A Formação do Estado Português e a Influência Islâmica na Região ARQ/URB - TH 2 Profª. Ana Paula de O. Zimmermann
ANTECEDENTES HISTÓRICOS A Península Ibérica é uma região cuja ocupação é antiga e por esse motivo sofrerá a influência de vários povos na formação de sua cultura arquitetônica.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS Apesar das aglomerações muito primitivas, o primeiro surto de urbanização da Península se dará através da romanização (a invasão romana ocorre por volta do ano 218 a.c.).
ANTECEDENTES HISTÓRICOS Ruínas da vila romana em Pisões. Uma das estratégias romanas de domínio cultural era a implantação de edifícios monumentais e construção de infraestruturas como aquedutos e estradas, conferindo unidade ao vasto território ocupado pelo Império. Ruínas de um Templo Romano em Évora.
Antecedentes Históricos Nos primeiros anos pós-queda romana, o norte de Portugal é invadido pelos suevos (povos da região da Alemanha) 411 a 585; sendo que o Sul permanece cristão e romano até a unificação dos visigodos no século VI. Fundam várias cidades Braga, Porto, Lugo, Astorga. Usavam a estratégia de se integrar à população, adaptaram-se à língua latina, ao direito romano e convertem-se ao cristianismo.
Apesar da posição privilegiada, provocaram poucas transformações na sociedade e arquitetura do período. No Século VI há a unificação visigótica (Povos germânicos do Leste Europeu). Azul Suevos ; Ocre Visigodos.
No século VIII, o processo de sucessão do reinado visigótico gerou conflitos. Um grupo de descontentes com a sucessão do reino pediu ajuda militar a um governador muçulmano chamado Tárique. A partir de 711 iniciaram-se movimentações populacionais e militares lideradas pelo líder muçulmano. Estes vieram do norte da África e cruzaram o Mar Mediterrâneo, alcançando, por fim, a Península Ibérica.
Reconquista da Península Ibérica Em reação à dominação árabe na Península Ibérica, um grupo da nobreza visigótica, não aceitando submeter-se ao jugo muçulmano, estabeleceu-se na região das Astúrias. Aí tem origem a primeira monarquia cristã da Espanha, denominada posteriormente de Oviedo e Leão, nome das duas cidades que primeiramente lhe serviram de capital. Entrincheirados em uma região montanhosa e árida, esses visigodos rebelados conseguiram manter resistência armada.
A ocupação árabe dura em torno de 5 séculos. Partindo das Astúrias, a única região que resistiu ao domínio árabe, se desenvolveu um movimento de reconquista da Península e expulsão dos árabes.
Reconquista da Península Ibérica O processo de reconquista durou todo o período da Idade Média e se dividiu em três fases. 1ª - os muçulmanos se estabeleceram na península e eram submetidos ao Califado de Damasco. 2ª - o emirado islâmico tornou-se independente.
Reconquista da Península Ibérica 3ª - Os cristãos intensificaram o processo de reconquista, desestruturaram o emirado e novos reinos cristãos surgiram. Neste momento surgiu na Península Ibérica o Estado de Portugal e os reinos de Castela, Leão, Navarra e Aragão, os quais viriam a se tornar o Estado da Espanha. Após 800 anos de tentativa de reconquista, o processo só foi se completar no início da chamada Idade Moderna quando os reis católicos, Fernando e Isabel, expulsaram definitivamente os muçulmanos e o Estado da Espanha foi unificado, em 1492.
A Formação do Estado Português Em 910 os territórios asturianos foram divididos entre os filhos do então Governante, Afonso III. Garcia ficou com a região de Leão, Fruela governando as Astúrias e Ordonho a Galiza, além de já estar Navarra nas mãos de Sancho Inigo, o conde de Bigorre.
Dessa época até 1002, as disputas internas entre os próprios cristãos favoreceram as investidas islâmicas, o que provocou uma considerável redução nos territórios cristãos. Parte da Lusitânia foi então reconquistada pelos sarracenos, e importantes núcleos da Galiza, de Leão, de Castela e de Navarra foram totalmente destruídos. A tentativa muçulmana de arrasar por completo Navarra, dedicando a esse intento todo o ano de 1002, forçou a união dos reinos cristãos em sua defesa, levando-os novamente ao crescimento, com seguidas vitórias sobre os árabes.
Dois nobres franceses, Raimundo e Henrique de Borgonha receberam como recompensa de Afonso VI, rei de Leão, as mãos de suas filhas em casamento e uma porção de terra cada um. Henrique de Borgonha recebe a mão da princesa D. Teresa e o Condado Portucalense. A Formação do Estado Português
A FORMAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS É este território que dará origem a Portugal. Porém, foi somente o filho de D. Henrique de Borgonha, Afonso Henriques que, no ano de 1139 tornou o território independente do reino de Leão, após a morte de seu avô e de uma disputa com sua própria mãe. Tornando-se o primeiro Rei de Portugal.
A FORMAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS Durante a dinastia de Borgonha, Portugal deu continuidade as guerras de Reconquista, ampliando seu território. A economia portuguesa, no final desta dinastia (séc. XIV), sofreu impulso com o surgimento de uma nova rota comercial que ligava as cidades italianas a região da Flandres, fazendo escala em Lisboa. Isto, sem dúvida, fortaleceu o grupo mercantil português. > formação do Estado Nacional Português.
O ESTADO PORTUGUÊS Esta situação explica porque quando ocorreu a Revolução de Avis (1383-1385), após a morte do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, formaram-se em Portugal dois grupos: um liderado pela burguesia portuguesa, que apoiava a ascensão do Mestre de Avis, filho bastardo do pai de D. Fernando de Borgonha, representante dos interesses desta contra a nobreza; e outro, liderado pela nobreza que apoiava a anexação de Portugal ao reino de Castela, pois a filha de D. Fernando era casada com o rei de Castela.
Com a morte do ultimo rei da dinastia Borgonha e a ascensão do Mestre de Avis (filho bastardo), coroado como D. João I, temos o início da dinastia de Avis que marcou a vitória dos interesses burgueses. Devido à influencia da burguesia no novo estado português são criadas as condições necessárias para a expansão marítima, e por conseguinte das terras portuguesas. O Estado Português
Em resumo: Reino das Astúrias Oviedo e Leão Rei Afonso III Afonso IV Rei de Leão 2 filhas Henrique de Borgonha (nobre frances) + D. Tereza (filha) Governam o Condado Portucalense Afonso Henriques 1139 Independencia de Leão Foi coroado 1º Rei de Portugal D. Afonso I D. Fernando de Borgonha (1383) - 9 gerações Ultimo rei da dinastia Borgonha
D. Fernando de Borgonha (1383) - 9 gerações Ultimo rei da dinastia Borgonha Mestre de Avis (filho bastardo do pai de Fernando) Candidato burgues Filha de D. Fernando + Rei de Castela Candidato nobre Vitória burguesa Mestre de Avis foi coroado D. João I
A Influência Islâmica em Portugal Uma das primeiras preocupações do poder cristão em Portugal foi eliminar de imediato qualquer influência ou elemento que pudesse lembrar a presença muçulmana em seu território. Com o apoio da Igreja, mesquitas foram demolidas ou transformadas para atender a ofícios religiosos cristãos e os edifícios públicos foram de tal forma descaracterizados que em nada lembravam as técnicas, elementos ou as características próprias da arquitetura muçulmana. Dentro da área de influência árabe, tais elementos não puderam ser eliminados do conhecimento popular.
A Influência Islâmica em Portugal Mihrab Igreja Mesquita de Mertola, 1947 / 2006. Antiga mesquita de Mértola, no sul de Portugal, hoje Igreja de Santa Maria da Assunção. Os árabes permaneceram nessa região por um período de aproximadamente quinhentos anos, desta forma, as populações aí existentes assimilaram sua cultura de construir e de organizar os espaços.
A Influência Islâmica em Portugal A dominação islâmica não teve a mesma duração, nem as mesmas repercussões, em todas as zonas. Foi fraca nas Beiras, a norte do rio Douro, principalmente na região onde viria a se constituir o Condado Portucalense. Foi no sul de Portugal que o Islã deixou marcas profundas. Rio Douro
A INFLUÊNCIA ISLÂMICA EM PORTUGAL Restaram alguns elementos que atestam este período da vida portuguesa, principalmente nas muralhas e castelos, bem como no traçado de ruelas e becos de algumas cidades do sul do país. Não restaram grandes monumentos, fato que se explica pela situação periférica do território português em relação aos grandes centros culturais islâmicos do sul da península. Castelo dos Mouros em Sintra em Portugal - Construído pelos mulçumanos no século IX.
A INFLUÊNCIA ISLÂMICA EM PORTUGAL A igreja matriz de Mértola é a única estrutura em que se reconhecem os traços de uma mesquita. Mesquita de Mértola Portas islâmicas da mesquita de Mértola
Igreja Mesquita de Mertola, 1947 / 2006. A INFLUÊNCIA ISLÂMICA EM PORTUGAL
A INFLUÊNCIA ISLÂMICA EM PORTUGAL São testemunhos da ascendência árabe os terraços das casas algarvias (região sul de Portugal), as artes decorativas, os azulejos, os ferros forjados e os objetos de luxo: tapetes, trabalhos de couro e em metal. Terraços - Açoitéias Tapete de Arraiolos
A Influência Islâmica em Portugal (resumo) O povo árabe nascido na Península arábica, devido ao comércio que praticava entre o oriente e ocidente, conheceu vários povos com culturas diversas, das quais fez uma amálgama, originando a cultura islâmica/árabe. Esta é influenciada por povos tão distintos como gregos, romanos, bizantinos, indianos, persas, egípcios, judeus, hindus e chineses. Da China os Árabes trouxeram para a Europa invenções importantes, como a bússola, um dos contributos para o avanço dos conhecimentos náuticos e geográficos em Portugal. Veio o papel, tendo fundado na Península Ibérica a primeira fábrica europeia; a pólvora, que contribuiu para revolucionar as técnicas militares.
A Influência Islâmica em Portugal Divulgaram conhecimentos matemáticos, filosóficos e científicos, aos quais foram acrescentando novos conceitos de Álgebra, Medicina, Astronomia e Aritmética. Espalharam, por exemplo, o sistema de numeração arábico, a que chamamos árabe ou decimal.
A Influência Islâmica em Portugal A ocupação islâmica não provocou alterações na estrutura linguística que se manteve latina, mas contribuiu com mais de 600 vocábulos, sobretudo substantivos referentes a vestuário, mobiliário, agricultura, instrumentos científicos (bússola) e utensílios diversos. Algarve azeite arroz algarismo limão açude azeitona alfinete almofada almoxarife javali arsenal alcachofra tapete alface alfaiate laranja açucar almirante abóbora alicerce alicate azulejo alfândega acepipe refém aldeia Ferreira oxalá almocreve algodão alferes arrabalde alcântara açucena
A Influência Islâmica em Portugal Através da introdução de novas plantas o limoeiro, a laranjeira azeda, a amendoeira, provavelmente o arroz, e do desenvolvimento da cultura da oliveira, da alfarrobeira e da plantação de grandes pomares (são famosos os figos e uvas do Algarve e as maçãs de Sintra) reforçaram a vocação agrícola da região mediterrânea Alfarrobeira oliveira
A Influência Islâmica em Portugal A influência árabe foi particularmente importante na vida rural, sendo determinante o desenvolvimento de técnicas de regadio. Nora captação de água
A Influência Islâmica em Portugal Os numerosos descendentes dos árabes que, após a Reconquista, permaneceram em Portugal, viviam nas mourarias, arrabaldes semi-rurais junto dos muros das cidades e vilas, das quais se conserva a memória, nos nomes e nas plantas de mais de vinte localidades, como Lisboa e muitas outras ao sul do Tejo
A INFLUÊNCIA ISLÂMICA EM PORTUGAL Arcos de ferradura no Castelo de Silves, Portugal. Na arquitetura islâmica foram adotadas várias soluções e técnicas construtivas para a resolução de problemas de ordem estrutural dos edifícios. Os arcos, nomeadamente os arcos de ferradura, ocupam um lugar importante. As arcadas com colunas com capitéis, por vezes ricamente trabalhados foram uma das soluções estruturais também utilizadas.
A Influência Islâmica em Portugal Foram poucos os arcos em ferradura que em Portugal resistiram até aos dias de hoje: na Porta da Vila de Faro, um dos acessos à medina de Elvas, em quatro portas da Mesquita de Mértola encontramos ainda alguns desses arcos em muito bom estado de conservação
A Influência Islâmica em Portugal Nos bairros residenciais, as casas davam para adarves ruas labirínticas e sinuosas que frequentemente nem tinham saída. As casas eram estruturas bastante "introvertidas", já que as aberturas para o exterior eram poucas, de forma a proteger a intimidade familiar. Da cidade dependiam diretamente os campos e hortas circundantes, que diariamente abasteciam os seus mercados, e ainda algumas povoações rurais as alcarias. O ADARVE DE CÁCERES
Bibliografia: COELHO, Gustavo Neiva. O Espaço Urbano em Vila Boa. Goiânia: UCG, 2001. FERNANDES, José Manoel. A Arquitectura. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1991.