FICHA TÉCNICA Título Guia Popular de Vinhos 2016 As melhores escolhas entre 2 e 10 euros no supermercado Autor Aníbal Coutinho Copyright by Aníbal Coutinho e Editorial Presença, Lisboa, 2014 Imagens da capa Shutterstock Capa Sofia Ramos/Editorial Presença Paginação Ana Seromenho Impressão e acabamento Multitipo Artes Gráficas, Lda. 1.ª edição, Lisboa, setembro, 2015 Depósito legal n.º 396 860/15 Reservados todos os direitos para a língua portuguesa à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 BARCARENA info@presenca.pt www.presenca.pt 4
Índice Dedicatória... 7 Aníbal Coutinho... 9 Introdução... 11 Neil Pendock... 13 Porquê entre 2 e 5 euros?... 15 Porquê entre 5 e 10 euros?... 16 Os três zonamentos do Portugal vinhateiro... 17 Castas à prova... 22 Lista de compras... 29 Seleção nacional... 31 Pistas para uma boa maridagem... 32 Como consultar este guia... 34 vinhos efervescentes... 35 vinhos tranquilos... 39 atlântico de portugal... 39 minho e vinho verde... 40 beiras bairradinas... 50 lisboa... 56 vales de portugal... 69 trás-os-montes... 70 douro... 78 dão... 94 beira interior... 102 5
sul de portugal... 111 tejo... 112 península de setúbal... 123 alentejo... 138 algarve... 173 bag-in-box... 177 vinhos fortificados... 179 os melhores entre os melhores... 185 6
Aníbal Coutinho Nascido em 1968, em Armação de Pera, Algarve, casado, 2 filhos, licenciou-se em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico e é membro efetivo da Ordem dos Engenheiros. Fundou, após uma passagem pela Academia Militar, a IDOM Engenharia, empresa integrada num dos maiores grupos ibéricos de estudos e projetos. O gosto pelo vinho levou-o de novo à universidade, desta vez ao Instituto Superior de Agronomia, onde se especializou em Viticultura e Enologia, tendo concluído o mestrado em Análise Sensorial. Atualmente, frequenta o programa de doutoramento na mesma área científica. É membro da Associação Portuguesa de Enologia, o grémio dos enólogos portugueses. No final de 2002 começou a escrever sobre vinhos na revista Evasões e, desde então, tem intensificado o seu trabalho de crítica especializada, colaborando com o semanário Sol, com o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, com a rádio TSF, a revista Grande Consumo, entre outros títulos. Durante 2009 fez parte da Hora de Baco, programa televisivo dedicado ao vinho. Publica, desde 2005, duas seleções anuais de vinho: Copo&Alma, Melhores Vinhos e Copo&Alma, Guia Popular de Vinhos (Editorial Presença), o primeiro em Portugal com uma seleção, em prova cega, dos melhores vinhos do segmento de consumo diário que pretende ser uma ferramenta de apoio ao consumidor que adquire os seus vinhos na moderna distribuição. O seu guia Copo&Alma, Melhores Vinhos passou, em 2010, a ser exclusivamente digital, estando alojado no novo portal de vinho www.w-anibal.com. É autor do guia sobre Portugal integrado na coleção internacional TOP 10 Vinhos da editora Dorling Kindersley. É júri de vários concursos internacionais de vinho, como o Concours Mondial de Bruxelles, International Wine Challenge, Vinalies Internationales, Citadelles du Vin, Selections Mondiales Canada ou o Mundus Vini. Em Portugal preside aos concursos regionais da península 9
de Setúbal e da Beira Interior. É também o coordenador técnico do novo Concurso Uva d Ouro. Entre várias colaborações como formador e consultor, destacam-se as parcerias com os Tivoli Hotels & Resorts e com a Modelo Continente Hipermercados. É diretor técnico da Vinipax, maior evento de vinhos do Sul de Portugal. Tem na música outra atividade profissional, sendo membro efetivo do Coro Gulbenkian, desde 1998. 10
Introdução O desafio das prateleiras Os deuses do mundo dos vinhos Dioniso, dos gregos, e Baco, dos romanos favorecem os vinhos portugueses. De modo grosseiro, os consumidores nacionais, como eu, bebem moderada e prazerosamente 400 milhões de litros anuais, com a esmagadora maioria das garrafas a serem adquiridas em supermercados. Os bons resultados da exportação levam para os quatro cantos do mundo outros 300 milhões de litros. Mas Portugal só produz 600 milhões de litros por ano... Mesmo fazendo contas de merceeiro, é fácil perceber que Portugal importa vinho de outros países, sobretudo de Espanha, para o revender, com mais-valias. E isso é bom! Mas num ano de menor produção, a fileira nacional do vinho tem problemas de abastecimento para os vinhos que representam as regiões de produção com o designativo de Vinho Regional com Indicação Geográfica (IG) ou de Vinho de Denominação de Origem Protegida (DO). Este facto, que venho explicando há mais de 10 anos, deve ser a base estratégica para a subida (substancial) do preço médio do vinho nacional. Devido à nossa arte de vinificar e às vinhas velhas de menor produção e maior concentração, Portugal continua a ser um país de grandes vinhos a pequenos preços. Não tenham dúvidas: os nossos supermercados têm a gama de vinhos mais qualitativa do mundo! A sorte do consumidor nacional tem, no entanto, o seu reverso. Apesar de a qualidade média dos vinhos portugueses ser superior à de outros países vinhateiros, a pressão comercial tem precipitado a decisão de engarrafamento de vinhos muito jovens, consumidos cedo demais, sem tempo de mostrar o seu potencial. Os enólogos adaptaram-se a esse consumo «acabado de espremer» com técnicas que estão a marcar o perfil sensorial do vinho português. O uso de madeiras que dão corpo a um vinho acabado de nascer e o cheiro de amadurecimento ao líquido que ainda mama está hoje generalizado. Por vezes, a arte da madeira não enobrece a nossa tradição secular. Por outro lado, uma estirpe indígena de levedura dekkera ou brettanomyces fica oculta pelas notas da madeira mas revela-se rapidamente não só 11
em aromas animais e farmacêuticos mas também na secura desequilibrada que causa na nossa boca, porque se alimenta de todos os compostos do vinho que contenham algum tipo de açúcar disponível. O controlo da ação da Brett assim é carinhosamente conhecida é tecnicamente possível mas difícil e, por vezes, pouco compatível com a prontidão e com as margens de rentabilidade. A pressão comercial e a falta de vinho justificam a colocação nas prateleiras nacionais de garrafas menos consensuais e dificilmente prazerosas. Infelizmente, esta realidade afeta todas as regiões vitivinícolas portuguesas. O Guia Popular de Vinhos, um trabalho de seleção e triagem em prova cega de mais de 1500 vinhos tranquilos os que são indevidamente designados por vinhos de mesa por nos acompanharem à refeição e presentes nas prateleiras dos supermercados, com PVP entre 2 e 10 euros, pode servir de instrumento de revelação de bons vinhos a preços baixos. Palavra dos autores! A decisão é sua. Acha que precisa de auxílio, ou não? 12
Neil Pendock Se virássemos o mapa do mundo ao contrário, Calitzdorp, no centro do deserto do Karoo, que fica no coração da África do Sul, passaria a ser Casablanca. Ambas as cidades se situam a 33,5º, mas em hemisférios opostos. Casablanca é a maior cidade de Marrocos, um país que produz os melhores vinhos do Norte de África, um papel que a África do Sul desempenha a sul. A viticultura moderna foi introduzida em Marrocos pelos colonos franceses, depois de ter sido estabelecida pelos fenícios milénios antes. Foram refugiados huguenotes oriundos de França, no final do século xvii, que introduziram a produção de vinho na ponta mais ao sul do continente africano. Essas vinhas sul-africanas plantadas nos séculos xvii e xviii eram dominadas pelas videiras clássicas de Bordéus: Cabernet Sauvignon e Merlot, Sauvignon Blanc e Semillon, com um recente afluxo de Syrah do Ródano. O Chenin Blanc do Loire está a ser redescoberto, havendo também algum Pinot Noir da Borgonha e Chardonnay. Mas a mudança está em progresso. Em Karoo, uma região semidesértica da África do Sul, viticultores como Carel Nel, proprietário da fazenda Boplaas, estão a plantar castas portuguesas, entre as quais Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Verdelho. São 30 hectares de vinhas que medram no deserto com 200 ml de chuva por ano. Quanto mais resistentes e menos dependentes de água forem as variedades portuguesas de uva, melhor se adaptarão ao clima de Karoo. E está em curso uma segunda revolução, na medida em que Carel está a tentar persuadir os consumidores de vinhos sul-africanos a trocarem a austeridade do Cabernet Sauvignon pelo Touriga com aroma floral de violeta, e o espargo verde do Sauvignon Blanc pelo Verdelho com aroma tropical de ananás. O que ele está a propor é nada menos que uma revolução do paladar. 13
Para tal, Carel foi pioneiro numa variedade de misturas portuguesas, tanto de brancos como de tintos, que são comercializadas na Woolworths, uma grande cadeia de supermercados. As vendas estão a aumentar 40% ao ano à medida que a África do Sul descobre que estes vinhos frutados acessíveis se conjugam bem com pratos populares como o frango peri-peri e as sardinhas assadas que têm uma forte ligação a Portugal. Além disso, os seus preços são atrativos, o que convém a consumidores atingidos pelos ventos agrestes de uma economia instável. Assim, quando a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa Vinhos de Lisboa organizou uma prova de vinhos nos finais do ano passado no Hotel Table Bay, na Cidade do Cabo, África do Sul, os representantes das cadeias de supermercados estavam muito interessados em provar os vinhos à venda e ficaram muito impressionados com a relação qualidade-preço. O responsável pela aquisição de vinhos da Woolworths teve oportunidade de comparar versões sul-africanas das castas tradicionais de Portugal com as castas autênticas. Por seu lado, o responsável pela cadeia Shoprite Checkers, o maior armazenista de África, pôde dialogar pessoalmente com os produtores nacionais sobre as aquisições para o mercado angolano. Dizer que os vinhos portugueses são competitivos na África do Sul é algo muito irónico, visto que o euro é muito mais forte que o rand, a moeda sul- -africana, e Coimbra dista 10 000 quilómetros da Cidade do Cabo. Há muito que se impõe uma transformação de dimensão lusófona dos vinhos sul-africanos, o que seria uma boa notícia para ambos os mercados. Afinal, os navegadores portugueses chegaram às costas do que hoje é a África do Sul, vários séculos antes dos huguenotes. O turismo vinícola entre os dois países só pode trazer benefícios e, dado o grande número de sul-africanos cujas raízes estão em Portugal, Angola e Moçambique, o estreitar de relações irá encorajar a familiaridade, a aceitação e, esperemos, as vendas. As vindimas em Portugal e na África do Sul estão seis meses dessincronizadas, permitindo assim trabalhos de inverno para os viticultores e enólogos, para além de uma troca de ideias e estilos que beneficiará ambos os mercados. Na verdade, uma relação mais próxima entre os vinhos de Portugal e da África do Sul faz deste guia anual de vinhos uma ferramenta muito útil. Quanto tempo faltará para que ele inclua um capítulo sobre vinhos produzidos com castas portuguesas na África do Sul? 14
Porquê entre 2 e 5 euros? O vinho é um produto com várias facetas. Em tempos remotos, de guerras, pestes e pouca tecnologia, o vinho era consumido para saciar a sede. Durante o Estado Novo, serviu de alimento, satisfazendo necessidades energéticas e nutricionais mas provocando um consumo exagerado e criando um consumidor compulsivo e pouco exigente. Hoje, o vinho tem nova imagem: é um produto orgulhosamente português, com peso na economia nacional e com uma função aspiracional típica de um artigo de luxo. Esta nova imagem do setor e do produto deve ser acompanhada por uma credibilização do seu preço. Ao selecionar vinhos que se encontram nas prateleiras da moderna distribuição, alvos de uma aquisição continuada, o seu preço de venda mais elevado deve refletir o nível de vida português e a sua inclusão numa dieta alimentar equilibrada. O preço máximo de 5 euros possibilita uma escolha muito ampla e uma qualidade boa, por vezes muito boa. Trata-se de um valor que permite ao produtor entrar em pormenores de produção, tanto na vinha como na adega, que podem justificar um mimo na qualidade do produto e a consequente fidelização do consumidor. A justificação da fasquia baixa dos 2 euros prende-se, justamente, com a dignificação do vinho como produto de qualidade e do produtor como empresário. Se pensarmos que é necessário mais de um quilo de uvas (sãs!) por cada garrafa, que é preciso vinificar essas uvas, estabilizar e conservar o vinho novo, filtrá-lo e engarrafá-lo, pagar a garrafa, a rolha, a cápsula, os rótulos e a caixa, a paletização, a distribuição, a comunicação e (algo que temos todos que valorizar) o lucro do produtor, o consumidor não tem a qualidade mínima do produto garantida abaixo de 2 euros. Ajude a dignificar o vinho e a produção nacional: não compre vinho engarrafado abaixo de 2 euros! 15
Porquê entre 5 e 10 euros? Este é o intervalo onde se deveria situar a maioria do vinho nacional. O vinho é um produto alimentar muito especial. Talvez o único que abrange as duas funções pelas quais se rege qualquer sociedade moderna: a utilidade e a aspiração. O consumidor busca o vinho por utilidade quando pretende ingerir um alimento líquido, sentir o bem-estar e a evasão que o álcool provoca, pontuar um momento ou uma ação, acompanhar a sua refeição, cozinhar, colaborar preventivamente na melhoria de vários aspetos da sua saúde. De um modo geral, qualquer vinho satisfaz todas as necessidades enumeradas. Quer isto dizer que para as funções de utilidade o perfil do vinho é anónimo, de preço baixo; um vinho corrente, de grande volume, que justifique um alto rendimento das vinhas e, portanto, o recurso dominante a vinhas novas e de alta tecnologia. Não somos um país com estas características; não podemos competir em preço com países enotecnológicos como o Chile, a Argentina ou a Austrália. Infelizmente, é nesse negócio ruinoso que estamos metidos, cá dentro e lá fora. O vinho cumpre a função aspiracional quando o consumidor quer ser reconhecido entre os seus pares, quando serve como marca de status, quando se torna um valor de investimento e a sua guarda deve ser segura ou se for reconhecido como um produto exclusivo, disputado e de altíssima qualidade, passível de colecionismo. Neste caso, o perfil do vinho remete para uma peça de artesanato, de limitada produção, elaborado com capacidade de guarda, um vinho de ampla estrutura e complexidade, diferente, surpreendente. Busca-se vinhas de muito baixo rendimento e de grande concentração; estamos claramente no domínio de vinhas velhas, da pequena propriedade, em suma, estamos em Portugal. Ao consumir vinhos neste intervalo, contribuirá para a melhoria da qualidade e da estabilidade da fileira do vinho nacional e o seu prazer será redobrado. Por encontrar uma excelente oferta de vinhos a este preço na moderna distribuição, decidi selecionar e propor-lhe as minhas melhores provas. 16
Os três zonamentos do Portugal vinhateiro Continuo a pensar que a melhor e mais nobre forma de retribuir o enorme carinho e o constante apoio que recebo de toda a fileira nacional do vinho é a introdução fundamentada de pistas de reflexão sobre o futuro desta importante atividade económica. Ao longo dos últimos anos, propus algumas medidas de revisão da arquitetura das nossas regiões vinhateiras, em função de algo tão grandioso quanto inegável: a vontade da Natureza e o seu impacto no gosto do vinho, que, acredito, em Portugal se resume a três terrunhos: ATLÂNTICO (da frescura e leveza, integrando Minho, Beira Atlântica e Lisboa), VALES (da concentração, integrando Trás-os-Montes, Douro, Dão e Beira Interior) e SUL (da macieza e doçura, integrando Tejo, Alentejo, Península de Setúbal e Algarve). Escrevi que os vinhos do Centro de Portugal «cobrem um amplo espetro, desde a frescura atlântica até à concentração da viticultura de montanha infelizmente, a tutela ainda não teve o discernimento para desagregar o vinho Regional Beiras que tudo junta e a todos os consumidores confunde devido à disparidade de estilos que a mesma designação regional pode conter». Imagine o leitor como me senti quando fui informado da cisão definitiva nas Beiras: o Conselho Geral da Comissão Vitivinícola do Dão aprovou a criação da nova Indicação Geográfica (Regional) Terras do Dão; os Conselhos da CVR Beira Interior e da CVR Bairrada aprovaram as novas IG Terras da Beira e IG Beira Atlântico, respetivamente. Isto quer dizer que os vinhos certificados por estas CVR passarão a ser designados por Regional (ou IG) Terras do Dão, Terras da Beira ou Beira Atlântico e no patamar cimeiro por DOC (ou DO) Dão, Beira Interior e Bairrada. Os milhões de consumidores de vinho nacional são os únicos ganhadores com esta clarificação da prateleira e do que cada garrafa encerra. Este ano, com o apoio de resultados científicos da minha tese de mestrado, posso afirmar que, de acordo com o painel de 20 especialistas nacionais consultados, os vinhos de Portugal estão sob a influência de três grandes terrunhos ou terroirs, que dividem o país em outras tantas zonas, com algumas subzonas. 17
Atlântico de Portugal Esta zona é regida pelo clima atlântico. As maiores humidade e precipitação, as menores amplitudes térmicas influenciam decisivamente o ano vitícola. Os solos têm uma maior percentagem de areia devido aos estuários dos rios e aos sistemas dunares. Estamos na zona de maior fertilidade dos solos, das hortas e da produtividade. É uma região com grande heterogeneidade de variedades (castas) de uva, mas todas elas amadurecem com maior dificuldade. Basta lembrarmo-nos de um vinho minhoto ou da Beira Litoral: excelentes na acidez natural, desafiantes na boca enquanto jovens. A evolução em garrafa destes vinhos é excelente. Os vinhos do Atlântico têm um enorme espetro de combinação com a nossa gastronomia tradicional devido, justamente, à sua acidez elevada e à juventude dos seus taninos, que se combinam com facilidade com as proteínas da comida. Pessoalmente, acho que é a zona de eleição para a elaboração de vinhos brancos e rosados, pela sua frescura, longevidade e vocação gastronómica. Vale a pena referir que Bucelas é o berço da casta Arinto, conhecida como Pedernã no Minho. A região atlântica tem uma barreira montanhosa que delimita o anfiteatro voltado para o oceano. No Minho região vinhateira com maior tipicidade sensorial entre todas as regiões portuguesas, constituindo, por si só, uma subzona de influência atlântica estreme, são as serras da Peneda, Cabreira, Marão; nas Beiras, a influência atlântica, presente na Beira Litoral, esbarra com o Caramulo, o Buçaco e a serra da Lousã; a região de Lisboa é limitada pelo conjunto Aires-Candeeiros e Montejunto. As regiões de vinho do terroir Atlântico são o Minho, a Beira Atlântico e Lisboa. Também os nossos vinhos das ilhas se englobam no perfil Atlântico. Vales de Portugal Sob influência continental extrema, aqui se registam as maiores amplitudes térmicas do país. Sobre Trás-os-Montes escreveu Miguel Torga: «Terra- -Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve.» Englobada no zonamento dos Vales, encontra-se a denominação de origem Douro, a mais afamada da nossa terra. Estamos no domínio dos vales profundos com a presença fluvial do Cávado, do Douro e, mais abaixo, do Coa, do Dão, do Mondego e do Zêzere, porque se 18
inclui Trás-os-Montes, o Dão e a Beira Interior. Aqui o Homem submete-se às penas da viticultura de encosta, tendo sublimado a sua arte nos socalcos do Douro, património mundial desde 2001. Esta é a região da Touriga Nacional, da Tinta Roriz (que no Sul se denomina Aragonez), da Tinta Amarela (ou Trincadeira), do Bastardo e do Rufete. As castas brancas Gouveio, Malvasia, Síria (ou Roupeiro) e Códega de Larinho também são comuns. A encosta dá origem a trabalhos totalmente manuais e a menores produtividades, que geram vinhos naturalmente concentrados, de grande profundidade e elegância. Diz-se, com acerto, destes vinhos dos Vales que «primeiro se estranha e depois se entranha». São vinhos originados nos solos pobres de granito e xisto e destinados às mesas nacionais e internacionais mais exigentes. As Indicações Geográficas de vinho do terroir Vales são (Regional) Duriense, Transmontano, Terras do Dão e Terras da Beira. Sul de Portugal No grande Sul está a preferência de um em cada dois consumidores portugueses quando selecionam uma garrafa. De facto, o Alentejo (última das grandes regiões portuguesas a despertar para o vinho) é o líder incontestado do mercado interno. Para além do grande «Mar Interior», como lhe chamava José Saramago, sob a influência deste terroir mediterrânico continental, seco e solarengo, que amadurece facilmente a uva, com planuras que facilitam a mecanização e a irrigação dos solos argilo-calcários ou arenosos pobres, encontram-se também o Tejo, o Algarve e a península de Setúbal, região protegida da brisa atlântica pelo maciço da Arrábida. O grande Sul tem a maior homogeneidade de castas, com o domínio de Castelão, Aragonez e Trincadeira, nas castas tintas, e Roupeiro (designada por Síria) e Fernão Pires (designada por Maria Gomes) nas brancas. Também é comum a boa adaptação das castas internacionais, sobretudo Cabernet Sauvignon, Syrah e a branca Chardonnay. Aqui se faz o grande volume frutado e gostoso, os vinhos fáceis e redondos e aromaticamente expressivos, tão ao estilo do Novo Mundo e do consumidor internacional. O Sul pode e deve competir lá fora nesse segmento de vinhos que já lhe deu a liderança do consumo interno, tendo como vantagem competitiva o facto de ser uma região europeia. 19
Terroirs de Portugal Vales de Portugal Atlântico de Portugal Sul de Portugal 20
Terroirs de Portugal Regiões Vinhateiras Atlântico de Portugal Minho (Vinho Verde) Vales de Portugal Trás-os-Montes Douro Beiras Bairradinas (Atlântico) Dão Beira Interior Lisboa Sul de Portugal Tejo Alentejo Península de Setúbal Algarve 21
Como consultar este guia Marca do vinho, com atributos Cor do vinho Quinta Poço do Lobo, Bruto Branco 5-10 w Caves São João 2013 DO Bairrada Arinto & Chardonnay. Cor média citrina. Bolha fina e persistente. Brioche, mel, fruta branca assada. Mousse de espuma ainda dominante. Cremoso, glacial, gastronómico e salivante. Preço Produtor Ano de colheita Indicação Geográfica e de Qualidade (IG ou DO) Texto descritivo do vinho Vinho de emoção. Os autores dedicaram-lhe 1, 2 ou 3 corações. 34
vinhos efervescentes 35
vinhos efervescentes Cabriz, Bruto Branco 5-10 w Dão Sul/Global Wines 2012 DO Dão Lote com Encruzado. Cor média citrina. Bolha fina e persistente. Brioche, limonados, fruto branco. Expressivo. Mousse fresca, salivante, agridoce. Longo e gastronómico. Encontro, Bruto Branco 5-10 w Qta. do Encontro/ Global Wines 2010 DO Bairrada Lote com Arinto. Cor média citrina. Bolha fina e persistente. Frutado com evolução, mousse de espuma ainda dominante. Glacial, melhor na mesa ou no picoteio. Marquês de Marialva, Blanc de Blancs, Bruto Branco 2-5 w Adega Coop. Cantanhede 2013 DO Bairrada Lote com Arinto. Cor clara citrina. Bolha fina e persistente. Leve brioche, fruta branca madura. Cremoso e consensual. Boca leve, bem resolvida. Marquês de Marialva, Blanc de Noir, Bruto Branco 5-10 w Adega Coop. Cantanhede 2013 DO Bairrada Baga. Cor clara de cobre. Frutado maduro, brioche e pão torrado, leve nota floral. Rico. Espuma amigável, fresco e conversador. Sucrosidade grata. Superior. Quinta da Romeira, Bruto Branco 5-10 w WineVentures 2012 DO Bucelas Arinto. Cor média citrina, reflexo dourado. Limonado, leve pastelaria doce, ananás em compota. Mousse agridoce, estrutura média e alongada, final firme e gastronómico. 36
vinhos efervescentes Quinta Poço do Lobo, Bruto Branco 5-10 w Caves São João 2013 DO Bairrada Arinto & Chardonnay. Cor média citrina. Bolha fina e persistente. Brioche, mel, fruta branca assada. Mousse de espuma ainda dominante. Cremoso, glacial, gastronómico e salivante. São João, Reserva Branco 2-5 w Caves São João 2013 DO Bairrada Lote com Bical. Cor clara citrina. Bolha fina e persistente. Floral, goma de frutas, muito primário. Efervescência dominante. Boca leve, bem resolvida. Sou do Alto, Bruto Branco 5-10 w Cooperativa Agrícola Beira Serra 2012 DO Beira Interior Malvasia & Arinto. Cor amarela média. Cítrico e infusões herbais, leve pastelaria doce. Boca cremosa, glacial, salivante. Mais longo do que largo. Marquês de Marialva Rosé 2-5 w Adega Coop. Cantanhede 2013 IG Beira Atlântico Baga. Cor clara de topázio. Frutos vermelhos, leve nota herbal e de pastelaria. Expressivo. Espuma cremosa, estrutura média muito alongada. Salivante e fresco. Compra acertada. 37