Seminário - O Estado Atual do Setor Elétrico Brasileiro - Crise ou Consequência? Dimensões da Crise - O custo da energia e a explosão das tarifas São Paulo, 02 de abril de 2015 Carlos Augusto Ramos Kirchner
OBJETIVOS Apresentar alguns pontos que podem explicar a majoração dos custos de energia e a explosão tarifária: Premissas equivocadas em leilões de energia Posturas da ANEEL para preservar e estimular ganhos abusivos de agentes em detrimento do consumidor cativo de energia e até colocando em risco a existência do mercado livre de energia
DIMENSÕES DA CRISE Aumentos tarifários: Reajuste represado por empréstimo de até R$ 20 bilhões Bandeira Tarifária Vermelha R$ 30,00 / MWh, a partir de 1º de janeiro de 2015 Bandeira Tarifária Vermelha R$ 55,00 / MWh, a partir de 1º de março de 2015 Reajuste Tarifário Extraordinário de até 39,45%, a partir de 2 de março de 2015
LEILÕES DE ENERGIA NOVA Termoelétricas contratação por disponibilidade não se contratou térmicas com menor custo quanto mais caras mas chances de sair vencedora do leilão Índice de Custo Benefício ICB (R$ / MWh) Definido como a razão entre seu custo total e e seu benefício energético Valores de ICB eram equiparados aos custos de geração hidroelétrica
LEILÕES DE ENERGIA NOVA ICB = [(Custos Fixos + E (custo de operação) + E (custo econômico curto prazo)] / (Garantia Física) O ICB é uma estimativa de gasto de quanto irá custar a energia a ser fornecida por um empreendimento (ou parte dele) para seus compradores (agentes de distribuição), durante a vigência do contrato de disponibilidade de compra e venda de energia
LEILÕES DE ENERGIA NOVA Termoelétricas que foram estimadas em serem despachadas 5% do tempo e que estão sendo despachadas agora em quase 100% do tempo, o ICB do leilão pode ter sido R$ 130,00 / MWh e agora, se viesse a ser apurado o ICB real, pode ser maior que R$ 700,00 / MWh Poderiam ter sido contratadas termoelétricas muito menos custosas se o critério de julgamento dos empreendimentos proponentes fosse outro
LEILÕES DE ENERGIA NOVA Competição entre fontes a serem localizadas em qualquer lugar no país em lugar de se promover leilões regionais para disponibilizar geração próxima da carga e reduzir os custos de transmissão Exemplo: ter necessidade de construir mais de 4.000 km de linhas de transmissão, com gastos de mais de 6 bilhões, para energia proveniente de ventos de geradoras eólicas do Nordeste aos consumidores do Sudeste
LEILÕES DE ENERGIA NOVA Irracionalidade: Instalação de termoelétricas nos Estados que o Governador garantisse a licença ambiental mais rápida e que oferecesse os melhores incentivos fiscais empreendimentos de geração a biomassa situados no interior do Estado de São Paulo não viabilizados bem demonstra o equívoco que vem se repetindo de não se adotar leilões regionais
SOBRECONTRATAÇÃO E SUBCONTRATAÇÃO DE ENERGIA Sobrecontratação de Energia ocorreu por algum tempo Efeito de aumentar as tarifas pois se devolvia o excedente de energia existente mais barato Subcontratação de Energia (exposição ao mercado de curto prazo) A partir de 1º de janeiro de 2013 MP 579 com resultados desastrosos para as tarifas e para as empresas estatais federais
NUNCA SE PERDEU E SE GANHOU TANTO DINHEIRO Notícia no Canal Energia de 27/03/2015 A Cesp registrou lucro de R$ 882,5 milhões em 2014... Segundo a Cesp, o crescimento das receitas é explicado pela estratégia da administração, que optou por manter descontratados 616 MW médios. Essa energia foi liquidada no mercado spot, a preços mais vantajosos.
INFRAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA Lei nº 12.529/2011: Art. 36 Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; III - aumentar arbitrariamente os lucros;
INFRAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA Lei nº 12.529/2011: Destacamos ainda deste mesmo artigo, o 3º: 3º As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica: XI - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, dentro das condições de pagamento normais aos usos e costumes comerciais;
LUCRO E PREJUÍZO Cemig Geração Receita auferida com a energia descontratada Jan à abril/2014 R$ 1.735.124.930,10 Cemig Distribuição Valores Despendidos pela energia adquirida no mercado de curto prazo Jan à abril/2014 R$ 1.438.044.499,78
DESTRUIÇÃO DA INDÚSTRIA A grande maioria dos consumidores livres não consegue a renovação de seus contratos de fornecimento de energia e nem outros vendedores interessados em oferecer energia elétrica para venda Solução pífia dada de redução do preço do PLD que apenas amenizam mas não resolveram o problema de quem está deixando de vender o seu produto Desastre de dimensões nunca antes enfrentado pela indústria nacional
MANIPULAÇÃO DA SAZONALIZAÇÃO A sazonalização que deveria se constituir numa distribuição mensal de garantias físicas no sentido de possibilitar o atendimento dos contratos de comercialização de energia, associada ao MRE se transformou numa oportunidade de manipulação de dados onde os mais informados podem ganhar dinheiro A atuação da ANEEL mais uma vez foi no sentido de preservar e este tipo de ação e apenas atenuar seus efeitos
INOPERÂNCIAS DOS DIVERSOS ÓRGÃOS DO SETOR ELÉTRICO Da ANEEL frente a infração contra a ordem econômica dos agentes de geração que não vendem sua energia para ninguém optando pela liquidação no MCP e auferindo lucros abusivos Implantação de novas unidades geradoras sem direcionar para as regiões fortemente importadoras de energia, como o Estado de São Paulo, resultando em custos adicionais não captados na avaliação dos leilões
INOPERÂNCIAS DOS DIVERSOS ÓRGÃOS DO SETOR ELÉTRICO Construção de novas hidrelétricas sem reservatórios para acumulo de água, o que implica na implantação de termoelétricas. Falta de ações para motorização de usinas hidrelétricas antigas, com previsão e já preparadas para a instalação de novas unidades geradoras em que o modelo setorial não remunera devidamente por falhas em sua concepção
MODELO MERCANTILISTA Todo o arcabouço montado pelos diversos órgãos do setor elétrico e especial em relação a Agência Reguladora, com Audiências Públicas, concedendo a aura de legalidade a oportunidades excepcionais de ganhos que tem sido inversamente proporcionais as crises que afetam a população brasileira: Tarifas nunca antes tão altas e riscos de racionamento Lucros nunca antes tão altos de alguns agentes
CONCLUSÕES Que o atual modelo do setor elétrico já se exauriu e necessita de significativos ajustes é evidente mas há uma outra séria dúvida da forma de diagnosticar e enfrentar a crise: os atuais gestores do setor elétrico que se encontram entre as entidades governamentais citadas e os próprios agentes do setor elétrico, tais como geradoras, transmissoras, distribuidoras e comercializadoras terão condições de formular propostas que de fato sejam de interesse da sociedade brasileira ou, em função de interesses conflitantes é possível que não pretendam mudar o atual status quo, onde nunca se ganhou tanto?
OBRIGADO! Carlos Augusto Ramos Kirchner ckirchner@uol.com.br