Pressões antropogénicas e impactos na zona costeira: implicações no bom estado ambiental

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Transcrição:

Riscos em Zonas Costeiras, Lisboa, 21 de Março 2013 Pressões antropogénicas e impactos na zona costeira: implicações no bom estado ambiental Patrícia Pereira, Joana Raimundo, Carlos Vale, Juan Santos-Echeandía, Miguel Caetano Instituto Português do Mar e da Atmosfera, Portugal

Contextualização Portugal tem vindo a aplicar a Directiva Quadro da Estratégia Marinha (DQEM), que tem como objectivo a obtenção e manutenção do bom estado ambiental das águas marinhas até 2020. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera tem estado envolvido na implementação da DQEM através da compilação e interpretação de dados ambientais obtidos nos últimos anos. A DQEM contempla vários descritores com vista à avaliação do bom estado ambiental das águas marinhas (e.g. concentrações de contaminantes no meio marinho e efeitos nos organismos)

Contextualização Minho Lima As descargas de contaminantes, localizadas ou difusas nas bacias de drenagem, podem: Douro Ria Aveiro 1. Provocar alterações nos teores dos contaminantes na zona costeira? Mondego 2. Afectar os organismos/recursos? Tejo 3. São um Risco para o funcionamento dos Ecossistemas Costeiros? Cabo Sines Sado Cabo S.Vicente Ria Formosa Guadiana

Dificuldade na distinção dos efeitos das pressões e processos naturais na zona costeira Porquê?. Porque Pressões e Processos naturais podem causar alterações nos parâmetros ambientais.. Porque as alterações ocorrem em pequena escala espacial.. Porque as alterações ocorrem em escalas temporais variáveis (marés, caudais fluviais, circulação litoral). Descarga dos rios Afloramento costeiro

Condições das observações: 1. Afloramento costeiro, Precipitação média. 46 locais (Minho Guadiana). 1-3 km da linha de costa. Março 2010 Metais na coluna de água Descarga dos rios Fracção dissolvida e Partículas em suspensão Afloramento costeiro J. Santos-Echeandía et al. (2012). Marine Environmental Research

Variação espacial dos teores de Hg e Pb na água (fracção dissolvida) Mercúrio -Hg Chumbo Pb Hg (pm) 0-8 8-16 16-24 24-48 48-148 Pb (nm) 0-0.03 0.03-0.06 0.06-0.09 0.09-0.12 0.12-0.2 Teores de Mercúrio e Chumbo tendem a reflectir as fontes antropogénicas localizadas, designadamente a influência do estuário do Tejo J. Santos-Echeandía et al. (2012). Marine Environmental Research

Variação espacial dos teores de Cd e Cu na água (partículas em suspensão) Cádmio - Cd Cobre - Cu Cd (nmol ḡ 1 ) 0-0.5 0.5-1 1-1.5 1.5-2 2-16 Cu (nmol ḡ 1 ) 0-100 100-200 200-300 300-400 400-1000 Teores mais elevados de Cádmio e Cobre na costa Sudoeste-Sul J. Santos-Echeandía et al. (2012). Marine Environmental Research Aumentos associados às características geológicas e fontes

Condições das observações: 2. Descarga fluvial muito elevada. 11 locais (Minho Guadiana). 1-2 milhas da embocadura dos estuários. Fevereiro 2000 Metais na coluna de água Descarga dos rios Fracção dissolvida Afloramento costeiro

Condições das observações: 2 1.5 1 0.5 0 Cádmio na água 2. Descarga fluvial muito elevada 19 7.8 Minho Lima Cd (nm) Teores mais elevados de Cádmio em Fevereiro. 2.2 Douro Ria Aveiro Fevereiro Mondego Níveis mais elevados na zona costeira adjacente ao Minho, Lima e Douro. Julho Tagus Os rios foram o veículo de Cádmio para a zona costeira (e de outros contaminantes) Cape Sines Sado Cape S.Vicente Ria Formosa Guadiana 0 0.5 1 Caetano et al. (2003) Acta Oecologica 1.5 2

Condições das observações: 3. Amostragem mensal durante 1 ano O aumento da disponibilidade de contaminantes, associados a cheias, tem impacto nos organismos? tddt (ng g -1 ) Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) 7 6 5 4 3 2 1 0 Partículas em suspensão D J F M A M J J A S O N D Months DDT modelo de contaminante histórico tddt (ng g -1, lipids) 2,5 2 1,5 1 0,5 Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) Ostra 0 D J F M A M J J A S O N D Months

Pode ser eficaz a redução das pressões antropogénicas?. 2 locais. Estuário do Tejo e zona costeira adjacente. 1 década de observação (1999-2010) Lisboa Estuário do Tejo Metais na coluna de água Organismos Fracção dissolvida Bioacumulação em peixes Raimundo et al. (2011). Marine Pollution Bulletin

Os níveis ambientais reflectiram a redução das pressões 5 4 Chumbo (nm) 0.8 0.7 Cádmio (nm) 3 0.6 0.5 2 0.4 0.3 1 0.2 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0.1 0.0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Decréscimo de Cádmio a partir de 2004 Decréscimo gradual de Chumbo entre 1999 e 2007 (uso de gasolina sem Chumbo) Raimundo et al. (2011). Marine Pollution Bulletin

Os níveis nos organismos reflectiram a redução das pressões 0.10 0.08 0.06 1999 1.8 Cádmio (µg g -1 ) Chumbo (µg g -1 ) 1.5 1.2 0.9 0.04 0.6 1999 0.02 0.00 2010 T. trachurus S. canicula H. dactylopterus M. poutassou T. luscus M. merluccius L. cavillone 0.3 0.0 2010 T. trachurus S. canicula H. dactylopterus M. poutassou T. luscus M. merluccius L. cavillone Redução dos teores de Cd e Pb em várias espécies piscícolas numa década Dados apontam para eficácia das medidas de mitigação das pressões Raimundo et al. (2011). Marine Pollution Bulletin