ACÓRDÃO Registro: 2015.0000723034 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GLEIDSON CARLOS SOUSA SILVA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E NEWTON NEVES. São Paulo, 29 de setembro de 2015. Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica
Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050 Comarca: São Paulo Apelante: Gleidson Carlos Sousa Silva Advogado: Laura Sarti Cortes VOTO Nº. 10.986 Apelação. Tráfico de entorpecente e resistência. Réu detido na posse de 20 porções de cocaína (6,2 gramas), sendo avistado na frente de uma escola municipal. Acusado que, no momento da abordagem, impediu a realização de busca pessoal, articulando chutes e socos no policial, tentando, inclusive, retirar-lhe a arma de fogo. Autoria e materialidade evidenciadas. Condenação mantida. Réu reincidente. Negado provimento. A MM. Juíza a quo, Dra. Cynthia Maria Sabino Bezerra da Silva, da 8ª Vara Criminal da Comarca Central da Capital, em sentença datada de 10/09/2014 (fl. 90), condenou Gleidson Carlos Sousa Silva como incurso no artigo 33, caput, c.c. o artigo 40, inciso III, ambos da Lei 11.343/06, às penas de 6 anos, 9 meses e 20 dias de reclusão e 680 diasmulta, em regime inicial fechado, e como incurso no artigo 329, caput, do Código Penal, à pena de 2 meses e 10 dias de detenção, em regime semiaberto. Irresignada, a defesa interpôs o presente recurso de apelação, arguindo, em sede preliminar, a nulidade da sentença por ter reconhecido a reincidência com base em certidão juntada aos autos em momento posterior ao Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050 2
interrogatório, violando, assim, o contraditório e a ampla defesa, notadamente por ter comprometido a confissão e a consequente redução das penas. No mérito, aduz a absolvição por falta de provas e a atipicidade do crime de resistência. Por fim, requer a redução das penas. Contrarrazoado o recurso, o órgão acusatório bateu-se pelo acerto do decisum; a Procuradoria Geral de Justiça opinou, em seu parecer, pelo improvimento da apelação, mantendo-se a r. sentença nos seus exatos termos. É o relatório. A preliminar aventada é descabida, à medida que, independentemente do momento em que a certidão de objeto e pé for juntada aos autos, o efetivo exercício de defesa não se compromete, à medida que, no início da ação penal, o documento é requerido pelo parquet, não sendo fator surpresa a nenhuma das partes. Logo, cabe ao patrono verificar a existência de antecedentes do acusado para traçar o melhor caminho a ser seguido, orientando-o, ou não, a confessar os fatos. Segundo consta da exordial acusatória, na data de 20 de maio de 2014, por volta de 19:00 horas, defronte a Escola Estadual Rafael de Moraes Lima, o denunciado trazia consigo, para fins de tráfico, a quantidade de 6,2 gramas de cocaína, distribuídas em 20 porções. Consta, ainda, na mesma data e circunstância, o réu se opôs à execução de ato legal de busca pessoal, mediante violência praticada Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050 3
contra o policial William Ceban Paixão Queiroz, competente para executá-lo. A policial militar Rosemeire, inquirida em sede judicial, relatou estar em patrulhamento escolar, quando avistou o réu em atitude suspeita, na frente de uma das entradas da escola municipal. Conforme a viatura aproximava-se, o réu tentava se afastar, até ser encurralado. O policial William desembarcou da viatura e, ao tentar abordar o acusado, foi agredido por ele, mediante socos e chutes. A revista pessoal só foi possível ser realizada após a chegada de reforço policial. As drogas foram localizadas nos bolsos da calça do acusado. No mesmo sentido as declarações do policial militar William Ceban, confirmando ter sido agredido fisicamente pelo réu, o qual, inclusive, tentou se apossar da arma de fogo do depoente. O acusado só foi contido com a chegada de reforço policial. Interrogado, o réu negou os fatos, afirmando ter sido jogado ao solo pelos policiais e algemado, sem saber o motivo. Negou a posse de drogas, assim como negou ter agredido o policial. A materialidade do crime de tráfico está demonstrada pelo auto de exibição e apreensão, bem como pelos laudos, provisório e definitivo, acostados aos autos. Igualmente evidenciada a materialidade do crime de resistência, conforme laudo de exame de corpo de delito acostado a folha 68, que atesta as lesões corporais de natureza leve sofridas pelo policial William. Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050 4
A despeito da negativa do réu, os depoimentos dos policiais militares, além de proferidos em sintonia, revelaram-se críveis, à medida que a dinâmica dos fatos foi, minuciosamente, relatada, sem contradições. A traficância está demonstrada, porquanto, a despeito da quantidade não ser relevante, inverossímil destinar-se 20 porções de cocaína ao próprio consumo, restando a posse da substância destinada ao comércio, realizado no complexo de escolas localizadas na região. O delito de resistência, malgrado os argumentos tecidos pela defesa, restou plenamente caracterizado, tendo o acusado impedido, mediante violência, a busca pessoal, golpeando o policial William com chutes e socos, tentando, inclusive, se apossar da arma de fogo. Vale constar que a autoridade policial não precisa de motivos concretos para proceder à abordagem de alguém. Mantenho a condenação nos termos da sentença. Irreprochável a dosagem da pena, não comportando nenhum reparo. As penas-base de ambos os delitos foram dosadas nos mínimos legais, em atenção ao artigo 59, do Código Penal. Na segunda fase, diante da reincidência (fl. 91), as penas foram agravadas à fração de um sexto e, na terceira fase, quanto ao crime de tráfico, presente a majorante Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050 5
constante do artigo 40, inciso III, da Lei 11.343/06, aumentaramse as penas à razão de sexto, tornando-as definitivas em 6 anos, 9 meses e 20 dias de reclusão e 2 meses e 10 dias de detenção. Em função da reincidência do acusado, o regime inicial fechado para o tráfico e o regime semiaberto para a resistência são mantidos. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo defensivo, mantendo-se, in totum, o decisum a quo. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº 0043515-47.2014.8.26.0050 6