ANÁLISE TEMPORAL DOS PARTOS CESÁREOS NO MUNICÍPIO DE BEZERROS-PE ENTRE 1994 E 2014: IMPACTOS NA SAÚDE PÚBLICA

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Transcrição:

ANÁLISE TEMPORAL DOS PARTOS CESÁREOS NO MUNICÍPIO DE BEZERROS-PE ENTRE 1994 E 2014: IMPACTOS NA SAÚDE PÚBLICA Autor: Dirley Ramos Cavalcante (1); Co-autor: Rogerio Bruno de Oliveira Silva (2); Orientador: Marcos Jonathan Lino dos Santos (3) INTRODUÇÃO (1) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) E-mail: dirley95@gmail.com (2) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) E-mail: rogeriobruno17@gmail.com (3) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) E-mail: marcos_jonathan_@hotmail.com Segundo a Organização Mundial de Saúde (2015), a nível populacional, estima-se que de 10% a 15% dos partos realizados devem ser cesáreas. No entanto, essas informações não condizem com a realidade do Brasil, onde os índices de cesáreas são bastante proeminentes, e de certa forma traz um impacto negativo para a saúde pública do país. Verificamos que a alta taxa de cesárea vem preocupando o setor saúde, devido à série de problemas que essa intervenção cirúrgica pode causar, sejam eles para a saúde materna e infantil ou até mesmo quando refere-se aos recursos e insumos utilizados para realizar os procedimentos que possuem custos elevados. (OMS, 2015). Por meio do que foi citado anteriormente, é importante salientar os diversos fatores socioculturais que colaboram para que o índice esteja em ascendência, tais fatores partem tanto da mulher quanto do profissional que realiza o parto. A mulher na maioria das vezes opta pela cesárea por medo da dor que o parto vaginal pode causar, outra causa importante que leva a mulher a escolher a intervenção cirúrgica é a preservação anatômica e fisiológica. (CAMARA et al., 2010). De acordo com Faúndes (1991), outro ponto que influencia diretamente para o aumento da taxa de cesáreas, é a escolha do profissional para o tipo de parto, de modo que a intervenção torne-se propício a ele, revertendo aquele momento que deveria ser realizado em um período mais prolongado, no caso de partos normais, em uma ou duas horas na cesárea. Desse modo possibilita que ele marque o dia exato para realização do parto, permitindo que fique ainda mais conveniente para o profissional. No tocante aos agravos que podem ocorrer proporcionados pela cesárea: para o recémnascido têm-se os riscos de prematuridade por meio de erro do cálculo de tempo gestacional e problemas respiratórios, para a mãe, o aumento da mortalidade e morbidade materna causadas por este tipo de parto. Outro ponto que sofre impacto negativo com a elevada taxa de cesárea é o aspecto econômico, decorrente do investimento

indiscriminado nas intervenções cirúrgicas (FLAÚNDES E CECATTI, 1991). É baseado em estudos que faz-se necessária a análise deste problema que é recorrente praticamente em todo território nacional. Sendo mais ousado, ainda podemos levantar hipóteses de que a alta taxa de incidência é um fato no mundo inteiro, pesquisas realizadas pela OMS demonstram esta realidade (OMS, 2015). Portando, o objetivo deste trabalho foi de realizar uma análise temporal das taxas de partos cesáreos no município de Bezerros-PE, no período de 1994 a 2014. Para isto, utilizaram-se os dados disponíveis no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, ecológico de análise temporal. Os dados secundários foram coletados do Sistema de Informação Sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde (MS), o período de análise se deu entre 1994 a 2014, no município de Bezerros, Pernambuco. O estudo focou em averiguar os partos cesáreos que ocorreram no município em um recorte temporal de 20 anos. Obteve-se o percentual de cada ano referente aos partos cesáreos sobre o total de partos, salientando que só foram considerados os partos vaginais e cesáreos, desta maneira desconsiderou-se os partos ignorados e fórceps. As medidas estatísticas trabalhadas foram de frequência absoluta e frequência relativa. Todos os dados foram processados no TABNET e no Excel, sendo apresentados em forma de gráfico e tabela. O estudo tem limitações nas informações, pois o sistema pode possuir uma visão unilateral da informação por parte dos responsáveis pela análise estruturada de sistemas. O estudo está sendo trabalhado a partir da Resolução do Conselho Nacional de Saúde, Nº 466, 12 de dezembro de 2012. Dados secundários não trazem informações pessoais e que garantem a confidencialidade, sendo dispensada a utilização do comitê de ética. RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 1 evidenciou os números de partos de acordo com cada tipo, e expressou à variação percentual anual do período estudado. Dando ênfase ao ano de 2008, quando as cesáreas ultrapassaram o quantitativo de partos vaginais. As proporções dos partos cesáreos juntamente com os partos vaginais apresentaram variações extremamente discrepantes no período de análise, os cesáreos variaram de 21,78 % a 63,25 %, já os partos normais, representaram variação 36,75 % a 78,22 %, no

entanto, observa-se que as intervenções cirúrgicas demonstraram progressividade entre 1994 a 2014, os partos vaginais expressaram o inverso, ou seja, a redução de partos no decorrer o tempo citado. Todavia a pesquisa foca primordialmente na incidência de partos cesáreos (figura 1), demostrando o sucessivo percentual de cada ano. Como citado anteriormente, 1994 com 21,78 % que representa 247 partos e 2014 com a maior representatividade 63,25 %, que representa 482 cesáreas naquele ano. Tabela 1: Tipos de partos no município segundo o ano de nascimento. Bezerros-PE, 1994 a 2014. Tipo de Parto Ano do Nascimento Vaginal Cesário Total N % N % N 1994 887 78,22 247 21,78 1134 1995 859 70,64 344 28,29 1216 1996 860 73,44 311 26,56 1171 1997 753 71,37 302 28,63 1055 1998 768 70,59 320 29,41 1088 1999 829 71,47 331 28,53 1160 2000 711 66,45 359 33,55 1070 2001 651 62,96 383 37,04 1034 2002 690 70,62 287 29,38 977 2003 677 62,98 398 37,02 1075 2004 565 60,88 363 39,12 928 2005 559 58,84 391 41,16 950 2006 497 57,39 369 42,61 866 2007 437 52,91 389 47,09 826 2008 384 47,12 431 52,88 815 2009 392 50,06 391 49,94 783 2010 336 43,02 445 56,98 781 2011 331 38,94 519 61,06 850 2012 277 37,84 455 62,16 732 2013 298 39,21 462 60,79 760 2014 280 36,75 482 63,25 762 Total 12041-7979 - 20033 Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos SINASC

Figura 1: Percentual de partos cesárea segundo ano de nascimento. Bezerros-PE, 1994-2014. Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos SINASC A proporção de partos cesáreos para Bezerros no ano de 2014 foi aproximadamente o triplo se comparado a 1994. O mais alarmante evidencia-se quando defrontamos com a taxa de cesarianas estabelecida pela Organização Mundial de Saúde, de 15 %, o valor chega a ser quatro vezes maior. Entretanto, observa-se que desde 1994 a taxa representava superioridade (21,78 %) e durante os 20 anos da análise permaneceu eminente. Desse modo, é necessário salientar a série de fatores negativos para a saúde pública, tanto do município quanto do sistema de saúde. Segundo a OMS, a cesárea pode causar sequelas ou morte, especialmente em locais sem estrutura adequada para realizar a cirurgia de forma segura e de tratar possíveis complicações no pós-operatório. Logo, observa-se o alto risco devido à elevada taxa de cesárea que as mulheres estiveram expostas no período de análise (OMS, 2015). Outro fator crucial que é afetado pela alta incidência de partos cesáreos, é o econômico. Flaúndes, em um de seus estudos aborda um dos impactos que afeta o custo da assistência à saúde: O custo mais fácil de se identificar é aquele resultante da cirurgia comparado ao do parto vaginal assistido, somado a uma estadia mais prolongada e ao maior uso de medicamentos e outros materiais de consumo. No Hospital da Unicamp, a estimativa da diferença de custo entre os dois tipos de parto foi de cerca de 50% maior para a cesárea (FLAÚNDES, CECATTI, 1991). Nota-se que o município esteve diante de gastos desnecessários e que acarretaram em prejuízos para os cofres públicos. Concluindo que a utilização indiscriminada da cirurgia aumenta os gastos públicos.

É importante ressaltar que no ano 2000 o Ministério da Saúde regulamentou o Programa de Humanização do Parto e Pré-Natal (PHPN). Várias iniciativas foram implantadas para melhorar a atenção, porém, fica bem claro que o programa não alcançou seus objetivos ou não foi aplicado ao município, levando em consideração que o programa foi introduzido em locais com alta incidência de cesáreas. CONCLUSÃO Conclui-se que em Bezerros, no período de análise estudado, esteve presente uma alta taxa de incidência de cesarianas, que consequentemente na presença de condicionantes citados na pesquisa tende a permanecer proeminente nos dias atuais. Diante do exposto, torna-se evidente os diversos problemas que a alta incidência de partos cesárea pode acarretar para a saúde pública, seja do município ou a nível nacional. O quanto à taxa elevada influencia no processo saúde-doença da mulher e do recém-nascido. Porém, segundo a OMS (2015), ainda não estão claros quais são os efeitos das taxas de cesáreas sobre outros desfechos além da mortalidade, tais como morbidade materna e desfechos pediátricos. São necessários mais estudos para entender quais são os efeitos imediatos e a longo prazo da cesárea sobre a saúde. Para minimizar este problema recorrente no Sistema Pública de Saúde, precisa-se realocar recursos, investir nas estruturas físicas para realização dos procedimentos, disseminar informações sobre o assunto e qualificar profissionais a partir de intervenções governamentais. Dessa forma, garantir uma assistência de qualidade a usuária, desde o prénatal ao período puerperal. Por fim, utilizar o método ideal para realização do parto e não o que convém para o profissional, respeitando a escolha do individuo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos. DataSUS. Disponível em: <www2.datasus.gov.br/datasus/index.php?area=060702>. Acessado em: 04 de abril de 2017. CAMARA, M.F.B.; MEDEIROS, M.; BARBOSA, M.A. Fatores socioculturais que influenciam a alta incidência de cesáreas e os vazios da assistência de enfermagem. Rev. Eletr. Enf. [Internet] 2000; 2(1). Disponível: <http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_1 em /Cesarea.html>. Acesso em: 01 de abril de 2017.

FLAÚNDES, A.; CECATTI, G.J. A Operação Cesárea no Brasil. Incidência, Tendências, Causas, Consequências e Propostas de Ação. Cad. Saúde Pública vol.7 no.2 Rio de Janeiro, 1991. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/s0102-311x1991000200003>. Acessado em: 01 de abril de 2017. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Declaração da OMS Sobre Taxas de Cesáreas. OMS, 2015. Disponível em: < http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/161442/3/who_rhr_15.02_por.pdf?ua=1&ua=1>. Acessado em: 31 de março de 2017.