GD15 Educação Financeira



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Transcrição:

A Educação Financeira em um Curso de Orçamento e Economia Doméstica para Professores: Uma Leitura da Produção de Significados Financeiro-Econômicos de Nove Indivíduos-Consumidores Adilson Rodrigues Campos 1 GD15 Educação Financeira Resumo: Este artigo descreve a nossa pesquisa, de cunho qualitativo, que tem como eixo central a Educação Financeira. Nosso estudo tem como objetivo principal investigar os significados produzidos por nove professores de uma escola pública estadual de Juiz de Fora MG, que em sua maioria são todos donos ou donas de casa e participam ativamente da elaboração e execução de um orçamento doméstico familiar, e que também participaram plenamente das nossas discussões propostas em oito módulos-encontros sobre Planejamento Financeiro, Orçamento e Economia Doméstica e outras atividades relacionadas aos gastos financeiros em geral das famílias brasileiras. Mas levando em conta os inúmeros fatores que influenciam, positivamente e/ou negativamente, as suas tomadas de decisão desses nossos indivíduos-consumidores de bens e serviços (KISTEMANN JR., 2011), membros de uma sociedade de consumo líquido-moderna, perante as suas reais situações de consumo e o seu atual planejamento financeiro pessoal, doméstico e familiar, além é claro do uso de seu principal instrumento de controle o orçamento doméstico. Para a realização de tal pesquisa, fundamentamo-nos nos referenciais teórico-metodológicos de: Luís Carlos Ewald, Gustavo Cerbasi, Zygmunt Bauman e Romulo Campos Lins. Palavras-chave: Produção de significados e Tomadas de Decisão, Planejamento Financeiro, Orçamento e Economia Doméstica. Consumo. Educação Financeira. 1. Introdução Este texto tem como objetivo principal apresentar a nossa pesquisa A Educação Financeira em um Curso de Orçamento e Economia Doméstica para Professores: Uma Leitura da Produção de Significados Financeiro-Econômicos de Nove Indivíduos- Consumidores cuja pergunta diretriz é: Como ter e manter um orçamento doméstico equilibrado numa sociedade líquido-moderna de consumo?, pesquisa inserida no Grupo de Pesquisa e Investigação Financeiro-Econômica em Educação Matemática (GRIFE/UFJF), do Mestrado Profissional de Educação Matemática da Universidade 1 Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Educação Matemática, UFJF, arcampos123@ibest.com.br; sob a orientação do professor Dr. Marco Aurélio Kistemann Jr., Professor desse Programa de Mestrado Profissional, UFJF, marco.kistemann@ufjf.edu.br.

Federal de Juiz de Fora (UFJF), sob a orientação do Prof. Dr. Marco Aurélio Kistemann Jr.. Nossa pesquisa tem como foco central os fatores que influenciam a tomada de decisão dos nossos sujeitos pesquisados indivíduos-consumidores de bens e serviços (KISTEMANN JR., 2011) professores de uma escola pública, sobre os seus gastos pessoais, familiares e domésticos no decorrer de um mês, um bimestre, um trimestre, e sucessivamente até chegar a um ano; e de ano em ano conseguimos chegar a várias décadas e a tão sonhada aposentadoria. O cenário da pesquisa foi uma escola pública estadual, situada na região norte e urbana da cidade de Juiz de Fora MG, com nove professores, de modo que a maioria dos nossos sujeitos de pesquisa são moradores e residentes fixos desse município de médio porte, sendo os mesmos na sua maioria donos ou donas de casa que participam ativamente da elaboração e execução de um orçamento doméstico familiar. Os sujeitos de nossa investigação participaram de todas as nossas discussões propostas em oito módulosencontro sobre Planejamento Financeiro, Orçamento e Economia Doméstica. E um dos nossos objetivos, era propor algumas atividades relacionadas aos gastos financeiros em geral das famílias brasileiras. Mas foram todas elaboradas com um intuito de cunho exploratório e investigativo que nos remete a uma Educação Financeira mais consciente, diante de todos esses fatores financeiros que nos cercam e às atuais apelações áudio visuais e consumistas do mundo moderno, que também nos tentam influenciar em nossas tomadas de decisões financeiro-econômicas frente às situações de planejamento e consumo de nossos gastos pessoais, familiares e domésticos. A motivação de nossa pesquisa é fruto do anseio em conhecermos mais sobre o tema e a atual realidade financeira das famílias brasileiras perante a esta nova sociedade líquidomoderna de consumo e o incipiente planejamento financeiro responsável por guiar seus caminhos a curto, médio e longo prazo, o que acarreta numa situação contrária à cultura poupadora e investidora. Segundo Cerbasi (2013), especialista em finanças pessoais, não importa o quanto você conseguirá gerar de riqueza para seus filhos. O que importa são as lições que você tem a passar para eles, aqui neste caso específico relacionamos as mesmas como lições financeiras, para podemos então entender como é imprescindível à necessidade da participação de todos os membros de uma determinada família na elaboração e execução

de um simples e complexo orçamento doméstico familiar, em que se devem refletir de fato todos os gastos pessoais e coletivos da mesma. Levando-se sempre em consideração que o importante não é o tanto que se ganha, mas sim o tanto que se gasta, pois quando falamos de orçamento não se trata só de gastar menos e sim de gastar melhor e de forma sustentável. Esta ideia anteriormente explanada sobre orçamento doméstico nos impõe condições, limites e objetivos a serem alcançados, tendo em vista a atual e real situação financeiroeconômica em que nos encontramos e o fato que sempre queremos mudá-la para melhor com metas e estratégias que nos leve ao tão sonhado equilíbrio financeiro de nossas contas no âmbito doméstico-familiar. Daí surge a necessidade de se termos sempre em mãos o nosso planejamento financeiro diário, semanal, mensal e para dias futuros. O tão sonhado sucesso financeiro, todos queremos, porém para alcançá-lo não é fácil, precisamos de muita disciplina e força de vontade para podermos gastar bem o nosso dinheiro, pois isto não se resume a só cortar os gastos e poupar, mas sim de ver qual a melhor hora e maneira de se efetuar aqueles gastos dentro de um orçamento préestabelecido ou em desenvolvimento. Entretanto, deve-se existir primeiro uma superação de nossos desejos e vontades que surge a todo o momento, para que depois haja um consumo realmente necessário, útil, indispensável e imprescindível de bens e serviços. 2. A proposta de pesquisa A nossa proposta de pesquisa tem como base a observação dos significados produzidos por nossos sujeitos pesquisados nove professores de uma escola pública, por meio da escrita e de conversas gravadas durante os nossos oito módulos-encontros já executados, onde elaboramos algumas tarefas e situações-problemas para serem debatidas coletivamente englobando os temas: Planejamento Financeiro, Orçamento e Economia Doméstica, além de outras atividades relacionadas aos gastos financeiros em geral das famílias brasileiras. Esses temas acima retratados nos levaram a situações correlacionadas aos objetos financeiro-econômicos que estabelecemos pesquisar frente aos vários fatores que influenciam, positivamente e ou/ negativamente, a tomada de decisões dos nossos sujeitos de pesquisa e suas produções de significados, que foram balizadas nas premissas do Modelo dos Campos Semânticos (MCS), cujas ideias básicas foram desenvolvidas por Lins

(1993 e 1994), com seu método de leitura plausível, permitindo assim ler as produções de significados dos sujeitos sobre objetos constituídos no interior de uma atividade. Na perspectiva do MCS, significado é tudo aquilo que um sujeito pode, e de fato diz, no interior de uma atividade na direção de um objeto. Nesse contexto epistemológico, entende-se conhecimento como uma crença-afirmação, seguido de uma justificação. Há também aquelas crenças-afirmações que o sujeito enuncia, mas não sente a necessidade de justificar, são as estipulações locais. Os sujeitos operam no interior das atividades com base em seus conhecimentos e em suas estipulações locais. De acordo como Kistemann Jr. (2011), podemos fazer o uso do método de leitura plausível para identificar, qualitativamente, o modus operandi de indivíduos-consumidores em suas estratégias de decisão em situações de consumo por meio dos significados por eles produzidos mediante situações-problema apresentadas. As situações de consumo são vistas, assim, como atividades no interior das quais os significados são produzidos. Nossa proposta de pesquisa ainda consiste de uma análise qualitativa dos modus operandi de cada participante indivíduo-consumidor de bens e serviços na sociedade de consumo, frente as suas tomadas de decisões durante nossas discussões e situaçõesproblemas a serem debatidas. Em Lins (1999) encontramos a importância de investigarmos a produção de significados ao dizer: Para mim, o aspecto central de toda aprendizagem humana em verdade, o aspecto central de toda cognição humana é a produção de significados (LINS, 1999, p. 86). Nesse estudo pretendíamos também explorar várias questões relacionadas ao cotidiano desses nossos sujeitos de pesquisa, sendo os mesmos na sua maioria donos ou donas de casa que participam ativamente da elaboração e execução de um orçamento doméstico familiar; e o modus operandi de suas escolhas, por exemplo, nas formas de pagamento de suas despesas diárias, semanais e mensais, e o motivo pelo qual preferem fazê-la daquela maneira. Aplicamos também três entrevistas semi-estruturadas que focavam o interesse deles pelo tema das atividades a serem desenvolvidas e suas expectativas futuras de vida depois dessas discussões a serem promovidas através de debates coletivos. As respostas já colhidas estão sendo vistas como significados produzidos que são analisados com as lentes do MCS. No entanto, não fecharemos nossos olhos para outras categorizações que possam emergir da analise criteriosa de tais significados.

3. Referenciais teóricos da investigação Diante de vários autores sobre esse mesmo assunto em questão, estamos utilizando para a nossa discussão sobre finanças pessoais, domésticas e familiares, os referenciais teóricos de Luís Carlos Ewald e Gustavo Cerbasi. Mas para definirmos especificamente Planejamento Financeiro, Orçamento e Economia Doméstica, optamos por Ewald (2003), que nos relata: Orçamento Doméstico é o principal instrumento para se fazer o Planejamento Financeiro para hoje, amanhã e dias futuros. E é utilizado como ferramenta para se planejar um equilíbrio entre as receitas e as despesas nas contas do lar doce lar e Economia Doméstica é a administração das contas de casa. Ambas as definições costumam ser muitas vezes desconhecidas ou ignoradas pela maioria das famílias, sejam brasileiras ou não, provocando assim um descontrole nessas contas domésticas antes mesmo do mês acabar; fato que acarreta a entrada no cheque especial ou em outra forma de crédito rotativo, os quais pagam juros altíssimos que forma em sua maioria uma bola-deneve impagável. Agora de acordo com Theodoro (2008), em relação ao advento da globalização e a estabilização da inflação, criaram-se várias possibilidades de pessoas quaisquer classes sociais terem acesso a bens de consumo, bem como obtenção de créditos com mais facilidade, o qual gera um ciclo consumista, podendo com isso proporcionar às essas pessoas, experiências desagradáveis no campo das finanças pessoais e familiares, como endividamento precoce e outros diversos males que podem afetar sua saúde financeira, provocando assim um desequilíbrio nas suas contas entre receitas e despesas pessoais, domésticas e familiares. Nesta época em que vivemos de pós-crise econômica mundial, seus reflexos ainda são sentidos e repercutidos até nos dias atuais, onde milhões de cidadãos em sua maioria se encontram nessas situações financeiras desreguladas já comentadas acima, e em muitos casos é devido a pouca familiaridade com essas facilidades das ofertas de crédito financeiro e também com a matemática implícita nessas transações financeiras (KISTEMANN JR., 2011), o que em si já nos destaca a importância e relevância de nossa investigação para a área da Educação Matemática. Para Kistemann Jr. (2011, p.43), cada cidadão deve ter possibilidade de ler e produzir significados acerca das ferramentas que regem as ações e transações econômicas, para que possa escolher que decisão deve tomar, mas em nossa investigação procuramos sempre

mostrar as maneiras distintas que cada um produzirá seus significados perante as discussões sobre suas tomadas de decisões financeiro-econômicas diárias, semanais e mensais, frente a todas essas situações de planejamento e consumo pessoal, doméstico e familiar. Também utilizamos o referencial teórico Bauman (2008), sociólogo polonês que nos define a sociedade de consumidores, como sendo: o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumista, e rejeita todas as opções culturais alternativas e ainda nos propõem uma discussão sobre esses vários cenários em constante modificação, onde coloca como centro das atenções o indivíduo-consumidor. Nesta nova organização social, os indivíduos se tornam ao mesmo tempo promotores de mercadorias e também as próprias mercadorias que promovem, desta forma, é modelado um novo espaço de relações denominado mercado de consumo ; onde esses indivíduosconsumidores são sempre induzidos a seguirem um estilo de vida com conquistas materiais, que julgam prazerosas e dignas de produzir felicidade e consequentemente o consumir virou uma qualidade de vida e uma necessidade humana que alivia o estresse perante os problemas corriqueiros da vida em sociedade. Além é claro de ser o nosso principal informante teórico sobre o consumo e consumismo. Ele nos afirma que o consumo é: uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos (BAUMAN, 2008, p.37); e que o consumismo é: é um arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, neutros quanto ao regime, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vidas individuais e que de maneira distinta do consumo, que é basicamente uma característica e uma ocupação dos seres humanos como indivíduos, o consumismo é um atributo da sociedade (BAUMAN, 2008, p.41).

As atividades de consumo, de acordo com Bauman, vêm moldando as diversas formas de vida e aos padrões de relações humanas na sociedade de consumidores, que tem por um lado à mercadoria como núcleo das práticas diárias e por outro, uma orientação permanente para que o modelo a ser seguido esteja sempre vinculado ao ato de consumir. E que as relações sociais estão sendo mediadas pelo consumo, porém não de consumo de produtos, mas também de hábitos, valores e aparências, onde as redes sociais estão se apresentando como os mais novos canais dessa mediação, fato que no passado, era de responsabilidade de outros meios de comunicação, como os jornais, o rádio e a TV. Atualmente, este cenário ultrapassa a nossa vida familiar, pois atinge toda essa sociedade de consumo, que para D Aquino e Maldonado (2012) é a única que oferece a felicidade aqui mesmo, na Terra, porque vende a ideia de que, para ser feliz, a pessoa precisa ter determinadas coisas. E aí é claro que o mercado de publicidade se concentra nesse ponto. O que se revela, então, é um aspecto cruel que não existia há algumas décadas: o foco nas crianças como consumidores. Os produtos lhes são oferecidos diretamente. Como desde cedo essas crianças estão diante da televisão, do computador, enfim, diante de algum tipo de veículo de comunicação de massa, elas são bombardeadas rotineiramente com mensagens tais como: Você tem que ter isso, você tem que ter aquilo, e aquilo mais. Isto nos mostra, como já comentado acima, que a atual realidade em que vivemos, tudo está cheio e rodeado dessas apelações áudio visuais e consumistas do mundo moderno, que a todo o momento nos tentam seduzir e influenciar as nossas tomadas de decisões financeiro-econômicas frente às situações de planejamento e consumo, das quais podem estar relacionadas os nossos gastos pessoais, familiares ou domésticos; e essa sociedade de consumo esta se baseando hoje justamente na criação de situações nas quais os desejos são contínuos e insaciáveis, para que cada vez mais se vá consumindo. Essa tentativa da publicidade de colocar em nossas mentes indivíduos consumidores, o desejo, à vontade e a necessidade de ter isso ou aquilo e aquilo mais, muitas das vezes nos leva a um consumo exagerado e desnecessário de certos bens e serviços, comprometendo assim o nosso planejamento financeiro, além é claro de estourar ou desequilibrar o orçamento doméstico, tema aqui sendo debatido exaustivamente e posto em discussão sobre vários aspectos.

Um aspecto importante que também devemos levar em conta, é o endividamento dos brasileiros e suas famílias perante suas rendas líquidas mensais, pois de acordo com alguns dados estatísticos revelados na reportagem do Jornal O Estado de São Paulo, do dia 19 de março de 2012, este fato torna a situação preocupante, pois seu endividamento atual chegou ao nível mais alto da história: pessoas físicas devem cerca de R$ 715,2 bilhões aos bancos em operações como o microcrédito, o cheque especial, crédito imobiliário e de veículos, passando pelo caro cartão de crédito. Dados do Banco Central revelam que cada brasileiro deve atualmente 41,8% da soma dos salários de um ano inteiro, um recorde. Diante dessa situação, usaremos alguns parâmetros relatados por James Teixeira, durante seu Minicurso no ENEM de Curitiba - PR, em julho de 2013, sobre Finanças Pessoais, para discutir esse índice de endividamento pessoal ou familiar, que a razão entre dívidas totais do mês pela receita líquida mensal, considerando que: Até 30% ou um terço da renda a situação está com uma parcela administrável pela maioria da população. Apesar de o ideal é não ter dívidas; Entre 30% e 35% da renda o importante é trabalhar para reduzir as dívidas, mantendo-as dentro do máximo administrável e da filosofia do item anterior; Entre 35% e 40% da renda é necessário reduzir as dívidas imediatamente, ou corre-se o risco de inadimplência e problemas em caso de emergências; Acima de 40% da renda com quase metade da renda comprometida, fica quase impossível honrar todos os compromissos financeiros e o efeito bola de neve dos empréstimos e financiamentos pode transformar a situação em um verdadeiro caos. Reavalie toda a sua situação financeira e reduza suas dívidas. Após a exposição dos parâmetros acima, devemos sempre ter e manter o orçamento doméstico equilibrado, pois é de suma importância honrar todos os nossos compromissos financeiros e ainda poder realizar sonhos e planejar um futuro mais seguro; só que para isso acontecer requer de nós aprendizado, disciplina e uma atitude diferenciada perante a atual saúde financeira que temos e a qual queremos mudá-la, sempre para melhor. Concordamos com Barroso e Kistemann Jr. (2013) que as situações como pagar agora, ou desfrutar depois? E desfrutar agora, ou pagar depois? Com certeza são escolhas que exigem discussões acerca do cenário econômico, para que o indivíduo possa estar ciente de suas decisões e não seja influenciado por propagandas que oferecem um produto para pagamentos parcelados sem juros ; pois tais situações nos colocam a prova,

todos os nossos conhecimentos sobre o tema e testam nossa resistência junto a tantas ofertas e anúncios promocionais tentadores de consumo, os quais vêm sendo colocados de maneira exaustiva pela publicidade desses produtos, em todos os meios de comunicação, para que consumamos mais e mais sem limites ou controle. Concordamos ainda com esses mesmos autores quando dizem que as operações de linhas de crédito como cheque especial, crédito pessoal, crédito consignado, e ainda cartão de crédito, que estão disponíveis para todos os indivíduos possuidores de uma conta corrente em um banco, também estão ausentes nos textos. Acreditamos que, esse ambiente da Microeconomia é repleto de situações geradoras da produção de significados dos objetos financeiro-econômicos. Tais situações devem ser mais debatidas e pesquisadas, para podermos tentar unificar alguns discursos e conceitos a respeito desse mesmo tema em constante discussão por vários autores, em perspectivas iguais ou parecidas. Os temas aqui retratados nos levam a essas situações correlacionadas aos objetos financeiro-econômicos, que podem ser de grande ajuda no disparador de nossas conversas durante alguns dos módulos-encontros de nossa pesquisa e sobre como usar o pensamento financeiro, ou seja, como operar com todos esses objetos reconhecendo que os juros pagos em uma compra parcelada é sempre maior que os juros recebidos em uma aplicação de investimento. E ainda, como planejar o destino de sua receita ou renda líquida perante um orçamento doméstico apertado ou não, onde valores para o consumo são pré-estabelecidos e sofrem alterações a todo o momento ao longo de sua execução, pois imprevistos acontecem todos os dias, mas devemos sempre estar atentos e tentar cumprir as metas também já estabelecidas e se tudo der certo e algo sobrar, devemos investir essa diferença, que não é só para guardar o dinheiro, mas também para multiplicá-lo. 4. Considerações finais Tendo em vista que o nosso tema ser de grande abrangência, possivelmente durante o fechamento de nossa pesquisa ainda teremos muitas surpresas que nos remeterão a um debate mais detalhado e específico sobre cada enfoque do tema de forma abrangente e profunda, com o intuito de esclarecer e sanar qualquer dúvida que possa ter aparecido durante nossos módulos-encontros mesmo as mais simples relacionadas ao significado de alguma sigla qualquer até àquelas dúvidas que envolvam cálculos financeiros mais avançados, junto ao coletivo de nossos pesquisados seres consumidores de bens e serviços.

Diante do atual cenário de grandes mudanças num curto espaço de tempo, é necessário ainda a nossa observação mais detalhada do comportamento de nossos pesquisados perante elas, pois suas decisões financeiras particulares podem ser influenciadas pelas mesmas, e alguns problemas são intimamente ligados a estas questões como: o endividamento familiar, a inadimplência e a falta de capacidade de planejamento financeiro. Sendo assim, percebemos ainda sua importância na gestão financeira pessoal, doméstica e familiar, a qual está inserida. As discussões sobre educação financeira aparecem nesses casos e em diversos outros, onde sua relevância torna possível uma discussão mais consciente sobre o assunto em debate, e por ser também um assunto bastante presente no cotidiano das pessoas e empresas, e ainda pouco discutido pela população brasileira em geral. Tais discussões sobre esse tema ainda desperta pouca atenção dos meios acadêmicos que necessitam de uma maior ampliação do desenvolvimento deste conhecimento, o qual tem reflexos pela baixa produção acadêmica e publicações científicas nesta área da Educação Matemática. Em relação a alguns resultados de nossa pesquisa, já percebemos em algumas conversas informais sobre o tema, que a formação acadêmica contribui para uma melhor tomada de decisões de consumo e investimento. Contudo, existem várias outras fontes de conhecimento que são também relevantes, como a experiência prática em família, que precisam ser melhores investigadas durante a execução desta pesquisa. E nesse trabalho, tentamos também sempre incentivar os indivíduos-consumidores a tomarem decisões mais conscientes, no processo de discussão a respeito de ter e manter um planejamento financeiro equilibrado e do bom uso do seu dinheiro, por meio da utilização de conceitos básicos da matemática aplicáveis junto ao seu orçamento pessoal, doméstico e familiar. 5. Referências BAUMAN, Zigmunt. Vida para Consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. BARROSO, D. F. e KISTEMANN JR, M. A. Um Curso de Serviço para a Disciplina Matemática Financeira. In: Anais do XI.ENEM (Encontro Nacional de Educação Matemática) ISSN 2178-034X, p. 1-16, 2013. CERBASI, Gustavo. A complexa educação financeira. Disponível em: <http://www.maisdinheiro.com.br/artigos/4/91/a-complexa-educacao-financeira>acessado em: maio de 2013.

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