DOAÇÃO. 1. Referência legal do assunto. Arts. 538 a 564 do CC. 2. Conceito e características da doação



Documentos relacionados
Art Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.

DA DOAÇÃO. É o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens e vantagens para o de outra

Direito Civil III Contratos

DIREITO CIVIL IV TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS. Foed Saliba Smaka Jr. Aulas 27/28 10 e 11/11/2015.

Aula 008 Da Sucessão Testamentária

- Doação a incapaz, terá de o ser sem encargos (puras) e produz efeitos independentemente da aceitação (presumida). (951. nº. 1 e 2 CC).

DOAÇÃO E SEUS IMPACTOS NO DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÃO.

Contrato de Doação. Material didático destinado à sistematização do conteúdo da disciplina Direito Civil III Publicação no semestre 2014.

6 Inventários e arrolamentos. Processo. Petição de herança, 83

Do ato formal da doação e da dispensa de colação em face do novo código civil José da Silva Pacheco

PONTO 1: Sucessões. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA art do CC. A dispensa tem que ser no ato da liberalidade ou no testamento.

Professora Alessandra Vieira

REGIME DE BENS NO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Regime de Bens no Casamento. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

NEGÓCIO JURÍDICO Conceito MANIFESTAÇÃO DE VONTADE + FINALIDADE NEGOCIAL (aquisição, conservação, modificação e extinção de direitos)

a) Liberatória (art. 299 CC) o devedor originário está exonerado do vínculo obrigacional.

Validade, Vigência, Eficácia e Vigor. 38. Validade, vigência, eficácia, vigor

1 Geli de Moraes Santos M. Araújo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº

Processos de Regularização de Imóveis

OAB 139º - 1ª Fase Regular Modulo II Disciplina: Direito Civil Professor João Aguirre Data: 24/07/2009

Grupo de Estudos de Empresas Familiares GVlaw/ Direito GV. Reflexos Familiares e Sucessórios na Empresa Familiar. Apresentação

DEFENSORIA PÚBLICA E PROCURADORIAS NOTURNO Direito Civil Professor Murilo Sechieri Data: 02/10/2012 Aula 07 RESUMO. SUMÁRIO (continuação)

Contrato Unilateral - gera obrigações para apenas uma das partes. Contrato Bilateral - gera obrigações para ambas as partes.

Classificação da pessoa jurídica quanto à estrutura interna:

Turma e Ano: Turma Regular Master A. Matéria / Aula: Direito Civil Aula 19. Professor: Rafael da Mota Mendonça

TODAS AS INFORMAÇÕES SÃO EXTREMAMENTE IMPORTANTES!!! CASAMENTO CIVIL (Brasileiros)

Regime de bens no casamento. 14/dez/2010

DIREITO DAS SUCESSÕES 2.º Ano Turma A (Dia) Época de Recurso Professor Doutor Luís Menezes Leitão

Noções de Direito Civil Personalidade, Capacidade, Pessoa Natural e Pessoa Jurídica Profª: Tatiane Bittencourt

Julio Cesar Brandão. I - Introdução

PRÁTICA CIVIL E PROCESSUAL LEGALE

AULA 06 DA ADOÇÃO (ART A 1629 CC)

A extinção da personalidade ocorre com a morte, que pode ser natural, acidental ou presumida.

RESUMO DA TABELA DE EMOLUMENTOS E TFJ DE 2015 EM VIGOR PARA ATOS PRATICADOS A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2015

Novembro/2010. Prof a. Esp. Helisia Góes

N e w s l e t t e r AAPS

1. REGISTRO RESTRIÇÕES PARA ATUAR COMO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. Falido:... Estrangeiro:... Médico:... Advogado:... Membros do legislativo:...

- Espécies. Há três espécies de novação:

Art rol de legitimados. Partilha Provisória dos bens do ausente. Com procurador - 3 anos contados do desaparecimento

Conteúdo: Fatos Jurídicos: Negócio Jurídico - Classificação; Interpretação; Preservação. - FATOS JURÍDICOS -

Férias Individuais e Coletivas; Período Aquisitivo e Concessivo; Remuneração; Abono; Efeitos na Rescisão Contratual

11/11/2010 (Direito Empresarial) Sociedades não-personificadas. Da sociedade em comum

EMPRÉSTIMO. 1. Referência legal do assunto. Arts. 579 a 592 do CC. 2. Conceito de empréstimo

PERGUNTAS E RESPOSTAS NOVAS REGRAS PARA ESCOLHA DE BENEFICIÁRIOS

Prova de Direito Civil Comentada Banca FUNDATEC

DIREITO CIVIL Espécies de Contratos

EXERCÍCIO 1. EXERCÍCIO 1 Continuação

Modular Direito de Família Disposições Gerais Sobre o Casamento Incapacidade e Impedimento Causas Suspensivas Fernando Viana

MATERIAL DE APOIO PROFESSOR

PACTO ANTENUPCIAL REGIMES DE BENS

ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLECENTE PROF. GUILHERME MADEIRA DATA AULA 01 e 02

CONCEITO DE INVENTÁRIO

Resumo Aula-tema 05: Direito de Família e das Sucessões.

Exame de Direito das Sucessões. 18 de junho de I (17 valores) Em 2008, C é condenado pelo crime de homicídio doloso de seu irmão D.

Perguntas Frequentes sobre o Certificado Sucessório Europeu

Prescrição e decadência

DIREITO CIVIL EXERCÍCIOS SUCESSÕES DISCURSIVAS:

DA PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL NA PERSPECTIVA DO REGISTRO DE IMÓVEIS: CLÁUSULAS SUSPENSIVA E RESOLUTIVA, EXTINÇÃO E PUBLICIADE REGISTRAL

Direito Civil VI - Sucessões. Prof. Marcos Alves da Silva

Boletim Informativo junho/2015 ITCMD

SOCIEDADE EMPRESÁRIA

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DOS ALIMENTOS

PADRÃO DE RESPOSTA PEÇA PROFISSIONAL

Profª Helisia Góes Disciplina: DIREITO CIVIL VI SUCESSÕES Turmas: 8ºDIV, 8DIN-1 e 8DIN-2 Data: 08/08/2012 AULA 04

Nele também são averbados atos como o reconhecimento de paternidade, a separação, o divórcio, entre outros, além de serem expedidas certidões.

ESPÉCIES DE RENÚNCIA AO DIREITO HEREDITÁRIO E EFEITOS TRIBUTÁRIOS. Artur Francisco Mori Rodrigues Motta

Professora: Vera Linda Lemos Disciplina: Direito das Sucessões 7º Período

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E BAIXA DE SOCIEDADE

OAB. OAB. DIREITO CIVIL. Glauka Archangelo. - ESPÉCIES DE SUCESSÃO. Dispõe o artigo do Código Civil que:

Art. 22 NCPC. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:

1. Direito das coisas 2. Posse 3. Classificação da Posse 4. Ações ou Interdito possessórios 5. Propriedade

ANEXO 1 - MODELO DE ESCRITURA DE SEPARAÇÃO CONSENSUAL SEM PARTILHA DE BENS

CONTRATO DE EMPRÉSTIMO: MÚTUO E COMODATO

CONTRATO DE LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL

27. Convenção da Haia sobre a Lei Aplicável aos Contratos de Mediação e à Representação

A propositura da ação vincula apenas o autor e o juiz, pois somente com a citação é que o réu passa a integrar a relação jurídica processual.

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA A

DIREITO DAS SUCESSÕES

Direito Civil Dr. Márcio André Lopes Cavalcante Juiz Federal

Direito das Sucessões Parte I. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

A COLAÇÃO DOS BENS DOADOS A HERDEIROS: ANÁLISE DO ACÓRDÃO Nº JULGADO PELO TJRS

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

TABELA DE CORRESPONDÊNCIA CÓDIGO CIVIL/1916 E CÓDIGO CIVIL/2002

PREPARATÓRIO 2ª ETAPA Direito Civil Parte Geral e Contratos Professor: Marcu Antonio Gonçalves

SOCIEDADE LIMITADA. Sociedade Limitada. I - responsável integralmente e ilimitadamente pelas dívidas assumidas em seu próprio nome

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Em regra, todos os créditos podem ser cedidos (art. 286 CC) a) Créditos de natureza personalíssima;

Direito Empresarial Elisabete Vido

Direito Civil VI - Sucessões. Prof. Marcos Alves da Silva

REGISTRO DE CASAMENTO DE MORTO

14. TRIBUTOS EM ESPÉCIE Impostos sobre a Transmissão ITBI e ITCMD

I Notas básicas para compreensão da questão Vamos a algumas premissas históricas, básicas e óbvias para a compreensão do problema:

Teoria Geral das Obrigações. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

[Nota: os instrumentos de alteração contratual devem conter o número de registro da sociedade no CNPJ e o número de inscrição da sociedade na OAB/ES]

DESTAQUES DO INVENTÁRIO 1

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre Brasil University of New South Wales Sydney Austrália Universidade do Povo Macau - China

PLANO DE OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES DE EMISSÃO DA VIA VAREJO S.A.

Execução de alimentos. Prisão do devedor, 394

Transcrição:

1. Referência legal do assunto Arts. 538 a 564 do CC. DOAÇÃO 2. Conceito e características da doação O art. 538 do CC define a doação como um contrato pelo qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. Do conceito acima mencionado poder-se-ão extrair quatro características fundamentais, a saber: a) Contratualidade: O CC considera a doação como um contrato, requerendo para a sua formação a intervenção de duas partes contratantes, o doador e o donatário, cujas vontades se entrosam para que se perfaça a liberalidade por ato inter vivos, distinguindo-se dessa maneira do testamento, que é liberalidade causa mortis. b) Ânimo do doador de fazer uma liberalidade (animus donandi): O ato do doador deverá revestir-se de espontaneidade. Faltará o espírito de liberalidade se o autor do benefício agir no cumprimento de uma obrigação ou para preencher uma condição ou um encargo de disposição que lhe tenha sido imposto, ou, ainda, no cumprimento de um dever moral ou social, ditado por imperativos de justiça, hipóteses em que se terá o cumprimento de uma obrigação natural, cujo regime jurídico se afasta da doação (CC, art. 564, III).

c) Transferência de bens ou de direitos do patrimônio do doador para o do donatário: Se inexistir translação de valor econômico de um patrimônio a outro não se terá doação, visto que é um contrato que envolve um ato de alienação. d) Aceitação do donatário: O contrato não se aperfeiçoará enquanto o beneficiário não manifestar sua intenção de aceitar a doação. Por se tratar de contrato benéfico, o donatário não precisará ter capacidade de fato para aceitar a doação pura e simples, embora se suponha necessário o consentimento de seu representante legal. Mesmo o nascituro (infans conceptus) poderá receber doação, mas a aceitação deverá ser manifestada por aquele a quem incumbe cuidar de seus interesses (CC, art. 542). Se nascer morto, embora aceita a liberalidade, esta caducará, mas se tiver um instante de vida, receberá o benefício, transmitindo-o aos seus sucessores (art. 2 º, 2 a parte). Se o donatário for absolutamente incapaz dispensa-se a aceitação expressa, estando sob o poder familiar (CC, art. 543). Normalmente a aceitação é expressa quando o donatário manifesta o desejo de receber o benefício de modo expresso, por palavra escrita ou oral, no próprio ato da liberalidade, visto que comparece à escritura para declarar que aceita a doação.

3. Classificação da doação a) Unilateral Cria obrigação apenas para o doador b) Gratuito (benéfico) Apenas o donatário aufere vantagem com a realização do contrato de doação c) Comutativo A prestação no contrato de doação é certa e determinada 4. Requisitos da doação Para que a doação seja válida, além dos requisitos reclamados por qualquer negócio jurídico, será imprescindível o preenchimento de outros, a saber: a) Requisito subjetivo: A capacidade ativa ou capacidade para doar pode faltar em razão de uma situação especial do doador em decorrência do direito de família. A capacidade para doar está sujeita a certas limitações, pois: 1- Os absoluta ou relativamente incapazes não poderão, em regra, doar, nem mesmo por meio de representantes legais, visto que as liberalidades não são tidas como feitas no interesse do representado. Porém, o pródigo poderá doar se assistido de seu curador, que dará ou não sua anuência, conforme o caso, pois ele pratica certos atos de administração. 2- Os cônjuges, sem a devida autorização, exceto no regime de separação absoluta de bens, estão impedidos de fazer doação com os bens e rendimentos comuns, não sendo remuneratória, ou com os que possam integrar a futura meação (CC, art. 1689, II).

3- As pessoas jurídicas podem doar e receber doações, só que as de direito público sujeitar-se-ão às restrições de ordem administrativa e as de direito privado sofrerão as limitações impostas pela sua índole, pelos seus estatutos e atos constitutivos. 4- Os ascendentes poderão fazer doações a seus filhos, que importarão em adiantamento da legítima (CC, art. 544, 1 ª parte), devendo ser por isso conferidas no inventário do doador, por meio de colação (CC, art. 2.002 e CPC art. 1014), embora o doador possa dispensar a conferência, determinando, em tal hipótese, saiam de sua metade disponível, calculada conforme o art. 1.847 do CC, contanto que não a excedam, porque o excesso será considerado inoficioso e, portanto, nulo. Todavia, nula será qualquer cláusula que possa vir a alterar as normas de direito sucessório. b) Requisito objetivo: Para ter validade a doação precisará ter por objeto coisa que esteja in commercio (bens móveis, imóveis, corpóreos ou incorpóreos, presentes ou futuros, direitos reais, vantagens patrimoniais de qualquer espécie). Além do mais, será imprescindível a liceidade e a determinabilidade; daí a conveniência de se observarem as seguintes normas: 1- Não valerá a doação de todos os bens (doação universal), sem reserva de parte ou renda suficiente para a subsistência do doador (CC, art. 548), a fim de se evitar excessiva liberalidade, que coloque o doador na penúria. Nula será tal doação mesmo que haja para o donatário o encargo de prover a subsistência do doador, enquanto este viver.

2- Se com a doação o doador ficar insolvente, os credores prejudicados poderão anulá-la, a não ser que o donatário, com o consentimento dos credores, assuma o passivo do doador, dando-se, então, uma novação subjetiva (CC, art. 360, II). 3- A doação inoficiosa está vedada por lei; portanto, nula será a doação da parte excedente do que poderia dispor o doador em testamento, no momento em que doa (CC, art. 549), pois, se houver herdeiros necessários, o testador só poderá dispor de metade da herança (CC, arts. 1789 e 1846), preservandose, assim, a legítima dos herdeiros; daí a nulidade dessa doação inoficiosa apenas na porção excedente à legítima de seus herdeiros, a qual, sofrerá, então, uma redução até o limite permitido por lei. Importante notar, que o excesso será apreciado no momento da doação e não no da abertura da sucessão. Procedente a ação de redução, restituem-se os próprios bens, no que exceder, ou o seu respectivo valor, se aqueles não mais existirem. 4- O doador poderá estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário; essa cláusula de reversão deverá resultar de disposição expressa, operando, então, como uma condição resolutiva, de cujo implemento resultará a restituição do bem doado; os frutos, porém, pertencerão ao donatário. Como não se admite negócio a termo, nada obsta a que se imponha a reversão antes da morte do donatário, mas veda-se efeito de cláusula de reversão em benefício de terceiro. c) Requisito formal: A doação é um contrato solene, pois o art. 541 do CC lhe impõe forma específica. O dispositivo legal estabelece obrigatoriamente a forma escrita, ao exigir que a doação se faça por instrumento público ou particular, e, apenas

excepcionalmente, admite, em seu parágrafo único, sua celebração por via verbal, em certos casos excepcionais. 5. Espécies de doação 5.1. Doação simples ou pura: Trata-se daquela feita sem qualquer encargo. Trata-se de um ato de pura liberalidade. 5.2. Doação com encargo: A doação com encargo, também chamada modal, estabelece um ônus, ou seja, submete o donatário a determinada tarefa ou função. 5.3. Doação condicional: É aquela em que a eficácia do contrato está subordinada à ocorrência de um evento futuro e incerto. 5.4. Doação remuneratória: É aquela em que, sob a aparência de mera liberalidade, há firme propósito do doador de pagar serviços prestados pelo donatário ou alguma outra vantagem que haja recebido dele. 5.5. Doação contemplativa ou meritória:

É aquela feita em contemplação a um merecimento do donatário (CC, art. 540). Nesta hipótese, o doador prevê, expressamente, quais são os motivos que o fizeram decidir pela celebração do contrato de doação. 5.6. Doação sob forma de subvenção periódica: Trata-se de uma doação de trato sucessivo, em que o doador estipula rendas a favor do donatário (CC, art. 545). Como regra, terá como causa extintiva a morte do doador ou do donatário, mas poderá ultrapassar a vida do doador. Porém, em hipótese alguma, poderá ultrapassar a vida do donatário. 5.7. Doação em contemplação de casamento futuro (propter nuptias): É aquela realizada em contemplação de casamento futuro com pessoa certa e determinada (CC, art. 546). Na hipótese em que o casamento não for realizado o nubente deverá devolver a coisa com os mesmos efeitos do possuidor de boa-fé. 5.8. Doação com cláusula de reversão: A doação com cláusula de reversão (ou cláusula de retorno) é aquela em que o doador estipula que os bens doados voltem ao seu patrimônio se sobreviver ao donatário (CC, art. 547). Esta cláusula tem natureza personalíssima, portanto não pode ser estipulada a favor de terceiro, pois isso caracterizaria uma espécie de fideicomisso por ato inter vivos, mecanismo este vedado pela legislação civil. 5.9. Doação conjuntiva:

É aquela que conta com a presença de dois ou mais donatários (CC, art. 551), presente uma obrigação indivisível. Como regra, não há direito de acrescer entre os donatários na doação conjuntiva. Dessa forma, falecendo um deles a sua quota será transmitida diretamente para os seus sucessores e não para o outro donatário. Mas o direito de acrescer pode estar previsto no contrato (direito de acrescer convencional) ou na lei (direito de acrescer legal). O parágrafo único do art. 551 do CC prevê uma hipótese do direito de acrescer legal quando os donatários forem marido e mulher. 5.10. Doação manual: Trata-se da doação de bem móvel de pequeno valor celebrada verbalmente, desde que seguida da entrega imediata da coisa (CC, art. 541, parágrafo único). 5.11. Doação a entidade futura: A lei possibilita a doação a uma pessoa jurídica que ainda não exista, condicionando sua eficácia à sua regular constituição (CC, art. 554). Se a entidade donatária não for constituída no prazo de dois anos contados da efetuação da doação ela caducará. 5. Invalidade nos contratos de doação O CC estabelece algumas formas de doações inválidas, estabelecendo tanto a nulidade como a anulabilidade do contrato. As hipóteses são:

a) Doação inoficiosa: Trata-se da doação que excede o limite de disposição patrimonial do doador, prejudicando a legítima dos herdeiros. É um caso de nulidade textual do contrato de doação (CC, art. 549), porém atinge tão-somente a parte excedente da legítima. Como a questão envolve ordem pública, a ação declaratória de nulidade da parte inoficiosa (também denominada de ação de redução) é imprescritível, podendo ser proposta a qualquer tempo (CC, art. 169). b) Doação universal: Trata-se da doação de todos os bens, sem reserva do mínimo para a sobrevivência do doador (art. 548 do CC). É, também, um caso de nulidade textual do contrato de doação. c) Doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice: Prevê o art. 550 do CC que esta espécie do doação é anulável, desde que a ação proposta pelo cônjuge prejudicado ou pelos seus herdeiros necessários ocorra até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. O dispositivo não se aplica se o doador viver com o donatário em união estável.

6. Promessa de doação Pela promessa de doação uma das partes compromete-se a celebrar um contrato de doação futura, beneficiando o outro contratante. Trata-se de um negócio jurídico polêmico na doutrina nacional, com opiniões favoráveis e contrárias a sua prática. Contudo, é bom observar que o STJ já reconheceu a validade e a eficácia desta forma negocial. 7. Revogação da doação A revogação é forma de resilição unilateral, de extinção de um contrato por meio de pedido formulado por um dos contratantes em virtude da quebra de confiança entre eles. A revogação da doação pode dar-se por dois motivos: por inexecução do encargo ou modo ou por ingratidão (CC, art. 555). As hipóteses que indicam a revogação da doação por ingratidão estão relacionados no art. 557 do CC. As hipóteses são taxativas e ação para pleitear a desconstituição do contrato tem natureza personalíssima. Por descumprimento do encargo o art. 562 do CC prescreve que a doação onerosa poderá ser revogada por inexecução do encargo, desde que o donatário incorra em mora; não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida.