FONOAUDIOLOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO A PROFESSORES. Ana Claudia Tenor. Secretaria Municipal de Educação de Botucatu



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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores FONOAUDIOLOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO A PROFESSORES Ana Claudia Tenor Eixo 2 - Projetos e práticas de formação continuada - Relato de Experiência - Apresentação Oral A instituição escolar é um ambiente que possibilita a promoção do desenvolvimento dos alunos. Os objetivos desse estudo foram caracterizar a demanda fonoaudiológica das escolas de educação infantil de um município do interior de São Paulo e a seguir elaborar uma proposta de formação a professores. O trabalho foi desenvolvido no período de 2010 a 2011 e organizado em três etapas. Na primeira etapa foram avaliados 84 alunos na faixa etária de 3 a 6 anos, encaminhados das unidades escolares, os pais das crianças foram orientados e os casos necessários acompanhados e inseridos em terapia. Os resultados das avaliações mostraram que 61 (72,61%) apresentou desvio fonológico; 14 (16,66%) desenvolvimento normal; 5 (5,95%) desvio fonético; 4 (4,76%) atraso de linguagem. Na segunda etapa foram ministrados cursos de formações, um a atendentes de creche, outro a professores de pré-escola, coordenadores pedagógicos e equipe técnica pedagógica de educação infantil. Em seguida foi agendada uma reunião com a equipe técnica pedagógica para apresentar as ações fonoaudiológicas desenvolvidas e sensibilizar os educadores para a importância da promoção do desenvolvimento de linguagem nas escolas de educação infantil. Na terceira etapa foi analisado os resultados dos cursos de formações ministrados e as demandas existentes. Os resultados evidenciaram diminuição no número de encaminhamentos de alunos, mas ainda houve um número significativo de alunos com desvio fonológico. Sendo assim, é necessário o fonoaudiólogo desenvolver um trabalho em parceria colaborativa com os educadores e envolver as famílias, com vistas a promoção do desenvolvimento das habilidades fonológicas dos alunos da educação infantil. PALAVRAS- CHAVE: Fonoaudiologia. Educação Infantil. Formação de Professores. 3856

FONOAUDIOLOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO A PROFESSORES Ana Claudia Tenor. Secretaria Municipal de Educação de Botucatu INTRODUÇÃO A instituição escolar é um ambiente que possibilita a promoção do desenvolvimento dos alunos. Em se tratando da educação infantil, o trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada a sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento (BRASIL, 1998). Considerando-se tais recomendações, a formação continuada dos professores de educação infantil com enfoque aos aspectos de linguagem, é fundamental para que desenvolvam atividades que possibilitem a promoção do desenvolvimento linguístico dos alunos. Nesse sentido, o fonoaudiólogo pode desenvolver no contexto escolar, projetos de assessorias junto aos educadores e demais membros da escola. Essa parceria pode ocorrer de forma facilitadora, ao visar às dificuldades de comunicação, linguagem e fala (BELLO; MACHADO; ALMEIDA, 2012). Oliveira e Zaboroski (2013) destacaram que o trabalho da Fonoaudiologia com vistas a formação continuada de educadores tem sido uma alternativa satisfatória de atuação na instituição escolar. Esse trabalho, ao considerar ações conjuntas entre o fonoaudiólogo e a equipe escolar, auxilia o professor a compreender o processo de desenvolvimento da linguagem oral e escrita, bem como as dificuldades presentes, colaborando para a reflexão sobre as necessidades de adaptações de práticas pedagógicas que favoreçam o processo de ensino e aprendizagem do escolar. As escolas de educação infantil atendem crianças em fase de aquisição da linguagem oral, sendo assim, o fonoaudiólogo deveria dar ênfase ao trabalho com a linguagem no contexto escolar, auxiliando o educador a refletir sobre o desenvolvimento linguístico e outros aspectos que interferem na comunicação, para que possam colaborar com o processo 1 3857

de desenvolvimento de linguagem dos alunos (RONCATO; LACERDA, 2005; MARANHÃO; PINTO; PEDRUZZI, 2009; OLIVEIRA et al. 2009). Conforme os estudos apontaram, as alterações de linguagem infantil poderiam ser evitadas, por meio de programas de promoção e prevenção à saúde da comunicação humana junto às escolas de educação infantil (LIMA; GUIMARAES; ROCHA, 2008; INDRUSIAK; ROCKENBACH, 2012). No que diz respeito as práticas fonoaudiológicas educacionais, essas deveriam avançar no sentido de formar os educadores e pais para lidarem com as alterações de linguagem, e principalmente evitar que algumas progridam, possibilitando o desenvolvimento da criança, criando assim condições favoráveis e eficazes para que as capacidades de cada um possam ser exploradas ao máximo facilitando o desenvolvimento e a aprendizagem (SIMÕES; FERREIRA, 2002; LUZARDO; NERM, 2006; CARLINO; DENARI; COSTA, 2011). Zorzi (2000), Santos e Silva (2004), evidenciaram a importância de informar os profissionais que atuam com crianças sobre os problemas que podem alterar o curso evolutivo do desenvolvimento de linguagem, para que possam orientar e encaminhar as famílias das crianças que não estão evoluindo de forma satisfatória nos aspectos da linguagem. Como se percebe, a atuação do fonoaudiólogo na escola depende também da sua relação com a equipe pedagógica, do conhecimento do perfil da instituição escolar, bem como das trocas de informações com os professores, para que o trabalho desenvolvido atenda as suas reais necessidades. Face ao exposto, Cárnio et al. (2012) consideraram que o fonoaudiólogo deveria propiciar uma interação mais significativa com os professores, por meio de implementação de ações estruturadas em parceria com os mesmos e com os outros profissionais que atuam junto às escolas e às famílias. Atuo como fonoaudióloga da Secretaria Municipal de Educação de um município do interior de São Paulo, em um núcleo que presta atendimento a alunos matriculados em escolas da rede municipal, por meio de avaliações, intervenções fonoaudiológicas, acompanhamento do desenvolvimento dos alunos, orientações a pais e professores. Neste contexto, observo que os professores de educação infantil encaminham alunos com queixas referentes a alterações de linguagem e a fonoaudióloga é convocada a avaliar os escolares, diagnosticar os 2 3858

possíveis desvios no curso do desenvolvimento de linguagem e encaminhar a serviços de saúde. Analisando a demanda das escolas de educação infantil, a pesquisadora observou a necessidade de capacitar os professores, para que possam desenvolver atividades com vistas a promoção do desenvolvimento de linguagem. Este estudo teve como objetivo caracterizar a demanda fonoaudiológica das escolas de educação infantil e a seguir elaborar uma proposta de formação a professores. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA O trabalho foi desenvolvido no período de 2010 a 2011, participaram 180 atendentes de creche, 100 professores de pré- escola, 20 coordenadores pedagógicos, três profissionais da equipe técnica pedagógica da educação infantil de um município do interior de São Paulo. O estudo foi organizado em três etapas descritas no Quadro 1. Quadro 1- Etapas desenvolvidas para realização do trabalho ETAPA ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 1ª Etapa Caracterização da demanda fonoaudiológica da educação infantil, contato com o orientador pedagógico, oferta de curso de formação a educadores. a) Elaboração de ficha de encaminhamento b)avaliação fonoaudiológica dos alunos encaminhados das escolas, orientações as famílias, inserção dos alunos em terapia, acompanhamento do desenvolvimento dos alunos. b) Caracterização da demanda fonoaudiológica das escolas de educação infantil. c) Contato com o orientador pedagógico de educação infantil. d) Curso a atendentes de creche, professores de educação infantil, coordenadores pedagógicos, equipe técnica pedagógica. 2ª Etapa Reunião com a equipe a) Reunião com a equipe técnica pedagógica de educação infantil. 3 3859

técnica pedagógica de educação infantil, para apresentação das ações desenvolvidas e discussões das necessidades identificadas. 3ª Etapa Análise dos resultados e necessidades das escolas após a formação. b) Apresentação da caracterização da demanda fonoaudiológica, as ações desenvolvidas, discussão sobre a importância da promoção do desenvolvimento de linguagem nas escolas de educação infantil. c) Elaboração e distribuição de folders informativos a educadores sobre o desenvolvimento normal de linguagem, alterações de linguagem, sugestões de atividades para o desenvolvimento de linguagem. a) Análise dos encaminhamentos das escolas, avaliações dos alunos, identificação das alterações fonoaudiológicas mais frequentes e necessidades existentes após a formação. Fonte: Próprio autor Durante a primeira etapa foi elaborada uma ficha de encaminhamento para avaliação fonoaudiológica, na qual os professores deveriam preencher os seguintes dados: nome do aluno, data de nascimento, idade, série, escola, período, professor, motivo do encaminhamento, as alterações de fala e linguagem observadas nos alunos, intervenções desenvolvidas em sala de aula, presença de hábitos orais, contato com a família. No primeiro semestre de 2010 foram encaminhados das unidades escolares de educação infantil, 84 fichas de encaminahmentos para avaliação de alunos, na faixa etária de 3 a 6 anos, que tinham queixas referentes a linguagem. Esses alunos foram avaliados pela pesquisadora, sendo que 61 (72,61%) apresentou desvio fonológico; 14 (16,66%) desenvolvimento normal; 5 (5,95%) desvio fonético; 4 (4,76%) atraso de linguagem. Os pais dos alunos que apresentaram alterações receberam orientações individuais a respeito das alterações identificadas, bem como sobre prevenção de distúrbios de linguagem e como estimular o desenvolvimento de linguagem dos filhos no contexto familiar. Os casos que se configuravam como distúrbio de linguagem foram inseridos em grupos de intervenção fonoaudiológica e acompanhados pela pesquisadora. 4 3860

Após a análise das avaliações e identificação das alterações que ocorreram com maior frequência nos alunos, a pesquisadora entrou em contato com o orientador pedagógico de educação infantil, a fim de propor curso de formação a educadores, em Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), um direcionado a atendentes de creche e outro a professores de pré- escola (maternal, etapas 1 e 2 da educação infantil), coordenadores pedagógicos e equipe técnica pedagógica de educação infantil. O objetivo do curso foi esclarecer os educadores a respeito das etapas do desenvolvimento normal de linguagem, bem como orientá-los sobre a importância da prevenção de problemas de linguagem e audição, sugerir atividades para trabalhar a linguagem e habilidades auditivas em sala de aula. A formação ocorreu na Secretaria Municipal de Educação, participaram 180 atendentes de creche divididos em quatro turmas, 100 professores de pré escola divididos em duas turmas, 20 coordenadores pedagógicos e três profissionais da equipe técnica pedagógica de educação infantil. O curso direcionado a atendentes de creche, intitulado Prevenção de alterações de linguagem e audição, abordou os seguintes temas: considerações sobre o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem; hábitos orais deletérios; orientações para o desenvolvimento normal dos dentes, face e fala; orientações para a retirada da chupeta e mamadeira, tipos de trocas fonêmicas; sugestões de atividades para o desenvolvimento de linguagem em crianças de 6 a 18 meses; 18 meses a 3 anos; desenvolvimento da audição, etapas do desenvolvimento auditivoverbal; sinais de alerta para problemas auditivos; classificação da perda auditiva; diagnóstico precoce; intervenção precoce. O curso direcionado a professores e coordenadores pedagógicos intitulado Desenvolvimento da linguagem e audição, abordou os seguintes temas: considerações sobre o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem; hábitos orais deletérios; atividades para conscientizar as crianças sobre os prejuízos causados pelos hábitos orais; etapas de aquisição dos fonemas; tipos de trocas fonêmicas; sugestões de atividades para auxiliar o desenvolvimento da linguagem e prevenir problemas na escrita; desenvolvimento da audição; etapas do desenvolvimento auditivo- verbal; sinais de alerta para problemas auditivos; classificação da perda auditiva; diagnóstico precoce; intervenção precoce; atividades para estimular as habilidades auditivas. 5 3861

Durante a segunda etapa foi agendada uma reunião com a equipe técnica pedagógica de educação Infantil, da qual participou o orientador pedagógico, as coordenadoras pedagógicas e a psicóloga da educação infantil. O objetivo foi apresentar a caracterização da demanda fonoaudiológica das escolas de educação infantil, discutir com o grupo sobre as necessidades identificadas, apresentar as ações desenvolvidas, tais como: as orientações ministradas a pais, o curso de formação a educadores, as intervenções fonoaudiológicas e acompanhamento do desenvolvimento de linguagem dos alunos, a necessidade de implementar um trabalho em parceria colaborativa com os professores, com vistas a promoção do desenvolvimento de linguagem nas escolas de educação infantil. Nessa etapa, a pesquisadora elaborou e apresentou a equipe técnica, dois folders informativos aos professores. O primeiro abordando a etapas do desenvolvimento normal de linguagem, o segundo, as alterações de linguagem encontradas com maior frequência nos alunos de educação infantil, as etapas de aquisição dos fonemas e sugestões de atividades a serem desenvolvidas no contexto escolar, com o objetivo de promover o desenvolvimento de linguagem dos escolares. Por fim, na terceira etapa foi analisado os resultados após uma ano do curso de formação, por meio das fichas de encaminhamentos das escolas, avaliações de alunos, identificação das alterações fonoaudiológicas presentes nos escolares e das necessidades existentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou- se que em 2011 houve uma diminuição no número de encaminhamento de alunos por parte das escolas, em relação ao ano anterior. No primeiro semestre de 2010 foram encaminhados 84 alunos na faixa etária de 3 a 6 anos, observando-se as seguintes alterações: desvio fonológico: 61 (72,61%); desenvolvimento normal 14 (16,66%);desvio fonético: 5 (5,95%); atraso de linguagem: 4 (4,76%). No primeiro semestre de 2011, foram encaminhados 47 alunos na faixa etária de 1 a 6 anos, constando-se que 37 (78, 72%) apresentou desvio fonológico; 5 (10,63 %) atraso de linguagem; 5 (10,63%) desenvolvimento normal. Chamou a atenção o fato dos educadores encaminharem após a formação, alunos do berçário na faixa etária de 1 ano e que apresentaram 6 3862

atraso de linguagem, o que não ocorreu em 2010, talvez por falta de conhecimento dos educadores a respeito das etapas do desenvolvimento de linguagem infantil. A esse respeito, Zorzi (2000), Santos e Silva (2004), apontaram a necessidade de instrumentalizar os professores sobre os problemas que podem ocorrer no curso evolutivo do desenvolvimento de linguagem, para que possam orientar e encaminhar as famílias das crianças que não estão evoluindo de forma satisfatória. Foi possível perceber que apesar da diminuição no número de encaminhamentos em 2011, houve um número significativo de alunos da educação infantil que apresentaram desvio fonológico 37 (78,72%). Indrusiak e Rockenbach (2012) também constataram em um estudo conduzido com 60 pré- escolares de escolas municipais de educação infantil, na idade de 4 a 6 anos, uma alta prevalência de desvio fonológico. Outro aspecto a ser destacado, foi o fato de diminuir o número de encaminhamentos para avaliação fonoaudiológica, de alunos que apresentaram desenvolvimento normal de linguagem. Em 2010 foram encaminhados 14 alunos (16,66%) que os professores consideraram como tendo alterações de linguagem e após a avaliação foi constatado desenvolvimento normal. Em 2011 esse número diminuiu, os professores encaminharam 5 alunos (10,63%), por acreditar que tinham desvios de linguagem e após avaliação observou-se desenvolvimento normal. Talvez isso se deva porque os educadores obtiveram informações por meio do curso de formação e dos folder informativos, a respeito das etapas do desenvolvimento normal de linguagem e das manifestações presentes em alunos que apresentavam alterações de linguagem no curso de desenvolvimento normal. Observou-se por meio do monitoramento dos encaminhamentos das escolas de educação infantil, das avaliações e identificação de um número significativo de alunos com desvio fonológico, a necessidade do fonoaudiólogo implementar um trabalho em parceria colaborativa com os professores, enfocando os aspectos de promoção do desenvolvimento das habilidades fonológicas no contexto escolar. 7 3863

CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário estreitar os vínculos entre fonoaudiólogo e professor de educação infantil, a fim de refletirem juntos sobre ações a serem implementadas no contexto escolar, com vistas ao desenvolvimento de linguagem, bem como propondo estratégias que auxiliem o processo de aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, a construção de um trabalho em parceria colaborativa pelos profissionais dessas duas áreas, poderá viabilizar a elaboração e a execução de ações destinadas a propiciar melhores condições para a promoção do desenvolvimento dos escolares. Os resultados desse estudo evidenciaram um número significativo de alunos de educação infantil com desvio fonológico, sendo assim, é importante o fonoaudiólogo estabelecer um diálogo com a equipe técnica pedagógica a fim de discutir a necessidade de implementar um trabalho em parceria colaborativa com os professores, enfocando os aspectos de promoção do desenvolvimento das habilidades fonológicas no contexto escolar. Além disso, é necessário pensar em ações que propiciem a interação família e escola, para que sejam parceiras e se envolvam com as questões referentes a prevenção de desvios de linguagem e promoção do desenvolvimento de linguagem das crianças. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF: MEC; SEF. v.3, 1998. 269 p. BELLO, S.F.; MACHADO, A.C.; ALMEIDA, M.A. Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor: análise dos diários reflexivos. Revista Psicopedagogia, 2012, v. 29 n.88, p. 46-54. CARLINO, F.C.; DENARI, F.E.; COSTA, M.P.R. Programa de orientação fonoaudiológica para professores da educação infantil. Revista Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 15-23, 2011. 8 3864

CÁRNIO, M.S. et al. Escola em tempo de inclusão: ensino comum, educação especial e ação do fonoaudiólogo. Revista Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 249-256, 2012. INDRUSIAK, C.S.; ROCKENBACH, S.P. Prevalência de desvio fonológico em crianças de 4 a 6 anos de escolas municipais de educação infantil de Canoas RS. Revista CEFAC, São Paulo, v. 14, n. 5, p. 943-951, set/ out, 2012. LIMA, B.P.S.; GUIMARAES, J.A.T.L.; ROCHA, M.C.G. Características epidemiológicas das alterações de linguagem em um centro fonoaudiológico do primeiro setor. Revista Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 13, n. 4, p. 376-380, 2008. LUZARDO, R.L.; NEMR, K. Instrumentalização fonoaudiológica para professores da Educação Infantil. Revista CEFAC, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 289-300, jul/set, 2006. MARANHÃO,P.C.S.; PINTO, S.M.P.C.; PEDRUZZI, C.M. Fonoaudiologia e educação infantil: uma parceria necessária. Revista CEFAC, v. 11, n. 1, p. 59-66, 2009. OLIVEIRA, J.P. et al. O processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem e suas interfaces com a educação infantil. In: OLIVEIRA, J.P.; BRAGA, T.M.S. (Orgs.). Desenvolvimento infantil: perspectivas de atuação em educação e saúde. 1ª ed. Marília: Fundepe, 2009, p. 80-95..; ZABOROSKI, A.P. Reflexões sobre os avanços da atuação do fonoaudiólogo na escola. In: ZABOROSKI, A.P.; OLIVEIRA, J.P. (Orgs.). Atuação da Fonoaudiologia na escola: reflexões e práticas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013, p. 25-41. RONCATO, C.C.; LACERDA, C.B.F. Possibilidades de desenvolvimento de linguagem no espaço da Educação Infantil. Revista Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 215-223, 2005. SANTOS, R.M.; SILVA, E.L. Linguagem oral e fala no âmbito escolar: desmistificando as diferenças. Ciênc. Let., Porto Alegre, n. 35, p. 89-99, 2004. ZORZI, J.L. Aspectos básicos para compreensão, diagnóstico e prevenção dos distúrbios de linguagem na infância. Revista CEFAC, São Paulo, v. 2, p. 11-115, 2000. 9 3865