ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DE FRANCA/SP UTILIZANDO SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
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1 EIXO TEMÁTICO: Tecnologias ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DE FRANCA/SP UTILIZANDO SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS Adervaldo Guilherme Siqueira 1 Andréia Medinilha Pancher 2 RESUMO: Este trabalho teve como objetivo fundamental realizar uma análise da fragilidade ambiental da área urbana e da área de expansão urbana do município de Franca/SP, localizado na porção Nordeste do estado de São Paulo. A área de estudo apresenta fragilidades ambientais originadas pela erodibilidade do solo, que associada ao uso da terra e à declividade do terreno, ficam marcadas pelos processos erosivos, tais como voçorocas, ravinas e solapamentos. Essas fragilidades foram mapeadas através do método de Análise Multicritérios, amplamente utilizado nas análises ambientais, realizadas em Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Foram utilizadas as variáveis: pedologia, declividade e uso da terra, integradas através de média ponderada, na qual a influência de cada variável e os pesos de cada classe temática foram estabelecidos, considerando-se as características da área de estudo. O mapa pedológico e a carta de declividade foram elaborados a partir de mapeamentos já existentes, enquanto o mapa de uso da terra foi elaborado a partir de classificação de imagens de satélite de alta resolução. Para verificar a eficácia do mapa de fragilidade ambiental, a análise dos resultados foi realizada conjuntamente às informações dos processos erosivos, os quais foram espacializados através da interpretação do mosaico de imagens dos satélites Pleiades. Os documentos cartográficos resultantes podem servir de subsídios ao adequado planejamento e gestão ambiental municipal, auxiliando na tomada de decisão. Palavras-chave: Geotecnologias. Fragilidade ambiental. Análise multicritérios. 1. INTRODUÇÃO O objetivo fundamental deste trabalho foi realizar a análise das áreas de fragilidade ambiental natural e de origem antrópica na área urbana e de expansão urbana do município de Franca/SP, com auxílio das técnicas de geoprocessamento. Através do conhecimento das características físicas da área onde está assentado o sítio urbano e o espaço destinado à expansão urbana, foram verificadas as adequações e/ou inadequações do uso da terra. Visando atingir o objetivo proposto, estão elencados, a seguir, os objetivos específicos. a) Conhecer as características da declividade da área de estudo, a fim de identificar as áreas mais frágeis ambientalmente; b) Identificar os tipos de uso da terra e os conflitos deles decorrentes; c) Identificar as características das ocorrências pedológicas e geológicas, associando-as aos processos erosivos; d) Associar a localização dos processos erosivos à curvatura do relevo (côncavo ou convexo); 1 Graduado em Geografia, com ênfase em Análise Ambiental e Geoprocessamento. UNESP Rio Claro. <aderguilherme@gmail.com>. 2 Professora do Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento, UNESP Rio Claro. <medinilh@rc.unesp.br>.
2 e) Conhecer as áreas de fragilidade ambiental, através da integração de dados físiconaturais e antrópicos. Os documentos cartográficos e os apontamentos resultantes das análises espaciais servem para conhecer a realidade estudada, podendo auxiliar o planejamento urbano, orientando a tomada de decisões no que diz respeito a locais ambientalmente adequados aos usos, nas diversas atividades socioeconômicas, pautados no plano diretor municipal e na legislação ambiental vigente. Isso demonstra o potencial da interação entre as Técnicas de Tomada de Decisão Multicritério- TDMC e SIG (VETTORAZZI, 2006). 2. MATERIAL E MÉTODOS Para a efetivação desta pesquisa, serão apresentados o material e a metodologia para a realização do levantamento e análise das situações ambientais encontradas em Franca, com base na proposta de Ross (1994). 2.1 Material Tendo em vista a elaboração do mapa de fragilidade ambiental, o material utilizado para alcançar os objetivos propostos foi: a) Cartas topográficas na escala de 1:10.000, elaboradas pelo Instituto Geográfico e Cartográfico-IGC; b) Mapa geológico, mapa pedológico e mapa de processos erosivos na escala de 1: (IPT, 1999), disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Franca; c) Imagens da constelação de satélites Pleiades, ortorretificadas, com resolução espacial de 0,5 metro, mosaico referente ao período de abril a setembro de 2013, adquiridas junto ao Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Sapucaí-Mirim e Grande; d) Mapa geomorfológico do estado de São Paulo (IPT, 1981), na escala de 1: ; e) Softwares AutoCAD Map 3D, da AutoDesk; e, Spring 5.2.6, do INPE, para a fase de préprocessamento dos dados, e o ArcGIS 10, da ESRI, para a realização do geoprocessamento. Com base neste material, foram criados outros produtos cartográficos, como carta clinográfica ou de declividade, mapa das formas das vertentes (côncavas/ convexas). Através das imagens dos satélites Pleiades, foi elaborado o mapa de uso da terra. Estes foram os documentos utilizados para a construção do mapa de fragilidade ambiental e para a realização das análises espaciais (KAWAKUBO et al, 2005). 2.2 Procedimentos metodológicos Para elaboração do Mapa de Fragilidade Ambiental da área urbana e expansão urbana de Franca, a proposta de Ross (1994) abrange os mapas de pedologia, declividade e uso da terra.
3 Estas variáveis foram utilizadas considerando-se as características da área de estudo, composta predominantemente por ambientes alterados pela ação humana (área urbana, cultivos agrícolas, pastagens, etc.). O mapa pedológico, em formato vetorial, foi convertido em formato matricial. A partir da digitalização das curvas de nível, com atributos x, y e z, foi criada a malha triangular ou Triangular Irregular Network (TIN) em estrutura vetorial, para se criar o Modelo Digital do Terreno (MDT). Então, o TIN foi convertido em dados matriciais. Em seguida, procedeu-se a construção do mapa de declividade, com base no TIN em formato matricial. Por fim, o mapa de uso da terra foi elaborado à partir de classificação manual (vetorização) das imagens de satélite, dados que posteriormente também foram convertidos em formato matricial. Descrevendo a primeira etapa da metodologia de Análise Multicritério, em todas as variáveis espacializadas (pedologia, declividade, uso da terra), cada plano de informação (PI) recebeu um peso (em %), sendo que o conjunto dos PI totaliza 100%. E as classes temáticas de cada plano de informação também receberam cada um deles uma nota, de acordo com o grau de pertinência de sua participação no conjunto (MOURA, 2007), que neste caso varia de 0 a 5, da menos frágil para a mais frágil. A tabela 1 demonstra a influência de cada variável e o peso de cada classe, dados que foram inseridos na ferramenta weighted overlay do software ArcGIS. Tabela 1. Variáveis utilizadas no mapa de fragilidades ambientais, suas respectivas classes e pesos. VARIÁVEL CLASSE PESO DECLIVIDADE (influência de 40%) PEDOLOGIA (influência de 30%) USO DA TERRA (influência de 30%) Fonte: elaborada pelos autores. 0 a 6% 1 6,1 a 12% 2 12,1 a 20% 3 20,1 a 30% 4 > 30% 5 Latossolo Vermelho 2 Latossolo Vermelho-amarelo 3 Neossolo Litólico 4 Neossolo Quartzarênico 5 Gleissolo Háplico 5 Corpo d água 0 Mata 0 Silvicultura 1 Café 2 Área predominantemente rural 3 Área urbana 3 Cana 4 Pastagem 4 Solo exposto 5 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4 A integração das variáveis pedologia, declividade e uso e ocupação da terra permitiu a elaboração do mapa de fragilidades ambientais. O produto cartográfico resultante da análise multicritérios foi dividido em cinco classes de fragilidade, segundo Ross (1994): muito baixa, baixa, média, alta e muito alta (Anexo I). Para melhor compreensão da abrangência das classes de fragilidade ambiental, a tabela 2 ilustra a representatividade de cada classe. Tabela 2. Classes de fragilidade ambiental mapeadas. Classe de Fragilidade Ambiental Área (Km²) % Muito baixa 34,82 15,14 Baixa 0,09 0,04 Média 68,19 29,65 Alta 92,56 40,24 Muito alta 34,35 14,93 Total 230, Nas áreas classificadas como muito baixa fragilidade ambiental, que representam cerca de 15% da área de estudo, verificou-se que se encontram nos fundos de vale, nas várzeas e na baixa vertente, somente onde a vegetação das APP está preservada, ou seja, onde o uso da terra é mata. Nestas ocorrências, a declividade varia de 6 a 20%, alcançando valores superiores a 30% pontualmente. Quanto à variável pedologia, as áreas de muito baixa fragilidade ambiental são constituídas de Neossolo Quartzarênico nos pontos de maior altitude, próximas das nascentes e dos cursos d água de primeira ordem, e de Neossolo Litólico nas partes mais baixas do relevo, nas proximidades dos cursos d água de terceira ordem ou superior. Já nas áreas classificadas como sendo de fragilidade baixa, foram verificadas ocorrências pontuais, representando somente 0,04% da área de estudo. Caracterizam-se por áreas compostas predominantemente de latossolo vermelho-amarelo, onde a declividade varia de 0 a 6% e o uso da terra é marcado pela ocorrência de áreas predominantemente rurais, mas principalmente por áreas de silvicultura. Nas áreas de média fragilidade ambiental, classe que representa quase 30% da área de estudo, são verificadas as seguintes características: ocupam predominantemente os setores mais elevados do planalto francano (interflúvios), onde as declividades são inferiores a 12%, porém predominam as declividades inferiores a 6%. A maior parte das áreas de média fragilidade ambiental é constituída de Latossolo Vermelho-amarelo, de média erodibilidade, sendo que localmente percebe-se a ocorrência de Latossolo Vermelho onde a declividade do terreno apresenta maiores valores (entre 6,1 e 12%). A área urbana 3 toma grande parte da área de média fragilidade ambiental, aproveitando as melhores condições de baixa declividade, ideais para a urbanização. Na área de expansão urbana, esta unidade de média fragilidade é ocupada em sua maioria por cafezais, 3 A área urbana ocupa uma área de 79,8 km², cerca de 35% da área de estudo.
5 verificando-se também, em menor proporção, a ocorrência de áreas predominantemente rurais, ambos localizados principalmente em setores do relevo em que a declividade não é superior a 6%. As áreas de alta fragilidade ambiental, que abrangem cerca de 40% da área de estudo, se encontram principalmente nas médias vertentes, onde as altitudes raramente são inferiores a 850 metros e superiores 950 metros. Nesta classe de fragilidade, a declividade do terreno predominante varia de 6,1 a 20%, sendo que são mais representativos os setores do relevo com declive inferior a 12%. Este é, inclusive, o fator preponderante para o enquadramento nessa classe de fragilidade. Na área de expansão urbana percebe-se que nesta classe de fragilidade encontram-se os cultivos temporários, principalmente cana de açúcar, e pastagem, fator que denota o elevado grau de fragilidade. Áreas de solo exposto de muito baixa declividade, assim como áreas predominantemente rurais e cafezais cultivados em terrenos de média declividade também foram caracterizadas como áreas de alta fragilidade ambiental. Pontualmente percebem-se pastagens em áreas de baixa declividade, mesmo estando nas proximidades de vertentes muito íngremes. Quanto à pedologia, os Latossolos Vermelho-amarelos situados na meia encosta são bastante representativos. Há também ocorrências pontuais de Neossolo Litólico e Quartzarênico, verificadas em declividades inferiores a 12%. Por fim, nas áreas de muito alta fragilidade ambiental, que representam quase 15% da área de estudo, são observadas algumas características, tais como a predominância da ocorrência de Neossolos Quartzarênicos, principalmente nas cabeceiras de drenagem, com algumas manchas de Neossolos Litólicos. Quanto à declividade, percebem-se declividades variando de baixa a muito alta. O uso da terra verificado nas áreas de muito alta fragilidade ambiental é composto principalmente por áreas de solo exposto, majoritariamente, e de pastagem. Algumas áreas de canaviais também foram enquadradas nesta unidade de fragilidade ambiental. Apesar de cerca de 85% da área de estudo estar entre as classes de média, alta e muito alta fragilidade ambiental, é preciso observar que a área urbana ocupa uma área de 79,8 km², ou seja, aproximadamente 35% da área de estudo. Os resultados apresentados pelo mapeamento de fragilidade ambiental indicam que a qualidade ambiental está em condições razoáveis. Nas áreas de fragilidade muito alta, a declividade, fator limitante à expansão urbana, varia de média a muito alta na maior parte das ocorrências. Dificilmente estas áreas vão ser exploradas pela agricultura, por conta das restrições à mecanização. Porém, ações com vistas à conservação destes locais, e recuperação das áreas degradadas se fazem necessárias para haver manutenção ou melhoria na qualidade ambiental. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As áreas classificadas como de muito alta fragilidade ambiental demonstram que os resultados obtidos na análise multicritérios foram satisfatórios: das 42 formas erosivas mapeadas na área urbana e expansão urbana de Franca, 25 estão total ou parcialmente localizadas em áreas de muito alta fragilidade ambiental, o que atesta a precisão alcançada.
6 É importante destacar o potencial das ferramentas de geoprocessamento nas análises ambientais, de modo que facilitam a integração de dados e informações úteis para a sociedade, para que esteja sempre em busca da sustentabilidade, uma meta difícil de alcançar. REFERÊNCIAS MOURA, A. C. M. Reflexões metodológicas como subsídio para estudos ambientais baseados em Análise Multicritérios. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 13, 2007, Florianópolis. Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Florianópolis: INPE, 2007, p KAWAKUBO, F. S.; MORATO, R. G.; CAMPOS, K. C.; LUCHIARI, A.; ROSS, J. L. S. Caracterização empírica da fragilidade ambiental utilizando geoprocessamento. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 12, 2005, Goiânia. Anais do XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Goiânia: INPE, 2005, p ROSS, J. L. S. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, FFLCH/USP, n. 8, 1994, p SÃO PAULO (estado). Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Instituto de Pesquisas Tecnológicas-IPT. Subsídios técnicos para um plano de controle preventivo e corretivo de erosão para a área urbana do município de Franca, SP (Parecer Técnico 7149/1999). São Paulo, 1999, 161 p. VETTORAZZI, C. A. Avaliação multicritérios, em ambiente SIG, na definição de áreas prioritárias à restauração florestal visando a conservação dos recursos hídricos p. Tese (Livre Docência) Departamento de Engrnharia Rural, ESALQ-USP, Piracicaba, 2006.
7 ANEXO I Mapa de Fragilidades Ambientais da Área Urbana e de Expansão Urbana de Franca/SP
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