Contrato de Doação. Material didático destinado à sistematização do conteúdo da disciplina Direito Civil III Publicação no semestre 2014.

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Transcrição:

Contrato de Doação Material didático destinado à sistematização do conteúdo da disciplina Direito Civil III Publicação no semestre 2014.1 Autor: José Carlos Ferreira da Luz

2 Dados de acordo com: AACR2, CDU e Cutter Biblioteca Central SESP / PB L979a Luz, José Carlos Ferreira da Contrato de doação / José Carlos Ferreira da Luz. Cabedelo, PB: [s.n], 2014. 16p. Material didático da disciplina Direito Civil III Instituto de Educação Superior da Paraíba (IESP) - Curso de Direito, 2014. Direito civil. 2. Material didático. 3. José Carlos Ferreira da Luz. I. Título. CDU 347(072)

3 CONTRATO DE DOAÇÃO 1. DOAÇÃO 1.1. Conceito - Doação é um contrato onde uma das partes se obriga a transferir para a outra parte um bem de sua propriedade. - O artigo 538 do Código Civil define a doação como o contrato em que uma das partes, por liberalidade, transfere bens ou vantagens do seu patrimônio para terceiro, que os aceita. - Natureza jurídica o Discussão doutrinária onde para alguns a doação é uma forma de aquisição da propriedade. Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. 1.2. Características Contratualidade: o nosso Código Civil considerou expressamente a doação como um contrato, exigindo para sua formação a intervenção do doador e do donatário. Dessa maneira, temos a distinção do testamento que é uma liberalidade causa mortis, ato unilateral. Animus donandi : é a vontade do doador de fazer uma liberalidade, que proporciona ao donatário vantagem à custa do patrimônio daquele. O ato do doador deve ser espontâneo. Transferibilidade: consiste na transferência de bens ou de direito do patrimônio do doador para o donatário. É necessário que o donatário enriqueça e o doador empobreça. Aceitação do donatário: o contrato só se aperfeiçoa quando o beneficiário manifesta sua aceitação com relação à doação. Portanto, de um lado há o animus donandi e do outro a aceitação do

4 donatário, consentindo na liberalidade do doador. Trata-se de um contrato benéfico em que o donatário não precisa ter capacidade de fato para aceitar a doação, de acordo com o artigo 543 do Código Civil. 1.3. Classificação o Unilateral: somente uma das partes tem ônus; a outra aufere a vantagem, não tendo contraprestação. o Formal: o artigo 541 do Código Civil exige a escritura pública ou o instrumento particular para o aperfeiçoamento da doação. A doação verbal só é válida para bens móveis de pequeno valor, desde que a tradição seja imediata. o Gratuito: gera para o donatário apenas enriquecimento. Caso seja imposto um encargo ao donatário, o contrato passa a ter natureza de oneroso. o consensual (a entrega é apenas o momento da sua materialização) 1.4. Requisitos a) Subjetivo É a capacidade ativa e passiva dos contraentes, limitada pelas seguintes regras: os absoluta ou relativamente incapazes não podem, em regra, doar, nem mesmo representados ou assistidos; os cônjuges não podem fazer doação com os bens e rendimentos comuns do casal, a não ser que seja remuneratória ou de pequeno valor (artigo 1.647 do Código Civil); a doação pelo cônjuge adúltero ao cúmplice gera anulabilidade (artigo 550 do Código Civil); o mandatário do doador não pode nomear donatário; a limitação se dá porque o próprio mandante é obrigado a, no instrumento, nomear o donatário, pois tal ato é privativo do doador;

5 as pessoas jurídicas de direito público podem receber doação de acordo com as restrições administrativas, e as de direito privado podem receber doações impostas pela sua natureza e estatutos constitutivos; o falido não pode fazer doações, porque tal ato lesa os credores, além do mesmo não estar administrando seus próprios bens; a ação pauliana é o remédio para anular essas doações; a doação do pai ao filho representa adiantamento da legítima artigo 544 do Código Civil. O bem deve, por conseguinte, no instante do inventário, ser colacionado, salvo dispensa do doador. Nessa hipótese, o valor deve sair da metade disponível da herança. Havendo excesso, considera-se doação ineficiosa (artigo 2007 do Código Civil). É nula qualquer cláusula que altere norma sucessória. A capacidade passiva é a aptidão para receber doação. Não possui qualquer limitação. De acordo com o artigo 543 do Código Civil, até as pessoas que não podem contratar podem receber doações puras. Os nascituros (artigo 542 do Código Civil) e as pessoas jurídicas podem receber doações, devendo haver a intervenção dos representantes legais. b) Objetivo O objeto da doação precisa ser sempre coisa que esteja no comércio (bens móveis, imóveis, corpóreos, incorpóreos, presentes, futuros etc.). Restrições: É nula a doação de todos os bens do doador, sem reserva de parte ou renda suficiente para sua subsistência (artigo 548 do Código Civil). O Código quis evitar a penúria do doador, ainda que o donatário fique com o encargo de prover subsistência do doador enquanto este viver (RT 515/87). A doação universal só vale se houver usufruto dos referidos bens para proteger a pessoa do doador, assegurando-lhe, por conseguinte, meios de subsistência (RT 440/76). A doação não pode gerar a insolvência do doador. Nessa hipótese, os credores prejudicados poderão anular a doação. A doação será válida se o donatário, com o consentimento dos

6 credores, assumir o passivo do doador, ocorrendo uma novação subjetiva (artigo 360, inciso II, do Código Civil). A doação não pode ultrapassar a parte disponível da herança (artigo 549 do Código Civil). Nula será a doação se exceder a legítima, não na doação por inteiro. O herdeiro lesado pode ingressar imediatamente com ação de redução da doação. A dúvida sobre a matéria está no fato de o herdeiro poder ingressar em Juízo somente após a abertura da sucessão ou no momento da liberalidade, isso porque estar-se-ia litigando sobre a herança de pessoa viva. O excesso seria apreciado no momento da doação e não no momento da sucessão. Procedente a ação de redução, restituem-se os próprios bens, no que exceder, ou o valor deles, se não mais existirem. Na subvenção periódica, o doador pode doar uma renda a título gratuito ao donatário (pensão), que se extingue com a morte do doador por ter caráter personalíssimo, não se transmitindo aos herdeiros. Pode o doador, porém, estipular que remanescerá pela vida do donatário; entretanto não poderá ultrapassá-la (artigo 545 do Código Civil). c) Formal A doação é um contrato solene que deve observar certa formalidade, sob pena de não ser válida. Pode ser celebrada: Por instrumento particular: no caso de móveis com valores consideráveis; Por escritura pública: no caso de imóveis sujeitos a transcrição no registro imobiliário; Verbalmente: seguida de tradição, se o objeto for móvel e de pequeno valor (artigo 541, parágrafo único, do Código Civil). É a hipótese da doação de presentes em aniversários, em casamentos ou para homenagens. d) Aceitação o Aceitação expressa o Aceitação tácita

7 o Aceitação ficta (o caso dos incapazes) o Aceitação presumida (silêncio qualificativo ou circunstancial) na doação pura Exceção é a doação com encargo feita no art 539 onde existe há fixação de prazo para o donatário Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. 1.5 Algumas reflexões - - É um contrato cujo consentimento merece algumas reflexões. - Doação de bem alheio o A doação de bem alheio é nula de pleno direito. Na compra e venda é válida mas ineficaz, pois fica na dependência da aquisição do bem no futuro. - Confusão entre a doação e outros institutos. o A doação não se confunde com a renúncia à prescrição ou com a herança. Também não é doação a prestação de serviços que devendo ser onerosa é gratuita. - Falecimento do doador o Se o doador faz uma doação e fixa um prazo de 6 meses para materializa-la e nesse prazo vem a falecer, os herdeiros estão obrigados a realizar a doação. - Doação a nascituro Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. o Nascituro é o ser já concebido mas ainda ligado ao ventre materno. o Existem os aspectos controversos sobre o surgimento da personalidade e as teorias natalistas e concepcionistas.

8 o Caso nasça morto, caduca a doação, por ser o nascituro titular de direito sob condição suspensiva. o Se tiver um instante de vida, recebe o benefício e transmite aos seus sucessores. - Doação a incapaz Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura. o A redação do artigo está tecnicamente correta. o A lei dispensa a aceitação no caso de doação pura - Promessa de doação - Algumas correntes se contrapõem na discussão da matéria. - 1 a Corrente: não é cabível o Benefício não se impõe o Animus donandi (intenção de doar) - 2 a corrente: cabível nas doações remuneratórias (art 540) o Doação feita como um sinal de contra-prestação que seria onerosa mas foi gratuita. Exemplo: suponha que você patrocine uma causa graciosamente pela gratidão eu o contemplo com algum bem. A doação assim feita tem a intenção de remunerar. o Só é doação aquilo que excede ao valor da prestação; Exemplo: O serviço prestado custou R$ 1.000,00, entrego então um bem que vale R$ 1.000,00. Não é doação, só acontece a doação naquilo que excede o valor, o que empata é apenas um contrato atípico (art 425), ao invés de remunerar com dinheiro remunerei com um bem. - 3 a corrente: cabível pois justifica-se tendo em vista que o Pré-contrato é uma liberalidade. o Existe a Liberdade de contratar. o Aplicação prática no juízo de família

9 Pais no momento da partilha dos bens na separação, contemplam o filho, na época com 5 anos, com a doação do imóvel. Depois, pode acontecer que, não fazem o inventário, depois convertem a separação em divórcio e fica lá a promessa. Os pais depois da maioridade do filho não querem mais doar. Como fica a situação do filho? Essa promessa de doação pelos pais aos filhos é dotada de eficácia plena (jurisprudência) O problema é que a promessa de doação não se submete a registro no Cartório de Registro de Imóveis, logo não tem publicidade, não pode ser oposta a terceiros, é na verdade um grande problema. - Doação Pura o Doação pura típica, simples, não há encargos, há o ânimo de contemplar uma pessoa que é o donatário, cuja aceitação é presumida. - Doação Onerosa ou com encargo Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto. o Só é doação além do encargo imposto. o Encargo Imagine que alguém recebe um terreno por doação que está todo ocupado, além disso existe um encargo de prestar aliemntso ao doador enquanto ele sobreviver. Nesse caso, o encargo supera a liberalidade. Não se trata pois de uma doação, mas de um contrato atípico. Agora, se recebo uma mansão no valor de R$ 1 milhão e tenho como encargo prestar alimentos a uma pessoa bastante idosa. A doação supera o encargo. Encargo como modalidade do negócio jurídico

10 Encargo é um elemento acidental voluntário que tem o poder de reduzir o alcance de uma liberalidade. Só é vista nos negócios jurídicos unilaterais como: doação e legado. Doação e testamento Existe uma similitude entre a doação e o testamento, no direito francês, ambos são tratados no mesmo livro: o das sucessões. Favorecidos O próprio doador o Dou o imóvel com o encargo do donatário me prestar alimentos até o fim da vida. A um terceiro o Dou o imóvel com o encargo do donatário prestar alimentos a uma terceira pessoa. Interesse geral o Dou o imóvel com o encargo do donatário instalar um orfanato. Inadimplemento Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral. Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito. A conseqüência jurídica do descumprimento pode fazer o doador: o Exigir o cumprimento do encargo Pode ser exigido pelo interessado, pelos herdeiros ou pelo Ministério Público. o Revogar o encargo Direito apenas do doador Não pode outra pessoa revogar pois

11 1.6. Espécies de Doação RE + VOGAR, significa RE (para trás) VOGAR (voz), isto é retroceder na palavra empenhada. Ora apenas quem empenhou a palavra foi o doador só ele pode voltar atrás, herdeiros ou qualquer outra pessoa não pode voltar atrás, pois nada fez. Pura e simples: feita por liberalidade, sem nenhuma espécie de condição, termo, encargo, prazo ou limitação. A doação contemplativa, por mérito do donatário, é pura e simples. Exemplo: Prêmio Nobel. Conjuntiva: Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual. Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo feita em comum a mais de uma pessoa, sendo distribuída por igual entre os diversos donatários (artigo 551 do Código Civil). Se um dos donatários falece a sua cota será partilhada entre seus herdeiros, não há direito de acréscimo aos outros donatários. Se os donatários forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo. Condicional: É a que depende de acontecimento futuro e incerto. É, por exemplo, a doação de um imóvel feita em contemplação por casamento futuro. A doação somente surte efeito com o casamento. Doação com cláusula de reversão

12 Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro È bastante interessante, o doador pode estabelecer cláusula de reversão, por exemplo: se o donatário falecer antes dele o bem doado volta para o patrimônio do doador. Caráter Pessoal: o doador dá um caráter personalíssimo à doação, não permitindo que o direito se transmita por sucessão. Questão polêmica: Pode haver reversão para terceiro Sim. Doutrinadores como Washington Barros admitem pois entendem que a doação é direito patrimonial e disponível. Não. Para doutrinadores como Caio Mário, estaria ocorrendo a figura do fideicomisso que só existe na sucessão. Prevalece o entendimento que não pode parágrafo único do art 547. Doação antenupcial É a doação entre os futuros cônjuges, é uma doação sob condição suspensiva, a do casamento se realizar. Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar É proibido ao viúvo que não deu partilha dos bens, nesse caso a lei diz que a separação de bens é obrigatória. Também não cabe no caso de comunhão universal dos bens. Doação a entidade futura

13 Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente. É o caso de doação a uma futura doação. Caduca a doação se a Fundação não vier a ser constituída. Doação com cláusula de reserva de usufruto vitalício Nessa doação dá-se com uma mão e tira-se com as duas, ou seja, o doador tira os dois mais importantes poderes: usar e fruir. Exemplo: o pai dá o imóvel para a filha mas, fica o seu usufruto vitalício. - Doação com cláusula de inalienabilidade O Pai pode doar À filha imóvel com cláusula de inalienabilidade. O fato é que tal cláusula limita a propriedade. Pois importa em que vai existir a incomunicabilidade (casamento) e impenhorabilidade (bens). O donatário pode na eventualidade, pedir judicialmente a substituição do gravame, o juiz autoriza a venda do bem e para o gravame para o imóvel adquirido com o produto da venda do primeiro. Modal: é aquela em que o doador impõe ao donatário uma incumbência, um encargo, que pode reverter em seu benefício, de terceiro ou geral. É uma doação onerosa. O doador pode estabelecer prazo para que o encargo se efetive. Remuneratória: aquela em que o doador deseja pagar por serviços prestados pelo donatário ou por outra vantagem que haja recebido dele. Não se vislumbra o espírito de liberalidade e sim a necessidade moral de compensar serviços que foram prestados. Será considerada como doação se exceder o valor do serviço remunerado; portanto, será pagamento até o montante dos serviços e, a partir disso, doação (artigo 540 do Código Civil).

14 A termo: é a hipótese de haver um evento futuro e certo final e/ou inicial. Como exemplo, a doação de um imóvel a duas pessoas, podendo uma usá-lo por dois anos e a outra, a partir daquela data. De pais a filhos (artigo 544 do Código Civil): hipótese já mencionada. Ou a doação é levada à colação, por corresponder a adiantamento de legítima, ou não, se sair da parte disponível. 1.7 Nulidades na doação - Doação universal Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. o Doador se vê na situação de difícil manutenção. o É nula. A lei protege o doador do abuso da liberalidade - Doação Inoficiosa Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. o O doador só dispõe para doar a metade disponível, se tiver herdeiros necessários: ascendente, descendente e cônjuge sobrevivente. o É a salvaguarda dos direitos da legítima. Pode-se existir a propositura da ação de anulação quando o doador está vivo? Não, fere o art 426. A ação deve considerar todas asa liberalidades. A legitimação é dos futuros herdeiros do doador. O terceiro de boa-fé não é atingido É nulo apenas o que exceder. - Doação do cônjuge adúltero Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.

15 o É menos grave, a sanção é de anulabilidade. São razões de interesse privado. o Ressalte-se que caso a separação exista de fato há algum tempo e hoje é feita a doação no âmbito de uma união estável, não é o caso de nulidade. o 1.8. Revogação - A revogação é um direito subjetivo que garante a possibilidade, em face de causa superveniente, de resilição bilateral do contrato somente pode ocorrer em virtude de lei: Pelos casos comuns a todos os contratos (artigo 555 do Código Civil); Por descumprimento do encargo (artigo 555 do Código Civil); Para revogar é preciso que o encargo esteja em mora. Se não tinha prazo para cumprir o encargo terá de ser notificado. Por ingratidão do donatário, já que esse tinha obrigação moral de ser grato ao doador. As causas da ingratidão estão previstas no artigo 557 do Código Civil, cujo rol não é mais taxativo: Se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele: esse ato não pode ser culposo ou em legítima defesa, devendo ser doloso e admitir a tentativa. Não é necessária sentença penal condenatória transitada em julgado. Se cometeu contra ele ofensa física: é o caso de lesão corporal, grave, leve ou levíssima, desde que o ato seja doloso;

16 Se injuriou gravemente, ou caluniou o doador: não é necessário que sofra condenação penal, exigindo-se apenas a humilhação; Se, podendo ministrá-los, recusou ao doador alimentos de que este necessitava: é a hipótese de deixar o doador na penúria. - Vedação à renúncia de revogação Veda que o doador renuncie a futuro direito de revogação. Art. 556. Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário. - Vedação à revogação Nem todas as doações podem ser revogadas: Art. 564. Não se revogam por ingratidão: I - as doações puramente remuneratórias; II - as oneradas com encargo já cumprido; III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; IV - as feitas para determinado casamento. - Efeitos da revogação sobre terceiros Se A doa a B, B vende para C e B atenta contra a vida de A, A não pode propor ação reivindicatória contra C, pois este estava de boa-fé, - Prazos para revogação O prazo é decadencial de 1 ano O doador pode revogar a doação, enquanto o donatário não a aceitar expressa ou tacitamente. Após a aceitação, impossível a revogação unilateral pelo doador.

17 - As doações feitas em contemplação de casamento futuro independem de aceitação, que se presume com o mero casamento (artigo 546 do Código Civil).