Tuberculose na infecção pelo VIH: O contributo da imagiologia A radiografia do tórax A radiografia do tórax, nos indivíduos com tuberculose pulmonar, constitui um elemento diagnóstico tão importante nos doentes infectados com VIH, como nos não portadores desta infecção. As formas de apresentação radiológica, nos doentes duplamente infectados, assumem aspectos menos habituais, não sendo rara a existência de radiografias de tórax normais. Acrescente-se que a existência frequente de outras infecções pulmonares associadas, vem introduzir um elemento perturbador adicional, na interpretação de um quadro radiológico que muitas vezes já é, por si próprio, atípico. Os aspectos radiológicos encontram-se dependentes do grau de imunossupressão induzida pelo VIH. Nos indivíduos que conservam uma função imunitária relativamente equilibrada, predominam as formas parenquimatosas, localizadas nos lobos superiores e cavitadas, e as formas de envolvimento pleural. Conforme o grau de imunodepressão progride (alguns estudos têm apontado como charneira o valor dos linfocitos CD4 no sangue periférico de 200/mm3), aquelas manifestações vão sendo substituídas pelo envolvimento parenquimatoso difuso, com maior expressão nos lobos inferiores (por vezes sob a forma de nódulos ou massas), menor tendência para a cavitação (Figura 1) e imagens sugestivas de envolvimento adenopático intratorácico (Figura 2). É também nesta altura que surgem, mais frequentemente, as formas de expressão miliar (Figura 3 e 4) e as formas sem tradução radiológica (Figura 5). Figura 1. Radiografia do tórax evidenciando tuberculose de ambos os lobos inferiores. Figura 2. Radiografia do tórax sugerindo envolvimento adenopático.
Figura 3. Radiografia do tórax de doente com tuberculose miliar. Figura 4. Ampliação da figura 3 Figura 5. Radiografia do tórax normal em doente com tuberculose disseminada.
A tomografia computorizada Com a introdução da tomografia computorizada (TC), registou-se uma melhoria considerável na definição das imagens, em relação às obtidas por radiologia convencional (Figura 6 e 7). Nestes doentes, a utilização de TC tornou-se particularmente útil na caracterização do tipo e extensão das lesões, nomeadamente ao nível do interstício pulmonar (Figura 8 e 9) e do mediastino, em particular do componente adenopático (Figura 10). Figura 6. TC do tórax revelando tuberculose extensa bilateral e cavitada. Figura 7. TC do tórax revelando Pneumonia Caseosa. Figura 8 e 9. Tc do tórax evidenciando padrão miliar.
Figura 10. TC torácica referente a tuberculose ganglionar com compressão da traqueia. Em TC, a aparência das adenopatias tuberculosas é característica: após a administração do contraste, os nódulos surgem como massas necróticas de baixa densidade, bem delimitadas por um anel periférico hiperdenso (figura 11). Embora este aspecto possa surgir associado a infecções fungicas (sobretudo a criptococose ou a histoplasmose) é nitidamente diferente dos nódulos neoplásicos (linfoma, sarcoma de Kaposi) e, entre nós, pela frequência dos quadros nosológicos, até prova em contrário, este aspecto é fortemente sugestivo de Tuberculose, justificando, só por si, para alguns autores, a introdução de terapêutica antibacilar. Figura 11. Tc do tórax revelando adenopatias com halo hipercaptante sugestivo de tuberculose ganglionar. A TC do sistema nervoso central (SNC), quando há suspeita clínica de envolvimento tuberculoso do mesmo, pode mostrar lesões abcedadas, envolvimento das meninges ou granulomas (Figura 12 e 13). Quando o quadro clínico é grave ou existe suspeita de envolvimento multissistemico deverá efectuar-se TC abdominal, que poderá mostrar hepatoesplenomegalia, envolvimento das cadeias ganglionares abdominais, nomeadamente das retroperitoneais e, mais raramente abcessos esplénicos (Figura 14) e retroperitoneais.
Figura 12. TC do SNC revelando lesão tuberculosa abcedada. Figura 13. TC do SNC mostrando múltiplos granulomas. Figura 14. TC abdominal revelando abcesso esplénico tuberculoso.