Sociedade de Geografia 15 de Novembro de 2012

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1 Na figura abaixo há uma medida estrutural tirada em um afloramento com contato geológico.

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Do ponto de vista químico o nosso país possui toda a gama de águas minerais naturais, sendo a maior parte as chamadas sulfúreas [10].

A Orla Mesocenozóica Ocidental, na área de jurisdição da DRAOT Lisboa e Vale do Tejo, compreende os seguintes 16 sistemas aquíferos (Figura 1):

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Transcrição:

Sociedade de Geografia 15 de Novembro de 2012 RECURSOS HÍDRICOS TERMAIS AQUÍFEROS TERMAIS MODELOS CONCEPTUAIS DE DESENVOLVIMENTO O CASO PARTICULAR DO OESTE E DAS CALDAS DA RAINHA José Martins Carvalho, EurGeol, PhD

para o médico ÁGUA TERMAL É A ÁGUA QUE TENDO PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS É USADA EM BALNEÁRIOS TERMAIS (Pomerol & Ricour 1992) T> 37ºC (Klimentóv 1973)

para o geólogo ÁGUA TERMAL (ou TERMOMINERAL) TEMPERATURA DE EMERGÊNCIA (T) SUPERIOR À TEMPERATURA MÉDIA DO AR (Tar) NA REGIÃO T >Tar+5ºC (White 1957) T >Tar+4ºC (Schoeller 1962) T > 20ºC (Malkovsky & Kacura 1969)

para o médico ÁGUA TERMAL Termalismo vs águas engarrafadas

para o geólogo ÁGUA MINERAL distingue-se das águas normais da região pelas suas propriedade físicoquímicas (ph, temperatura, sulfuração, mineralização total, etc.)

O conceito normativo e económico de água mineral natural

Agua Mineral Natural Água considerada bacteriologicamente própria, de circulação profunda, com particularidades físicoquímicas estáveis na origem dentro da gama das flutuações naturais, de que resultem propriedades terapêuticas ou simplesmente efeitos favoráveis à saúde.

EM TERMOS NORMATIVOS A ÁGUA MINERAL NATURAL É UM RECURSO GEOLÓGICO (tutela do Ministério da Economia, Energia, Obras Públicas e Telecomunicações). NÃO É INCLUÍDO NO CONCEITO DE RECURSO HÍDRICO (tutela do Ministério da Agricultura, Território, Mar e Ambiente ).

EFEITOS TERÂPEUTICOS A actual legislação portuguesa não considera os conceitos de: Água Mineromedicinal Água Medicinal

Água termal das Caldas da Rainha: exemplo de água mineral e termal do ponto de vista geológico e, termal em termos de hidrologia médica

Água termal das Caldas da Rainha: exemplo de água mineral e termal do ponto de vista geológico e, termal em termos de hidrologia médica Para o geólogo Mineral porque claramente distinta das águas da região (temperatura de 32ºC, cloretadas sódicas, formas reduzidas de enxofre H 2 S, HS -, S 2-, TDS>3g/l). Hipersalinas, Sulfúreas Termal porque a temperatura (32ºC) é superior em mais de 4ºC à temperatura média do ar Para o médico hidrologista é Termal porque é usada num balneário termal tendo indicações terapêuticas para doenças do aparelho respiratório, reumáticas e musculo-esqueléticas

Principais Águas Termais da Região Oeste

Diagrama de Piper das Águas Termais da Região Oeste

Diagramas de Stiff das Águas Termais da Região Oeste

O Modelo Conceptual Hidrogeológico do Aquífero Termal do Vimeiro

O Modelo Conceptual Hidrogeológico do Aquífero Termal das Termas dos Cucos

O Modelo Conceptual Hidrogeológico do Aquífero Termal de Monte Real

O Modelo Conceptual Hidrogeológico do Aquífero Termal das Caldas da Rainha Segundo Marques et al (2010, 2012)

O Modelo Conceptual Hidrogeológico do Aquífero Termal das Caldas da Rainha (Zona de descarga) Segundo Graça, H (2007)

O Modelo Conceptual Hidrogeológico do Aquífero Termal das Caldas da Rainha Segundo Zbyzewsky (1959) e Marques et al (2010, 2012) Circulação profunda até 1600m, temperaturas até 60ºC e interacção água rocha em formações evaporíticas; Idades aparentes da água de 1500 a 2000 anos; Necessário confrontar o modelo derivado das investigações com isótopos ambientais com a hidrodinâmica do sistema; Os dados existentes apoiam circulação mais rápida da água isto é, idades da água menores.

Perímetro de Protecção da Concessão Hidromineral das Caldas da Rainha

CONCLUSÕES: Caudais actuais: cerca de 14 l/s à temperatura de 34,8ºC Grande pressão antrópica na zona de descarga Controlo da qualidade microbiológica na zona de descarga é possível como foi demonstrado pelo furo AC2. O reforço de caudais será possivel, em direcção ao núcleo do sinclinal de A-de-Francos (profundidades até 1600 m)...mas serão necessários investimentos consideráveis em sondagens de pesquisa para controlo da indefinição existente em relação ao modelo conceptual, e em novas captações. Soluções geotérmicas para a Estância Termal e edificios emblemáticos da cidade podem ser mais valias para o desenvolvimento termal: Efluentes termais com BCG (Potência Actual 1,5 MW) Novas captaçõees mais profundas no núcleo do sinclinal

A qualidade e a quantidade do recurso hidromineral são um argumento muito forte a favor do desenvolvimento do termalismo nas Caldas da Rainha Muito obrigado

CONDIÇÕES GEOLÓGICAS E ESTRUTURAIS REGIONAIS Do ponto de vista geológico, a região onde se encontram as nascentes termais de Caldas da Rainha enquadram-se no vale tifónico de Caldas da Rainha, de orientação geral NNE-SSW. Este vale está relacionado com o diapirismo que afectou, não só esta região, como outras da bacia Meso-Cenozóica ocidental. CONDIÇÕES GEOLÓGICAS E ESTRUTURAIS LOCAIS Na zona das Caldas da Rainha, reconhecem-se afloramentos de formações arenosas com alguns leitos argilosos do Pliocénico e Quaternário, com uma espessura máxima provavelmente superior a 100m e os Grés Superiores (areias e arenitos micáceos grosseiros, por vezes conglomeráticos, com características permeáveis, mas em que o entrecruzamento da estratificação e as intercalações argilosas dificultarão, por ventura, o fluxo subterrâneo). Além disso, afloram igualmente as Camadas de Alcobaça, que constituem uma alternância de margas, calcários argilosos, arenitos, siltitos e argilas, fossilíferos, friáveis de cores claras e as Margas da Dagorda, com intercalações siltíticas e permeabilidade nula ou muito fraca. Toda a zona do vale tifónico resulta de uma tectónica diapírica, em que o contacto oriental entre as Margas da Dagorda e as do Malm, de orientação NNE-SSW, segue o alinhamento geral do vale tifónico e dos que definem o anticlinal dos Candeeiros e o vale tifónico que lhe está associado. CONDIÇÕES HIDROGEOLÓGICAS A zona de recarga é a Serra dos Candeeiros, em afloramentos do Malm, escoando-se a massa de água através das Camadas de Alcobaça. Na parte central da bacia, o circuito hidromineral alcança profundidades entre os 1400m e os 2100m, pelo que o fluido chega a atingir temperaturas da ordem dos 75ºC. Durante o percurso desenvolve-se um ambiente redutor submetido a temperaturas e pressões elevadas, dando origem a produtos que são oxidados ao longo do percurso ascensional. As Margas da Dagorda constituem, portanto, uma barreira à progressão do escoamento hidromineral, provocando um fluxo ascensional rápido das águas profundas através da falha que bordeja o diapiro na parte oriental, dando origem a descargas subterrâneas importantes, cujos caudais parecem ter-se mantido inalteráveis desde o século XVI.