Estado com a Lei de Execução Penal, art. 1º: proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Utilizando-se de pesquisa bibliográfica, tabulação de dados, fatos e críticas, almeja-se contribuir para a reintegração dos condenados de forma absoluta e às garantias inerentes a todo ser humano. 2. Metodologia Afim de contemplar uma resposta ainda que contingente para a problemática do presente resumo expandido, fez-se necessário a utilização do método estático. A escolha de tal método ocorreu devido a sua particularidade aplicativa nos estudos de fenômenos aleatórios e incertos, tal como o Direito. Diante da inconstância das ciências sociais, fora imprescindível a organização, análise e interpretação de dados e acervos literários disponíveis. Portanto, assim como a função primordial desse método, este resumo objetiva a explicação sistemática das observações feitas a respeito dos direitos humanos e políticas 2

públicas previstas na CF/88, mais especificamente a remição de pena através da leitura, e sua efetivação no cenário atual. 3. Resultados e Discussão 3.1. Educação como Ferramenta de Libertação Em mero senso comum, entende-se a educação como o meio em que os costumes, hábitos e valores de uma determinada comunidade se perpetuam entre as gerações, englobando níveis de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada por um indivíduo e sua capacidade de socialização. No sentido técnico, a educação é um processo contínuo de desenvolvimento das faculdades intelectuais, físicas e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade. E ainda, sob a perspectiva de Paulo Freire (1987), a educação é ato de amor e coragem, sustentada no diálogo, na discussão, no debate. Avançando no pensamento de Paulo Freire (1987), temos uma noção do sistema escolar como um método de opressão usado pela classe dominante; onde termos como o medo da liberdade e o perigo da conscientização são trazidos à tona para indagar sobre como uma consciência crítica pode conduzir à desordem. Todavia, como é sabido, uma consciência crítica só trará a possibilidade de inserção desses oprimidos no processo histórico, evitando fanatismos e os impulsionando na busca de uma afirmação como sujeitos ativos na sociedade. 3.2. Aparatos Legais sobre o Acesso à Educação no Sistema Penitenciário A educação se mostra como elemento rudimentar na organização social existente, sendo um elemento indispensável ao cidadão. Tanto no plano teórico quanto no prático, é necessário que tal direito seja o mais abrangente possível, tendo em vista seu caráter indispensável. Seguindo a brilhante síntese realizada pela doutora em educação Carolina Oliveira (2013), no campo das previsões legais internacionais, o direito à educação é apregoado nos seguintes diplomas legais: Declaração Universal dos Direitos Humanos (artigo 26); Declaração Mundial sobre Educação para Todos (artigo 1º); Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (parágrafo 1º, art. 29); Convenção contra a Discriminação no Ensino (artigos 3º, 4º e 5º); Declaração e Plano de Ação de Viena (parte nº 1, parágrafo 33 e 80); Agenda 21 (capítulo 36); Declaração de Copenhague (compromisso nº 6); Plataforma de 3

Ação de Beijing (parágrafos 69, 80, 81 e 82); Afirmação de Aman e Plano de Ação para o Decênio das Nações Unidas para a Educação na Esfera dos Direitos Humanos (parágrafo 2º). De outro modo, o ordenamento jurídico brasileiro prevê, por intermédio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB, especificamente em seu artigo 37, a possibilidade do acesso ou continuidade no ensino fundamental e médio através da educação de jovens e adultos EJA. Aliado a tal elemento, a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, a qual institui a Lei de Execução Penal LEP, vislumbra na seção V a assistência educacional, sendo disciplinado pelo art. 17 e seguintes. Portanto, existem estruturas legais solidificadas para o devido acesso à educação dentro das unidades prisionais, devendo ser encarada como um mecanismo que viabiliza o desenvolvimento pessoal, a transformação dos sujeitos e da sociedade. Neste sentido, válida é a análise posta no Plano Estadual de Educação no Sistema Prisional do Paraná, que compreende a educação como: (...) um caminho que reintegra os apenados à sociedade permitindo-lhes a superação das circunstâncias que deram origem ao crime e proporcionem relações de trocas sociais que corroborem para uma adaptação no processo de equilíbrio entre a convivência social e a autonomia individual. (PARANÁ, 2015, p.22). Retendo o estudo a organização jurídica brasileira, todos os elementos retro mencionados possuem como primeiro motor o que preconiza a Constituição Federal de 1988, expondo em seu artigo 208, inciso I, que todos os cidadãos e cidadãs têm o direito ao "Ensino Fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria". Assim, frisa-se sobre a possibilidade de remição de pena por meio do estudo e da leitura, isto é, existe a garantia do condenado abreviar o tempo imposto em sua sentença penal condenatória por intermédio do estudo e da leitura. Assim sendo, o art. 126, 2º, I, da LEP prevê a remição de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar, sendo que as atividades de estudo podem ser desenvolvidas de forma presencial ou pelo Ensino a Distância (EAD), modalidade que já é realidade em alguns presídios do país, desde que certificadas pelas autoridades educacionais competentes. Similarmente, referente à remição proveniente da leitura, cada obra literária lida possibilita a remição de quatro dias de pena, com o limite de doze obras por ano, ou seja, no máximo 48 dias de remição por leitura a cada doze meses. 4

Referências BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 28 de jun. 2016.. Lei de Execução Penal. Brasília: Congresso Nacional, 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em 30 de ago. 2016. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 42. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. OLIVEIRA, Carolina Bessa Ferreira de. A educação escolar nas prisões: uma análise a partir das representações dos presos da penitenciária de Uberlândia (MG). Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 4, p. 955-968, Dez. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1517-97022013000400009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 27 de ago. 2016. Epub Aug 30, 2013. OLIVEIRA, Marta Kohl de. REGO, Teresa Cristina. SOUZA, Denise Trento R. Psicologia, Educação e as Temáticas da Vida Contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002. PARANÁ. Plano Estadual de Educação no Sistema Prisional do Paraná, 2015. Disponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/file/educacaoetrabalho/documentos/peespquinze.p df>. Acesso em: 28 de ago. 2016. 5