PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ELABORAÇÃO DE CARTAS GEOTÉCNICAS VOLTADAS À PREVENÇÃO DE EROSÃO

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Transcrição:

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 1 PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ELABORAÇÃO DE CARTAS GEOTÉCNICAS VOLTADAS À PREVENÇÃO DE EROSÃO Geógrafa Kátia Canil - Instituto de Pesquisas Tecnológicas IPT canilkat@ipt.br INTRODUÇÃO Os processos do meio físico, sobretudo os processos erosivos, tema central deste evento, manifestados sob a forma de feições erosivas lineares de grande porte, quando ocorrem dentro em áreas urbanas, expõem moradias e infra-estrutura à situações de risco, proporcionando grandes danos sócio-econômicos e ambientais. Estas feições erosivas são também chamadas de erosões urbanas. A aceleração do processo de expansão urbana, realizado sobretudo de modo desordenado, pode desencadear uma série de alterações e impactos, dentre os quais, a erosão urbana tem se mostrado como um dos mais graves com conseqüências diretas, como o assoreamento e as inundações, comprometendo a qualidade de vida das cidades. Para prevenir a erosão urbana, especialmente nas áreas em que estes processos se manifestam, é importante instituir soluções normativas, através da legislação conforme as características do meio físico no qual cada área urbana está instalada. Como instrumentos de ação, destacam-se planos de defesa civil e zoneamentos que compõem os planos diretores municipais e metropolitanos, os quais objetivam orientar o equacionamento dos problemas. A análise do quadro legal existente, das questões relativas ao parcelamento do solo urbano, mostra que uma política de prevenção e controle da erosão urbana deve abranger ações de planejamento urbano, de disciplinamento legal do uso e ocupação do solo e de desenvolvimento de um código de obras específico para áreas de alto risco de erosão e recuperação de áreas degradadas. Os instrumentos de ações preventivas para o planejamento urbano estão baseados em Cartas Geotécnicas. Suas orientações podem ser utilizadas no plano diretor, na lei de parcelamento do solo urbano, subsidiando diretrizes de projetos de loteamento em áreas com diferentes suscetibilidades à erosão. No código de obras, a Carta Geotécnica, pode orientar soluções normativas de obras infra-estrutura urbana. No planejamento urbano, pode auxiliar na determinação do zoneamento de uso do solo, na delimitação do perímetro urbano e no direcionamento do vetor preferencial da expansão urbana. A carta geotécnica pode também orientar na seleção de áreas para instalação de futuros conjuntos habitacionais ou loteamentos populares de caráter social, geralmente implantados em terrenos de menor custo, situados em áreas mais problemáticas sob o ponto de vista geotécnico. As previsões devem ser objetivas para melhor adoção de medidas preventivas apropriadas. Elas constituem suporte para revisões do zoneamento definido no Plano Diretor, ou para a adoção de critérios de parcelamento e construção, integrantes das leis de uso e ocupação do solo e dos códigos de obras locais. METODOLOGIA Historicamente, no âmbito da Geologia de Engenharia no Brasil, a metodologia para confecção e aplicação da carta geotécnica teve início entre 1965 e 1966. Desde então, e mais intensamente após o ano de 1988 diversos trabalhos nessa linha de pesquisa vieram se desenvolvendo, por grupos do Departamento de Geologia do IG-UFRJ, da Divisão de

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 2 Geologia do IPT, do Departamento de Geologia da EESC-USP, do IG-SP, do Departamento de Geotecnia da UNB, do Departamento de Geologia da UFMG, da UFPE, da UFAL, da UFPR, da UFRGS e da CPRM. Desde meados da década de 70, o IPT desenvolve a metodologia para elaboração de cartas geotécnicas e destaca que os parâmetros para elaboração dessa carta devem ser selecionados em função do objetivo do trabalho. DINIZ (1998) apresenta um levantamento de projetos realizados pelo IPT na âmbito da Cartografia Geotécnica, que destacam a importância da geologia de planejamento com enfoque territorial e urbano, propostas de classificação e sistematização de cartas geotécnicas e sua aplicação, que leva em conta os aspectos do meio físico e do uso e ocupação do solo. Baseados neste princípio e no estudo dos processos do meio físico (geomorfológicos e geológicos), a concepção e o método de elaboração das cartas geotécnicas foram se modificando e evoluindo ao longo do tempo, conforme a experiência acumulada e o objetivo do trabalho, tanto em relação aos conteúdos quanto às escalas de mapeamento, com a finalidade de melhor responder às questões propostas (FREITAS, 2000). Segundo este autor que desenvolve a metodologia no IPT, as cartas geotécnicas podem ser classificadas em diferentes tipos, de acordo com o processo abordado. Desta forma, as Cartas Geotécnicas podem ser denominadas de Carta de Suscetibilidade à Erosão e Carta de Risco de Erosão, quando aplicadas ao planejamento e gestão de meios urbanos (conforme já apresentado) e Carta de Capacidade de Uso do Solo, quando aplicada ao planejamento e gestão agrícola (RIDENTE JR., J.L, 2000). Com base nestes conceitos e na metodologia do IPT, o fluxograma a seguir apresenta em linhas gerais a metodologia de elaboração das cartas de risco de erosão, baseado em IPT, 1994. Levantamento Preliminar Na organização do trabalho, o levantamento preliminar é muito importante, pois devese buscar reunir todos os documentos cartográficos existentes, assim como as referências bibliográficas específicas e de apoio. As cartas topográficas servem para a elaboração da base cartográfica na qual serão dispostas todas as informações necessárias à elaboração da Carta de Risco de Erosão. Nem sempre as escalas são compatíveis com a execução do trabalho, então faz-se necessário providenciar a restituição aerofogramétrica, para elaboração da base. Em relação à escala de representação, a escala 1:25.000 é, normalmente, utilizada para o planejamento da área urbana (FREITAS 2000). Cartas de risco de erosão nesta escala foram elaboradas para áreas urbanas de diversos municípios do Estado de São Paulo, como estão citadas no item seguinte. No entanto, a escala 1:10.000 pode ser utilizada para a elaboração das cartas temáticas, na qual podem ser observados maiores detalhes e a escala 1:25.000 para a apresentação final. A escala 1:10.000 é, entretanto, a mais adequada, quando se pretende o detalhamento de áreas para implantação de obras específicas, tais como loteamentos, parques industriais, aterro sanitário, sistema viário, dentre outros. Investigação Nesta fase, deve-se realizar o trabalho de campo para identificação e cadastramento de todas as feições erosivas existentes na área de estudo. As feições devem ser locadas na base cartográfica, constituindo a Carta de Feições Erosivas. Ao mesmo tempo devem ser realizados os levantamentos dos condicionantes naturais do meio físico, que atuam diretamente na

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 3 dinâmica dos processos erosivos. Assim, destacam-se a caracterização geológica, geomorfológica e pedológica do terreno. As formas de uso e ocupação do solo devem ser mapeadas por meio de fotos aéreas, imagens de satélite, ou seja pelos documentos disponíveis, que devem ser plotados na base cartográfica e verificados em campo. Deve ser o mais atualizado possível. ALMEIDA & FREITAS (1996) estabeleceram categorias de uso e ocupação do solo no estudo de áreas urbanas que agem decisivamente na geração da instabilidade dos terrenos quanto ao desenvolvimento dos processos erosivos. Esta informação é muito importante para a definição das classes de risco de erosão, e devem estar representadas na Carta de Uso e Ocupação do Solo. Análise A partir da análise dos condicionantes do meio físico, associados à distribuição das feições erosivas é possível caracterizar os terrenos quanto à suscetibilidade ao desenvolvimento de processos erosivos. Suscetibilidade natural à erosão corresponde à possibilidade de ocorrência de um processo erosivo, conforme as condições naturais do meio físico e, portanto, pode-se dizer que a Carta de Suscetibilidade à Erosão reflete o conjunto das características naturais dos terrenos (substrato rochoso, relevo e solos), que comanda o desenvolvimento dos diferentes tipos de processos erosivos. Dentro do conceito de suscetibilidade natural, admite-se que a suscetibilidade seja ponderada como uma variável constante ou estática no tempo e espaço, ou seja a suscetibilidade não muda na escala de tempo humano. A interpretação conjunta das características do substrato, relevo e solo constituem a base de elaboração de uma matriz de cruzamento para se definir unidades homogênas dos terrenos ou compartimentos morfopedológicos (TRICART & KILLIAN, 1982 apud SALOMÃO, 1994). Estes autores definem unidade morfopedológica como a porção do território onde coexistem determinadas unidades geomorfológicas e de solos correspondentes, caracterizadas a partir de processos complexos de morfogênese e de pedogênese, associados uns em relação aos outros. Como também levam em conta as características do substrato, podem ser chamados de compartimentos geomorfopedológicos. A interação dos compartimentos, que caracterizam o meio físico, com a Carta de Feições Erosivas permite identificar áreas com diferentes graus de suscetibilidade à erosão, que configuram a Carta de Suscetibilidade à Erosão. Com base nas legendas que compõem as cartas de Suscetibilidade à Erosão e Uso e Ocupação do Solo, define-se nova matriz, que faz a integração de classes de suscetibilidade à erosão e formas de uso e ocupação do solo, com o objetivo de estabelecer as classes de risco de erosão. O termo risco corresponde a uma situação potencial de ocorrência de um acidente, ou seja, uma situação onde, necessariamente há a possibilidade de serem registradas conseqüências sociais e/ou econômicas (CERRI, 1993). Assim, a Carta de Risco de Erosão é a representação cartográfica das unidades homogêneas dos terrenos em relação à ocorrência do processos erosivos e impactos observados, com indicação de aptidões e restrições para o uso do solo urbano. Os aspectos da legislação (lei de uso e ocupação do solo, leis ambientais, lei municipais) devem ser levados em conta para o fornecimento de recomendações para o planejamento urbano. A representação cartográfica da Carta de Risco de Erosão deve ser de boa qualidade em relação ao seu conteúdo e expressão desse conteúdo, conforme definem ZUQUETTE & NAKAZAWA (1998):

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 4 as informações devem ser claras e objetivas, pois nem sempre o usuário está familiarizado com os termos (tradução da linguagem), facilitando o entendimento; possibilitar atualizar as informações que levam em conta a dinâmica dos processos; a investigação de campo é fundamental para o estabelecimento dos limites mais condizentes com a realidade; os dados devem estar associados a banco de dados automatizados e que tenham alta capacidade de interação. PROJETOS DESENVOLVIDOS PELO IPT Com a metodologia consagrada no meio técnico científico e com os resultados positivos da aplicação prática, destacam-se a seguir alguns dos principais projetos do IPT nesta linha de pesquisa: 1980: Carta Geotécnica dos Morros de Santos e São Vicente, escalas 1:2.000 e 1:5000 1984: Carta Geotécnica da Grande São Paulo, escalas 1:25.000 e 1:10.000 (IPT/Emplasa, não publicada) 1989: Carta Geotécnica do Guarujá, escala 1:20.000 (IPT/IG) 1990: Carta Geotécnica de Campo Grande 1991: Carta Geotécnica de Cuiabá 1991: Carta de Ubatuba, escala 1:25.000 1991: Carta do Município de Santo André, escala 1:5.000 1991: Carta Geotécnica de Bauru, escala 1:20.000 1993: Carta de risco a escorregamentos de Ilha Bela, SP, escala 1:10.000 1994: Carta Geotécnica do Estado de São Paulo, escala 1:500.000 1995: Carta geotécnica de Itapecerica da Serra, escala 1:25.000 1995: Carta de Risco de Erosão de Botucatu, escala 1:25.000 1996: Carta geotécnica de São José dos Campos, escalas 1:25.000 e 1:50.000 1997: Carta de risco à erosão de São José do Rio Preto, escala 1:25.000 1997: Carta geotécnica de Mococa, escala 1:50.000 1997: Carta geotécnica da bacia do Guarapiranga, escala 1:25.000 1997: Carta geotécnica de Bertioga, escala 1:25.000 1997: Zoneamento de Risco em Jundiaí, escala 1:2.000 1997: Carta de Risco de Erosão de Presidente Prudente, escala 1:25.000 1998: Carta de Risco de Erosão de Franca, escala 1:25.000 1999: Carta de áreas de expansão urbana de Presidente Venceslau, escala 1:25.000 2000: Carta de Risco de Erosão de São Manoel, escala 1:25.000 2000: Carta de Suscetibilidade à Erosão de Erosão de Lins, escala 1:25.000. CONCLUSÕES A ocorrência de processos do meio físico, destacando a erosão como um dos mais graves que ocorrem em áreas urbanas do Estado de São Paulo, provoca alterações ambientais, além de danos sociais e econômicos. A investigação dos processos erosivos e dos fatores naturais e antrópicos constituem a base fundamental para a elaboração de instrumentos de prevenção de erosão. Uma das principais características da Carta Geotécnica/ Carta de Risco de Erosão é o seu caráter dinâmico. Conforme as intervenções realizadas no uso e ocupação do solo em detrimento da expansão urbana, novas feições erosivas podem se desenvolver e outras existentes podem manter sua evolução aumentando os prejuízos.

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 5 A representação gráfica das feições erosivas e das formas de uso e ocupação devem ser atualizadas com base em trabalhos de campo e documentação cartográfica (imagens de satélite, fotografias aéreas e panorâmicas). Esta dinamização de informações esta sempre auxiliando nas atividades do planejamento urbano, indispensável a uma boa qualidade de vida urbana. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ALMEIDA, M.C.J. de, FREITAS, C.G.L. de. 1996. Uso do solo urbano: suas relações com o meio físico e problemas decorrentes. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA, 2, 1996, São Carlos. Anais... São Paulo: ABGE. p.195-200. AUGUSTO FILHO, O. 1994. Cartas de risco de escorregamentos: uma proposta metodológica e sua aplicação no município de Ilhabela, SP. São Paulo. 168p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. CANIL, K. 2000. Processos Erosivos E Planejamento Urbano: Carta de Risco de Erosão das áreas urbana e periurbana do Município de Franca, SP. Dissertação (Mestrado) Departamento de Geografia - FFLCH, Universidade de São Paulo. DINIZ, N. C., 1998. Automação da Cartografia Geotécnica: uma ferramenta de estudos e projetos para avaliação ambiental. São Paulo. 2v. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. FREITAS, C.G.L. de. 2000. Cartografia geotécnica de planejamento e gestão territorial: proposta teórica e metodológica. São Paulo, 238p. Tese (Doutorado) - Departamento de Geografia - FFLCH, Universidade de São Paulo. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - IPT. 1980. Carta Geotécnica dos Morros de Santos e São Vicente. São Paulo: IPT. (Publicação 1 135). INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - IPT. 1980. Carta Geotécnica do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT. (Publicação 2089). PRANDINI, F.L., GUIDICINI, G., GREHS, S.A. 1974. Geologia ambiental ou de planejamento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 28, 1974, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: SBG. v.7, p.273-290. RIDENTE JÚNIOR, J.L. 2000. Prevenção de erosão urbana: Bacia do Córrego Limoeiro e Bacia do Córrego do Cedro, municípios de Presidente Prudente e Álvares Machado, SP. Rio Claro. 106p. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. SALOMÃO, F. X. de T. 1994. Processos erosivos lineares em Bauru (SP): regionalização cartográfica aplicada ao controle preventivo urbano e rural. São Paulo. 200 p. Tese (Doutorado) - Departamento de Geografia - FFLCH, Universidade de São Paulo.

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 6 SALOMÃO, F. X. de T., IWASA, O. Y. 1995. Erosão e a ocupação rural e urbana. In: BITAR, O. Y. (Coord). Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. São Paulo: IPT/ABGE. p.31-57. ZUQUETTE, L.V., NAKAZAWA, V.A. 1998. Cartas de Geologia de Engenharia. In: OLIVEIRA, A.M. dos S., BRITO, S. N. A. de (Eds.). Geologia de engenharia. São Paulo: ABGE. cap. 17, p. 283-300.