BNDES: solidez patrimonial e perspectivas de futuro



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Transcrição:

BNDES: solidez patrimonial e perspectivas de futuro Por Selmo Aronovich 1 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma instituição financeira voltada para o apoio ao investimento produtivo e comércio exterior, tendo priorizado, nos últimos anos, maior alocação de recursos a empresas de variados portes e à descentralização regional. É também um banco único, no sentido de executar programas e políticas de governo a fim de aumentar a capacidade de oferta agregada da economia e viabilizar projetos de infraestrutura, possibilitando o aumento da competitividade do produtor local e o crescimento das exportações brasileiras. Paralelamente, o BNDES apoia investimentos em urbanização e de fortalecimento do entorno de projetos, zelando pela questão ambiental e pela biodiversidade. Trata-se de uma agenda altamente desafiadora, o que requer necessidade contínua de aperfeiçoamento. Para tanto, dispõe de fontes institucionais de recursos, a exemplo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Fundo de Marinha Mercante (FMM), Fundo Setorial do Audiovisual e Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, além de aportes da União, para execução de suas atividades. Desde que foi criado, em 1952, o BNDES também é o principal executor dos mais importantes programas de apoio ao investimento do Governo Federal. O Banco apresenta uma estrutura financeira e patrimonial sólida, fundamentada em políticas existentes há quase 20 anos e aperfeiçoadas constantemente. Trata-se de uma instituição altamente lucrativa, que, historicamente, consegue compatibilizar baixa inadimplência, alto sucesso na execução de complexos projetos de longo prazo, margens financeiras apertadas e uma estrutura de eficiência em custos sem paralelo dentre as instituições de seu porte, seja no Brasil ou no exterior. O BNDES mostra, ainda, capacidade de atender ao seu orçamento anual majoritariamente com o retorno de sua carteira de crédito. Para uma avaliação completa dos diversos aspectos da gestão financeira do Banco, 1 Superintendente da Área Financeira do BNDES

sugere-se a leitura do artigo A Política Financeira do BNDES sessenta anos depois (2012). 2 No presente texto, entretanto, o foco será a solidez patrimonial da instituição e suas perspectivas. Por ser um banco de longo prazo, o BNDES trabalha com um horizonte de planejamento financeiro igualmente longo, no qual as questões são vistas com bastante antecipação, assim como as respostas para os desafios futuros. Não se pode negar a importância de olhar para o passado, mas, em finanças corporativas, trabalha-se para moldar e aprimorar o futuro. Uma análise apurada de série temporal deve considerar o horizonte mais longo possível, sob pena de incorrer em conclusões que podem estar influenciadas pela base original de comparação. Vejamos abaixo a evolução do Patrimônio Líquido de várias instituições nos últimos 5 anos. Figura 1 2 BAZÍLIO, Juliana Kramer e ARONOVICH, Selmo. A Política Financeira do BNDES sessenta anos depois. In Revista do BNDES nº 37. BNDES: Rio de Janeiro, 2012.

O Patrimônio Líquido do BNDES cresceu de R$ 29 bilhões para R$ 66 bilhões de 2009 para 2010, sem que tal expansão tivesse chamado tanto a atenção como a recente queda, decorrente da introdução, no Brasil, do IFRS (International Financial Reporting Standards), regras contábeis internacionais. Contudo, os fatores que explicam tal crescimento são essencialmente os mesmos que explicam a redução: a volatilidade do valor dos ativos de títulos e valores mobiliários do BNDES, composto, em grande parte, de renda variável. Em dezembro de 2010, a carteira de ações, registrada pelo valor de aquisição como ativo permanente, passou a ser contabilizada a preços de mercado ou a valor justo. A diferença entre o preço de mercado e o de aquisição, líquido de efeitos tributários sob hipótese de venda a preços de final de período, foi lançada como Ajuste de Valor de Mercado no Patrimônio Líquido da instituição. Já era de pleno conhecimento do BNDES que o bônus de 2010 poderia crescer ou baixar em função da aquisição de novos ativos e da evolução futura dos preços das ações. O impacto das oscilações das cotações de bolsa de valores afetam o dia a dia das empresas, cuja capacidade de alavancagem está condicionada ao valor de mercado das mesmas. A diferença é que o impacto sobre o BNDES, de propriedade da União, é mais transparente em função da importância de sua carteira de ações, esteio de rentabilidade em um horizonte de médio e longo prazos e que viabiliza ao Banco financiar programas de desenvolvimento econômico e social a margens reduzidas. Em função de sua estrutura de funding estável, o BNDES dispõe do conforto de poder esperar o melhor momento para monetizar a parcela de sua carteira de ações considerada não estratégica. A carteira estratégica refere-se àquela originada por aporte de capital da União no BNDES, com destaque para Petrobrás, Vale e Eletrobrás.

A Figura 2 Fatores Determinantes da Mutação do PL Acumulado entre Dez/10 e Mar/13 % da Variação R$ milhões no Período Saldo do PL em 31/12/2010 65.899 Lucro apurado até Mar/13 18.777 28,5% Aumento de Capital 6.783 10,3% Pagamento de Dividendos (19.230) -29,2% Ajuste a Valor de Mercado da Carteira de TVM (23.290) -35,3% Outros (2.176) -3,3% Saldo do PL em 31/03/2013 46.799-29,0% A evolução do patrimônio líquido do BNDES, per si, não traduz a verdadeira solvência e capitalização, apuradas pelo capital bancário e denominada de Patrimônio de Referência. O funding do BNDES é, essencialmente e historicamente, provido por fontes governamentais. O BNDES sempre honrou pontualmente suas dívidas com o Governo e com o mercado, sendo uma das poucas instituições brasileiras que mantiveram o fluxo de pagamentos externos normalizado mesmo durante a moratória da dívida externa dos anos 80. Em relação às dívidas com o mercado internacional, o Patrimônio Líquido do BNDES equivale a mais de duas vezes o saldo das obrigações externas ao final do ano passado. Considerando-se as debêntures emitidas da BNDESPAR, o saldo de patrimônio líquido da subsidiária integral do BNDES equivalia a mais de 10 vezes o saldo devedor ao final de 2012. O Patrimônio de Referência, contabilizado de acordo com as normas do Acordo de Basileia 2, equivalia a R$ 83 bilhões em dezembro de 2010 e a R$ 89 bilhões em dezembro de 2012, tendo caído um pouco desde então em função da redução do ganho não realizado em ações no período. Uma pergunta que pode advir de tudo o que foi discutido até agora é se o BNDES estaria preparado para ingressar nas novas regras contábeis do Acordo de Basiléia 3, um grande desafio para o sistema bancário global. Como o BNDES poderá ficar a partir de Basiléia 3 e da edição da Resolução 4.192/2013? Muito bem, como se verificará a seguir. Basiléia 2 representou um importante avanço em relação a Basiléia 1 ao incorporar dimensões de gerenciamento de risco para o capital, o que não existia anteriormente. Porém, o ciclo de Basiléia 2 esgota-se em setembro de

2013, quando passa a vigorar Basiléia 3. A figura 3 ilustra as mudanças que ocorrerão no cômputo do Patrimônio de Referência do BNDES com a nova fase do Acordo. Figura 3 Quadro Comparativo de Basiléia 2 e Basiléia 3 para o BNDES Capital Nível 1 Capital Nível 2 Basiléia 2 Basiléia 3 1. Valor do PL sem ganhos não realizados com 1. Valor do PL - inclui ganhos não realizados com TVM carteira de títulos e valores mobiliários 2. Instrumento híbrido de capital e dívida, limitado a 2. Instrumento elegível a capital principal, nos termos da 15% de 1 Res. 4.192/2013 3. Instrumento elegível a capital complementar, nos termos da Res. 4.192/2014 1. FAT constitucional em valor limitado a 50% do 1. FAT Constitucional sem limite - a depender de aprovação capital nível 1 do BC 2. Soma de demais instrumentos híbridos mais ganhos não realizados em ações, limitado a 50% do valor do Capital Nível 1 2. Demais instrumentos híbridos anteriormente elegíveis a capital nível 1 de Basiléia 2 Validade: até 30/09/2013 Vigência: a partir 01/10/2013. Em Basiléia 3, os voláteis, mas ainda expressivos, ganhos não realizados com títulos e valores mobiliários migrarão para o capital nível 1. Ademais, a MP 618/2013 autorizou a contratação de instrumento de capital que poderá ser computado do capital principal. O uso de instrumentos financeiros elegíveis a capital não é novidade. Eles foram introduzidos em Basiléia 2 e são importantes componentes do capital bancário no Brasil e no resto do mundo. A diferença, no que concerne ao BNDES, é que tais instrumentos são contratados com o Governo federal e representam parcela pequena da dívida total com a União. Não é a primeira vez que a União e o BNDES fazem uso de instrumento híbrido para capitalizar o Banco. Antes da edição da MP 618 havia R$ 14 bilhões contratados, elegíveis a capital nível 1 e 2 em Basiléia 2. E R$ 5 bilhões ainda não contratados do R$ 11 bilhões da Lei 11.948/2009 que foram autorizados para serem Capital Nível 1 em Basiléia 2. Antes de passarmos à estimativa do Patrimônio de Referência em dezembro de 2013, resta esclarecer o porquê da aprovação de R$ 15 bilhões para capital nível 1, nos termos da Resolução 4.192/2013. O instrumento elegível a compor capital bancário é o único item da referida Resolução cuja validade se dá a partir da sua data de contratação, desde que aprovado pelo Banco Central, não da data de primeiro de outubro. Sua aprovação teve como princípio o zelo da União e da Administração do BNDES para que o Banco se mantivesse, ao longo do tempo, plenamente

enquadrado nos limites prudenciais, mesmo com a volatilidade da carteira de títulos e valores mobiliários, assegurando ao BNDES sua capacidade operacional. No escopo do Planejamento Estratégico do Banco, aprovado pelo Conselho de Administração, há diversas medidas que devem ser acompanhadas e soluções buscadas com antecedência. Dentre elas, consta um índice Basiléia referencial mínimo de 15%, abaixo do qual o BNDES deve buscar viabilizar medidas de recomposição. Por que um gatilho tão acima do mínimo de 11%? Por prudência e planejamento financeiro, dado o horizonte temporal de execução das medidas de apoio. Essa queda abaixo de 15%, considerando possíveis cenários de evolução do ganho não realizado com títulos e valores mobiliários, já se delineava desde o ano passado na transição de regras de Basiléia 2 para Basiléia 3 e motivou a discussão que resultou nas medidas pertinentes ao BNDES que constam da MP nº 618/2013. Figura 4 Projeção do PR do BNDES para Dez/2013 Espaço Adicional FAT como Capital Tranferência do Estimativa Discriminação dez/12 Novos Híbridos (*) nível 2 (*) AVM com TVM para Dez/13 Capital Nível 1 49 15 15 79 Capital Nível 2 41 120-15 146 PR 90 225 (*) Sujeito à aprovação do Banco Central do Brasil. Numa estimativa conservadora, sujeita à aprovação pelo Banco Central do uso dos novos híbridos e do uso ampliado do FAT Constitucional, o Patrimônio de Referência aumentaria em R$ 135 bilhões, para R$ 225 bilhões. O Capital nível 1 aumentaria em R$ 30 bilhões, ou mais, em função da eventual recaracterização de instrumento híbrido preexistente de instrumentos ora elegíveis a Capital Nível 2 para Capital Nível 1 nos termos da legislação vigente. Em conclusão, o BNDES se planeja e se prepara continuamente para os desafios futuros. A expectativa de crescimento do PR é conhecida pelo Banco desde a divulgação das diretrizes internacionais de Basiléia 3, o que resultou na Resolução 4.192/2013 e dotará o BNDES de margens operacionais bastante dilatadas. O que mudou? As normas internacionais mais rígidas,

conservadoras e temidas pela banca internacional, quando aplicadas ao BNDES, evidenciam sua forte capitalização e solvência. A transparência que o Governo Federal dá aos seus atos é muitas vezes pouco compreendida. As mudanças de estatuto do BNDES, banco de propriedade da União e criado por Lei, ocorrem por meio de decreto presidencial. A União, assim como a Administração do BNDES, trabalha para fortalecer e aprimorar o Banco. Para tanto, deve-se olhar a consequência futura dos atos e não buscar no passado dificuldades previamente diagnosticadas e que suscitaram as ações recentes. O que se espera do passado é a manutenção do legado de responsabilidade e critério na gestão da carteira de ativos, cujos retornos continuarão a ser a principal fonte de recursos para a execução orçamentária futura do BNDES.