Dor e Amputação. Maria José Festas Fisiatra. Medicina Física e de Reabilitação. Hospital de S. João

Documentos relacionados
Síndrome Dolorosa Pós-laminectomia. MD Joana Rovani Médica Fisiatra

MAPAS SOMATOTÓPICOS NOS DIFERENTES NÍVEIS SOMESTÉSICOS HOMÚNCULO SOMATOTÓPICO. Tato- muito preciso Dor- pouco preciso

Módulo interação com o Ambiente - Sentidos I: sentidos somáticos: dor, temperatura, tato

ÁREAS CORTICAIS ENVOLVIDAS NO CONTROLE DE MOVIMENTOS: Areas de Brodmann

ANEMIA DE CÉLULAS FALCIFORMES tratamento da dor

26ª Reunião, Extraordinária Comissão de Assuntos Sociais

PARÉSIA MONOMÉLICA COMPLICAÇÃO RARA E GRAVE

Introdução às Amputações. Prof.ª Dr.ª Juliana Mendes Yule Prótese e Órtese

DOR PROTOCOLO DO TRATAMENTO CLÍNICO PARA O NEUROLOGISTA. Laura Sousa Castro Peixoto

AMPUTAÇÕES DE MEMBROS INFERIORES Prof: Alan de Souza Araujo

Lesão neurológica pós-bloqueio periférico: qual a conduta?

Auriculoterapia AULA 2010/2 2

DOR E CEFALEIA. Profa. Dra. Fabíola Dach. Divisão de Neurologia FMRP-USP

RESULTADO DE AVALIAÇÕES DAS REUNIÕES PLENÁRIAS DO CEP - CESUMAR ATÉ O DIA 14/12/2012

SISTEMA EPICRÍTICO X SISTEMA PROTOPÁTICO CARACTERÍSTICAS GERAIS

Internato de Anestesiologia

Fisiologia do Sistema Motor Somático

REFERENCIAL DE FISIOTERAPIA - ATUALIZADA 01/01/2017 Adequado à terminologia Unificada da Saúde Suplementar TUSS do Padrão TISS, regulamentado pela ANS

ACUPUNTURA PARA FISIOTERAPEUTAS (OUT 2015) - PORTO

SEMIOLOGIA DA DOR. Curso de semiologia em Clínica Médica I. Medicina humana 2 ano

Mestrado em Bioquímica

TABELA DE HONORARIOS ANEXO 11.2 EDITAL 0057/2013

MEDIDAS DE PREVENÇÃO NA SAÚDE MENTAL. Prof. João Gregório Neto

Nevralgia do trigêmeo NEVRALGIA DO TRIGÊMIO

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CURSO DE COSMETOLOGIA E ESTÉTICA DISCIPLINA: TEORIAS E TÉCNICAS DE MASSAGEM AVALIAÇÃO CORPORAL

Com o apoio científico da Secção Regional do Norte da ORDEM DOS MÉDICOS. Compreender a Enxaqueca. e outras Cefaleias. Anne MacGregor.

Defeitos osteoarticulares

PÓS-GRADUAÇÃO EM DOR

Sistema sensorial. Sistema motor

Desenvolvimento Corporal

Dor Lombar. Controle Motor Coluna Lombar. O que é estabilidade segmentar? Sistema Global: Sistema Local:

TABELA DE HONORÁRIO AMBULATORIAL ANEXO 11.2 EDITAL 0057/2013

Sumário. PARTE UM Bases das Modalidades Terapêuticas. 1. A Ciência Básica das Modalidades Terapêuticas 3 William E. Prentice e Bob Blake

Normas de cuidados para as pessoas com artrite reumatóide

ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) Prof. Ms. Marco Aurélio N. Added

Curso de Extensão FUNÇÃO MOTORA. Profa. Ana Lucia Cecconello

TRATOS ASCENDENTES E DESCENDENTES DA MEDULA ESPINAL

Prof. Kemil Rocha Sousa

Page 1 O PAPEL DAS ATIVIDADES MOTORAS NO TRATAMENTO DA ASMA CRIANÇA ATIVIDADES MOTORAS ADAPTADAS IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES MOTORAS

Memória. Dr. Fábio Agertt

PRINCIPAL ETIOLOGIA DE AMPUTAÇÃO TRANSFEMORAL EM PACIENTES ATENDIDOS NO CENTRO DE REABILITAÇÃO FAG

RECURSOS FISIOTERAPÊUTICOS PARA ALIVIO DE DOR ONCOLÓGICA: REVISÃO LITERÁRIA

Sumário Detalhado. PARTE I Gerenciamento de riscos 21. PARTE II Patologia da lesão esportiva 177. Capítulo 4 Equipamento de proteção 116

SINDROME DE GILLES DE LA TOURETTE

Sistema Nervoso. Aula Programada Biologia. Tema: Sistema Nervoso

Encéfalo. Aula 3-Fisiologia Fisiologia do Sistema Nervoso Central. Recebe informações da periferia e gera respostas motoras e comportamentais.

Isabel Piatti

Pode ser aplicada a partes do corpo ou continuamente a todo o corpo.

O que é uma lesão neurológica???????

GRUPO DE ATIVIDADES EM TERAPIA OCUPACIONAL

EPILEPSIA PÓS- TRAUMÁTICA

Ana Maria da Silva Curado Lins, M.Sc.

1) Introdução. 2) Organização do sistema nervoso humano. Sistema Nervoso Central (SNC) Sistema Nervoso Periférico (SNP) Cérebro Cerebelo.

Proposta de Criação do Curso Pós-Graduado em Disfunção da ATM e Dor Orofacial

Ventosaterapia. Cupping. Guia do utilizador. O que é? Dicas de Utilização

UNISALESIANO. Profª Tatiani

11/23/2008. Dor leve, moderada - Fuga. Trauma agudo. A na lgesia sedação. C a racterísticas farmacológicas das substâncias usadas

ANATOMIA HUMANA. Faculdade Anísio Teixeira Prof. João Ronaldo Tavares de Vasconcellos Neto

Acidente Vascular Encefálico

EXAME NEUROLÓGICO III

Psicologia Percepção Visual

RPG FISIOTERAPIA R$ 33,35. Avaliação Terapia Ocupacional não possui Não possui TERAPIA OCUPACIONAL R$ 42,

Fisiologia do Sistema Nervoso

MEMÓRIA. Drª Andressa Chodur - Terapeuta Ocupacional Mestre em comportamento Motor UFPR / Capacitada em Oficina da Memória

CRIOMASSAGEM TERAPEUTICA SECA - COOL ROLLER (JUL 2015) - PORTO

Dor miofascial - Diagnóstico e tratamento. Alexandra Fernandes Rute Soares Inês Gama

Inervação sensitiva do músculo esquelético e regulação medular do movimento

ELETROANALGESIA (BAIXA FREQUÊNCIA T.E.N.S.) Prof. Thiago Yukio Fukuda

Doenças do Sistema Nervoso

Avaliação Psicológica e DOR

Checklist (por referência à CIF)

Formação treinadores AFA

AMPUTAÇÃO TRANSFEMORAL: PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES NA PRÉ PROTETIZAÇÃO

Cuidados Paliativos e Decisões no Paciente Oncológico Terminal

HELENA JUSTO Helena Justo é uma profissional dedicada e apaixonada pela Acupuntura e Medicina Chinesa, com uma experiência alargada nestas áreas.

FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I METODOLOGIA DE TREINO

MÉTODOS DE TREINO FLEXIBILIDADE

Rita Tiziana Verardo Polastrini

DOENÇAS PULMONARES PULMONARE OBSTRUTIVAS ASMA

AMPUTAÇÃO E RECONSTRUÇÃO NAS DOENÇAS VASCULARES E NO PÉ DIABÉTICO

Utilização de órteses na reabilitação de pacientes portadores de osteoporose vertebral

Fisiologia Humana Sistema Nervoso. 3 ano - Biologia I 1 período / 2016 Equipe Biologia

Elementos do córtex cerebral

Avaliação psicológica do doente com dor

Abordagem da Criança com Cefaléia. Leticia Nabuco de O. Madeira Maio / 2013

ACUPUNTURA PARA FISIOTERAPEUTAS (ABR 2017) - LISBOA

Curso de Capacitação teórico e prático em Pé Diabético para podólogos

Palavras-chave: recurso computacional, estimulação visual, amputação, percepção sensorial.

BLOCO I IDENTIFICAÇÃO

Crescimento e Desenvolvimento Humano

TÁLAMO E HIPOTÁLAMO TÁLAMO 04/11/2010. Características Gerais

BE066 Fisiologia do Exercício. Prof. Sergio Gregorio da Silva. É a habilidade de uma articulação se mover através de sua amplitude articular

Sobre a Dor e a Gestão da Dor. Encontre mais informações no site Department of Health and Ageing

Alongamento muscular. Prof. Henry Dan Kiyomoto

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Dores na mandíbula e na face.

Neuroanatomia. UBM 4 Anatomia Dentária 15 de Dezembro de 2009 Octávio Ribeiro

Doença arterial periférica não revascularizável

Dra. Fabiana Hauser Fisiatra e Acupunturista Serviço de Dor e Cuidados Paliativos Hospital Nossa Senhora da Conceição Porto Alegre

Transcrição:

Dor e Amputação Medicina Física e de Reabilitação Hospital de S. João Maria José Festas Fisiatra Porto, 4 Fevereiro 2011

Unidades de Dor Crónica de acordo com o seu nível de organização como: 1. Consulta de Dor Crónica; 2. Unidade de Terapêutica da Dor; 3. Unidade Multidisciplinar de Dor e 4. Centro Multidisciplinar de Dor.

Amputação Modificação súbita da integridade física, com consequente perturbação da imagem corporal. Alterações psicológicas mais ou menos profundas, dependentes do grupo etário, profissão, causa, grau de amputação etc.

Dor Dor é uma percepção central de múltiplas modalidades sensoriais primárias. Envolve factores Psicológicos Neuroanatomicos Neuroquimicos Neurofisiologicos e Da memória de experiências passadas.

Sensação fantasma : experiencia somatossensorial do membro físico antes da amputação. Incluindo calor, prurido, sensação de posição, e leve aperto Dores fantasma: quando as sensações fantasma se tornam suficientemente intensas para que o amputado as defina como dolorosas.

50-80% dos amputados sentem dor no membro ausente. Inicia-se imediatamente após a remoção do membro e pode durar anos. Em cerca de metade dos casos, a sensação de membro fantasma diminui gradualmente É menor em quem fez bloqueio epidural lombar

Dor de Membro Fantasma (DMF) 53% dos pacientes com Dor 38% com Dor grave Nunca tinham sido tratados Hanley,2005

Dor de Membro Fantasma Menos Frequente: Deficits congénito Amputação da infância Ephraim PL,et al. Phantom pain, residual limb pain, and back pain in amputees: results of a national survey. Arch Phys Med Rehabil. 2005;

Inicio nos primeiros dias pós amputação. (75%) Constante: Intensidade Incidência Diminui: Frequência Duração das Crises Ephraim PL,et al. Phantom pain, residual limb pain, and back pain in amputees: results of a national survey. Arch Phys Med Rehabil. 2005;

Dor Membro fantasma Independente Género ( Bosmans 2010) Idade (adulto) Nível de amputação Lateralidade Dominância Etiologia da amputação Ephraim, 2005.

DMF causas Dor do membro residual Actividade física Duração e intensidade dor pré-amputação Agressões intra-operatórias Dor aguda no pós operatório Amputação bilateral Amputação do membro inferior (superior - Bosmans 2010)

Nível de Amputação APERTO FISGADA FACADA Dor Localização precisa Bem definida Sentida na extremidade distal do membro ausente QUEIMOR

Estímulos físicos: Água do chuveiro, baixa temperatura atmosférica, uso de prótese.. Estímulos psicossociais Atenção Estímulos emocionais Ansiedade e stress

A dor desaparece quando outro local é estimulado podendo por isso o mecanismo dever-se a Reorganização somatossensitiva

Lesão nervosa periférica Descargas ectopicas anormais que são percebidas como dor no nível abaixo da secção. Nevromas no membro remanescente.

Opioides Jessell e Iversen, 1977

Reorganização do córtex sensorial e motor

Gray Anatomia 35ª ed

Ramachandran, 1993 Movimentos voluntários da mão fantasma Actividade muscular dos musculos do coto O redespertar dos movimentos do membro fantasma para o tratamento da Dor

Jones e Pons 1998 Plasticidade Reorganização do córtex motor Reorganização do córtex sensitivo

Lotze, 1999 Uso de prótese mioelectrica Leva a diminuição de Dor do Membro fantasma

Movimentos voluntários da mão fantasma Actividade das fibras nervosas que enervariam o membro amputado Dhillon, 2004 Aumento da resposta motora do lado não amputado Elbert 1997

Os comandos motores ficam preservados após a amputação K. T. Reilly e col 2006 Objectivam-se (EMG) movimentos específicos quando move a mão fantasma (mov. imaginários)

K. T. Reilly e col 2006 Apesar da invasão das outras partes do corpo na área cortical que previamente era controlada pelo membro. Este mantém uma representação no córtex motor O que implica a integridade das vias ascendentes sensitivas e descendentes motoras

Há um remapeamento Os movimentos voluntários do membro fantasma vão diminuindo ao longo do tempo até ao que a representação é de um membro congelado K. T. Reilly e col 2006

Representação motora da face Jones e Pons 1998 Quanto maior a deslocação medial Maior a dor fantasma Birbauner 1997 A Deslocação lateral Diminui a dor fantasma

Mercier, 2006 Estimulação magnética transcortical do córtex motor Movimentos do membro fantasma

Aliviam a dor. Movimentos imaginados ou movimentos virtuais do membro amputado MacIver 2009

Procurar ponto gatilho de dor Excluir dor do coto amputação Neuromas Cistos Bursas Espiculas ósseas Locais de pressão Ajuste da prótese

Tratamento DMF Não existe um agente único ideal

1º Avaliação e correcção 3º Farmacoterapia Não há alivio Tratamento 2º Tratamento conservador (MFR) 4ºTerapia adjuvante 5ºReferir a Consulta Dor

1º Tratamento da dor fantasma Ajuste da prótese Tratar dor referida Lombar Cuidado com factores desencadeantes Temperatura Cuidado com membro residual

Tratamento da dor fantasma Ajuste da prótese Tratar dor referida Lombar Cuidado com factores desencadeantes Temperatura Cuidado com membro residual Farmocoterapia Tratamento conservador

2º Medicina Física e de Reabilitação Fisiatra Fisioterapeuta Terapeuta Ocupacional Ortoprotésico Psicólogo Assistente Social Técnicas de dessensibilização TENS, percussão, massagem Outros agentes físico Biofeedback.

3º Farmacoterapia Sequencialmente e/ ou combinação Paracetamol, AINE Opiodes fracos, opioides longos Anticonvulsivantes Antidepressivos

4ºTerapia adjuvante Acupunctura Terapia espelho caixa mirror box Realidade virtual

5º Consulta de dor crónica

Tratamento A natureza aparentemente neuropática da DMF leva a pensar que a medicação usada na dor neuropática será a mais efectiva