Profª Helisia Góes Disciplina: DIREITO CIVIL VI SUCESSÕES Turmas: 8ºDIV, 8DIN-1 e 8DIN-2 Data: 08/08/2012 AULA 04

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1 01 Profª Helisia Góes Disciplina: DIREITO CIVIL VI SUCESSÕES Turmas: 8ºDIV, 8DIN-1 e 8DIN-2 Data: 08/08/2012 AULA 04 II - SUCESSÃO EM GERAL (Cont...) 7. Aceitação e Renúncia da Herança (arts a 1.813, CC) 7.1. Aceitação A aceitação vem a ser o ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro, legítimo ou testamentário, manifesta livremente sua vontade de receber a herança que lhe é transmitida. (DINIZ, 2008) é o ato jurídico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara que deseja ser herdeiro e recolher a herança. (MONTEIRO, 2006) Ser herdeiro é uma condição que depende de aceitação. Pode o herdeiro, se assim lhe convier, deixar de aceitar a herança, renunciá-la. A aceitação será processada da seguinte forma: Abertura da Sucessão» Delação» Aceitação» Aditio ONDE: Abertura (morte); Delação (oferecimento da herança); Aceitação (engloba a delação); e a Aditio (declaração de vontade que aceita a herança). Observações Importantes a) É ato necessário, pois ser herdeiro não é uma imposição (art , CC), até mesmo porque o receber a herança também implica em receber obrigações (HERANÇA = ativo + passivo) b) É ato não-receptício, porque independe do conhecimento de terceiros; c) Retroage ex tunc (à data da morte) Efeito retrooperante/confirmação (art , CC); d) Torna a transmissão da herança definitiva (art , CC); e) Pode ser expressa, tácita ou presumida (art , CC); f) É ato unilateral, não podendo ser subordinado a termo ou condição (art , do CC); g) Não pode ser parcial, pois a herança é uma universalidade (art c/c 91, CC); h) É irrevogável (art , CC) Uma vez herdeiro sempre herdeiro (semel heres semper heres); Observação pode ocorrer a nulidade do ato de aceitação (art. 171,II, CC); i) Remete ao herdeiro os direitos e obrigações ligados à herança; Obs.1: Aceitando a herança o herdeiro não responde pelos encargos superiores às forças desta (arts , 836 e 276, CC; art. 597, CPC); j) Não pode haver renúncia prévia, somente após a morte do antecessor, considerando que o direito brasileiro não permite os pactos sucessórios (art. 426, CC) Espécies de Aceitação Quanto à forma: 1) Expressa: quando resulta de declaração escrita, pública ou particular (art. 1805, 1a. parte, CC); Obs.2: Manifestação verbal não serve como aceitação expressa, ainda que perante duas testemunhas.

2 02 2) Tácita: que resulta da prática de atos, positivos ou negativos, próprios da qualidade de herdeiro (art.1805, 2a. Parte, CC); Exemplos: representação por advogado no inventário, cessão onerosa de direitos hereditários, administração, sem caráter provisório, dos bens que integram a herança, cobrança de dívidas do espólio, intervenção no inventário concordando com avaliações ou com outros atos do processo, transportes de bens da herança para seu domicílio. Obs.3: O 1º, do art. 1805, do CC, esclarece que não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. Bem como o 2º reforça que a cessão gratuita, pura e simples, da herança aos demais herdeiros, não pressupõe aceitação. Ex.: simples requerimento de inventário ou mera outorga de procuração para o processo obrigações legais inerentes aos herdeiros, alienação de coisas suscetíveis de perecimento ou deterioração, se autorizada pelo magistrado, pagamento de débito da herança pagar dívida alheia é legalmente permitido. 3) Presumida: refere-se ao prazo legal estipulado pelo juiz (até 30 dias) para agilizar o ato de aceitação do herdeiro, sob pena de presumir-se a aceitação - Omissão de recusa (art , CC). Quanto à pessoa que manifesta a aceitação: 1) Direta: manifestada pelo próprio herdeiro. 2) Indireta: manifestada por pessoa diversa. Desse modo, podem aceitar a herança pelo herdeiro/legatário: 2.1) Sucessores: falecimento do herdeiro antes de aceitar ou recusar a herança. Há transmissão do poder de aceitar ou repudiar a herança, e não do acervo hereditário (1.809, CC). Obs.4: Exceção - Na pendência de condição suspensiva, imposta pelo testador, e ainda não verificada, extingue-se o direito sucessório do herdeiro (art , in fine c/c art. 125, CC). Obs.5: Para aceitar ou renunciar à herança, os sucessores chamados deverão concordar em receber a segunda herança (do de cujus-herdeiro) art , Par. único; 2.2) Tutor ou Curador de Heranças, Legados ou Doações (com ou sem encargos): quando o sucessor for civilmente incapaz, mas depende de autorização judicial (art , II, CC). 2.3) Mandatário ou Gestor de Negócios: quando a aceitação é manifestada por procurador (não é ato personalíssimo). No caso de gestor de negócios a questão não é pacífica, entendendo a maioria da doutrina que tal situação será possível mediante confirmação do herdeiro. 2.4) Credores: caso algum credor seja prejudicado pela renúncia à herança, manifestada pelo herdeiro, poderá, com autorização judicial, aceitá-la em nome do renunciante, desde que o devedor não possua outros meios para quitar a dívida (1.813, CC). Obs.6: O prazo para habilitação de credores é de 30 (trinta) dias (decadencial), contados do conhecimento da renúncia do herdeiro; Obs.7: Os credores só podem usufruir da herança até o montante do crédito, devolvendo-se o restante da herança renunciada aos demais herdeiros, pois a condição de renúncia não se alterará. Obs.8: Se o herdeiro renunciante possuir bens para pagar seus credores, poderá repudiar a herança, sem restrições Renúncia Renúncia é o ato jurídico unilateral, pelo qual o herdeiro declara expressamente que não aceita a herança a que tem direito, despojando-se de sua titularidade. (DINIZ, 2008)

3 03 o herdeiro não é obrigado a receber a herança; se a recusar, sua renúncia não lhe cria qualquer direito, pois o renunciante é considerado como se nunca tivesse herdado. (DINIZ) , Par. Único,CC. Observações Importantes a) É ato essencial para que o herdeiro deixe de receber a herança (art , Par. Único, CC); b) Deve ser expressa e escrita, pois a lei exige formalidade especial para sua manifestação, por se tratar de negócio jurídico de despojamento de direitos Forma Prescrita em Lei (Instrumento Público ou Termo Judicial - art , CC); c) É ato unilateral, não podendo ser subordinado a termo ou condição (art , CC); d) Não pode ser parcial, pois a herança é uma universalidade (art c/c 91, CC); e) É irrevogável, irretratável e definitiva (art , CC); Obs.10: Exceção pode ocorrer a nulidade do ato de aceitação (art. 171,II, CC); f) É essencial que o sucessor não realize qualquer ato equivalente à aceitação da herança, pois com aceitação tácita consumada não terá validade uma renúncia posterior; g) Não pode haver renúncia prévia, somente após a morte do antecessor, considerando que o direito brasileiro não permite os pactos sucessórios (art. 426, CC); h) Retroage ex tunc (à data da morte) - art , CC; i) Objeto Lícito: proibida está a renúncia contrária à lei, ou conflitante com direitos de terceiros (art , 1º e 2º, CC). Não se admite a fraude contra credores; j) O herdeiro desvincula-se dos direitos e obrigações ligados à herança; k) Deve ser abdicativa, com cessão gratuita, pura e simples, feita indistintamente a todos os herdeiros (art. 1805, 2º, CC); l) Capacidade Jurídica do Renunciante: além da capacidade civil genérica, necessário será que o sucessor tenha capacidade de alienar patrimônio, visto que a renuncia assemelha-se a uma alienação. Obs.11: No caso de incapazes a renúncia deve ser manifestada por seu Representante Legal (autorizado pelo juiz). Obs.12: No caso de renúncia manifestado por mandatário é necessário que a procuração seja pública, com poderes especiais (art. 661, 1º, CC). ATENÇÃO: Sendo a herança um bem imóvel, o ato de renúncia do sucessor casado (exceto no regime de separação absoluta) necessita de outorga marital. Entretanto, há julgados que entendem ser possível renunciar à herança ou legado sem autorização do cônjuge, apesar do que dispõe o art , I c/c art. 80, II, ambos do CC. ATENÇÃO: Se houver renúncia em favor de determinada pessoa não pode ser considerado como ato de renúncia, mas sim de cessão ou doação. Renúncia translativa = aceitação, com posterior cessão ou doação. Serão pagos os impostos de transmissão inter vivos e causa mortis Efeitos da Renúncia a) O herdeiro renunciante é tido como se nunca houvesse herdado não poderá ser considerado no cálculo da porção disponível; b) O quinhão hereditário será transmitido ipsu iure aos demais herdeiros da mesma classe, na sucessão legítima; Só valerá para o testamento se o de cujus não determinou substituição. Ver art. 1810, CC. c) Os descendentes do renunciante não herdam por representação na sucessão legítima. Entretanto, seus filhos poderão ser chamados pela renúncia de todos os herdeiros ou nos termos dos arts e 1811, CC. d) Tornar-se-á caduca a disposição de última vontade, na sucessão testamentária, a não ser que o de cujus indique substituto (art. 1947, CC) ou haja direito de acrescer entre os herdeiros (art. 1943, CC);

4 04 e) O renunciante de herança não está impedido de aceitar legado; f) Pode o renunciante administrar e ter usufruto dos bens que, pelo seu repúdio, forem repassados a seus filhos menores sob poder familiar. 8. Cessão da Herança É o negócio jurídico de alienação, gratuita ou onerosa, total ou parcial, do quinhão hereditário ou legado, pelo herdeiro ou legatário (art , caput, CC). Não pode ser confundida com a renúncia, visto que depende da aceitação da herança por parte do herdeiro cedente. Entretanto, no âmbito doutrinário, verificamos certa confusão entre os dois institutos. DIAS (2011, p. 200) faz uma observação bastante coerente acerca do assunto: Na renúncia é como se o herdeiro não tivesse recebido a herança, que retorna ao acervo sucessório, passando aos demais herdeiros. O herdeiro não transfere seu quinhão hereditário, simplesmente abdica dele. Daí dizer-se que a renúncia é abdicativa, porque o herdeiro abdica da herança. Já a cessão é translativa, eis que ocorre a transferência do patrimônio a quem o herdeiro desejar. A renúncia é sempre gratuita, mas a cessão pode ser onerosa. A Cessão da Herança está disciplinada nos arts a 1.795, do CC. Segundo o art , 2º, do CC, quando a cessão é gratuita, pura e simples, equipara-se a verdadeira renúncia ao acervo hereditário, desde que tenha por beneficiários os demais herdeiros do processo sucessório. A cessão somente pode ser realizada após a abertura da sucessão e antes da partilha dos bens (art , caput, CC). Devemos lembrar que o negócio de cessão tem por objeto bem incerto e indeterminado, que é a herança (universalidade art. 91, CC). Assim, será ineficaz a cessão realizada sobre qualquer bem da herança considerado singularmente ( 2º, do art , CC). A cessão somente poderá ser feita por escritura pública (art , CC). ATENÇÃO: Importante lembrar que a legislação brasileira considera a herança como um único bem imóvel (art. 80, II, CC). Desse modo, fica plenamente justificada a exigência legal da escritura pública para a formalização do negócio de cessão. Ademais, se a cessão for gratuita, será necessária a aceitação do beneficiário, nos termos do art. 538 e ss, CC. Obs.1: Para Dias (2011), a cessão poderá ser feita no próprio inventário, sem necessidade de escritura pública própria, mas apenas no caso de Inventário Extrajudicial (art. 982, CC). Cumpre observar que, diferentemente da renúncia, os efeitos da cessão da herança não retroagem ex tunc, à data da abertura da sucessão. Ao contrário, o efeito da cessão é ex nunc, pois só vale a partir do ato translativo. ATENÇÃO: Na cessão haverá a incidência de dupla tributação: um imposto por transmissão causa mortis (ITCD) e um imposto por transmissão inter vivos (ITBI ou ITCD). Desse modo, será cobrado o ITCD (Imposto de Transmissão Causa Mortis) pela transmissão do patrimônio da pessoa do falecido para seu herdeiro. Se houver cessão gratuita, ainda será cobrado o ITBI ou, se for onerosa, haverá novamente a incidência do ITCD. O negócio de cessão possui duas partes contratantes: o CEDENTE (herdeiro/legatário que aliena o seu quinhão hereditário) e o CESSIONÁRIO (pessoa, herdeiro ou estranho à sucessão, que adquire o quinhão hereditário). Entretanto, é um tipo de contrato aleatório, pois nem sempre é conhecida a

5 05 quantidade e a extensão do patrimônio e dos encargos objeto da cessão. (DIAS, 2011, p.203). Assim, o cedente não responde pelos riscos da evicção (arts. 447 a 457, CC). Obs.2: Para que o negócio de cessão seja válido, é necessário que o herdeiro cedente seja agente capaz (art. 104, I, CC). Desse modo, o herdeiro menor somente poderá ceder sua herança com expressa autorização judicial. ATENÇÃO: Importante lembrar que o cedente não perde a sua condição de herdeiro, pois apenas transfere o patrimônio hereditário. Assim, os direitos conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão realizada anteriormente ( 1º, do art , CC). Da mesma maneira, o cessionário não assume a condição de herdeiro perante o processo sucessório, mas apenas a de mero credor, aguardando a partilha dos bens da herança, para efetivamente receber o quinhão alienado pelo herdeiro cedente. O cessionário sub-roga-se na posição do cedente, mas não vira herdeiro. (DIAS, 2011, p. 205) Observo, ainda, que o cessionário assume os encargos da herança, mas apenas até o limite do quinhão que adquiriu. Além disso, o cessionário possui legitimidade concorrente para requerer a abertura do inventário (art. 988, V, CPC), e pode participar do processo de inventário, inclusive como inventariante (art. 990, VI, CPC). ATENÇÃO: No caso de quinhão recebido por força de testamento, o herdeiro não poderá ceder tal quinhão se o testador impôs cláusula de inalienabilidade ao mesmo. Em Destaque: A. A CESSÃO DA HERANÇA É UM NEGÓCIO JURÍDICO, portando deve atender aos elementos essenciais, previstos do Código Civil, para qualquer negócio jurídico (art. 104, CC): Agente capaz (herdeiro ou legatário) Objeto lícito (herança não individualizada); Forma prescrita em lei (escritura pública). B. Os atos de aceitação e renúncia referem-se à manifestação de vontade do sucessor. Portanto, a ocorrência de um (Ex: aceitação) impede a realização do outro (Ex: renúncia). C. A renúncia é ato distinto da cessão da herança, visto que os efeitos destes institutos são completamente diferentes. Enquanto o efeito jurídico da renúncia retroage à data da morte, o da cessão não retroage, produzindo efeitos a partir do aperfeiçoamento do negócio de alienação. D. A manifestação de vontade (aceitação/renúncia) do sucessor não tem prazo específico para ocorrer, entretanto, somente pode ser realizada após a morte do titular do patrimônio (de cujus), e antes da partilha. E. Todos os sucessores, herdeiros e legatários, precisam manifestar sua vontade (aceitação/renúncia) no processo de inventário. BIBLIOGRAFIA DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. São Paulo: RT, DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Brasileiro: Direito das Sucessões. São Paulo: Saraiva, VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões. São Paulo: Atlas, 2004.