OS TRAÇOS DA IDENTIDADE CULTURAL POLONESA NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA ESCOLA CASEMIRO STACHURSCKI

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Transcrição:

OS TRAÇOS DA IDENTIDADE CULTURAL POLONESA NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA ESCOLA CASEMIRO STACHURSCKI SCHILLING; I. C. (UNESC- Criciúma/SC) OBJETO DE INVESTIGAÇÃO Nossa intenção, com este trabalho foi estudar a etnia polonesa conforme se estabeleceu e construiu no município de Criciúma, bem como analisar os processos de construção e manutenção identitária (seja pelo uso da linguagem, seja pela preservação dos costumes, seja pela criação de práticas institucionais, como a escola, por exemplo) em contraponto com os movimentos históricos nacionais. Discutimos também, qual o papel da escola no complexo movimento de imposição e resistência a certas identidades culturais. Nesta pesquisa, tomamos como questões norteadoras a busca pelos traços culturais evidenciados no discurso e nas práticas educacionais da escola Casemiro Stachurscki. Interessou-nos saber quais as características mais relevantes da cultura polonesa e como elas se manifestaram na história da comunidade e da escola. Para tanto, buscamos descobrir que expedientes foram utilizados para a construção identitária da etnia polonesa no bairro Linha Batista, bem como o papel que a educação exerceu nesse processo. Como se deu, no passado da escola, o estabelecimento da identidade étnica polonesa? Que reflexo teve, na escola, a política de nacionalização inaugurada pelo governo de Getúlio Vargas? Por questões de ordem metodológica e prática, resolvemos focar este estudo na análise dos traços da cultura polonesa na história da educação em Criciúma no período de 1890 a 1945. Dessa maneira, pudemos verificar as atividades educativas desenvolvidas pela escola Casemiro Stachurscki diante da campanha de nacionalização do ensino, bem como identificar os elementos da cultura polonesa presentes no universo educacional da colônia de Linha Batista, no município de Criciúma (SC). Além disso, procuramos fazer uma leitura das mudanças ocorridas na linguagem com relação ao processo de interdição da língua polonesa

no Estado Novo de Vargas, contribuindo, dessa forma, para a produção de conhecimentos na área da identidade cultural aplicada ao estudo da cultura polonesa. METODOLOGIA Adotamos a pesquisa básica, com vistas ao levantamento de dados no campo de natureza descritiva explicativa e analítica, com uma abordagem qualitativa. Investigamos documentos e registros escolares que estão sob a salva-guarda da Escola Casemiro Stachurscki, bem como fizemos de entrevistas com pessoas da comunidade, para ouvir seus relatos e depoimentos sobre a educação naquela localidade, focando nosso interesse sempre nas questões relacionadas com a identidade cultural. Utilizamos também material bibliográfico sobre a história da imigração polonesa no Brasil e no sul de Santa Catarina. Esta pesquisa recorreu também às entrevistas realizadas pelo Grupo de Pesquisa História e Memória: o processo de Educação em Santa Catarina (GRUPEHME/SC). Embora a comunidade polonesa em Criciúma tenha-se divido em três localidades, nossa pesquisa se concentrará na comunidade do bairro Linha Batista, que é o ponto original de chegada e onde foi fundada a Escola. Os instrumentos para o levantamento das informações foram: o roteiro de entrevista, os documentos escolares, como: o livro Termo de Visita, livro de matrícula, e a aplicação de questionário semi-estruturado, cuja técnica foi a entrevista. Para a coleta das entrevistas, utilizamos como critério a escolha de descendentes poloneses na faixa etária entre 70 e 90 anos, que puderam, por meio de suas memórias, nos ajudar a entender a construção e reconstrução sociocultural e histórica da colonização polonesa no período de 1890 a 1945. RESULTADOS E CONCLUSÕES Estudar a etnia polonesa nos possibilitou conhecer e descobrir a identidade cultural de um povo, bem como a nossa própria na medida em que o olhar do outro nos constrói. Esse adentrar no universo cultural de uma etnia nos revelou a valiosa herança deixada pelos antepassados e nos aproximou dessa comunidade na tentativa de recontar a história. A contribuição dos estudos culturais foi fundamental para compreendermos como se dá a formação da construção das identidades culturais. Neste aspecto, dialogamos com os

autores para entendermos os desdobramentos da cultura e como a identidade cultural está fortemente relacionada com a linguagem e com a educação. Nas entrevistas realizadas, procuramos conhecer a história desse povo por meio das lembranças e confirmar, pelas narrativas individuais, como uma etnia minoritária manteve por um longo período suas marcas identitárias nas práticas educacionais da escola Casemiro Stachurscki e na comunidade. Durante o desenvolvimento da pesquisa, sentimos a necessidade de investigar como a escola hoje está representada na comunidade e quais as iniciativas dos descendentes poloneses para o resgate e a preservação da sua identidade étnica e cultural. Os resultados obtidos em nossas entrevistas e nas fontes bibliográficas pesquisadas confirmam que os imigrantes poloneses construíram e solidificaram por um longo período, em um país estrangeiro, sua identidade. Ao chegarem em solo brasileiro, atraídos por forças governamentais para receberem terra, comida e trabalho, foram surpreendidos com um espaço totalmente novo a ser construído. Na tentativa de organizarem-se em comunidade, buscaram na educação e na religião os subsídios para a afirmação, em terras brasileiras, da polonidade. A afirmação e a construção da identidade, de acordo com Kathryn Woodward (2005), passam pelos campos simbólicos e sociais.. Percebemos, pelas entrevistas, que os traços culturais da etnia polonesa foram fortalecidos a partir da construção do espaço escolar. Nesse ambiente, as práticas educacionais da escola Casemiro Stachurscki iam além da sala de aula. De acordo com os nossos depoentes, as atividades passavam pelo campo cultural, artístico, religioso e esportivo. Os professores, descendentes poloneses, enviados pelo Consulado, eram profissionais respeitados que fomentavam nos alunos a importância da preservação cultural. Podemos constatar que as características da cultura polonesa eram transmitidas a toda comunidade por meio das festas religiosas, do coral, das danças típicas e da participação no teatro à força de uma identidade étnico-cultural. Como podemos observar, a educação exerceu nesse contexto um papel primordial. Os descendentes poloneses tinham clareza que, por meio da educação, eles poderiam dar continuidade à cultura e proporcionar aos seus filhos condições de conviver com a diversidade cultural e lingüística que os cercava. Por isso, uma das primeiras iniciativas foi a construção de uma escola étnica que, posteriormente, foi ampliada para o ensino da língua portuguesa, que inicialmente era ensinada por professores poloneses. Por apresentar características étnicas, a escola não abria espaço para outros imigrantes, o que era uma das formas de

estabelecer e proteger a identidade étnica polonesa. Essa imagem sólida que os descendentes poloneses foram construindo desde o início de sua chegada sofreu impacto com a política de nacionalização inaugurada pelo governo de Getúlio Vargas. Constatamos que os reflexos dessa medida, de fato, resultaram na extinção da escola étnica e na sua transformação em escola pública. Percebemos, pelas narrativas, as dificuldades que as crianças encontraram quando tiveram de conviver na escola somente com o idioma português. Essa medida também limitou, nos descendentes poloneses, as atividades culturais desenvolvidas pela escola e pela comunidade. Com isso, podemos inferir que a fragmentação estava sendo iniciada. Não era somente uma língua que estava sendo interditada, mas a cultura de um povo. Retomo Karwoski e Gaydeczka (2004) para reforçar que: linguagem e sociedade são tão interrelacionadas que é impossível compreender uma sem a outra (p. 60), portanto os reflexos incidiram na história de uma etnia minoritária em nossa região, porém relevante pela contribuição para a diversidade cultural. Acreditamos que, com este trabalho, contribuímos para a produção de conhecimentos na área da identidade cultural aplicada ao estudo da cultura polonesa, porém também acreditamos que ainda se tem muito a pesquisar diante desse universo cultural. Palavras-chave: Educação, Identidade, Estudos Culturais. REFERÊNCIAS ARNS, Otília, Criciúma 1880-1980: a semente deu bons frutos. Florianópolis: [s.n.], 1985. BARRETO, Maria Theresinha Sobierajski. Poloneses em Santa Catarina a colonização do alto vale do rio Tijucas. Florianópolis: UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, 1983. BERENBLUM, Andréa. A invenção da palavra oficial: identidade, língua nacional e escola em tempos de globalização. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 2005. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985. ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais uma versão latinoamericana. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

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