PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS SECRETARIA MUNICIPAL DA RECEITA - SMR COMISSÃO MUNICIPAL DE ASSUNTOS TRIBUTÁRIOS COMAT



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PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS SECRETARIA MUNICIPAL DA RECEITA - SMR COMISSÃO MUNICIPAL DE ASSUNTOS TRIBUTÁRIOS COMAT CONSULTA Nº : 001.2011 PROCESSO Nº : 40682.2010 SMR CONSULENTE : GERENTE DE TRIBUTAÇÃO DO ISS E TAXAS ASSUNTO : ISS ARRENDAMENTO MERCANTIL FATO GERADOR, LOCAL DA PRESTAÇÃO E BASE DE CÁLCULO. E M E N T A ISS ARRENDAMENTO MERCANTIL FATO GERADOR: O serviço de arrendamento mercantil financeiro - ocorrência do fato jurídico tributário do ISS - se realiza no decorrer do contrato, decomposto em lapsos de tempo mensais, em virtude da segmentação da obrigação, medido pelo valor de cada parcela, proporcional ao valor total do contrato. ISS ARRENDAMENTO MERCANTIL LOCAL DA PRESTAÇÃO: A jurisprudência é incontroversa no sentido de que, o serviço de arrendamento mercantil financeiro (leasing) fato jurídico tributário do ISS - ocorre no município onde as operações são praticadas com as pessoas físicas e jurídicas que adquirem veículos automotores das revendedoras. ISS ARRENDAMENTO MERCANTIL BASE DE CÁLCULO: O Supremo Tribunal Federal decidiu que o núcleo do contrato de arrendamento mercantil financeiro é o financiamento. E afirma que financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir. Conclui-se, dessa afirmativa, que apenas o valor residual garantido (VGR) não integra a base de cálculo deste imposto. Portanto, a base de cálculo é o valor da parcela mensal, excluindo-se desta, o valor residual garantido, quando este estiver sendo antecipado. 1

O Gerente de Tributação do ISS e Taxas, da Secretaria Municipal da Receita SMR, Dr. Alexandre Duarte, vem, com base no inciso II, do artigo 1º, da Portaria nº 007/01, a esta Comissão Municipal de Assuntos Tributários COMAT, formular a seguinte CONSULTA TRIBUTÁRIA. I - DOS FATOS O Consulente apresenta dúvidas sobre a tributação das operações de arrendamento mercantil, que, conforme a decisão do STF no RE 592905/SC, estão sujeitos a incidência de ISS. Informa que existem vários processos de contencioso tributário, sobre a matéria, no Conselho Municipal de Contribuintes, como também, lançamentos que devem ser refeitos. Assim, por tratar-se de contratos complexos, englobando natureza de mútuo, locação entre outros, pergunta: 1) Qual o momento e o local da ocorrência do fato gerador do ISS sobre as operações de arrendamento mercantil? 2) Qual a base de cálculo do ISS nas operações de arrendamento mercantil, previsto no item 15, subitem 09, constante da lista de serviço da Lei Complementar nº 126/2003? II DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE A consulta atende aos requisitos regulamentares estatuídos nos artigos 1º, 4º e 5º da Portaria nº 007/2001, que estabelece a rotina administrativa de tramitação e documentos necessários para a formalização de consultas sobre a interpretação da Legislação Tributária Municipal. III - DA VINCULAÇÃO E ABRANGÊNCIA DA RESPOSTA À CONSULTA Os efeitos da resposta a esta Consulta são extensivos a todos os contribuintes do município de Florianópolis, que realizam operações de arrendamento mercantil, conforme previsto no Parágrafo Único do art. 7º da Portaria nº 007/2001. 2

IV - DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL a) O art. 156 da Constituição Federal estabelece a competência aos municípios para instituírem o imposto sobre serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, e definidos em lei complementar; b) O art. 1º da Lei Complementar nº 116/2003 estabelece o fato gerador do imposto sobre serviços de qualquer natureza; c) O art. 3º e 4º da Lei Complementar nº 116/2003 definem que o serviço considera-se prestado e o imposto devido no local da prestação; d) O art. 7º da Lei Complementar nº 116/2003 estabelece a base de cálculo do imposto sobre serviços de qualquer natureza; e) O art. 247 da Lei Complementar Municipal nº 007/97, com redação dada pela Lei Complementar nº 126/2003 estabelece o fato gerador, no âmbito da Legislação Tributária do Município de Florianópolis; f) Os artigos 249, 250 e 251 da LCM nº 007/97, com redação dada pela Lei Complementar Municipal nº 126/2003 definem que o serviço considera-se prestado e o imposto devido no local da prestação, no âmbito da Legislação Tributária do Município de Florianópolis; g) O art. 252 da LCM nº 007/97, com redação dada pela Lei Complementar Municipal nº 126/2003, estabelece que a base de cálculo do imposto é o preço do serviço; V DOS FUNDAMENTOS PARA A RESPOSTA A consulta versa sobre o momento e o local da ocorrência do fato gerador do ISS, bem como, sobre a base de cálculo, nas operações de arrendamento mercantil, definidas como serviços, tipificados no subitem 15,09 da Lista anexa à Lei Complementar Municipal nº 126/2003. 3

Antes de responder às indagações formuladas, é de rigor tecer algumas considerações iniciais que facilitarão a compreensão das respostas que apresentaremos ao final. Com a competência outorgada pela Constituição Federal de 1988, e com base no Decreto-Lei 406/68 e Lei Complementar nº 116/2003, o Município de Florianópolis instituiu o imposto sobre serviços de qualquer natureza. Estabeleceu a hipótese de incidência conforme o Art. 247 da Lei Complementar nº 007/97, com redação dada pela Lei Complementar nº 126/2003: Art. 247 O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza tem como fato gerador a prestação de serviços da lista abaixo, ainda que esses não se constituam como atividade preponderante do prestador: (...) 15.09. Arrendamento mercantil (leasing) de quaisquer bens, inclusive cessão de direitos e obrigações, substituição de garantia, alteração, cancelamento e registro de contrato, e demais serviços relacionados ao arrendamento mercantil (leasing). (...). Note-se que o fato gerador do Imposto Municipal sobre a atividade de arrendamento mercantil (leasing), está previsto no citado artigo 247, mais especificamente na tipificação do subitem 15.09 da Lista a que se refere este artigo. A matéria (arrendamento mercantil), que já era pacífica diante do enunciado da Súmula nº 138 do STJ, passou a ser controvertida com o advento do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do RE nº 116.121-3, que considera descabida a incidência do ISS sobre a locação de bens móveis. A controvérsia requeria posicionamento sob matéria constitucional, porque implicava definição quanto à natureza dos contratos de leasing. A definição foi dada pelo Supremo Tribunal Federal STF, no Recurso Extraordinário nº 592.905 / SC, de repercussão geral, movido pelo Banco arrendador, contra o Município autuante, como se pode verificar da sua ementa: EMENTA: RECURSO EXTRAODINÁRIO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ISS. ARRENDAMENTO MERCANTIL. OPERAÇÃO DE LEASING FINANCEIRO. ARTIGO 156, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. O arrendamento mercantil compreende três modalidades, [i] o leasing operacional, [ii] o leasing financeiro e [iii] o chamado lease-back. No primeiro caso há locação, nos outros dois, serviço. A lei complementar não define o que é serviço, apenas o declara, para os fins do inciso III do artigo 156 da Constituição. Não o inventa, simplesmente descobre o que é serviço para os efeitos do inciso III do artigo 156 da Constituição. No arrendamento mercantil (leasing financeiro), contrato autônomo que não é misto, o núcleo é o financiamento, não uma prestação de dar. E financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir, resultando irrelevante a existência de uma compra nas hipóteses do leasing financeiro e do lease-back. Recurso extraordinário a que se nega provimento. 4

Observa-se, na citada ementa, que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela incidência do ISS sobre as operações de arrendamento mercantil, denominadas leasing financeiro e leasing sale and lease-back, A interpretação dos Ministros do STF refere-se a três tipos de contratos de arrendamento mercantil (leasing), com a seguinte conceituação: 1) o leasing operacional, em que o fabricante do bem dá o mesmo em locação ao arrendatário e a manutenção normalmente é feita pela arrendante. Desta forma, segundo a decisão do STF, não haverá incidência do ISS; 2) o leasing financeiro, em que a arrendadora adquire o bem do fabricante ou fornecedor e entrega seu uso e gozo ao arrendatário, mediante pagamento de uma contraprestação periódica, abrindo a este a opção para, ao final do contrato, renovar o contrato ou adquirir o bem pelo valor residual fixado. Neste tipo de arrendamento prepondera o caráter de financiamento em que a arrendadora desempenha a função de intermediária entre o fornecedor e o arrendatário. O núcleo do negócio é o financiamento, sobre o qual incide o ISS; e, 3) o leasing sale and lease-back, em que o próprio arrendatário vende um bem que lhe pertence à arrendadora e, em seguida, toma-o de volta, em arrendamento mercantil. Destarte, a presente Consulta Tributária e a conseqüente resposta cuidam do leasing financeiro e do leasing sale and lease-back, sendo que esta última modalidade de operação, no que afeta a tributação do ISS, reveste-se de todas as características existentes no contrato de leasing financeiro (Art. 23 da Resolução nº 2.309/96 do Banco Central). Colhe-se, na citada decisão do STF, que, No arrendamento mercantil (leasing financeiro), contrato autônomo que não é misto, o núcleo é o financiamento, não uma prestação de dar. E financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir, resultando irrelevante a existência de uma compra nas hipóteses do leasing financeiro e do lease-back. Orlando Gomes 1 define o arrendamento mercantil, na modalidade do leasing financeiro, como sendo uma operação trilateral, cujo contrato envolve três empresas: a que vende o bem; a que o compra da primeira e o concede, mediante 1 GOMES, Orlando. Contratos, 26ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 571-7. 5

cobrança pelo uso a tempo certo; e a que o obtém, sem ter comprado o referido bem. Tendo como elemento essencial, a faculdade reservada ao arrendatário de adquirir, no fim do contrato, o bem envolvido. O contrato de arrendamento mercantil, regulamentado pela Lei nº 6.099/74, deve dispor, entre outras características, da descrição dos bens arrendados, do prazo do contrato, das contraprestações, da opção de compra e preço para a opção de compra ou renovação do contrato. Entretanto, caso a quitação seja realizada antes dos prazos mínimos estipulados, o contrato perde sua caracterização legal de arrendamento mercantil e a operação passa a ser classificada como de compra e venda a prazo. Porém, de acordo com súmula 293 do Superior Tribunal de Justiça, a cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil. Os prazos mínimos, nas características do arrendamento mercantil financeiro, estão regulamentados no artigo 8º, da Lei nº 6.099/74, sendo: a) 2 (dois) anos, compreendidos entre a data de entrega dos bens à arrendatária, consubstanciada em termo de aceitação e recebimento dos bens, e a data de vencimento da última contraprestação, quando se tratar de arrendamento de bens com vida útil igual ou inferior a 5 (cinco) anos b) 3 (três) anos, observada a definição do prazo constante da alínea anterior, para o arrendamento de outros bens; Feitas as ponderações acerca dos conceitos e delimitação da matéria em exame, já é possível enfrentarmos a primeira indagação do Consulente. Ou seja, identificar qual é o momento e o local da ocorrência do fato gerador do ISS, nas operações de arrendamento mercantil financeiro. O contrato consensual torna-se perfeito no momento em que nasce o vínculo entre as partes, mediante declaração de vontade das partes envolvidas 2. Porém, este não é o momento da ocorrência do fato gerador do ISS. O imposto não incide sobre serviço potencial. É o que ensina Aires F. Barreto 3, quando afirma que, nenhuma materialidade do ISS se produz diante de mera contratação de serviços. Esse imposto não incide sobre a contratação de serviços, mas sobre o fato prestar serviço. 2 Ob. Cit., pp. 191-4. 3 ISS na Constituição e na lei 2. ed., São Paulo: Dialética, 2005, p. 296. 6

Como corolário lógico, o fato jurídico tributário se materializa no momento em que estejam presentes todos os elementos necessários à ocorrência do fato imponível, contemplados na hipótese de incidência. Necessário, então, a ocorrência de fato concreto, que configure sua materialidade, conectado à terceiro, em momento e lugar determinados, caracterizando a unidade indivisível, com o efeito jurídico desejado pela lei. Este é o momento preciso da obrigação tributária, prevista na hipótese de incidência. Em relação ao momento da ocorrência do fato gerador do ISS, Geraldo Ataliba 4, citando Amílcar A. Falcão, ensina que: No caso da tributação, adotou-se como técnica fazer nascer concretamente a obrigação de um fato, a que a lei atribui tal qualidade jurídica (fato jurígeno). Quer dizer: a lei atribui a certos fatos a virtude (a potencialidade, a força bastante) para determinar o nascimento da obrigação tributária. (...) A contar do momento da consumação (realização, verificação) do fato imponível, o estado (sujeito ativo) tem o direito de exigir e o contribuinte (sujeito passivo) tem o dever de entregar o dinheiro, objeto da obrigação. Visto que a mera contratação do arrendamento mercantil financeiro não materializa todos os elementos necessários à ocorrência do fato imponível, importante verificar a natureza dos fatos que concretizam a operação. O contrato prevê contraprestações, fracionadas em períodos de tempo, caracterizadas pelo pagamento das parcelas mensais. Em outras palavras, a ocorrência do fato concreto se materializa no decorrer do contrato, decomposto em lapsos de tempo mensais, medido pelo valor de cada parcela, proporcional ao valor total do contrato. Interpretação de Ives Gandra 5, sobre o entendimento do STF, no leasing financeiro há incidência do ISS durante o contrato. Em análise sobre os serviços fracionáveis, Aires F. Barreto 6 esclarece: O fracionamento no tempo ocorre quando, a despeito de envolver um longo período de tempo, for possível decompô-lo, em lapsos temporais menores. Exemplo típico se dá com o serviço de ensino que, nada obstante contratado para o ano letivo, pode ser desdobrável a cada mês. (...) Em tais casos, o fato tributário tem-se por ocorrido num certo átimo, em virtude da segmentação da obrigação, efetuada tão-só para efeitos tributários. De forma semelhante ao contrato de serviço de ensino, o contrato de arrendamento mercantil financeiro envolve período mínimo de 2 (dois) anos, 4 ATALIBA, Geraldo. Hipótese da incidência tributária, 5ª ed., São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 1992, p. 29-30. 5 Ives Gandra da Silva Martins e Marlene Talarico Martins Rodrigues. Aspectos Relevantes do ISS. Revista Dialética de Direito Tributário nº 182, novembro - 2010, p. 177. 7

compreendido entre a data de entrega dos bens à arrendatária, consubstanciada em termo de aceitação e recebimento dos bens, e a data de vencimento da última contraprestação (artigo 8º, da Lei nº 6.099/74). Portanto, as obrigações das partes se prolongam no tempo estendido de 2 (dois) anos, cujas prestações devem ser adimplidas em lapsos temporais menores, conforme determinado no contrato. Assim, o fato tributário de arrendamento mercantil financeiro tem-se por ocorrido num átimo de tempo mensal, em virtude da segmentação da obrigação, efetuada tão-só para efeitos tributários. Outro aspecto da primeira indagação do Consulente refere-se à definição do local da ocorrência do fato imponível. Em relação a esta matéria, diversas consultas tributárias deste Município já foram respondidas pela COMAT, cujo entendimento é perfeitamente aplicável às operações de arrendatário mercantil financeiro. Neste caso, não cabe interpretação isolada do artigo 3º da Lei Complementar Federal nº 116/2003, mesmo que os serviços prestados não constem nas exceções, listadas no artigo 3º da Lei Complementar federal nº 116/2003. O legislador complementar, na incumbência de dispor sobre conflitos de competência e estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, buscou dar definição específica de estabelecimento prestador, para identificar o local onde o tributo será devido. Para isso, estabeleceu, no artigo 4º da mesma Lei Complementar, que: Art. 4º Considera-se estabelecimento prestador o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente ou temporário, e que configure unidade econômica ou profissional, sendo irrelevantes para caracterizá-lo as denominações de sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal, escritório de representação ou contato ou quaisquer outras que venham a ser utilizadas. Observa-se que o aspecto espacial da hipótese de incidência, definido pela LC 116/03 e instituído pela LCM nº 007/97, com redação dada pela LCM nº 126/03, está circunscrito aos limites territoriais do Município onde os serviços forem efetivamente prestados. Nesse sentido, o artigo 249 da LCM nº 126/03 diz que o imposto é devido no local da prestação do serviço, o artigo 250 desta LCM diz que o serviço considera-se prestado e o imposto devido no local do estabelecimento prestador, e o artigo 251 desta mesma LCM diz que, considera-se estabelecimento prestador o 6 ISS na Constituição e na lei 2. ed., São Paulo: Dialética, 2005, p. 301-2. 8

local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços de modo permanente ou temporário. Portanto, a Legislação do ISS define como local da prestação, o lugar onde se realizar a prestação do serviço. Por conseqüência, o ISS é devido ao Município a que se enquadra o lugar da realização dos serviços. Nesse sentido, os comentários de Aires F. Barreto 7 sobre a matéria: (...) 3. A competência dos Municípios para a instituição de ISS é balizada por um critério material (a prestação de serviços) e por um critério territorial (os limites do Município). 3.1. Conseqüentemente, o ISS só pode ser exigido pelo Município em que o serviço se concretizar. 4. Não é decisivo para a determinação do local da prestação, aquele em que localizado o tomador dos serviços. 5. As decisões do Colendo Superior Tribunal de Justiça entendendo devido o ISS no local da prestação dos serviços que reputamos incensuráveis implicam, rigorosamente, considerar inconstitucional o art. 12, letra a, do Decreto-lei 406/68. Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça STJ, em decisões reiteradas, afirmando que o ISS é devido no local da efetiva prestação dos serviços, em qualquer hipótese, em função do princípio constitucional da territorialidade. Assim, a decisão da Segunda Turma, no REsp 753360/MS, como se pode verificar da ementa do seguinte Acórdão: TRIBUTÁRIO ISS COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA LOCAL DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ART. 3º DA LC 116/2003 TESE NÃO PREQUESTIONADA SÚMULA 282/STF. 1. Aplica-se o enunciado da Súmula 282/STF em relação à tese nãoprequestionada. 2. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que, para fins de incidência do ISS, importa o local onde foi concretizado o fato gerador, como critério de fixação de competência e exigibilidade do crédito tributário. 3. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, improvido. ementado: A propósito, também o AgRg nos EDcl do REsp 982956 / RS, assim TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. ISS. ARRENDAMENTO MERCANTIL. BASE DE CÁLCULO. VALOR INTEGRAL DA OPERAÇÃO. ARBITRAMENTO. SÚMULA 7/STJ. ART. 12 DO DECRETO-LEI Nº 406/68. COMPETÊNCIA PARA SUA COBRANÇA. FATO GERADOR. MUNICÍPIO DO LOCAL DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. (...) 3. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a cobrança do ISS norteia-se pelo princípio da territorialidade, nos termos encartados pelo art. 12 do Decreto-lei nº 406/68, sendo determinante a localidade aonde foi 7 ISS Conflitos de competência. Tributação de serviços e as decisões do STJ, Revista Dialética do Direito Tributário nº 60, São Paulo, 2000, p. 16. 9

efetivamente prestado o serviço e não aonde se encontra a sede da empresa. 4. Agravo regimental não provido. No mesmo sentido, os fundamentos do relator Wilson Augusto do Nascimento, em 28/10/2010, na decisão da Apelação Cível nº 2005.038611-8, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, citando o posicionamento desta Corte na Ap. Cív. nº 2006.041613-9, Des. Francisco Oliveira Filho: (...) Nos casos de ISS sobre serviços prestados em local diverso do domicílio do prestador, a competência tributária territorial é do Município no qual este é prestado, onde ocorre a exteriorização da riqueza. Nos casos de arrendamento mercantil, apesar de o domicílio virtual ser concentrado em um único ente federado (de alíquota usualmente reduzida), as operações são realizadas por todo território nacional através das revendedoras. Ainda que conste do contrato localidade diversa, na realidade o arrendatário dirigiu-se à revendedora para obter o veículo, mesmo tendo feito isso por arrendamento mercantil. Analisando o fato concreto de operação de leasing, tem-se que o cliente escolhe o tipo de veículo que deseja, a concessionária lhe indica a empresa que fará o leasing, que está normalmente presente no próprio estabelecimento da revendedora, ou no município desta, onde recolhe os dados, e após aprovação da proposta, assinam o contrato. Seguindo essa lógica, a jurisprudência é incontroversa, decidindo que o fato gerador do ISS na atividade de arrendamento mercantil financeiro (leasing), ocorre no município onde as operações são praticadas com as pessoas físicas e jurídicas que adquirem veículos automotores das revendedoras (STJ, REsp 1112197/SC, julgado em 12/05/2009 e TJSC, Apelação Cível 2005.038611-8, de 28/10/2010). A segunda indagação do Consulente refere-se à base de cálculo do serviço de arrendamento mercantil financeiro, cuja matéria tem sido pouco analisada pela doutrinária e jurisprudência. No entanto, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o núcleo do contrato de arrendamento mercantil financeiro é o financiamento. E afirma que financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir. Conclui-se, dessa afirmativa, que apenas o valor residual não integra a base de cálculo. Portanto, a base de cálculo é o valor da parcela mensal, excluindo-se desta, o valor residual garantido, quando este estiver sendo antecipado. 10

Segundo Humberto Ávila 8, apenas o valor pago pelo arrendatário como contraprestação para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos, pode servir de base de cálculo do ISS. De forma semelhante, as decisões do Superior Tribunal de Justiça apontam que a base de cálculo do arrendamento mercantil financeiro deve ser o valor do contrato, ou o valor integral da operação, definida por arbitramento a partir dos valores constantes nas notas fiscais, acrescidas de um percentual (que varia de 30% a 50%), equivalente às demais despesas pactuadas, que são inerentes à atividade. (AgRg nos EDcl no REsp 982956/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques; REsp nº 862706/RS e REsp nº 1.059.919/SC, Rel. Ministro Castro Meira). Afinado com este entendimento, também o Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJSC, na Apelação Cível nº 414842/SC, em 03.02.2010, Rel. Luiz Cezar Medeiros. VI A VISTA DO EXPOSTO, RESPONDEMOS À CONSULTA: Pergunta nº 1: Qual o momento e o local da ocorrência do fato gerador do ISS sobre as operações de arrendamento mercantil? Resposta nº 1.a) O serviço de arrendamento mercantil financeiro (leasing) - ocorrência do fato jurídico tributário do ISS - se realiza no decorrer do contrato, decomposto em lapsos de tempo mensais, em virtude da segmentação da obrigação, medido pelo valor de cada parcela, proporcional ao valor total do contrato. Resposta nº 1.b) - A jurisprudência é incontroversa no sentido de que, o serviço de arrendamento mercantil financeiro (leasing) fato jurídico tributário do ISS ocorre no município onde as operações são praticadas com as pessoas físicas e jurídicas que adquirem veículos automotores das revendedoras. 8 Imposto sobre a Prestação de Serviços de Qualquer Natureza. Contrato de Leasing Financeiro. Decisão do Supremo Tribunal Federal. Local da Prestação e Base de Cálculo. Revista Dialética de Direito Tributário nº 182, novembro - 2010, p. 143. 11

Pergunta nº 2: Qual a base de cálculo do ISS nas operações de arrendamento mercantil, previsto no item 15, subitem 09, constante da lista de serviço da Lei Complementar nº 126/2003? Resposta nº 2: O Supremo Tribunal Federal decidiu que o núcleo do contrato de arrendamento mercantil financeiro é o financiamento. E afirma que financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir. Conclui-se, dessa afirmativa, que apenas o valor residual garantido (VGR) não integra a base de cálculo. Portanto, a base de cálculo é o valor da parcela mensal, excluindo-se desta, o valor residual garantido, quando este estiver sendo antecipado. Florianópolis, 03 de maio de 2011. ERNO SCHNORRENBERGER Fiscal de Tributos Relator da COMAT 12