A GESTÃO DE SEIS ATERROS SANITÁRIOS SIMPLIFICADOS NA BAHIA Lícia Rodrigues da Silveira Luiz Roberto Santos Moraes Salvador, 12 de julho 2010
O PROBLEMA A operação inadequada da maioria dos aterros sanitários simplificados implantados no Estado da Bahia. O questionamento é: porque os aterros sanitários simplificados não são bem operados pelas prefeituras? ANTECEDENTES Na Bahia O Governo do Estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia CONDER, construiu 35 aterros simplificados e 19 aterros convencionais, até 2006. Avaliados pelo MP/BA a gravidade ambiental de 30 desses aterros simplificados e 15 dos aterros convencionais Recursos aplicados, aproximadamente, R$ 31.295.000,00.
OBJETIVOS Identificar e avaliar, sob a ótica da gestão, as causas que interferem na operação adequada dos aterros sanitários simplificados implantados pelo Governo do Estado da Bahia. Analisar, sob a ótica da gestão do sistema de RSU, a tecnologia do aterro simplificado. Identificar fatores que interferem na gestão dos aterros sanitários simplificados. Avaliar os sistemas de destinação final de seis aterros sanitários simplificados, três com operação considerada aceitável e três com operação inadequada, segundo relatório do Ministério Público do Estado da Bahia em 2007. Analisar as condições em que se realiza a operação.
METODOLOGIA Revisão da literatura: 1. Criação dos municípios, descentralização, pobreza e sua emancipação política; 2. Políticas de saneamento; 3. Gestão pública; 4. Gestão de resíduos sólidos; 5. Aterros sanitários simplificados; 7. Legislação. Pesquisa de campo em seis municípios selecionados a partir do Relatório do MP/Ba Desafios do Lixo ; Pesquisa documental, no órgão estadual, CONDER, responsável pela implantação dos aterros. Entrevistas com prefeitos, secretários, responsáveis pelos aterros, engenheiros envolvidos com as obras.,
Avaliação da condição ambiental dos Aterros implantados pelo Governo do Estado da Bahia Ministério Público Aceitáveis 12,5% Regulares 53,3% Péssimos 31,3%
A partir de 1988 os municípios passam a ser entes federados, reduzindo sua vinculação política ao governo estadual. Muitos foram criados sem ter recursos financeiros suficientes para oferecer serviços básicos à população. A descentralização onera os cofres das prefeituras que tem que arcar com as estruturas necessárias. As políticas de saneamento privilegiaram a água. Atualmente há uma maior preocupação com o esgoto. Os programas de gestão pública não chegam para os municípios pequenos. O Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos tramita no Congresso Nacional necessitando de aprovação.
No Brasil, dos 5.561 municípios brasileiros 73,1% têm população inferior a 20.000 habitantes e destes somente 5% dispõem seus resíduos de forma adequada Castilhos Jr. (2003) Na Bahia 87,3 % dos municípios têm população até 20.000 habitantes
A opção por aterros sanitários simplificados decorre de: Custo baixo de manutenção e operação. Menor complexidade de operação do que um aterro convencional. Não necessitam uso constante de máquina (trator ou retroescavadeira) para manter o aterro. Quantidade de resíduos a ser ordenado dentro da vala não superior a 20 toneladas dia, pois a população a ser atendida com este tipo de aterro deve ser de até 40.000 habitantes.
OS ATERROS SANITÁRIOS SIMPLIFICADOS Significam solução de baixo custo de investimento e de operação, além de pouca complexidade técnica para sua operação. Modelo Esquemático de vala para aterros sanitários simplificados ~4,0 m Opção de Crescimento 1 m 2,0m
Aterros sanitários simplificados Guarita, cerca, portão Vala Séptica Vala resíduos domiciliares
Poço de monitorização Calha de drenagem pluvial
DIFICULDADES DA OPERAÇÃO DOS ATERROS SANITÁRIOS Acurio et al. (1997) apresenta alguns fatores vinculados à problemática do manejo dos resíduos sólidos na América Latina e Caribe, dos quais destacam-se: Horizontes muito curtos de planejamento e compromisso para a autoridade local, dado à brevidade do período das administrações municipais. Persistência de traços culturais rurais nas cidades. Visão incompleta da gestão dos resíduos associa apenas ao serviço de limpeza urbana. Marco regulatório difuso, obsoleto ou inexistente. Ausência de políticas e estratégias para a Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Falta de modelo tarifário que possibilite a recuperação de recursos.
DIRETRIZES PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS Empregar, no processo produtivo, as tecnologias limpas - desde o desenho do produto até o aproveitamento da matéria. Redefinir o conceito de lixo. Endereçá-la a todos os geradores por meio de políticas objetivas. Opção de uso: produção de energia. Não gerar, reduzir a geração, reaproveitar (reutilização e reciclagem). Modelo de Gestão - próprio de cada contexto e especificidades locais.
Distinção entre os termos gestão e gerenciamento Gestão decisões estratégicas prioridades tecnologias que serão utilizadas nas conduções políticas, legais, financeiras - aspectos institucionais. Gerenciamento aplica-se ao sistema de acompanhamento e controle diário desde a geração, remoção transporte até o tratamento (Planos de Serviços).
Os pilares da gestão I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental - I COBESA Desenvolvimento da gestão de RSU 1 2 3 4 5 6 7 Base de apoio social, política, técnica, econômica, legal Pilar 1 vontade/decisão política. Pilar 2 participação social. Pilar 3 planejamento. Pilar 4 financiamento/recursos/preços a cobrar dos usuários. Pilar 5 prevenção/redução/reutilização/seletividade por tipo de resíduos. Pilar 6 compostagem. Pilar 7 aterramento/confinamento. Fonte: www.netresiduos.com adaptado pela primeira autora
SÍNTESE DOS RESULTADOS ENTREVISTAS COM PREFEITOS Revelam que a gestão pública municipal vem sendo realizada de acordo com o perfil do gestor. A disposição final dos RSU não aparece na rubrica dos orçamentos das Prefeituras, sendo que em algumas existe previsão orçamentária para a coleta. Em geral, a decisão do município de ter o ASS é tomada por pressão do Ministério Público. Afirmaram que precisaram de mais informação sobre o aterro; todas as prefeituras pesquisadas dispõem do projeto fornecido pela CONDER. Nenhuma prefeitura acompanhou a obra de implantação do ASS. Todas tinham conhecimento de que a obra era responsabilidade da CONDER e que as Prefeituras iriam operar o ASS.
As maiores dificuldades de acordo com as respostas são: falta de recursos financeiros e de pessoal capacitado. Saubara acrescentou ainda o período chuvoso e a alta estação. AS ENTREVISTAS COM SECRETÁRIOS REVELAM: Não há planejamento para os serviços que não são percebidos como um sistema de limpeza urbana. O foco é restrito ao atendimento da população com os serviços de coleta e varrição. Não é realizado trabalho de valorização dos empregados da limpeza urbana. Não há controle dos serviços executados. Inexiste regulamentação para a prestação dos serviços. Onde tem muitos catadores, a Prefeitura se sente incapaz de resolver o problema.
CONCLUSÃO O processo de implantação dos aterros sanitários simplificados pelo Governo do Estado da Bahia deu-se dentro de um contexto de fragilidades que são percebidas quando se aprofundam as observações e se realiza a análise dos resultados do estudo, o que pode ter convergido para a não sustentabilidade dos ASS. A decisão do Governo em assumir a implantação de 35 aterros sanitários simplificados, em dois anos, partiu da experiência obtida no município de Macarani, em 2002, considerada exitosa, na época. O volume de obras contratadas exigia uma estrutura institucional que não havia no órgão responsável por resíduos sólidos do Governo do Estado da Bahia. A ausência de documento firmado entre o Governo do Estado e os municípios, estabelecendo responsabilidades e contrapartidas, aumentou a fragilidade da participação das prefeituras, que não se incorporaram ao processo de implantação dos ASS.
A ausência de documento de repasse, com dados sobre a obra, valores e descrição das benfeitorias não facilitou a incorporação contábil do ASS ao patrimônio da Prefeitura; o repasse dos aterros para as prefeituras era feito por meio de documento de entrega da obra. O acompanhamento sistemático do funcionamento dos ASS pelo Governo do Estado, não ocorreu, para que possibilitasse correções e adequações dos projetos e fosse verificada a adequação da operação., nem péla própria CONDER, nem pelo órgão ambiental. Não houve ações preliminares para promover a participação social, nem a inserção social dos catadores do lixão existente.
COM RELAÇÃO AOS PROJETOS, PÔDE-SE IDENTIFICAR QUE: Em alguns projetos foi previsto a abertura de mais de duas valas nos ASS, não ficando claro para as prefeituras que o uso das valas seria seqüenciado, isto é, teriam que utilizar uma, fechar/recobrir com solo, para depois utilizar outra. O modo manual de operar não foi compreendido e talvez não tenha sido aceito, pois, o entendimento é de que a máquina deveria empurrar os RSU para a vala.