A LEI ROUANET E SEUS REQUISITOS PARA OBTENÇÃO DE INCENTIVOS FISCAIS RESUMO

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Transcrição:

A LEI ROUANET E SEUS REQUISITOS PARA OBTENÇÃO DE INCENTIVOS FISCAIS 1 Leonardo Soares Francisco de Almeida 1 Marcelo Lourenço da Silva Travassos 2 André Cantareli da Silva 3 Luiz Carlos da Silva Bistene 4 Flavia Pereira Dos Santos 5 RESUMO O presente artigo aborda o levantamento histórico das políticas culturais brasileiras relativas à lei de Rouanet (Lei de Incentivo à Cultura n. 8.313/91) apresentando um breve histórico de sua existência. Tendo como estudo de caso o Banco Bradesco e alguns artistas renomados no Brasil. A fim de analisar relações entre os envolvidos nos processos de incentivo à produção cultural e os verdadeiros beneficiados com o incentivo fiscal. O objetivo geral da pesquisa e verificar a condição dos sujeitos ao contexto de inclusos ou à margem do usufruto da Lei e seus requisitos para obtenção de incentivos fiscais. Palavras-Chave: Lei de Rouanet; Políticas Culturais; Incentivo Fiscal. 1. INTRODUÇÃO A primeira tentativa de incentivar a cultura através da isenção fiscal foi com a Lei Sarney (Lei nº 7.505, de 2 de julho de 1986), embrião da Lei Rouanet. Foi criada um ano após a separação dos ministérios da Cultura e da Educação. Por meio dela, as empresas poderiam financiar, por meio de renúncia fiscal, ações realizadas por produtores artísticos, devidamente registrados no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural (CNPC), gerido pelo MinC (Ministério da Cultura) e a Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazendão aporte de recursos sendo recebido, a cargo de doação ou patrocínio, era necessário a entidade cultural prestação de contas à Receita Federal e ao Ministério da Cultura sobre a sua aplicação. No contexto da Lei Sarney, as empresas não investiam em cultura porque não tinham conhecimento da importância dessa indústria. Segundo Machado (2009), a ideia era que, com o tempo, os investimentos na área fossem realizados pela sua própria 1 Contador, pós-graduado em controladoria e finanças, mestre em engenharia civil. E-mail: Leonardosoares@id.uff.br 2 Contador, pós-graduado em Ciências Contábeis. E-mail: travassosmlst@oi.com.br 3 Contador, pós-graduado em gestão pela qualidade total, mestre em tecnologia e doutorando em engenharia civil. E- mail: acantareli@hotmail.com 4 Advogado, especialista em direito e mestre em políticas públicas e processo. E-mail: luizbistene@cnecrj.com.br 5 Bacharelando em Ciências Contábeis pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo). E-mail: flavia.santos@ibilojas.com.br

2 excelência e que, aos poucos, as empresas deixassem de receber incentivos governamentais. No entanto, essa situação veio a ganhar um novo olhar durante governo Fernando Henrique Cardoso. Na mesma época, devido à extinção da Embrafilme e do Concine, a produção enfrentava dificuldades, assim, os cineastas brasileiros pleiteavam incentivos baseados na renúncia fiscal para investimentos em audiovisual. Apesar de discutível, a presente proposta desencadeou um estímulo a outras áreas que foram adquirindo o mesmo benefício. Contraditoriamente o benefício trouxe deformações: as empresas tinham poder de decisão sobre onde e quanto investir. Assim nasceu uma indústria de empreendimentos culturais baseada em falsa documentação e prestação de contas, notas frias e troca de facilidades. Havia outro problema: as ações eram esparsas e denotavam falta de uma linha de conduta consistente. Praticamente não existiam o incentivo à cultura e a percepção de que formar ou enriquecer determinada empresa poderia depender de sua vinculação com posturas culturais (Machado, 2009). O fato é que anteriormente à Lei Rouanet, a indústria brasileira de cultura era desvalorizada ou destruída, não haviam recursos destinados pela gestão governamental, por exemplo o no mandato de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Considerando este cenário, cabe aprofundar a análise e a reflexão para o melhor conhecimento do alcance e dos mecanismos utilizados pelo Ministério da cultura para a concessão dos benefícios em questão. 2. Metodologia Uma Análise documental onde será feita a aplicabilidade da lei e os benefícios que ela produz, como objetivo específico de verificar quais componentes integram esse incentivo, análise será feita de valores dos eventos em questão, as verbas destinadas para realização dos projetos. 3. Desenvolvimento Incentivos Fiscais Diante de tal descaso às políticas culturais tornou se necessário pensar em meios para solucionar a problemática. Assim, entramos na fase dos incentivos fiscais (Lei Sarney e Lei Rouanet), que têm por objetivo atrair investimentos das empresas privadas

3 para a área da cultura, oferecendo como contrapartida deduções no Imposto de Renda devido. Segundo Brant (2003), parecia razoável a existência de um dispositivo que pudesse encontrar uma interseção de interesses entre a política pública e o capital em benefício da sociedade. Para tanto, o governo teria de exercer sua função constitucional de planejador, regulador e fiscalizador da sociedade, implantando uma política capaz de listar ações e projetos de interesse público. No entanto, a recentemente observa se um quadro diferente, que restringe os benefícios da Lei aos produtos e eventos artísticos, limitando o acesso à cultura. Durante seu mandato de senador, representando o estado do Maranhão, José Sarney apresentou um projeto de lei de 26 de setembro de 1972, a fim de direcionar benefícios fiscais, referentes ao Imposto de Renda, a toda atividade de cunho cultural ou artístico. O senador fez cinco tentativas a fim de viabilizar suas ideias, o projeto inicial passou por várias alterações sendo regulamentado 3 de outubro de 1986. Dessa forma, Gruman (2010) relata em seu artigo A lei nº 7.505, que ficou conhecida como Lei Sarney, através de suas disposições, definiu a doação como transferência definitiva de bens ou numerário, a favor ou através de pessoas jurídicas de natureza cultural, sem proveito para o doador ; patrocínio como a realização, pelo contribuinte a favor de pessoas jurídicas de natureza cultural, de despesas com a promoção ou publicidade em atividades culturais, sem proveito pecuniário ou patrimonial direto para o patrocinador ; e investimento como aplicação de bens ou numerário com proveito pecuniário ou patrimonial para o investidor. A partir da Lei Sarney era descontado da renda bruta das pessoas físicas, apurada na declaração de imposto de renda, (100%) o valor das doações, (80%) patrocínios e (50%) investimentos inclusive despesas e contribuições necessárias à sua efetivação, realizados através ou a favor de pessoa jurídica de natureza cultural com fins lucrativos, antes devidamente cadastrada no Ministério da Cultura. Em relação às pessoas jurídicas, o levantamento poderia ser feito como despesa operacional, na apuração do lucro líquido do exercício. Foi instituído, ainda, o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural CPC, no âmbito do Ministério da Cultura, responsável pela expedição de certificado às entidades, distinguindo-as segundo tivessem ou não finalidades lucrativas (Gruman, 2010). Esta breve experiência de incentivo fiscal à cultura perdurou até o ano de 1990, devido sua ineficiência, pois de acordo com Gruman (2010) sua sistemática, pautada no simples cadastramento do proponente, deu margem a uma sequência de fraudes, o que

4 leva a, ainda hoje, não se conhecer ao certo o destino da aplicação dos recursos deste período, estimados em aproximadamente R$ 100 milhões. O governo Collor promulgou a lei nº. 8.313 de 23 (a Lei Rouanet) de dezembro de 1991 homenageando o ex-secretário de cultura Sergio Paulo Rouanet, um dos expoentes desta nova tentativa de estímulo à produção cultural brasileira. Sendo instituindo o Programa Nacional de Apoio à Cultura PRONAC. A lei tinha como premissa facilitar o acesso da população aos diferentes segmentos culturais: de acordo com o disposto no Artigo 1º, contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; promover e estimular a regionalização da produção cultural e Artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores; proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira; salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira (Gruman, 2010). Da implantação do Programa Nacional de Apoio à Cultura Para que fosse viabilizada a lei realizou se a junção de dois mecanismos, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e o Incentivo a Projetos Culturais (Mecenato). O FNC (que é um fundo de natureza contábil) constituído a partir de recursos oriundos do Tesouro Nacional, são eles: (...) doações, legados, subvenções e auxílios de entidades de qualquer natureza, inclusive de organismos internacionais, saldos não utilizados na execução de projetos, além de três por cento da arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias federais (Gruman, 2010). O FNC tem prazo indeterminado de duração. O prazo funciona sob as formas de apoio a fundo perdido ou de empréstimos reembolsáveis. Seu percentual de financiamento é limitado a oitenta por cento do custo total de cada ação popular, sendo que a contrapartida de vinte por cento oferecida pelo proponente deve ser efetivada mediante recursos financeiros, bens ou serviços, ou comprovação de que está habilitado à obtenção do respectivo financiamento por meio de outra fonte devidamente identificada, vedada como contrapartida a utilização do mecanismo de incentivos fiscais previstos. Atividades culturais constitucionalmente definidas como importantes para a formação da identidade e da diversidade cultural brasileira, mas de pouco apelo comercial, deveriam receber incentivos por meio do Fundo Nacional de Cultura (Gruman, 2010). O Artigo 4º da Lei Rouanet, que institui o FNC, detalha seus objetivos:

5 I Estimular a distribuição regional equitativa dos recursos a serem aplicados na execução de projetos culturais e Artísticos; II Favorecer a visão interestadual, estimulando projetos que explorem propostas culturais conjuntas, de enfoque regional; III apoiar projetos dotados de conteúdo cultural que enfatizem o aperfeiçoamento profissional e Artístico dos recursos humanos na área da cultura, a criatividade e a diversidade cultural brasileira; IV Contribuir para a preservação e proteção do patrimônio cultural e histórico brasileiro; V Favorecer projetos que atendam às necessidades da produção cultural e aos interesses da coletividade, aí considerados os níveis qualitativos e quantitativos de atendimentos às demandas culturais existentes, o caráter multiplicador dos projetos através de seus aspectos socioculturais e a priorização de projetos em áreas Artísticas e culturais com menos possibilidade de desenvolvimento com recursos próprios. Mecenato Abordado no Artigo 18 da Lei Rouanet dispõe que: a União facultará às pessoas físicas ou jurídicas a opção pela aplicação de parcelas do Imposto sobre a Renda, a título de doações ou patrocínios, tanto no apoio direto a projetos culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas de natureza cultural como através de contribuições ao FNC (Gruman, 2010). Abatimentos fiscais: Relativo à pessoa jurídica o teto para o abatimento junto ao fisco foi fixado legalmente: 4% do imposto de renda e 6% destinado à pessoa física. Modalidades que devem abranger o Mecenato em relação as doações e patrocínios: a) Artes cênicas (teatro, dança, ópera, mímica e congêneres) b) livros de valor Artístico, literário ou humanístico c) música erudita ou instrumental d) exposições de Artes visuais e) doações de acervos para bibliotecas públicas, museus, arquivos públicos e cinematecas, bem como treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos para manutenção desses acervos; f) produção de obras cinematográficas e vídeo fonográficas de curta e média metragem e preservação e difusão do acervo audiovisual; g) preservação do patrimônio cultural material e imaterial (Gruman, 2010)

6 Os projetos obrigatoriamente precisam ter veiculação pública e de acordo com o que dispõe o Artigo 25, desenvolver as formas de expressão, os modos de criar e fazer, os processos de preservação e proteção do patrimônio cultural, bem como contribuir para propiciar meios, à população em geral, que permitam o conhecimento dos bens de valores Artísticos e culturais. Abaixo segue o entendimento do PRONAC relativo as ações propostas: a) incentivo à formação Artística e cultural (bolsas, prêmios, instalação e manutenção de cursos); b) fomento à produção cultural e Artística (custeio da produção e circulação dos bens e eventos culturais); c) preservação e difusão do patrimônio Artístico, cultural e histórico (construção, formação, organização, manutenção, ampliação e proteção de bens materiais e imateriais componentes do patrimônio cultural brasileiro); d) estímulo ao conhecimento dos bens e valores culturais (aporte público de recursos financeiros, logísticos e informacionais aos usuários do PRONAC); e) apoio a outras atividades culturais e Artísticas. Em ressalva a alguns casos, a legislação prevê abatimentos distintos no Imposto sobre a Renda. A dedutibilidade é descrita em Gruman (2010): Está autorizada a dedução de 100% do valor transferido para projetos nos segmentos de Artes cênicas; livros de valor Artístico, humanístico ou literário; música erudita ou instrumental; exposições de Artes visuais; doações de acervos para bibliotecas, cinematecas, museus e arquivos públicos; produção, preservação e difusão de produções audiovisuais; e preservação do patrimônio material e imaterial. Até então, podemos compreender como funciona e o que a Lei Rouanet viabiliza. A seguir, serão levantadas revisões bibliográficas que põe em questão a eficácia da lei. Caso Cirque du Soleil O espetáculo Saltimbanco que foi promovido pela empresa CIE (Companhia Interamericana de Entretenimento, de origem mexicana) foi autorizado pelo Minc para desembarcar no Brasil, segundo Arantes (2006) com R$ 9,4 milhões que o governo receberia em Imposto de Renda neste ano. O dinheiro agora deve ser usado em benefício das apresentações. A turnê que iniciou em 3 de agosto de 2005.O musical esteve em cartaz no Teatro Abril (uma das três casas de espetáculo do grupo CIE em SP). Os ingressos custaram entre R$ 50 (meia-entrada) e R$ 370 (VIPs). Os ingressos do Cirque du Soleil, inicialmente, foram colocados à venda somente para os clientes prime (prioritários) do

Bradesco, que decidiu por patrocinar o grupo no Brasil. Arantes (2006) relata em seu artigo as seguintes falas: 7 É desejável que marcas se associem a produções culturais, desde que o dinheiro seja privado, diz o consultor em patrocínio empresarial Yacoff Sarkovas. Sarkovas é contrário ao fundamento da lei. Achamos um jeito brasileirinho de criar um modelo de financiamento público que não é público, afirma. De acordo com os dados do Ministério da Cultura, a empresa CIE arrecadou R$ 7,1 milhões até agora, dos R$ 9,4 milhões autorizados. O banco posicionou -se de forma omissa, conforme relata Arantes (2006): O Bradesco, cujo lucro em 2005 foi de R$ 5,5 bilhões, não quis comentar valores nem qualquer outro aspecto do patrocínio. A assessoria do banco disse que o diretor de marketing, único que poderia falar sobre o tema, está viajando. O empresário Fernando Altério, da CIE, também não atendeu à Folha. Além do patrocínio ao Cirque du Soleil, a CIE foi autorizada a captar R$ 5,1 milhões para a continuação da temporada paulistana do musical O Fantasma da Ópera durante o ano de 2006. O secretário-executivo do ministério da época, Juca Ferreira em relação ao incentivo federal relatou de acordo com Arantes (2006): Um projeto cultural que não tem a preocupação de facilitar o acesso a um número cada vez maior de pessoas tem que ser viabilizado pelo mercado, e não por recursos públicos. Isso é uma opinião minha. Venho defendendo isso desde que cheguei aqui, porque, em última instância, recursos de renúncia fiscal [como os da Lei Rouanet] são recursos públicos. Muito se tem questionado também o mecenato (o ato de investir na arte e cultura) destinado aos artistas famosos. Contudo, respeitando o princípio da isonomia a lei tem de ser igual perante todos. Desta forma, e a Lei Rouanet não pode julgar méritos. Portanto, projeto de cantores famosos também devem ser por direito aprovados pelo Minc. Em 2014, a renúncia fiscal via Lei Rouanet alcançou R$ 1,3 bilhão. O valor destinado a produções culturais pelo mecanismo está no mesmo patamar desde 2010. Os dados estão na tabela abaixo:

8 Figura 1 FONTE: (Ministério da cultura 2003) Porém, não é novidade as polêmicas envolvidas sobre o uso da lei Rouanet pelos artistas famosos que, em suma, têm público garantido e não há necessidade de incentivo fiscal para produzir e conduzir seus projetos. Em entrevista à revista Bravo Maria Bethânia relatou quando questionada sobre as críticas que sofreu por ser uma beneficiada à lei Rouanet a lei deve acolher gregos e troianos : O ministério avalia os projetos e cada Artista sai à caça de patrocinador, como manda o figurino. Qual é o drama? Por que tanta chateação?, disse a cantora, na entrevista. A cantora Bethânia e seu irmão, também famoso, tiveram recentemente projetos inicialmente indeferidos pela CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura) órgão responsável pela avaliação e aprovação do governo federal dos projetos. A crítica principal relacionada aos cantores famosos é que os mesmos depõem de público que abrange as necessidades de arrecadamento de verbas para custear seus projetos, não havendo necessidade de incentivo à cultura para produzir seus espetáculos. Outra crítica é de, em alguns casos, é analisado o tipo de público que frequenta, pois nem sempre o acesso à cultura está facilitado a todos se equiparado ao valor dos ingressos e também a localidade em que são realizados. Todavia é errôneo ser contra ao patrocínio dos artistas diante da premissa da Lei e do princípio da isonomia. Visto que, a lei tem de se fazer igual a todos sem meritocracia. Sendo assim, são concedidos justamente conforme relata Kolokathis (2010), por exemplos: Mallu Magalhães, Bethânia e Caetano enquadram-se somente no Artigo 26 da lei Rouanet. E assim não têm o benefício dos 100%, que, no caso de música, só se aplica à música erudita e instrumental. Música popular cantada tem somente 30% de incentivo fiscal. Ou seja, uma parte do recurso investido pela empresa em projetos assim não será incentivada. Além disso, há outros expedientes que o Governo pode adotar para estabelecer critérios justos, sem precisar negar o incentivo a esses Artistas.

9 Estabelecimento de critérios Ao pensar em formas mais justas seria a CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à cultura), por exemplo, limitar valores de captação para Artistas famosos. Apesar, que existe uma regra na lei Rouanet que estabelece o valor do cachê não superior a 30 mil reais. O governo, também poderia adotar como medida de intervenção, controle dos preços dos ingressos. Ou mesmo, determinar que uma porcentagem de ingressos tenha destinação gratuita para públicos. O problema é que existem os beneficiados cem por cento dessa política cultural, pois de acordo com Kolokathis (2010): (...) num passado recente houve distorções. Já teve cantor de música popular, por exemplo, que conseguiu aprovar seu projeto no Artigo 18, obtendo assim 100% de incentivo, o que seria impossível, pois música popular cantada não pode ser enquadrada nesse Artigo. Como se conseguiu isso? Num malabarismo de enquadrar o projeto, que, na verdade, era de um show de música popular cantada, como Gravação de DVD ou Apresentação com uma orquestra, podendo assim se enquadrar em Produção Audiovisual ou Música Erudita e obter os 100%. De fato, deve haver sim aprovação de projetos, mediante ao bom senso e observância à lei, considerando que a produção de cultura não é nada fácil se não houver garantias de verbas para determinado fim. Conforme Kolokathis (2010) se a lei pode ajudar, ela deve ser concedida também aos famosos, mas com critérios, já que eles, os famosos, têm certas vantagens inegáveis frente à grande maioria dos artistas anônimos que, esse sim, precisam dos 100% de incentivo. Em suma, uma lei com propósito de apoiar a produção cultural não pode excluir quem produz cultura. Mas se fazer aplicar pelo princípio de boa fé e bom senso. Discursões e entendimento da Lei Roaunet para uma nova proposta. O Ministério da Cultura (MinC) disponibilizou para consulta pública e debate o novo projeto para a reforma da Lei Rouanet. O texto proposto pelo governo federal para alterar o principal mecanismo de financiamento do setor no país pretende, por um lado, estimular o patrocínio a projetos culturais menores de caráter regional e a preços mais acessíveis e de outro desconcentrar a destinação dos recursos. (RODRIGO ZAVALA) No quadro abaixo veremos a atual cenário e a nova proposta da lei:

10 Lei Rouanet Proposta Atual Deduz do Imposto de Renda 100% do valor destinado a projetos culturais. Existem apenas duas faixas de renúncia fiscal, de 30% ou 100%. Principal forma de financiamento. A empresa tem o poder de escolher qual projeto querem financiar. Nova Proposta Não será permitido a dedução do Imposto de Renda de 100% Quatro faixas que vão de 60%, 70%, 80% a 90%. Deverá ser apenas uma possibilidade. As empresas não poderão escolher que projetos desejam financiar. Figura 2: Fonte: (PRÓPRIO AUTOR) Critérios da nova proposta Entre as mudanças trazidas pela proposta, chamou a atenção a sugestão do MinC de que o financiamento via renúncia fiscal passe a ser apenas uma possibilidade, e não mais a principal forma de financiamento. Para isso, o ministério espera criar o Fundo Nacional de Cultura, com cinco novos fundos setoriais (Artes, Memória e Patrimônio Cultural, Livro e Leitura, Cidadania, Identidade e Diversidade Cultural e o Fundo Global de Equalização), que passará a ser o caminho para a utilização da Lei. (RODRIGO ZAVALA). O ministro da Cultura, Juca Ferreira afirmou ao jornal Folha de S. Paulo (23 de março de 2009): Não quero demonizar a Lei. Mas, depois de 18 anos, temos que fazer uma discussão. A lei tem muitas qualidades, mas também tem defeitos gravíssimos. No ano passado disponibilizamos R$ 1 bilhão em recursos públicos e 50% desses recursos foram captados por 3% (dos proponentes). Isso não é justo. Isso não é política pública, esses critérios terão que ser aprovados e construídos à luz do dia. CONCLUSÃO A Lei Rouanet hoje responde por cerca de 80% dos recursos públicos destinados a incentivar a produção cultural brasileira. O dinheiro inicial sai do orçamento das empresas, mas é ressarcido integralmente para elas por meio de abatimento do Imposto de Renda. Ela se propõe a ser uma Parceria Público-Privada, mas tem uma distorção ao permitir 100% de renúncia fiscal. É só dinheiro público, o ente privado não investi nada.

11 Foi possível verificar que lei como é utilizada hoje, pode ser injusta e sem dúvida precisa ser reformulada havendo assim uns mecanismos para descentralizar a destinação dos recursos. Deveria ser aprovado como vimos na figura 2 desse artigo a nova proposta do Ministério da Cultura, uma reformulação da lei de modo que ela continue apoiando os setores culturais que estão fortes e simultaneamente estimule, com novas medidas de apoio, os demais segmentos culturais independentes para que os incentivos fiscais sejam destinados a fins de obedecer à seguinte lógica: quanto mais dinheiro público possui o projeto, mais benefício deverá dar ao público. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arantes, Silvana Minc libera r$ 9,4 mi para cirque du soleil no Brasil. In: Livro Lei Rouanet, percursos e relatos2009):http://bit.ly/livroleirouanet. Revista Observatório. Itaú Cultural, especial. Lei Rouanet 2009: BRANT, L. (Org). Políticas culturais Vol. I. SP: Manole. 2003. Gruman, Marcelo. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra: limites e possibilidades da lei de incentivo fiscal à cultura. In: Livro Lei Rouanet, percursos e relatos (2009): http://bit.ly/livroleirouanet. Revista Observatório. Itaú Cultural, especial. Lei Rouanet 2009. Kolokathis, Antoine artistas famosos e o incentivo fiscal. In: Livro Lei Rouanet, percursos e relatos(2009):http://bit.ly/livroleirouanet. Revista Observatório. Itaú Cultural, especial. Lei Rouanet 2009. Machado, Alexandre. Textos Introdutórios: Entrevista, pg 15. In: Livro Lei Rouanet, percursos e relatos (2009): http://bit.ly/livroleirouanet. Revista Observatório. Itaú Cultural, especial. Lei Rouanet 2009: Sites: <Http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm>. Acesso em 08 de jun. 2015. <Http://www.cultura.gov.br/programa-nacional-de-apoio-a-cultura-pronac->. Acesso em 08 de junho. 2015 <Http://www.bravo.pt/>. Acesso em 08 de jun. 2015 http://www.rumosustentavel.com.br/minc-coloca-proposta-da-nova-lei-rouanet-emconsulta-publica/ Acesso em 05/07/2015. Fonte: GIFE http://www.fiscosoft.com.br/a/67cc/a-natureza-juridica-dos-beneficios-fiscais-concedidos- pela-lei-rouanet-e-pela-lei-de-incentivo-ao-esporte-julia-de-menezes- nogueira#ixzz3ep7giysy