A HISTÓRIA DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS E O DIREITO À EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS QUILOMBOLAS Eixo: Educação Indígena, Quilombola e do Campo. Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as comunidades quilombolas remanescentes e o direito à educação das crianças quilombolas a partir do reconhecimento legal e social de suas comunidades, sendo elas: Invernada Paiol de Telha, em Guarapuava/PR e Reserva do Iguaçu e Adelaide Maria Trindade Batista em Palmas/PR. O texto compõe-se de três partes: a primeira delas tratará da constituição das comunidades quilombolas remanescentes e como são compreendidos sujeitos que residem nestas; a segunda parte explicitará a história de duas comunidades quilombolas no Estado do Paraná: Invernada Paiol de telha e Adelaide Maria Trindade Batista. A última parte fará algumas considerações acerca do direito à educação da criança quilombola. Sendo assim, compreender como se dá as relações das crianças quilombolas nas escolas que as atendem é um campo profícuo de pesquisa, pois, os conflitos existentes e as formas de discriminação podem de várias maneiras servir como argumento ou indicativo para a permanência ou não das crianças quilombolas nos espaços escolares. Sendo assim, a luta pelo reconhecimento enquanto sujeito quilombola é um dos fatores fundamentais para a igualdade de direitos. Nesse contexto, a escola sendo um espaço social, é um meio propício para a formalização também da vida da comunidade quilombola, por isso, as crianças e adolescentes quilombolas necessitam compreender a escola um espaço para o exercício da cidadania e fortalecimento de sua cultura, ou seja, que possam ser reconhecidos como pertencentes a essas comunidades quilombolas, os quais possuem costumes, religião e tradições. Enfatizamos que o trabalho é uma parte do Trabalho de Conclusão de Curso em andamento. Neste, será feito uma abordagem bibliográfica a partir de alguns autores que tratam da temática e da Constituição de 1988. Palavras-chave: Comunidades quilombolas no Paraná. Educação. Crianças quilombolas. Introdução Na trajetória histórica da educação no Brasil, nota-se por muito tempo a negligência, por parte dos governantes, com a questão educacional escolar, especialmente aquela voltada às camadas mais populares, nas quais se encontramos grande parte da população negra e pobre do país (BRANDÃO; SILVA, 2008, p. 424). Sendo assim, a partir da Constituição de ISSN 2176-1396
24766 1988 previu-se que as instituições escolares fossem organizadas e repensadas para atendimento a todas as crianças, independente da sua cor, raça, religião e modo de vida. Ressaltamos que mesmo com agendas, programas e políticas nacionais e internacionais em torno da temática de combater toda e qualquer forma de preconceito e discriminação racial, a efetividade das políticas e propostas educacionais ainda é um processo de luta constante. Além disso, não se pode deixar de lado a constituição do movimento negro no Brasil desde os anos iniciais da República, o qual foi se constituindo gradativamente, com características distintas em cada fase, porém com o objetivo de lutar pelo reconhecimento do direito de igualdade étnico racial (DOMINGUES, 2007), pois se constituiu um elemento importante para a definição de algumas políticas brasileiras, por exemplo, a Lei 10.639/2003. Nesse ínterim, entendemos que a discussão da efetividade do direito à educação por parte da população negra é ainda um processo longo. No entanto, quando se fala em crianças negras quilombolas, que muitas delas residem em áreas rurais, o direito à educação é ainda, mais complicado e negligenciado por parte das autoridades competentes. Sendo assim, o processo educacional de alunos advindos de comunidades quilombolas remanescentes é uma realidade cada vez mais presente na sociedade, uma vez que a política de reconhecimento das comunidades quilombolas remanescentes institui que sua população possui direitos, devido não só as diferenças de sua condição econômica, mas também pela compreensão de suas distintividades socioculturais e históricas dos grupos (CHAGAS, 2001, p. 232-233). Por isso, compreende-se que as reivindicações pela terra dos sujeitos quilombolas remanescentes devem ser reconhecidas como uma forma de entender as diferenças culturais e as contribuições destes para a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que viabiliza a autenticidade das manifestações culturais e históricas. Portanto, compreender como se dá as relações das crianças quilombolas nas escolas que as atendem é um campo profícuo de pesquisa, pois, os conflitos existentes e as formas de discriminação podem de várias maneiras servir de argumento ou indicativo para a permanência ou não das crianças quilombolas no espaço escolar. Sendo assim, o acesso e a permanência das crianças quilombolas à escola, direito garantido na Constituição Federal de 1988 ainda é um processo a longo a ser conquistado plenamente. A construção do texto se baseou na Constituição de 1988 e em alguns estudiosos da temática como Ratts (2006), Honnef e Fialho (2011), Pereira, Serrano e Porto (2012); Reis e Gomes (2012) entre outros. Enfatizamos que o trabalho é uma parte do Trabalho de
24767 Conclusão de Curso em andamento, por isso, tem como objetivo refletir sobre as comunidades quilombolas remanescentes e o direito à educação das crianças quilombolas a partir do reconhecimento legal e social de suas comunidades. O texto compõe-se de três partes: a primeira delas tratará da constituição das comunidades quilombolas remanescentes e como são compreendidos sujeitos que residem nestas; a segunda parte tratará de explicitar a história de duas comunidades quilombolas no Estado do Paraná: Invernada Paiol de telha e Adelaide Maria Trindade Batista. A última parte fará algumas considerações finais acerca do direito à educação da criança quilombola. Comunidades quilombolas no Brasil Ao nos referir à educação da população negra brasileira é importante enfatizar alguns fatores como o acesso e permanência ao espaço escolar e a valorização da diversidade cultural. Dessa forma, abordar a educação das comunidades quilombolas remanescentes é necessário conhecer a história dos sujeitos que as compõem, ou melhor, dizendo, daqueles que por muito tempo foram marginalizados da/na sociedade brasileira. O termo quilombo traz consigo um contexto histórico imenso, carregado de sentido e luta e de contribuições para a sociedade, ao mesmo tempo explicita resistência ao sistema imposto, pois segundo Moura (1987, p. 31): [...] não podemos deixar de ver o quilombo como um elemento dinâmico de desgaste das relações escravistas. Não foi manifestação esporádica de pequenos de pequenos grupos de escravos marginais desprovidos de consciência social, mas um movimento que atuou no centro do sistema nacional, e permanentemente. Para tanto, tratar dos quilombos no Brasil significa refletir sobre a identidade de cada brasileiro, por isso, quando se fala em comunidades quilombolas na atualidade implica no reconhecimento de sua história e cultura no país e das diversas populações oriundas do continente africano, as quais fazem o Brasil ser o que é Há trezentos anos que o africano tem sido o principal instrumento de ocupação e da manutenção do nosso território pelo europeu, e que os seus descendentes se misturam com o nosso povo (NABUCO apud FREITAS, 1982, p. 10). Salientamos que as discussões acerca da população negra em nível internacional fora dada um dos primeiro passos na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, em 1968, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU),
24768 segundo Honnef e Fialho (2011). Diante desta, inicia-se um processo de luta por parte da população negra em prol de reconhecimento dos seus direitos, e, portanto, do direito à educação de qualidade a partir de suas contribuições para a formação da população dos diferentes países. Desse modo, compreendemos que é preciso estudar a história das comunidades quilombolas como um assunto que faz parte na história do Brasil, que o termo quilombo pode [...] ser traduzida como habitação, acampamento, povoado ou arraial (LOBÃO, 2014, p.27). Nesse sentido, A palavra quilombo tem a conotação de uma associação de homens, aberta a todos sem distinção de filiação a qualquer linhagem, na qual os membros eram submetidos a dramáticos rituais de iniciação que os retiravam do âmbito protetor de suas linhagens e os integravam como coguerreiros num regimento de super-homens invulneráveis às armas de inimigos. O quilombo amadurecido é uma instituição transcultural que recebeu contribuições de diversas culturas: lunda, imabangala, mbundo, kongo, wovimbundoetc (MUNANGA 1996, p.58 apud RATTS, 2006, p.306-326). Portanto, esses lugares ainda existem e podem ser considerados como espaço de resistência, de luta e de instrumentalização para valorização e combate à descriminação racial e ao racismo. Ao mesmo tempo, as comunidades quilombolas remanescentes constituem espaços de legitimação da história e cultura dos descendentes de africanos. Assim, [...] a questão quilombola somente passou a fazer parte da agenda política de forma mais contundente a partir da promulgação da Constituição Federal em 1988, que possibilitou a vários grupos, dentre eles dos negros, a reivindicação de seus direitos, principalmente o direito à permanência e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas e cultivadas por eles [...] (CARARO, 2014, p.03). Sendo assim, no Estado do Paraná, existem várias comunidades quilombolas reconhecidas e outras ainda em processo de reconhecimento. No entanto, o processo de legitimação de uma comunidade quilombola abre inúmeros fatores que redesenham a sociedade. [...] justamente o processo de territorialização tem-se a construção de uma nova fisionomia étnica, através da autodefinição do recenseado, e de um redesenho da sociedade civil, pelo advento de centenas de novos movimentos sociais, através da autodefinição coletiva. Todos estes fatores concorrem para compor o campo de significados do que se define como terras tradicionalmente ocupadas, em que o tradicional não se reduz ao histórico e incorpora identidades redefinidas situacionalmente numa mobilização continuada (ALMEIDA, 2004, p. 29).
24769 Desse modo, é saliente dizer que além das políticas governamentais para legitimação dos territórios das comunidades, se faz notório o atrelamento desta com outros que enfatizam luta pelo reconhecimento dos sujeitos quilombolas e de seus direitos na saúde, política, educação, assistência social, agricultura, entre outras. Portanto, compreender a história das comunidades quilombolas Invernada Paiol de Telha e Adelaide Maria Trindade Batista é fundamental para entendermos quem são os sujeitos quilombolas. Comunidades quilombolas no Paraná: Invernada Paiol de Telha e Adelaide Maria Trindade Batista Na história do Estado do Paraná, nota-se uma invisibilidade do africano escravizado e, posteriormente, do liberto. Assim, quando se fala em comunidades quilombolas remanescente no Estado busca-se resgatar suas relações com a constituição da população paranaense e as suas contribuições, a fim de valorizá-las e reconhecê-las. Sendo assim, faremos uma explanação sobre duas comunidades quilombolas do Estado do Paraná: Invernada Paiol de telha e Adelaide Maria Trindade Batista. A história da comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha, tendo a sede localizada em Entre Rios, no município de Guarapuava/PR e o Núcleo Fundão em Reserva do Iguaçu este último reconhecido legalmente em 2014 - é importante para a compreensão da história e luta pela terra, ao mesmo tempo, é fator fundamental para identificar os sujeitos pertencentes à comunidade quilombolas, não somente pelo direito a terra, mas pelo resgate e preservação de seus costumes e tradições. Desta forma, mesmo com avanços notórios quanto ao reconhecimento da comunidade quilombola da região de Guarapuava, pouco se fez no que tange esse assunto, desde 1890. O reconhecimento das terras, deixadas em testamento pela senhora Balbina de Siqueira Cortes, para seus onze ex-escravos é um assunto que ainda está em pauta, ainda mais que a comunidade necessita de diversos atendimentos. A Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas, localizada em Guarapuava, Estado do Paraná, tem sua gênese histórica a partir dos anos de 1860 quando Balbina Francisca de Siqueira Cortes, proprietária da fazenda Capão Grande, deixa em testamento a seus onze escravos libertos a área de terra denominada Invernada Paiol de Telhas. A apropriação dessas terras pelos ex-escravos só ocorreu no ano de 1868, ano de morte de Balbina. A partir daí esse território foi sendo alvo de inúmeras contestações e apropriações indevidas por familiares da benfeitora, grileiros e colonos e pela desapropriação de terras efetuada pelo Governo do Estado, a partir da década de 1950, quando se deu início ao processo de imigração alemã
24770 (Suábios do Danúbio) em Guarapuava segundo Calábria (2013) (CARARO, 2014, p. 05). E importante clarificar que as terras foram deixadas por testamento para os onze escravos libertos. No entanto, estas foram ocupadas por eles somente no ano de 1860, pois com a morte da senhora Balbina de Siqueira Cortes, começaram as diversas formas de apoderamento delas por parte de pessoas não herdeiras, com o intuito de utilizá-las em prol de fins lucrativos, uma vez que eram terras consideradas muito férteis. Além disso, iniciou-se um processo de não reconhecimento do pertencimento destas aos descendentes dos onze exescravos. Nesse contexto, por meados de 1970 muitas as famílias foram obrigadas a deixar o local com tudo o que tinham feito por lá. Outras foram expulsas de suas propriedades, o que as levaram fragmentação destas por várias localidades do país. No ano de 1998 diversas denuncias foram feitas pelos quilombolas remanescentes ao Ministério Público, devido não poderem usufruir de suas terras. Desse modo, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) juntamente com poder público e a Cooperativa Agrária criou uma forma de solucionar tal acontecimento por algum tempo, doando uma porção de terras, onde atualmente, se localiza o Núcleo Assentamento Paiol de Telhas, na Colônia Socorro, Distrito de Entre Rios Guarapuava - Paraná (CARARO, 2014). É importante frisar que algumas famílias aceitaram, e outras não, pois afirmavam que a terra doada não pertencia a elas (VESTENA; BERG; VOLSKI, 2015), portanto, algumas famílias constituíram a comunidade Invernada Paiol de Telha Núcleo Assentamento. Por isso, muitos descendentes dos ex-escravos da senhora Balbina permaneceram lutando pelo reconhecimento do pertencimento das terras deixadas em testamento. Assim, em 2014, parte das terras daquelas deixadas pela senhora Balbina em Reserva do Iguaçu - foram legitimadas e entregues aos quilombolas remanescentes. [...] Em 21 de Outubro de 2014, num ato público, Carlos Mário de Guedes, presidente Nacional de Colonização e Reforma Agrária do INCRA reconheceu o território tradicional da comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha - Fundão, com isso o INCRA sinaliza para a reconquista definitiva das terras [...] (VESTENA; BERG; VOLSKI, 2015, p.73). Desse modo, é possível evidenciar o quão conflituoso foi e é ate hoje a questão das terras que pertencem aos quilombolas remanescentes da região de Guarapuava, que têm seu
24771 espaço ancestral, atualmente, em Reserva do Iguaçu. As terras que por direitos são deles, foram, por interferências econômicas e politicas, retirada e negada. Uma parte delas em 2014 foram reconhecidas, no entanto, a luta pelo reconhecimento dos direitos dos sujeitos quilombolas continua na região. Atualmente, a comunidade quilombola Invernada Paiol de telha - Núcleo Fundão - é composta por herdeiros das terras, os quais lutaram e lutam pelo seu reconhecimento na sociedade, pois mesmo tendo sido conquistada parte das terras, que hoje se situa no município de Reserva do Iguaçu, muitos, não negros, a consideram ilegítima ou a desconhecem. Por isso a comunidade carece de atendimentos, como por exemplo: da saúde, de assistência social, de melhoria de estrada que dá acesso à comunidade; e de escola, pois as crianças e adolescentes precisam viajar de ônibus vários quilômetros para estudar em escolas de Reserva de Iguaçu. A outra comunidade quilombola no Paraná é a Adelaide Maria Trindade Batista, a qual possui certificação pela Fundação Cultural Palmares em Palmas/PR (CAMPANA, 2016). Sendo assim, a constituição da comunidade quilombola Adelaide Maria Trindade Batista no Bairro São Sebastião do Rocio se deu por conta de descendentes de africanos. Assim, a senhora Adelaide Maria Trindade Batista teria chegado juntamente com outros ex-escravos e fixado moradia entorno da Freguesia de Palmas/PR no bairro supracitado. A partir daí, estas pessoas se consideraram os primeiros moradores dessas terras, onde construíram suas casas, uma forma de sustento e sociabilidade (PAETZOLD et al, 2009). Nossa história começa em 1836, a gente veio tendo conhecimento através dos tataravós, bisavós, avós e minha mãe, somos descendentes de escravos dos primeiros colonizadores que vieram para Palmas como José dos Santos e outros. Em meados de 1836 e 1839 chegou esse povo por aqui.[...] Essa é uma história que os nossos tataravós, bisavós, avós e minha mãe contavam pra nós, de toda cultura que tinha, dança que temos; essa cultura da festa de São Sebastião que veio junto com a matriarca da comunidade que leva o nome: Adelaide Maria Trindade Batista, e essas festas de S. Sebastião, são daquele tempo, até hoje, diminuiu um pouco por causa do bairro ser invadido (ENTREVISTADO A apud ALVES, 2013, p. 66). Quando é mencionado que o bairro foi invadido está se tratando da construção do aeroporto municipal de Palmas em 1952 e outras medidas por conta do processo de urbanização do município. O bairro São Sebastião do Rocio denominação pela fervorosidade da fé em São Sebastião da senhora Adelaide Maria Trindade Batista - conta com três escolas: Escola Municipal Tia Dalva, Escola Municipal São Sebastião e Escola Estadual Quilombola Maria Joana Ferreira (PAETZOLD et al, 2009).
24772 Algumas considerações sobre o direito à educação da criança quilombola Ao entendermos a história da constituição das comunidades quilombolas supracitadas, compreendemos como os sujeitos quilombolas vivem. Além disso, a luta pelo reconhecimento ainda é fator fundamental para a igualdade de direitos. Sendo assim, a escola sendo um espaço social, se torna meio propício para a formalização também da vida da comunidade quilombola. Portanto, [...] O termo quilombo trazia consigo uma reatualização das lutas da população negra excluída, isto é, as possibilidades da conquista de título de suas terras ocupadas, acesso a infraestrutura básica, além de inclusão a outras políticas públicas, como a promoção da saúde, educação, dentre outras (PEREIRA, SERRANO, PORTO, 2012, p. 49). O significado de cidadania para todos implica vinculo direto à participação social e cultural e ao acesso os direitos sociais básicos, como trabalho, atendimento igualitário à saúde e educação, assistência social. Desse modo, as crianças e adolescentes quilombolas necessitam encontrar na escola um espaço para o exercício da cidadania e fortalecimento de sua cultura, ou seja, que possam ser reconhecidos como pertencentes às comunidades quilombolas, os quais possuem costumes, religião e tradições. Isso é assegurado no art. 210, da Constituição Federal de 1988, a qual dispõe que Serão fixados conteúdos mínimos para o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais (BRASIL, 1988, Art. 210), garantindo que a escola levará em conta a cultura da região onde está inserida, isto é, garantindo o direito a educação da criança quilombola a partir de sua cultura. Dessa forma, ao estudarmos a história da constituição das duas comunidades quilombolas no Estado do Paraná, ressaltamos que as crianças da comunidade Invernada Paiol de Telha ainda tem que frequentar uma escola externa, o que dificulta a permanência destas, assim como, o fortalecimento das suas tradições e reconhecimento dos seus direitos. As crianças da segunda comunidade quilombola possuem escolas, mas mesmo assim, há a necessidade de fortalecer o que disposto na Lei 10.639 de 2003(BRASIL, 2003). Enfatizamos que a Educação Escolar Quilombola torna-se modalidade da Educação Básica pelas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica (Resolução CNE/CEB 04/2010) Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de seu
24773 quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, bem com nas demais, deve ser reconhecida e valorizada a diversidade cultural (BRASIL, 2010, Art. 41). É interessante dizer que o direito á educação para as crianças quilombolas não se trata apenas falar sobre sua história e cultura, mas compreendê-lo como fundamental para manifestação cultural dos descendentes africanos, por isso a necessidade de uma pedagogia que leve em consideração o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural. Considerações finais Diante do que a Constituição de 1988 (Art 2010) dispõe sobre o direito à educação, fica evidente a responsabilidade dos órgãos competente de criar mecanismos e políticas públicas que favoreçam o acesso e permanência das crianças quilombolas à escola. Além disso, aos profissionais da educação é reservado o cultivo e valorização das diferentes culturas trazidas pela diversidade cultural ao espaço escolar, recuperando sua história e cultura bem como a contribuição da população quilombola em todas as formas: social, cultural, econômica ou política. Diante do exposto, ressaltamos para em todas as comunidades quilombolas seria interessante que houvesse escolas quilombolas que ofertassem a educação escolar quilombola, pois poderá ser um indicativo de garantir o direito à educação às crianças quilombolas e de resistência (REIS; GOMES, 2012) às mazelas. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. W. B. de. Terras tradicionalmente ocupadas. In: Revista Brasileira Estudos Urbanos e Regionais. Belo Horizonte: ANPUR. v. 6, n.1, p. 09 a 32. Maio 2004. Disponível em: http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/apoio/apoio_valeria/flg0563/1s2015/102-172-2-pb.pdf. Acesso em 01 de junho de 2017. ALVES, D. de M. C. A Luta pela terra dos quilombolas de Palmas: do quilombo aos direitos territoriais. Pato Branco: 2013. Dissertação (Mestrado) de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Disponível em: http://www.utfpr.edu.br/patobranco/estrutura-universitaria/diretorias/dirppg/posgraduacao/mestrados/ppgdr2/pb_ppgdr_m_alves_diorgenes_de_moraes_correia_2013.p df. Acesso em 02 de junho de 2017.
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