Fundos de Investimento Mobiliário em Portugal Fernando Teixeira dos Santos Presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários Presidente do Comité Executivo da IOSCO 9 de Abril de 2003
Sumário I - A Indústria de Gestão de FIMs em Portugal II - Evolução da legislação nacional III Fiscalidade (competitividade dos FIM s) IV - Conclusões
Sumário I - A Indústria de Gestão de FIMs em Portugal II - Evolução da legislação nacional III Fiscalidade (competitividade dos FIM s) IV - Conclusões
1 Caracterização da Indústria de Gestão de FIMs Os fundos de investimento são instituições de investimento colectivo cujo património é autónomo e pertence a uma pluralidade de pessoas singulares ou colectivas - denominadas participantes. O capital encontra-se dividido em partes - de características idênticas e sem valor nominal -, designadas unidades de participação. A política de investimentos em valores mobiliários ou outros valores equiparados, varia consoante o binómio risco/rentabilidade e o nível de liquidez pretendidos.
As unidades de participação podem ser subscritas junto da entidade gestora, aos balcões do depositário ou, se for caso disso, nas entidades colocadoras e meios de comercialização autorizados pela CMVM, tais como a banca telefónica e a internet. É obrigação da entidade gestora disponibilizar informação sobre os fundos que gere - no momento da subscrição e periodicamente, quer através dos documentos informativos (prospectos completo e simplificado e relatório e contas), quer através da publicação da cotação das unidades de participação no Boletim de Bolsa ou no sistema de difusão de informação da CMVM. 1 Caracterização da Indústria de Gestão de FIMs
1 Caracterização da Indústria de Gestão de FIMs Quanto à variabilidade do capital, os fundos abertos distinguem-se dos fundos fechados pelo facto de o número de unaidades de participação ser variável, dado que o investidor pode em qualquer momento realizar subscrições ou resgates. Nos fundos fechados o número de unidades de participação é fixo, sendo as mesmas reembolsadas apenas na data de liquidação do fundo. Os fundos fechados podem ser admitidos à negociação em bolsa. Quanto à política de distribuição de rendimentos, os fundos de investimento podem ser de acumulação, no caso de não existir distribuição de resultados, ou de distribuição, no caso de existir distribuição parcial ou total de resultados. A duração de um fundo de investimento pode ser determinada ou indeterminada, consoante exista ou não um prazo definido para a sua liquidação
Tipos de FIM Fundos de Acções Fundos de Obrigações Fundos Mistos Fundos de Tesouraria Fundos do Mercado Monetário Fundos de Fundos Fundos Poupança Reforma/E Fundos Poupança Acções Fundos de Índices Fundos Garantidos Principais características Investem no mínimo 70% do património em acções do mercado nacional e/ou internacional. Investem no mínimo 50% do património em obrigações do mercado nacional e/ou internacional, taxa indexada e/ou fixa. Investem de forma equilibrada em acções e obrigações Fundos de elevada liquidez, predominando aplicações de curto prazo, nomeadamente bilhetes do tesouro, papel comercial, depósitos bancários e/ou quaisquer outros valores mobiliários com maturidade inferior a um ano. Fundos de elevada liquidez, investindo em depósitos bancários e valores mobiliários com maturidade inferior a um ano. São exclusivamente compostos por unidade de participação de outros fundos nacionais e/ou internacionais Os FPR/E são planos de reforma complementares à segurança social cuja política de investimento se encontra condicionada pela lei. Investem, sobretudo, em obrigações e acções. Constituem um veículo de dinamização do mercado accionista nacional. A sua política de investimento encontra-se condicionada pela lei, devendo investir um mínimo de 50% em acções nacionais Caracterizam-se pela política de investimento reproduzir integral ou parcialmente a evolução de um determinado índice de valores mobiliários nacional ou internacional. São fundos fechados que têm associados um conjunto de garantias prestadas por terceiros, ou uma determinada configuração do património, visando a protecção do capital, um rendimento ou um determinado perfil de rendimentos. Os agrupamentos de fundos constituem uma modalidade especial de comercialização de fundos. Podem ser constituídos por dois ou mais fundos de investimento mobiliário abertos (com excepção de fundos de fundos) e caracterizam-se, principalmente, pelas vantagens que proporcionam nos resgate e subscrição simultânea de unidades de participação dos fundos que os integram. É, ainda, possível encontrar fundos estrangeiros comercializados em Portugal com autorização da CMVM.
2 Os Fundos de Investimento Mobiliário (todos os valores a 31 de Dezembro) 2.1 Os FIM e a evolução da indústria de Gestão de Activos Valores de Activos (10 6 Euro) 29.172 26.396 24.928 12% 17% 16% 4% 17% 16% 14% 71% 80% 86% 80% 86% 2002 2001 2000 F. I. Mobiliários (FIM) F. I. Imobiliários (FII) F. Titularização Créditos (FCT) O valor total dos activos em gestão colectiva registou um aumento de cerca de 11% em 2002, tendo para tal crescimento contribuído o crescimento do valor investido em fundos de investimento imobiliários (FII) cerca de 20% - e em fundos de titularização de créditos (FTC) - cerca de 260%. Apenas o valor investido em fundos de investimento mobiliário (FIM) decresceu em 2002 em cerca de 3%. Nota (1): Aos valores dos FIM foram retirados os montantes investidos em unidades de participação de FIM com sede em Portugal. Nota (2): Os FCT começaram a ser comercializados em Portugal em 2001. Nº DE ENTIDADES GESTORAS E FUNDOS DE INVESTIMENTO 2002 2001 2000 Sociedades Gestoras de FIM 16 17 20 FIM 221 262 260 Sociedades Gestoras de FII 25 26 28 FII 46 44 40 Sociedades Gestoras de FTC 2 1 n.a. FTC 8 1 n.a. O número de sociedades gestoras de fundos de investimento mobiliário e imobiliário (SGFIM e SGFII) tem vindo a decrescer, devido a processos de racionalização dos grupos financeiros nacionais. Quanto ao número de fundos geridos pelas sociedades gestoras, registou uma queda para os FIM - devido à fusão de fundos - e um aumento para os FII e para os FTC.
2 Os Fundos de Investimento Mobiliário (todos os valores a 31 de Dezembro) 2.2 A carteira dos Fundos de Investimento Mobiliário (FIM) 100% 80% 60% 40% 20% 0% Investimento por categoria de fundo (10 6 Euro) 20.609 21.267 21.558 2002 2001 2000 F. Acções F. Obrigações F. Mistos F. de Fundos F. Tesouraria FPA FPR/E F. Garantidos F. M. Monetário FIM - INVESTIMENTO POR TIPO DE ACTIVOS E MERCADOS (10^6 Euro) 2002 2001 2000 Acções 1.706 2.942 4.217 Dívida Pública e Outros F. Públicos 1.895 2.803 2.861 Obrigações 10.985 9.333 8.316 Unidade e Títulos de Participação 1.087 1.872 2.924 Direitos, Warrants autónomos e Opções 8 17 7 Outros Instrumentos de Dívida 2.262 1.647 1.044 Liquidez 2.797 2.746 2.262 Empréstimos -1 0 0 Valores a Regularizar -128-93 -73 Total 20.610 21.267 21.558 No que diz respeito às categorias de FIM, mantém-se, desde 2000, a maior relevância dos fundos de obrigações e dos fundos de tesouraria, tendo estes, inclusive, aumentado a sua importância relativa. Os fundos do mercado monetário evoluíram positivamente em 2002, ao contrário dos fundos de fundos que registaram uma queda de 40% em 2002. Noutra vertente, o investimento efectuado por residentes nacionais em fundos de investimento estrangeiros comercializados em Portugal cresceu cerca de 16%, passando de um investimento total em 2001 de 189 milhões de euros para 220 milhões de euros em 2002. No que diz respeito aos tipos de activos e mercados, o investimento em acções, dívida pública e outros fundos públicos, unidades de participação e direitos, warrants autónomos e opções evoluiu negativamente em 2002. Apenas o investimento em obrigações e outros instrumentos de dívida evoluiu positivamente, o que explica a evolução registada nas respectivas categorias de fundos.
Investimento em valores mobiliários cotados por país (10 6 Euro) 14.470 14.861 15.026 O país cujo destino do investimento é 100% 80% 60% 40% 20% 0% 2002 2001 2000 Portugal Luxemburgo Reino Unido Alemanha França Espanha Itália EUA Holanda Outros superior é Luxemburgo, seguido de Portugal, Reino Unido e Alemanha. O investimento em valores mobiliários cotados em Portugal tem evoluído negativamente desde 2000, ao contrário do que se verifica com o mercado luxemburguês. Em 2002, o investimento em valores mobiliários cotados decresceu cerca de 3%, tendo o valor dos valores mobiliários cotados em Portugal registado uma queda de 34% face a 2001. O país que registou a maior evolução positiva foi o Luxemburgo que registou um acréscimo de 27% no valor investido pelos FIM.
2.3 A dimensão da gestão de activos no âmbito do sistema financeiro nacional Valores Totais do Sistema Financeiro Nacional (10 6 Euro) Desde 2000, o montante total de capitais aplicados no sistema financeiro nacional tem vindo a aumentar, quer 135.234 134.089 128.028 ao nível dos depósitos bancários e certificados de aforro, quer ao nível da gestão colectiva de activos. 70% 70% 70% A única excepção, no âmbito da gestão colectiva de activos, diz respeito ao montante aplicado em FIM, que tem vindo a diminuir ligeiramente, acompanhando a evolução negativa de alguns tipos de valores 4% 11% 3% 11% 2% 11% 15% 16% 17% mobiliários. No entanto, essa evolução negativa nomeadamente dos principais índices accionistas levou ao aumento Fundos de tesouraria: 40% dos FIM 2002 2001 2000 FIM FII Certificados de Aforro Depósitos Bancários Fundos de tesouraria: 28% dos FIM do investimento noutras categorias de FIM - nomeadamente em fundos de tesouraria, fundos do mercado monetário e fundos de obrigações. A IMPORTÂNCIA DOS FIM PARA A DINAMIZAÇÃO A EURONEXT LISBON (10^6 EUR) 2002 2001 (A) Volume Total de Transacção de Acções na Euronext Lisbon pelas SGFIM 1 1.752 2.581 (B) Volume Total de Transacção de Acções na Euronext Lisbon 21.693 30.692 (A)/(B) 8,1% 8,4% Peso das Acções Nacionais detidas por FIM na Capitalização Bolsista Nacional 2 1,2% 1,4% Fonte: Reuters, Dathis e CMVM Embora a capitalização bolsista nacional tenha registado evoluções negativas desde 2000, os FIM têm contribuído de forma relevante para a dinamização da bolsa nacional. (1) Os valores para o primeiro trimestre de 2002 foram extrapolados a partir do resto do ano. (2) Refere-se apenas a acções e inclui o Mercado de Cotações Oficiais (sem o B.S.C.H.), o Segundo Mercado e o Mercado sem Cotações.
Os FIM s no contexto Europeu País FIM per capita FIM/PIB milhares euro % Alemanha 9,1 35,6 Áustria 10,5 39,6 Bélgica 7,5 29,1 Dinamarca 7,1 20,5 Espanha 4,3 25,3 Finlândia 3,0 11,3 França 14,5 59,3 Grécia 2,5 19,4 Holanda 6,6 23,8 Irlanda 78,2 242,3 Itália 6,4 29,4 Luxemburgo 1864,7 3679,8 Portugal 2,0 16,0 Reino Unido 6,2 22,1
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I - Evolução da legislação nacional Quadro legislativo comunitário transposto em 1994 Fenómeno de inovação financeira acentuou a necessidade de alteração da directiva. Publicação das designadas UCITS III em 2002. Transposição para o regime jurídico interno até Agosto de 2003.
I - Evolução da legislação nacional Introdução dos Organismos de Investimento Colectivo em Valores Mobiliários (OICVM) sob a forma societária (Sociedades de Investimento Mobiliário - SIM). Alterações decorrentes das novas directivas (3 áreas temáticas): - Operador (Sociedades gestoras). - Produto (OICVM). - Informação.
I - Evolução da legislação nacional Sociedades gestoras: - Autorização: RGICSF já prevê regras agora impostas pelas novas directivas: Conformidade da licença atribuída às sociedades gestoras. Simplicidade na transposição. - Passaporte Comunitário tipo DSI: Transposição via RGICSF.
I - Evolução da legislação nacional Sociedades gestoras: - Alargamento do objecto social. - Aplicação subsidiária do regime da gestão individual de carteiras. - Novo tipo de agente económico: Sociedades de Gestão de Activos (SGA). -Imposição de Regime de Fundos Próprios mínimos: preferência pela solução Bottom line da Directiva. - Subcontratação (regime maximalista).
I - Evolução da legislação nacional OICVM: - Política de investimentos com maior amplitude. - Alargamento do tipo de OICVM Harmonizados. - Regras de dispersão de risco: Limites por entidade aferidos numa óptica global. Limites de dispersão por grupo económico (novidade).
I - Evolução da legislação nacional (cont.) Informação: - Prospecto Simplificado: Documento de comercialização por excelência. Único documento que pode ser exigido pelos Estados-Membros de acolhimento na comercialização cross-border. - Mantém-se a figura do Prospecto Completo. Ambos os documentos não constituem novidade para a indústria nacional.
I - Evolução da legislação nacional Adaptação da indústria à nova legislação: - 24 meses após entrada em vigor do diploma. - Regime de maior flexibilidade. - Algumas das alterações já se encontravam introduzidas na legislação nacional.
Sumário I - A Indústria de Gestão de FIMs em Portugal II - Evolução da legislação nacional III Fiscalidade (competitividade dos FIM s) IV - Conclusões
III Competitividade fiscal dos FIM A CMVM está a elaborar um diagnóstico sobre a competitividade fiscal dos FIM portugueses Aproveitar a janela de oportunidade da alteração do regime legal para repensar o tema FIM globalmente Definição de orientações para estudo claras que permitiram o recurso a outsourcing (Ernst & Young)
Diagnóstico internacional Sistemas fiscais assentes: na tributação dos participantes e isenção dos FIM na tributação dos participantes e FIM na tributação dos FIM e isenção dos participantes
Diagnóstico internacional (cont.) Tributação dos participantes e isenção dos FIM subdivide-se nos regimes de: transparência fiscal => tributação do participante em função da natureza do rendimento auferido pelo FIM (p.e. mais valias vs. outros rendimentos) imposto único => tributação do participante com uma taxa única, independentemente da natureza do rendimento
Diagnóstico internacional (cont.) Tributação dos participantes e FIM subdivide-se: taxa residual no FIM e com maior incidência no participante taxa única no FIM e sobre algumas categorias de participantes taxa em função dos rendimentos do FIM e sobre algumas categorias de participantes (Portugal)
Diagnóstico internacional (cont.) Tributação Vantagens Desvantagens do FIM dos FIM e participantes Antecipação da receita fiscal Controlo da evasão fiscal Neutralidade fiscal Discriminação fiscal dos participantes Controlo da evasão fiscal FIM pouco competitivo em comparação com produtos alternativos mesmo risco menor rendibilidade Complexidade dos participantes Maior simplicidade Neutralidade fiscal Imposto devido quando o rendimento é auferido Controlo da evasão fiscal SGFIM retém no pagamento resgate Cobrança da receita fiscal em função do pagamento dos rendimentos resgates
Fiscalidade em Portugal Na amostra de 17 regimes fiscais estudados dos quais 12 são UE e 5 não-ue, Portugal é o único a optar pelo regime da taxa em função da natureza dos rendimentos do FIM e sobre uma categoria de participantes
Fiscalidade em Portugal (cont.) Regime fiscal português Tributação do FIM: Mais valias: 10% sobre o saldo positivo anual de mais valias < 12 meses Outros rendimentos: Fonte doméstica: retenção na fonte ou tributação autónoma (25%) Fonte estrangeira: tributação autónoma (20%-25%)
Fiscalidade em Portugal (cont.) Regime fiscal português Tributação dos participantes: Pessoas singulares (fora de actividade comercial, industrial ou agrícola): isentos Pessoas colectivas: englobamento obrigatório e imposto retido tem natureza de imposto por conta Não residentes: isentos
Fiscalidade Conclusão A CMVM tem como objectivo apresentar uma solução que permita: Aumentar a competitividade da indústria nacional de fundos de investimento, através de produtos mais atractivos e apelativos para investidores nacionais e estrangeiros Neutralidade fiscal para os investidores Sistema fiscal com referência internacional Manutenção do controlo da evasão fiscal e de níveis equivalentes de receita fiscal para o Estado Português
IV - Conclusões Maior Protecção dos investidores Indústria de Gestão de Activos mais competitiva