Análise de Convergência da Renda em Santa Catarina entre 2001 e 2012: PIB per capita, Espacialidade, Renda Pessoal e Demografia

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Análise de Convergência da Renda em Santa Catarina entre 2001 e 2012: PIB per capita, Espacialidade, Renda Pessoal e Demografia Convergence Analysis of Income in Santa Catarina Between 2001 na 2012: GDP per capita, spatiality, personal income and demographics Krisley Mendes 1 Fábio Nobuo Nishimura 2 Márcio de Castro Rodrigues 3 Resumo: Este trabalho analisa a convergência absoluta e condicional da renda em Santa Catarina. Primeiramente, com base no PIB per capita, analisando a dependência espacial entre os 293 municípios do estado. Posteriormente, com base em microdados da PNAD, analisando a dinâmica da desigualdade entre gerações. O modelo teórico provém de Solow (1956) e Jones (1997) e os instrumentos derivam das ferramentas da econometria espacial e da análise de dados em painel, utilizando as correções para amostras complexas. Os resultados mostram que há convergência de renda entre os municípios de Santa Catarina, podendo levar cerca de 20 anos para que a desigualdade se extinga. A análise espacial não apontou dependência espacial. Entre as gerações também há convergência, sendo fortemente impulsionada por políticas educacionais e de treinamento do trabalhador. Cada ano de estudo adicional acrescenta 20% no diferencial de renda e cada ano de experiência 7%. Palavras-chave: Convergência, Santa Catarina, PNAD Abstract: This paper analyzes the absolute and conditional convergence of income in Santa Catarina. First, based on per capita GDP, analyzing spatial dependence among the 293 municipalities in the state. Subsequently, based on PNAD, analyzing the dynamics of inequality across generations. The theoretical model comes from Solow and Jones (1997) and instruments derived from the tools of spatial econometrics and the analysis of panel data, using corrections for complex samples. The results show that there is income convergence between the municipalities of Santa Catarina, but no spatial dependence. There are also intergenerational convergence being strongly driven by educational and worker training policies. Each additional year of study adds 20% and income differential in each year of experience 7%. Keywords: convergence, Santa Catarina, PNAD JEL:R00 1. INTRODUÇÃO A análise de convergência permite verificar se uma dada variável, como a renda, apresentando diferentes valores para as diferentes regiões ou 1 Economista. Doutoranda em Economia Aplicada pela UFPE. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Rondonópolis. krisley.mendes@uol.com.br 2 Economista. Doutorando em Economia Aplicada pela UFPE. Professor da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Rondonópolis. f_nobuo@yahoo.com.br 3 Administrador. Especialista em gestão empresarial. Assessor Empresarial na Diretoria de Reestruturação de Ativos Operacionais do Banco do Brasil. marciocr@bb.com.br Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 45

grupos, teria com o tempo uma diminuição nessa diferença, indicando que a desigualdade diminui. Portanto, permite analisar a dinâmica da desigualdade entre diferentes grupos ou regiões (LOPES, 2004). Se há convergência, significa que a própria dinâmica econômica conduz à igualdade, prescindindo de políticas públicas voltadas para correções de desigualdade. Se não há convergência, seria necessário o estabelecimento de políticas adequadas à diminuição de desigualdade. Isso é bastante perigoso, pois a convergência pode ser verificada em níveis agregados, mas não entre grupos de pessoas, por idade, sexo ou cor. Além disso, a velocidade da convergência pode ser baixa, exigindo muitas décadas para que a desigualdade diminua. Assim, é importante que a análise de convergência seja feita em diferentes níveis de agregação e verificada sua velocidade para a definição de estabelecer ou não políticas sociais (MENEZES, SILVEIRA, AZZONI, 2006). Esse assunto tem atraído a atenção de pesquisadores. Solow (1956) foi um dos precursores, fornecendo a base teórica para os estudos empíricos que lhe sucederam. Baumol (1986) estudou a convergência da renda de 16 economias industrializadas entre 1870 e 1879. Romer (1986) e Lucas (1988) apresentaram, nos anos 80, modelos de crescimento endógeno, acrescentando o capital humano (escolaridade e habilidades). Jones (1997) apresenta alternativas para estudos empíricos considerando as diferenças na velocidade de convergência. No Brasil, Menezes, Silveira e Azzoni (2006) investigam se a dinâmica das disparidades regionais pode ser influenciada por diferenças demográficas, abrindo alternativas para o estudo da convergência de renda entre grupos demográficos com a utilização de microdados. O problema de pesquisa aqui investigado pergunta se existe convergência de renda absoluta e condicional entre os municípios e entre gerações no estado de Santa Catarina. Analisa, portanto, a convergência de renda entre os municípios de Santa Catarina, com base no PIB (Produto Interno Bruto) per capita entre 2001 e 2010, e entre as gerações, com base na renda pessoal extraída dos microdados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) entre 2002 e 2012. Santa Catarina é o estado brasileiro que apresenta relativa homogeneidade na distribuição da renda e também o menor índice de desigualdade do país, sendo considerado um estado rico comparado aos demais da federação. Está inserido na região Sul do país, a qual também apresenta homogeneidade na dispersão do PIB per capita (RUSSO, SANTOS, PARRÉ, 2012). Isso, no entanto, não traduz as especificidades da desigualdade entre municípios e entre grupos. Assim, a motivação em estudar Santa Catarina está em verificar se essa homogeneidade também ocorre em níveis de agregação menores que o habitualmente considerado. Considerando que o espaço importa nas decisões de firmas e trabalhadores, verificou-se a dependência espacial com os dados do PIB per capita. A disponibilidade de dados do PIB per capita para todos os municípios de Santa Catarina oportuniza analisar a dependência espacial da renda, auxiliando a elaboração de políticas públicas adequadas à dinâmica regional. Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 46 Revista de Estudos Sociais

Além disso, seguindo Menezes, Silveira Neto e Azzoni (2006) e considerando a importância da demografia na análise das desigualdades regionais, verificou-se a dinâmica da convergência de renda entre gerações, estabelecendo 14 coortes de idade, com os microdados da PNAD. A amostra da PNAD é definida por conglomerados e estratos, com probabilidade variável de seleção, o que a define como amostra complexa. Assim, a amostra não é estruturada para produzir resultados para os diferentes níveis geográficos, impossibilitando a análise espacial com essa fonte de dados para municípios, meso ou microrregiões. Nesse estudo os microdados da PNAD são utilizados para a análise da demografia na dinâmica de convergência. O tratamento para amostras complexas foi obtido de Skinner (1989), Silva, et al (2002) e Santos (2010), e se constitui numa das contribuições trazidas por esse trabalho, uma vez que tal tratamento tem sido ausente nos estudos de convergência que se utilizam dos dados da PNAD. Além dessa introdução, o trabalho apresenta os materiais e métodos, no item 2, que descreve a obtenção das variáveis e apresenta os instrumentos econométricos utilizados, os procedimentos estatísticos e a base teórica do modelo. No item 3 são apresentados os resultados e discussão, onde também se compara com resultados de trabalhos empíricos anteriores. Por fim, as considerações finais. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Materiais Para a análise espacial foram obtidos os dados do PIB e a população dos 293 municípios de Santa Catarina entre 2001 e 2010, fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Dividindo-se o PIB pela população obteve-se o PIB per capita por município, que será a variável dependente do modelo. O espaço amostral resultou em 2930 observações. Para a análise demográfica foram extraídos dos microdados da PNAD (IBGE) os dados da renda de todas as fontes das pessoas acima de 10 anos, os anos de estudo e a idade (como proxy de experiência), entre 2002 e 2012, resultando em 98.860 observações. A idade é utilizada como proxy de experiência por Kuznets e Thomas (1957 apud CONNOLY, 2004) e na maioria de estudos empíricos depois dele, pois está associada à variável nãoobservada, ou seja, a experiência. O grupo de pessoas acima de 10 anos deve-se à definição utilizada pelo IBGE para população em idade para trabalhar, ou seja, a População Economicamente Ativa (PEA). Estudo e experiência são variáveis indiretas para a inclusão do capital humano na análise de convergência. Uma importante discussão dessas proxys pode ser encontrada em Nakabashi e Figueiredo (2005). A diferença do intervalo temporal para cada banco de dados (PIB e PNAD) se justifica pelo esforço em buscar o intervalo de 10 anos mais recente disponível. O PIB per capita municipal mais recente disponibilizado Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 47

pelo IBGE até a elaboração desse trabalho era de 2010 e os microdados da PNAD mais recente eram o de 2012. Os dados da PNAD foram tratados considerando a influência da amostra complexa. Essa influência não tem sido considerada na maioria dos estudos de convergência que utilizam os dados da PNAD, o que pode levar a resultados viesados. O tratamento de amostras complexas consiste, em suma, em agrupar unidades primárias de amostragem que apresentam uma única unidade amostral 4, o que ajuda a produzir grandes variâncias. A desconsideração da influência de amostra complexa produz variâncias incorretas, dificultando a inferência dos resultados e a robustez de modelos (SKINNER, 1989; SILVA, et al, 2002; SANTOS, 2010). O tratamento preliminar dos dados seguiu os 8 passos descritos abaixo: 1. Buscou-se primeiramente a extração dos dados de domicílios para a obtenção do desenho de amostragem (probabilidades regionais, estratos e unidades primárias de seleção PSUs); 2. Em seguida foram extraídos os dados pessoais (sexo, idade, cor/raça, anos de estudo, renda principal, renda de todas as fontes, e peso); 3. Após fez-se a junção das informações do desenho da amostra, coletados de domicílios, com o arquivo de pessoas; 4. Em seguida, foi verificado se a junção dos dados ocorreu em todos os casos, excluindo-se os dados faltantes. Esses dados representaram entrevistas não realizadas nos domicílios, seja por recusa, domicílio fechado, entre outras razões; 5. Foi feita a declaração ao software de que se trata de amostra complexa (comando svyset no Stata), o que verifica a existência de estratos com uma única unidade de amostragem na fase 1; 6. Após foi feita a alocação de estratos com um único PSU em estratos com maior numero de observações (comando idonepsu do Stata); 7. Foi realizada a junção dos dados de cada ano num único arquivo, obtendo-se 98.860 observações para 10 anos de coleta; 8. Foram excluídas as observações com declaração de idade e anos de estudos indeterminados. 2.2. Métodos 2.2.1. Base teórica do modelo 4 Ver em Silva, et al, 2002 maior detalhamento da construção da amostra da PNAD, a influência de amostras complexas na robustez de modelos e seu tratamento. Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 48 Revista de Estudos Sociais

O modelo provém de Solow, cujas hipóteses são: 1) existe apenas um bem na economia; 2) a poupança é uma função constante da renda (S = s. Y); 3) a variação do estoque de capital (K ) é dada pelo investimento e a depreciação do capital; 4) a força de trabalho (L) cresce a uma taxa constante (n) igual à da taxa de crescimento da população; 5) função de produção (Y) é homogênea de grau 1 (retornos constantes) e obedece à lei dos rendimentos decrescentes; 6) ambiente em concorrência perfeita. Esse é o modelo de Solow tradicional. Para admitir crescimento é necessária uma hipótese adicional a respeito do progresso tecnológico (A). Como no modelo estamos em concorrência perfeita, admite-se que o progresso tecnológico é exógeno. Com essas hipóteses temos a função de produção: Y = K α. (A. L) 1 α (1) Fazendo-se y = Y/(A. L) e ǩ = K (A. L), tem-se o modelo: y = k α (2) L L = n (3) K K = sy K d (4) A A = g (5) Tomando-se k = K (A. L), aplicando logaritmo e derivando em relação ao tempo temos que: ǩ = s,y (n + g + d) (6) ǩ ǩ Ou seja, a dinâmica de crescimento do capital depende da taxa de poupança, do crescimento populacional, do progresso tecnológico e da taxa de depreciação. No estado estacionário, em equilíbrio, ǩ ǩ = 0, ou seja, o crescimento de capital é constante. Logo o crescimento dependerá da taxa de crescimento populacional, do progresso tecnológico e da depreciação, que serão constantes: Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 49

s,y ǩ = (n + g + d) (7) E a função de produção resulta em: Y = A. ( s n + g + d ) α 1 α (8) Onde o sobrescrito * indica a variável no estado estacionário. O país considerado mais rico é aquele que apresenta o maior produto per capita. Quanto maior a taxa de poupança do país, maior será sua taxa de crescimento. No estado estacionário todos os países crescem a mesma taxa, porém seu produto per capita dependerá das suas condições iniciais. A taxa de crescimento dependerá somente do progresso tecnológico, uma vez que ( s n + g + d ) será constante. Chamando( s n + g + d ) de a, temos: lny = lna + lna (9) dlny dt = dlna dt + dlna dt Como a é constante dlna = 0, então a taxa de crescimento do produto dt no tempo depende do progresso tecnológico A. Para países com mesmas condições iniciais o produto de estado estacionário converge em nível, ou seja, seus produtos serão iguais, o que se define por convergência absoluta. O modelo de Solow prevê a convergência em taxa, que é chamada convergência condicional: países crescerão à mesma taxa, mas seus produtos serão diferentes por suas condições iniciais. Se há dinâmica de convergência condicional cada região precisa de uma política diferente. A velocidade de crescimento de cada país ou região dependerá da distância que cada um estiver de seu estado estacionário. Um país próximo de seu estado estacionário cresce a uma taxa menor que outro que esteja distante do seu estado estacionário (EE). As implicações em termos de política é definir qual variável pode ser afetada por um choque de modo a fazer o país que esteja próximo de seu EE retomar o crescimento, ou postergar sua estacionaridade. Pelo modelo, essa variável seria a poupança, única passível de ser afetada por política pública, como choques em fundo de pensão entre outras. A velocidade com que a economia atinge o estado estacionário é importante do ponto de vista de políticas. É dada por uma proporção da diferença entre o produto corrente e o produto do estado estacionário. Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 50 Revista de Estudos Sociais

dlny dt = β(lny t ln y ) (10) Onde é a velocidade de convergência. Para obtê-la, toma-se o modelo a partir da função de produção e após linearizações e derivações chega-se à equação de convergência 5 : ln y t = (1 + βt ). ln A 0 + (1 + βt ). ln a (1 + βt ). ln y 0 + g t (11) Onde: (1 + βt ). ln A 0 + (1 + βt ). = λ 0 ; erro estocástico. A equação para regressão resulta: (1 + βt ) = λ 1 ; e g t o ln y t = λ 0 + λ 1. ln y 0 + g t (12) Ao se obter λ 1 resolve-se (1 + βt ), conhecendo-se a velocidade de convergência. Se λ 1 é significativo, diz-se que há convergência absoluta. Se não há convergência pode-se incluir mais variáveis explicativas no modelo de forma a obter convergência, porém estará condicionada a essas variáveis adicionais (JONES, 1997; REY, 1999). Logo, algo importante a se responder é se há convergência absoluta ou condicional. O que se acrescenta à condicional são variáveis como estudos e experiência, por exemplo. Se essas variáveis alteram a velocidade de convergência passam a oferecer mais opções de política além da poupança. Assim podemos ter, como sugere Jones: ln y t = (1 + βt ). ln A 0 + (1 + βt ). ln a (1 + βt ). ln y 0 + (1 + βt ). ln Z g t (13) Onde Z é um vetor de variáveis condicionais. Assim, pode-se fazer: ln y t = λ 0 + λ 1. ln y 0 + λ 2 Educ + λ 3 Idade + λ 3 Educ 2 + g t (14) 2.2.2. Procedimento Estatístico Este trabalho irá, portanto, estimar a convergência absoluta: 5 A demonstração pode ser obtida em Barro e Sala-i-Martin (1995) Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 51

ln y t = λ 0 + λ 1. ln y 0 + g t (15) Onde: y t = PIBpercapita; y 0 = PIB per capita inicial do período. Esse modelo será estimado com dados do PIB per capita, testando-se os resultados da estimação em cross-section, por OLS (Mínimos Quadrados Ordinários), e em painel, pelo modelo de efeitos fixos e aleatórios. Serão utilizados os instrumentos da econometria espacial para testar a dependência espacial da renda calculando-se I-Moran, LM Robusto elaborando-se mapas e gráficos que atestem os resultados. A convergência condicional será avaliada estimando-se: ln y t = λ 0 + λ 1. ln y 0 + λ 2 Educ + λ 3 Idade + λ 3 Educ 2 + g t (16) Onde: y t = renda de todas as fontes; y 0 = renda de todas as fontes com defasagens; Educ = anos de estudos; e Idade como proxy de experiência. Essa estimação será realizada com os microdados da PNAD, sendo os dados primeiramente tratados para considerar a influência da amostra complexa. Como a amostra da PNAD não é elaborada para oferecer resultados a diferentes níveis geográficos, não é possível avaliar a dependência espacial dos municípios a partir dessa fonte de dados. Os modelos foram estimados com o auxílio do software STATA 11.1. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Convergência Absoluta em Santa Catarina A Tabela 1 abaixo apresenta os resultados da estimação ln y t = λ 0 + λ 1. ln y 0 + g t, em cross-section (onde a variável explicativa y 0 é o PIB per capita inicial) e em painel (onde a variável explicativa y 0 é o PIB per capita com 1 defasagem). Os resultados apontam para a existência de convergência absoluta entre os municípios de Santa Catarina nos 2 modelos estimados. Tabela 1: Estimativa dos parâmetros de análise de convergência do PIB per capita dos municípios de Santa Catarina 2001 a 2010 Dados em Parâmetros Cross-Section - velocidade - velocidade Painel λ 1-0,313272 0,03758-0,5248022 0,074402 ρ-valor 0,000 0,000 Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 52 Revista de Estudos Sociais

λ 0 2,981472 4,260099 ρ-valor 0,000 0,000 Fonte: Elaborado pelos autores. A significância de 1 indica a existência de convergência absoluta. Significa que há uma tendência dos municípios mais pobres crescerem mais rápido do que os mais ricos, conduzindo à diminuição da desigualdade. A velocidade com que isso ocorre é dada por - velocidade. Como o produto no estado estacionário não é observado, calcula-se o tempo que levaria para percorrer metade do caminho. Assim: 1 = (1 βt 2 1 2 = βt βt = ln 1 2 βt = 0,693 t = 0,693 β ) (17) Com a velocidade obtida em cross-section, ou seja levando em conta as condições iniciais do período, o tempo que levaria para percorrer metade do caminho para o estado estacionário seria cerca de 18 anos, ou cerca de 40 anos no total. Uma importante limitação do cross-section é não assumir as especificidades dos municípios. A capacidade de crescimento de cada um não é igual, isso seria captado por efeitos fixos, possíveis de serem inseridos em dados em painel. Para trabalhar em painel e manter a representatividade dos municípios utilizou-se a diferença de apenas 1 ano do logaritmo do PIB per capita em relação à sua defasagem ao ano imediatamente anterior. Com a velocidade obtida por dados em painel, ou seja, levando em conta as condições do período imediatamente anterior, o tempo para percorrer metade do caminho do estado estacionário seria cerca de 9 anos. Assim, a desigualdade entre municípios catarinenses seria superada em cerca de 20 anos no total. 3.2. Convergência espacial em Santa Catarina O mapa 1 apresenta a diferença do logaritmo do PIB per capita em relação ao produto inicial, que representa a taxa de crescimento do produto per capita. Não se vê claramente a formação de clusters significativos. Salvo na região norte do meio oeste catarinense e uma região de baixo Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 53

desenvolvimento que vai do meio oeste sul em direção a noroeste. Alguns clusters formados por 3 a 4 municípios distribuídos em todo o estado. Figura 1: Mapa de Santa Catariana com a taxa de crescimento do produto per capita dos municípios entre 2001 e 2010 (.4051561,1.122812] (.2519789,.4051561] (.1216316,.2519789] [-.746912,.1216316] Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE e auxílio do software Stata 11.1. O Mapa 2 apresenta o produto inicial dos municípios. A hipótese de convergência ganha força na comparação com o mapa anterior, pois em geral as cores estão invertidas, indicando que municípios de baixo PIB per capita inicial (Mapa 2) apresentam altas taxas de crescimento (Mapa 1). Figura 2: Mapa de Santa Catarina com o Produto Interno Bruto per capita no período inicial dos municípios - 2001 Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 54 Revista de Estudos Sociais

(8.903792,10.63821] (8.619499,8.903792] (8.387422,8.619499] [7.706361,8.387422] Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE e auxílio do software Stata 11.1. Para estabelecer a matriz de vizinhança, foi construído o parâmetro subtraindo longitude maior da menor e a latitude maior da menor, definindo com isso o diâmetro médio das distâncias. Tabela 2: Latitude e Longitude de Santa Catarina Desvio Variáveis Obs. Média Min. Max. Diferença Padrão X_stub_ (Latitude) 293 323.3479 160.8004 28.70695 542.9774 514,2705 y_stub_ - 293-3021.5 80.83533 (Longitude) 3246.503-2893.197 353,3060 Diâmetro médio 623,9385 Fonte: IBGE, 2013. Foi verificada que a maior distância mínima entre vizinhos é de 32,42 e a menor distância máxima é de 275,18. A matriz de vizinhança foi estabelecida definindo-se a banda 40, que está entre os dois intervalos. A definição de vizinho é o maior desafio dessa literatura, pois em suma o estabelecimento da banda ocorre por tentativa e erro, por exemplo: sob banda 10 não foi possível criar a matriz, sob banda 30 duas localizações ficaram sem vizinhos, apenas na banda 40 foi criada a matriz de vizinhança. Uma importante discussão a respeito das medidas de ponderação espacial é feita em TYSZLER. O I-Moran é a estatística que calcula a correlação entre a renda de dada localização com a renda do vizinho, identificando a correlação espacial. Essa estatística varia entre -1 e 1 e fornece uma medida de associação linear entre os vetores Zt e a média ponderada dos valores da vizinhança (WZt). O I- Moran tem um valor esperado de [1/(n-1)], de modo que valores próximos de zero indicam a ausência de um padrão espacial dos dados, ou seja, a ausência de correlação espacial. Para Santa Catarina, com os dados do PIB per capita temos: Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 55

Tabela 3:Correlograma Espacial I-Moran Distancebands I E(I) sd(i) z p-value* (0-5]. -0.003... (0-10] 0.193-0.003 0.134 1.471 0.071 (0-15] 0.064-0.003 0.067 1.009 0.157 (0-20] 0.031-0.003 0.048 0.727 0.234 (0-25] 0.024-0.003 0.038 0.715 0.237 (0-30] 0.041-0.003 0.031 1.427 0.077 (0-35] 0.024-0.003 0.027 1.045 0.148 (0-40] 0.013-0.003 0.023 0.716 0.237 Fonte: Calculado a partir de dados do IBGE com o auxílio do software Stata 11.1 Pela tabela vê-se que a hipótese de correlação espacial só seria aceitável a partir de 7,1% de significância. Isso indica que, considerando ausência de correlação espacial, os parâmetros de convergência calculados acima não são viesados. Para verificar isso graficamente foi elaborado o gráfico do teste de Moran para a taxa de crescimento do PIB per capita (à esquerda) e para o PIB per capita no período inicial (à direita). Wz Figura 3. Gráfico do teste de Moran para a taxa de crescimento do PIB per capita (à esquerda) e para o PIB per capita no período inicial (à direita) 2 1 0 Moran scatterplot (Moran's I = 0.027) dlnpibpc 288 145 272 193 189 54 112 271 55 92 182 163137 266 289 174 77 30 152 133 128 150 264 62 29 293 25 82 179 129 57 66 134 81228 282 253 261 200105 14 24 48 156131 202 206 188 100 44 216 176 15 106 45 21 252 259 8 167 153 135 234 19 4985 63 236 220 39 78 79 199 94 110 34 102 52 41 158 205 98 5853 250 122 101 284 194 218 147 248 210 184 245 120 74 183 239 97 195 8712 263 119 274 59 237 26227 166 240 60 224 292 219 108 197 127 73 91 267 213151 9370 121 99 170109 144 75 279 2512 181 148 33 207 201 42 222 84270 38 67 140 177 154 208 269 287 36268 275 25827 273 28 191 68 9215 178247 217 16 257 37 290 161 88 165238 116 117 229 162 142 20 283 235 23 130 19272 64 125 1 71 22 169164 242 204 141 291 46103 285265 232 61 40 31 226 276256 230 221 96 35 10 255 113 18786 173 43 114 281 149212 175118 65 4 155 143 280 190 111 160 32 132 11 249 107 90 69 115 243 196 244 198 17156 3 83 262260 13 223 214 76 278225 233 5 51 231185 180 211 209 159 254 186 286 172 123 139 80 89 50 241 246 13847 136 157 277 203 146 168 95 18 6 124 126 7 104 Wz 1 0 Moran scatterplot (Moran's I = 0.012) lnpibpc0 26 180 139 124 243 50 244 196 18 95 209 64 56 172 136 47 231 80 249234 92 90 114 13 223 187 157 256 89 181 293 286 140 10 83 142 171 155 255 276 42 67 69 280 233116 254 82 101 22 43 230 208 5 176 37 194 107 59 200 74 115 65 186 20174158 8170 87 11 232 260 122 246 132 40 225 160 204 111 237 52 206 227 72 104 129 103 8148 143 281 123 168 291 164 207 16 288 2 16175 126 226 212 203 241217 68 245 3 113 58 130 133 159 49 292 70 8896 173 287 268 32 27 191 39 162 154 190 239 99 238 146 250 6279 263 210 189 61 17 135 235 262 284 221 31 149 198 220 247 118 35 214 165109 127 283270 273 151 63 66 76 4 86 153 278 197 36 46 269 201 144 75 275167 277 17192 125 264 185117 141 79 258 55 236 73 215 131 78 98 26528 77 94 213 71 2385 193 289 9 229 253 112 205108222 219 257 21 267 128 211 248 195 25282 216 178 84 137 145 252 15 102 27460 183 240 224 5121 120 12 179 33 19 53218 97 41 110 169100 105 24 38 261 44 199 259 290 202 3454 22814 30 93 177 45 91 150 134 62 266 184 48 285 106 156 271 138 57 147 29 166 188 152 182 163 119 251 242 272-1 -4-3 -2-1 0 1 2 3 4 z -1-3 -2-1 0 1 2 3 4 5 z Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE e auxílio do software Stata 11.1. A maior concentração de municípios em torno do eixo zero confirma a ausência de correlação espacial, havendo correlação do tipo Alto-Alto (AA) para cerca de 10 municípios distribuídos no canto superior direito do gráfico à esquerda, outros 9 municípios do tipo Alto-Baixo (AB) concentrados no canto inferior direito, 7 do tipo Baixo-Baixo (BB) e 5 do tipo Baixo-Alto. Considerando que o estado é formado por 293 municípios, esse nível de correlação não justificaria o uso de modelos espaciais para atestar a convergência de renda no estado. Os municípios que apresentaram correlação espacial significativa da taxa de crescimento são apresentados no quadro abaixo por tipo de correlação. O quadro inspira avaliar a convergência da mesorregião do Oeste Catarinense isoladamente. Quadro 1: Municípios e suas mesorregiões que apresentaram correlação espacial significativa por tipo de correlação 6 6 Alto-Alto: municípios de alto desenvolvimento cercados por municípios de alto desenvolvimento; Alto- Baixo: municípios de alto desenvolvimento cercados por municípios de baixo desenvolvimento; Baixo- Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 56 Revista de Estudos Sociais

Alto Alto Alto-Baixo Município Mesorregião Município Mesorregião Águas de Chapecó Oeste Catarinense Calmom Oeste Catarinense Novo Horizonte Oeste Catarinense Lebon Regis Oeste Catarinense Itá Oeste Catarinense Guatambú Oeste Catarinense Palma Sola Oeste Catarinense Águas Frias Oeste Catarinense Oeste Catarinense Dionísio Oeste Catarinense Macieira Arqueiro Bandeirante Oeste Catarinense Araquari Oeste Catarinense Petrolância Vale do Itajaí Itajaí Vale do Itajaí Porto Belo Vale do Itajaí Morro Grande Sul Catarinense Paulo Lopes Grande Florianópolis Garuva Norte Catarinense Imbituba Sul Catarinense Fonte: Elaborada pelo autor. Quadro 1: Municípios e suas mesorregiões que apresentaram correlação espacial significativa por tipo de correlação (continuação). Baixo Baixo Baixo-Alto Município Mesorregião Município Mesorregião Joaçaba Oeste Catarinense Catanduvas Oeste Catarinense Maravilha Oeste Catarinense Tangará Oeste Catarinense Tunápolis Oeste Catarinense Vitor Meirelles Vale do Itajaí Quilombo Oeste Catarinense Lauro Muller Sul Catarinense Presidente Castelo Oeste Catarinense Sul Catarinense Bco Treviso São João do Sul Sul Catarinense Forquilhinha Sul Catarinense Ponte Alta do Norte Serrana Para atestar a ausência de correlação espacial, foi verificada pelo teste de Moran a ausência de autocorrelação dos resíduos da regressão, cujos resultados foram apresentados na Tabela 1. A concentração dos resíduos em torno do eixo zero atesta que a regressão produz parâmetros não visados. Figura 4. Gráfico do teste de Moran dos resíduos da regressão 2 Moran scatterplot (Moran's I = 0.038) Residuals Wz 1 0 145 288 92 189 193 55 54 293 13382 289 129 81 271 77 137 128 264 234 25 266 200 179 62 52 158 206 150 176 30 182 66 131 101 163 8 2921 261 135 27202 250 57 94 39 85 207 140 4252 14105 220 268 127 256 154 240 17 219 116 270 197 16 27 292 142 187 19 273 106 67 208 191 99 34 63 122 87 153 194 228 49 210 282 58 64 253 74 181 59 245 284 24 110 79 108 201 60 224204 83 90 276 238 165 258 161 97 259 243 213 217 156 10 162 222 84 115 221 257 35 91 43 38 149 107 117 281 235 230 231 36 75 41 263 239 12 236 98 2167 134 237 152 205170 227 248 109 120 152 148 22102 144 70100 78 44 255 244 275 267 279 180 151 53 45 28 269 73 247 171 229 113 69 209 23 111 212 160 215 287 223 72 188 283 93 280 192 9 37 48 121 218 88 1 118 226 96 141 86 31 103 291 68 147 196 114 155 130 139 195199 184 249 232 183 125 40 190 132 175 71 33 178 56 260 450 143 225 11 233 6132 119 265 46 1695 172 166 80 214 89 76 278 177 198 254 290 262 3 173286 186 123 251 51 136 159 185 47 157 241 246 211 174 112 146 285 274 164 18 95 6 203 124 168 7 104 242 126-1 277 138-2 -4-3 -2-1 0 1 2 3 4 5 z Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE e auxílio do software Stata 11.1. Baixo: municípios de baixo desenvolvimento cercados por municípios de baixo desenvolvimento; Baixo- Alto: municípios de baixo desenvolvimento cercados por municípios de alto desenvolvimento Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 57

Testes adicionais confirmam a ausência de dependência espacial na regressão realizada por OLS. Além da estatística I-Moran, o Multiplicador de Lagrange e o Multiplicador de Lagrange Robusto não apresentaram significância abaixo de 5%, tanto para o teste de erro espacial, quanto para o teste de lag espacial. Tabela 4: Testes diagnósticos para dependência espacial na regressão por OLS Test Statistic DF p-value Spatialerror: Moran's I 1.658 1 0.097 Lagrangemultiplier 2.217 1 0.137 RobustLagrangemultiplier 1.372 1 0.241 Spatiallag: Lagrangemultiplier 1.275 1 0.259 RobustLagrangemultiplier 0.430 1 0.512 Fonte: calculado a partir de dados do IBGE com o auxílio do software Stata 11.1 2.3. Convergência na Renda Pessoal em Santa Catarina: Análise por Coorte de Idade A análise seguinte avalia a convergência em nível menor de agregação, com base nos microdados da PNAD, utilizando dados da renda pessoal, escolaridade e idade das pessoas maiores de 10 anos. Os dados foram agrupados em 14 coortes de idade para o intervalo entre 87 e 17 anos, cada coorte com amplitude de 5 anos, conforme tabela abaixo: Quadro 2: Coortes de idade das pessoas nascidas entre 1925 e 1995 Amplitude de ano de Amplitude da idade Coortes nascimento coorte=1 >1925 <=1929 87 a 83 anos coorte=2 >=1930 <=1934 82 a 78 anos coorte=3 >=1935 <=1939 77 a 73 anos coorte=4 >=1940 <=1944 72 a 68 anos coorte=5 >=1945 <=1949 67 a 63 anos coorte=6 >=1950 <=1954 62 a 58 anos coorte=7 >=1955 <=1959 57 a 53 anos coorte=8 >=1960 <=1964 52 a 48 anos coorte=9 >=1965 <=1969 47 a 43 anos coorte=10 >=1970 <=1974 42 a 38 anos coorte=11 >=1975 <=1979 37 a 33 anos coorte=12 >=1980 <=1984 32 a 28 anos coorte=13 >=1985 <=1989 27 a 23 anos coorte=14 >=1990 <=1995 22 a 17 anos Fonte: Elaborada pelo autor. Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 58 Revista de Estudos Sociais

Com isso descartou-se 17.725 observações de pessoas com idades fora desse intervalo. Também verificou-se que 22.040 das pessoas remanescentes não declararam renda, excluindo-se essas observações nessa variável. Ao agrupar os dados por coorte anualmente gera-se a média de renda para cada coorte a cada um dos 10 anos coletados. Com isso a regressão trabalha com 140 observações. A variável dependente é criada gerando-se a diferença do logaritmo neperiano da renda de todas as fontes em relação ao período anterior. Essa variável será regredida em relação às variáveis explicativas: renda pessoal de todas as fontes, média dos anos de estudos de cada coorte em cada ano, idade média de cada coorte em cada ano, e o quadrado da idade média, todos com 1 defasagem. Foram estimados 6 modelos, alternando-se a presença de dummies temporal e para coorte. As dummies apresentaram significância apenas nos modelos (2), (6) e (7). Os resultados são apresentados na tabela a seguir: Tabela 5: Resultados das regressões para análise de convergência de renda pessoal por coorte geracional em Santa Catarina entre 2002 e 2012 Parâmetros Convergência Absoluta Convergência Condicional (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) Const 0,82578 1,56849 2,03278 0,69044 0,82840 3,54296 29,06090 1,76435 (0.000) (0.000) (0.000) 0.011 (0.000) (0.000) 0.148 (0.000) - - - - lny1 0,09817 0,18916 0,35367 0,05944-0,22754-0,93803-1,16365-1,04421 (0.004) (0.000) (0.000) 0.218 0.005 (0.000) (0.000) (0.000) Anos de Estudo 0,08843 0,19748 0,34341 0,33513 0.007 (0.000) (0.000) (0.000) Idade -0,00063 0,06839-0,23044 0,13281 0.940 (0.000) 0.341 (0.000) Idade^2 0,00008-0,00048-0,00042-0,00014 0.285 (0.000) 0.029 0.465 Dummy temporal Não sim sim não não sim sim não Dummy para coortes Não não sim sim não não sim sim β- Velocidade -0,0103-0,021-0,0436 - -0,02582-0,2781 - - R2 0.0648 0.2439 0.3162 0.1134 0.1493 0.4990 0.6072 0.4748 N. Obs 126 126 126 126 126 126 126 126 Fonte: estimativas dos autores a partir de dados da PNAD (IBGE). *os valores entre parênteses são os ρ-valor dos parâmetros. As dummies apresentaram significância apenas nos modelos (2), (6) e (7). No modelo (7) a constante não apresentou significância estatística, o que não faria sentido econômico, uma vez que no modelo de Solow ela representa a taxa de variação constante do produto formada pelo crescimento populacional, progresso tecnológico e depreciação do capital. Assim, são consistentes os modelos (2) e (6). O modelo (4), único a apontar ausência de convergência, também não apresentou significância para nenhuma das Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 59

dummies para coortes, no entanto o modelo (1) que não tem a dummy apresenta convergência com 0,4% de significância. São, portanto, sobreviventes os modelos (1) e (2) de convergência absoluta e (5) e (6) de convergência condicional. Todos confirmam a convergência de renda entre coortes. Os modelos (2) e (6) apresentam maior poder preditivo pelo valor do R 2, além de controlarem efeitos aleatórios temporais. Pelo modelo (2) observa-se a existência de convergência absoluta da renda no estado entre coortes, mas seria atingida em cerca de 67 anos (βvelocidade de 0,021). No modelo (6), o coeficiente de lnw1 (-0,938) indica haver convergência de renda no estado entre as gerações, com β-velocidade para 10 anos de 0,278104. Com essa velocidade de convergência, o estado estacionário entre gerações seria atingido em cerca de 5 anos. A convergência aqui é impulsionada pela educação e pela experiência. O coeficiente da variável anos de estudo (educ1) indica que para cada 1 ano de estudo adicional há um ganho de cerca de 20% no diferencial de renda entre um período e outro. O parâmetro estimado da média de idade (id1 = 0,068) indica que cada ano adicional de experiência oferece um ganho médio de cerca e 7% no diferencial de renda. Isso indica que políticas voltadas para a manutenção das pessoas na escola e o treinamento ao trabalho aceleram a velocidade de convergência, diminuindo em 62 anos o tempo de redução da desigualdade pelo mercado. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho apresentou análise de convergência de renda no estado de Santa Catarina no período de 2001 a 2012. Primeiramente, utilizando dados agregados do PIB per capita dos municípios, depois utilizando microdados da PNAD. Os resultados atestam a equivalência de se trabalhar com microdados no lugar de dados agregados para a análise de convergência, o que possibilita pormenorizar a análise com coortes demográficos, como já demonstrado por Menezes, Silveira Neto e Azzoni (2006). O inconveniente seria a impossibilidade de trabalhar a análise espacial em níveis geográficos menores que o nacional, já que a PNAD não produz resultados para municípios, meso ou microrregiões. Os resultados apontam para a existência de convergência absoluta do PIB per capita municipal no estado, podendo levar cerca de 20 anos para que a desigualdade se extinga entre os municípios. A análise espacial constatou que não há dependência espacial na regressão realizada por OLS e que, portanto, os parâmetros de convergência estimados são não viesados. No entanto, entre os 32 municípios que apresentaram significância estatística na dependência espacial, 60% são da mesorregião oeste catarinense, o que inspira uma análise pormenorizada dessa região a trabalhos futuros. A análise com microdados da PNAD, utilizando a renda pessoal como variável, também apresentou convergência absoluta, mas o estado Ano 2014, N. 32 Vol 16, Pag. 60 Revista de Estudos Sociais

estacionário seria atingido em 67 anos. A convergência condicional é avaliada acrescentando-se os variáveis anos de estudo e idade, como proxy de experiência. A convergência se mantém, com velocidade maior, sendo necessários 5 anos para a extinção da desigualdade. Cada ano adicional de estudo acrescenta cerca de 20% no ganho de renda e cada ano a mais de experiência acelera o ganho de renda em 7%. A convergência é então fortemente impulsionada por políticas educacionais e de treinamento do trabalhador. 5. REFERÊNCIAS BARRETO, R. C. S. & ALMEIDA, E. S. & LIMA, J. E. (2010) Convergência espacial do PIB.per capita no estado do Ceará. Revista de Economia, v. 36, n. 3 (ano 34), p. 25-40, set./dez 2010. Editora UFPR BARRO, R.J., AND X. SALA-I-MARTIN (1995). Economic Growth. McGreaw- Hill, New York.. BAUMOL, W. J.(1986) Productivity growth, convergence, and welfare: What the long-run data show. American Economic Review, v. 76, n. 5, p. 1072 85, December. CONNOLLY, M. P. 2004. Human Capital and Growth in the Post-Bellum South: A Separate but Unequal Story. Journal of Economic History, 64(2): 1-39. JONES, C. (1997), On the Evolution of the World Income Distribution, Journal of Economic Perspectives 11, 19-36. LOPES, J. L. Avaliação do processo de convergência da produtividade da terra na agricultura brasileira no período de 1960 a 2001. Tese de Doutorado, ESALQ/USP, 2004. (mimeo). LUCAS, R. E. (1988). On the mechanics of Economic development. Journal of Monetary Economics. v.22, n. 1, p. 3-42. MENEZES, T. A.; SILVEIRA NETO, R. da M.; AZZONI, C. R. (2006) Demografia, ciclo de vida e dinâmica da desigualdade regional de renda no Brasil. Anais: XXXIV Encontro Nacional de Economia. Disponível em: http://www.anpec.org.br/encontro2006/artigos/a06a028.pdf NAKABASHI, L. FIGUEIREDO, L. Capital Humano: Uma Nova Proxy Para Incluir Aspectos Qualitativos. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2005. 36p. (Texto para discussão ; 270). PEROBELLI, F. S.; FARIA, W. R.; FERREIRA, P. G. C.. Análise de Convergência Espacial do PIB Per Capita em Minas Gerais: 1975-2003. Fórum: Banco do Nordeste. Disponível em: http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/eventos/forumbnb2006/docs/analise_ de_convergencia.pdf REY, S & MONTOURI, B. (1999). US Regional Income Convergence: a spatial econometric perspective, Regional Studies, n 33, p. 146-156 ROMER, P.M. (1986) Increasing returns and long run growth. Journal of Political Economy, v.94, n.5. Revista de Estudos Sociais Ano 2014, N. 32, V. 16, Pag. 61

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