O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA



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Transcrição:

Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul O TEXTO E O ENSINO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA Joiscemara Ferreira TEIXEIRA, Maria José da Costa DAMIANI (UFSC) Observar aulas de línguas estrangeiras para conhecer a realidade da sala de aula e como os professores e alunos se comportam nesse espaço no momento da produção/troca de conhecimento parece uma tarefa fácil a primeira vista, porém estar em um ambiente ao qual você não pertence, onde todos já se conhecem, e já existe um certo equilíbrio não é uma situação muito agradável. Mas passando o impacto da primeira "visita" você já não se sente tão E.T. dentro da sala de aula. Fiz minhas observações em duas salas de aula diferentes, com duas professoras também diferentes, uma turma de um colégio público e outra de uma escola particular, sendo que a primeira foi uma quarta fase do ensino médio (segundo ano) e a segunda uma quinta série do ensino fundamental. Além das diferenças que não precisam ser repetidas aqui entre a escola pública e particular e entre a idade dos alunos, e também das professoras, nas aulas observei que o foco dado à língua pelas professoras era bem diferente, isso me chamou a atenção. Cada uma dá mais importância a um aspecto da língua(gem), e, claro, a partir daí conduz sua aula de uma maneira diferente. Esse fato tem relação também com o período do ensino em que está cada turma, mas acredito, pelas minhas observações, que a postura das professoras é o fator decisivo na hora de ministrar as aulas. Enquanto na quinta série a leitura 1 é muito enfatizada, na quarta fase a produção de textos é mais realizada. De maneira nenhuma as aulas que observei foram só de leitura ou só de produção escrita, apenas esses pontos foram mais trabalhados nas aulas que assisti. Na turma da quinta série observei seis aulas, sendo que as aulas ocorriam uma vez por semana, nas segundas -feiras a primeira e a terceira aula do período matutino. A escola possui um bom espaço físico, há uma quadra de esportes, área livre, biblioteca, cantina, sala de informática, a escola atende desde o maternal até a oitava série, sendo uma turma de cada série, existe também uma programação de atividades extra classe como passeios à museus, feiras e teatros, produção de apresentações teatrais pelos próprios alunos, entre outras. Como a turma possuía somente oito alunos, minha presença ficou muito evidente na sala de aula. A professora me apresentou para a turma e passada a inquietação dos primeiros momentos a turma se comportou "normalmente". Nessas aulas, a leitura foi uma atividade constante, de várias formas realizada, pela professora, com o CD, individualmente em voz baixa, em voz alta, em grupo, em dupla. As leitura eram feitas em textos do próprio livro didático utilizado pela turma (Livro editado de acordo com as orientações dos PCNs). Segundo artigo de Tomitch (2002) supõe-se que os aprendizes de línguas com semelhanças ortográficas teriam mais facilidade na leitura, devido ao reconhecimento das letras, sílabas,... Ou seja, quanto maiores as semelhanças entre LM 2 e LE 3, sejam sintáticas, fonéticas, ortográficas ou semânticas, menos dificuldades o leitor teria na leitura em LE. Entretanto, pesquisas mostram que estas semelhanças entre LM e LE podem dificultar a leitura em LE, pois o leitor usará o aparato utilizado para a leitura em LM na leitura em LE. Aí começariam os problemas, pois o aparato para a leitura em LM não é adequado para a leitura em LE. O professor deve preparar os leitores para a leitura em LE, ajudando a trazer para a situação da leitura um aparato adequado que auxiliem os alunos nessa tarefa. A escolha de textos é um ponto importante nessa tarefa, por vários fatores, devem estar de acordo com o estágio de aprendizagem em que se encontra o aprendiz e devem despertar o interesse do aluno, entre outros. Nas aulas que observei pude comprovar que realmente os alunos utilizam o aparato de leitura da LM para fazer a leitura em LE, na entonação, no ritmo, etc. A professora, que já possui aparato necessário para fazer a leitura em LE, faz uma pré-leitura em voz alta e em um ritmo lento para os alunos, acredito que para dar uma orientação para a realização da leitura pelos alunos. No decorrer da leitura também são feitas correções na leitura dos alunos (pronúncia e ritmo), as vezes essas correções são feitas imediatamente, e em outras a professora, depois da leitura, relê o texto de forma correta e enfatizando as palavras que antes tinham sido lidas de maneira errada. Aqui se nota a importância do input correto salientado por Kra shen (Bohn, e Vandresen, (Orgs.). 1998) onde ele afirma que a produção oral ocorre quando o aluno se sente apto, e que a 1 Os PCNs orientam que o foco para o ensino da língua estrangeira no ensino fundamental deve ser a habilidade para aleitura. (p.56-60) 2 Nesse trabalho vou utilizar L M para representar Língua Materna 3 Da mesma maneira vou utilizar L E para Língua Estrangeira 1

incorreção na produção lingüística é característica dos primeiros estágios. A correção ocorrerá com o passar do tempo e a maior exposição à língua e dependerá da qualidade do input : quanto melhor e mais quantidade o aprendiz receber, melhor será sua produção. A professora proporcionou um input de qualidade antes, durante e após a leitura. No mesmo artigo, a autora ressalta a importância de se ter um objetivo para a leitura, pois quando o leitor não tem uma razão para a leitura, o aluno enfatiza o que não sabe no texto, lendo palavra por palavra e usando o dicionário muitas vezes.(op. cit. p. 148). Isso também foi observado na aula, pois em um dos três pequenos textos que foram lidos na sala de aula houve um "objetivo": os alunos teriam que descobrir o que um skatista gostava ou não de comer e quando ele comia. Os três textos tratavam de dieta alimentar. Nesse texto, a participação dos alunos foi maior e a leitura foi consciente. Eles não leram só por ler tinham que retirar dados da leitura, e retiraram. Também o assunto foi interessante para eles, pois falava de um esporte que eles tinham interesse. O professor deve orientar o foco da leitura, fazendo com que os aprendizes leiam com um objetivo em mente. E também mostrar que tipo de leitura quer que seja feita: por alto, receptiva, específica, etc, além de mostrar para que é feita esta leitura, e este tipo de leitura: para lazer, aprender algo, estudo específico, etc. (op. cit. p.148). A professora orienta o foco da leitura no momento em que pede, antes da leitura, que retirem determinados dados do texto. Os alunos já fazem a leitura com um objetivo em mente. Porém, não explica a razão para eles retirarem esses dados, se é para fazer uma comparação com o nosso modo de vida, nossa cultura, com o modo de vida e cultura dos personagens do texto, por exemplo. Dessa maneira eles fariam a leitura com um porque e um para que em mente. O texto não é explorado em todo seu potencial, poderia haver mais e diferentes interpretações do texto, uma maior contextualização. Os alunos deveriam ser mais motivados a dar suas opiniões e interpretações. Não ficar só nas perguntinhas de interpretação de texto que já estavam no livro didático. A partir do texto poderiam ser desenvolvidas outras atividades pedagógicas, cria-se um novo fim, re -escrever o texto e depois fazer a leitura, entre outras. Também através do texto realiza r o ensino da gramática, que não deve ser feito isoladamente (como era nessa sala de aula), deve-se tentar incluir o ensino de aspectos gramaticais que levem o leitor a melhorar sua leitura e que lhe auxilie a extrapolar o conhecimento adquirido para outros textos (ex. ensino de afixos,grupos nominais, etc. sempre contextualizados) Uma das leituras foi feita em dupla, e também uma entrevista que estava no livro didático, em uma das aulas também houve um trabalho em grupo. Atividade muito importante no aprendizado de uma nova língua "...somente através do trabalho em grupo nós alcançamos um maior engajamento dos estudantes, somente através do trabalho em grupo nós conseguimos aumentar substancialmente a quota de fala dos estudantes na aula de língua estrangeira..." ( Heidermann: 2002, p.177). A distribuição das carteiras também é um fator importante na sala de aula, a distribuição em círculos seria a melhor, porém a sala é organizada tradicionalmente, uma carteira atrás da outra, não permitindo aos alunos se verem. Mas nesta sala esse não é um grande problema, pois o número de alunos é pequeno, mesmo assim dificulta a integração e a comunicação entre os alunos. Como vimos, as aulas observadas possuíram muitos acertos e muitos erros, creio que os professores sempre tentam acertar, mas existe um certo receio à inovação, no caso desta professora esse receio é evidente, ela não quer mudar a maneira de dar aulas dita "tradicional", ficando sempre em posição de possuidora do saber, que vai transmitir um conhecimento. As aulas da quarta fase do ensino médio (segundo ano) foram observadas quatro aulas, duas vezes por semana, uma aula por dia as quartas e sextas- feiras na segunda aula do período matutino. A turma tinha trinta e dois alunos, como já foi mencionado, a observação foi feita em um grande colégio público da zona central de Florianópolis. O colégio possui um ótimo espaço físico, com quadras de esporte, cantina, biblioteca ampla, área livre, sala de informática, além de exposições de arte, e também oferece cursos extra curriculares de pintura, danças, línguas estrangeiras, etc. Mesmo a biblioteca sendo grande, o acervo em L.E. é pequeno. Uma sala de aula com trinta e dois adolescentes ao lado de uma das mais mo vimentadas avenidas de Florianópolis, num dos maiores colégios públicos do estado, em pleno final de ano, onde todos querem férias... esse é um local propício para entrar em contato com a realidade do sistema público educacional. Não é necessário cair na redundância que ministrar uma boa aula de L.E. nessas condições é uma tarefa muito difícil, ainda mais quando esses adolescentes já se conhecem há muito tempo. A "solução" encontrada pela professora para trabalhar nessa turma foi trabalhar com os "grupinhos" já formados pelos próprios alunos, e individualmente com quem não faz parte de um determinado grupo, que 2

são poucos alunos, pois todos participam de algum grupo (tem a sua "panelinha"). Ela conversa com os grupos um de cada vez e individualmente com alguns alunos. Nas aulas que assisti estava ocorrendo a apresentação de um trabalho dos alunos sobre o que os jovens latino americanos gostam ou não de fazer. Os grupos de três alunos liam sua pesquisa (geralmente feitas na internet) na frente da sala. A iniciativa de trabalhar com os alunos em grupo foi uma boa alternativa para a realização do trabalho, por motivos já citados aqui. Observei que a professora trabalha bastante com a produção de textos, o que foi comprovado depois em conversa com ela. Porém, o objetivo dessa produção de textual não é que os alunos construam o conhecimento da e sobre a língua, conhecer gêneros textuais, ou até mesmo exercitar sua criatividade, o objetivo apontado por ela mesmo é a avaliação dos alunos, se eles prestaram atenção na aula, ou nas apresentações além também de servir para manter eles ocupados em sala de aula mantendo assim a ordem. Os textos produzidos não são reavaliados pelos alunos, não há uma re-leitura dos textos pelos alunos. E as orientações para a elaboração dos textos não é realizada, não há uma discussão sobre o gênero que se deve escrever, sobre como escrever, para quem escrever, e porque escrever determinado texto. A professora geralmente coloca no quadro umas perguntas que orientam o texto, ou seja, elaborar um texto que responda a essas perguntas feitas pela professora. O único objetivo que os alunos têm é a nota, "... o que tu apresentou? é que eu tenho que escrever, prá não ficar sem nota e não lembro da tua apresentação..." frase dita por uma aluna, na hora da produção de um texto, representa bem a razão dela para fazer o texto. Desta maneira uma atividade tão produtiva como a produção escrita perde seu valor, não constrói conhecimento de mundo e da língua, pois poderia servir para desenvolver outras áreas da comunicação e aprendizado da língua estrangeira como aumento de vocabulário, fixação de regras gramaticais, etc. Depois das apresentações cada aluno teve que escrever um pequeno texto das apresentações, que poderia ser classificado como um resumo das apresentações, porém a professora simplesmente pediu que todos fizessem o texto para fechar a nota do semestre, quem não entregasse, iria ficar sem nota. Todos entregaram, porém nem prestaram atenção no que estavam escrevendo, e como o estavam fazendo 4. Nas duas turmas a relação professor/aluno era muito próxima. Os alunos, tinham voz em sala de aula, essa proximidade facilita a prática pedagógica, os alunos podem expressar suas opiniões; considerando que dificilmente eles davam alguma opinião sem que a professora solicitasse, principalmente na sala do segundo ano, onde os alunos não se demonstravam muito interessados na maneira como a aula estava acontecendo. já na quinta série alguns alunos davam opinião sobre as aulas, pediam uma certa atividade, faziam comentários. Em um ambiente assim o filtro afetivo 5 dos alunos está baixo e os alunos recebem de melhor maneira o input correto e suficiente, ou seja, aprendem de maneira mais eficiente. Na quinta série a professora segue os PCNs, inclusive o livro que ela utiliza é editado conforme as orientações dos mesmos, já no segundo ano a professora considera que os PCNs estão ultrapassados e distantes da realidade, pensa que elaboram novos programas sem fazer uma avaliação total dos programas/propostas. Ambas professoras apontam uma falta de consciência dos alunos para a importância da língua estrangeira, e também destacam a importância da participação dos pais na vida escolar dos alunos, que faz muita diferença no desempenho escolar dos alunos, e que geralmente deixa a desejar. A professora do segundo ano faz avaliações constantes, onde o peso da nota varia, ela não acredita nas avaliações, diz que o acompanhamento contínuo é melhor para avaliar os alunos, de repente está aí a razão pela qual ela trabalhe muito com a produção textual, a cada fim de uma unidade, há uma pequena avaliação. Um dado questionado na entrevista com os alunos foi a importância da gramática nas aulas de L.E, na turma do segundo ano, o interessante é que 76,92% dos alunos disseram que consideram importante, e na entrevista com a professora, ela falou que os alunos não gostam de gramática, não prestam muita atenção, uma grande contradição, onde se considera uma coisa importante mas não se valoriza. A professora 4 (...) não convém solicitar que um aluno escreva um texto em língua estrangeira sem um prévio conhecimento de seu processo de criação/produção. O professor deve considerar a análise de um tipo de texto e/ou conhecimento de mundo comofonte primária de informação. A articulação desses diferentes conhecimentos é relevante para a organização de todo o planejamento e permite ilumimar os caminhos a serem percorridos pelo aluno (PCNs p 100-101). 5 Segundo Krashen, quando os alunos estão com as barreiras psicológicas baixas, ou seja, sem ansiedade, sem enibição, com confiança, melhor será a recepção à aprendizagem. ( BOHON, H e VANDRESEN, P. (Orgs.)Tópicos de Linguística Aplicada. O ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis, Editora da UFSC,1998) 3

considera muito importante o ensino sistemático da gramática, nesse caso, as duas professoras tem a mesma opinião, o que também acontece na utilização do livro didático, que ambas acham importante para o aluno manter um contato com a língua estrangeira fora da sala de aula, e também para que todos tenham o mesmo material didático e sigam uma ordem nos trabalhos e exercícios, é mais prático. Segundo Krashen, deve-se tentar aproximar ao máximo os materiais didáticos aos interesses dos alunos (Bohn, e Vandresen, (Orgs.).1998). Essa tentativa não foi vista nas aulas que assisti, as professoras não tentaram trazer materiais diversificados e interessantes para a sala de aula. o mesmo autor também diz que os textos e exercícios devem ser motivadores, ou seja, o input deve ser interessante, além de compreensível; preencher lacunas e exercícios de repetição visando práticas de estruturas gramaticais, dificilmente serão interessantes e motivadores, no entanto, os exercícios realizados em sala foram em sua maioria repetições, preenchimentos de lacunas, etc, nenhum muito significativo. Tanto que na entrevista realizada com os alunos nas duas turmas houve o 'pedido' de atividades com a utilização de músicas, revistas, filmes, deixando a limitação do livro didático. Acontecendo dessa maneira, uma aula mais dinâmica e animada, que foi outro ponto citado pelos alunos. Nas aulas de lingüística aplicada à língua estrangeira foi muitas vezes debatida a importância da prática do professor refletir os objetivos dos alunos. Na aulas em que fiz minhas observações percebi que as professoras não tinham em mente qual era os objetivos de seus alunos, a preocupação maior era seguir o currículo. Talvez se o interesse sobre o que os alunos buscam nas aulas de língua estrangeira fosse maior, a participação dos alunos nas aulas seria maior, e as professoras obteriam melhores resultados em sua prática diária. O bom planejamento prévio das aulas é um ponto importantíssimo para os professores de línguas, afirma Heidermann (2002, p.177), deve-se acrescentar que ao planejar deve-se levar em conta também os objetivos dos alunos. As professoras em questão deixara m a desejar nesse sentido, pois o que pareceu é que elas ao planejarem sua aulas somente levaram em consideração seus próprios objetivos, não os objetivos de seus alunos. Por exemplo, nas apresentações realizadas no segundo ano, a professora disse que seu objetivo era que os alunos conhecessem o modo de vida dos jovens latino americanos, porém os alunos não se mostraram interessados nas apresentações. Ou seja, seu objetivo não foi atingido de forma satisfatória. Outro fato importante citado pelo mesmo autor é que o professor fala muito ou quase o tempo todo durante a aula, (op. cit. 173) fato que também foi comprovado durante as aulas, a voz que prevaleceu durante as aulas observadas foi a da professora, falando e perguntando muito, e quase sempre respondendo as próprias perguntas. O que deveria ser diferente, principalmente em se tratando de uma aula de língua estrangeira. O fato de as professoras já terem experiência, conta para a pouca reflexão feita sobre seus objetivos, os objetivos dos alunos, a maneira como ocorrem as aulas, os resultados obtidos em sala de aula, não há uma reavaliação sobre a prática pedagógica, a aula segue uma rotina já estabelecida e pronto. Também foi observada a falta de conhecimento das professoras sobre novas pesquisas, estudos e teorias sobre o ensino da língua estrangeira. Elas utilizam-se mais do de sua experiência em dar aula de língua estrangeira, suas própria vivências. Essas observações do comportamento de professores em sala de aula foram muito importantes, pois foram um contato com a realidade para alguém que nunca esteve nessa posição em uma sala de aula. Para que quando esteja em atividade tente sempre estar atenta para os objetivos dos alunos, para um bom planejamento prévio, tentar fazer com que os alunos falem mais, realizar a contextualização dos textos e outras atividades didáticas, entre outros pontos vistos nas observações, ou seja, aproveitar os bons aspectos e tentar não repetir os maus. Isso não é a certeza de que se irá ser um bom professor, mas que se está procurando o caminho certo para isso, pois não existe uma fórmula pronta para ensinar bem, pessoas muito diferentes podem ser bons professores por motivos diferentes. RESUMO: Este trabalho foi realizado a partir da observação de dez aulas de língua estrangeiras. Nessas aulas o texto constituiu a unidade básica para a realização da aula. Foi observado que as professoras ao realizarem suas respectivas atividades principais (produção escrita e leitura) não davam aos alunos um objetivo concreto para os alunos realizarem as atividades. Os alunos as realizavam para obter nota ou porque a professora mandou, etc. Não existia uma razão, um objetivo. Ambas atividades não apresentaram o resultado esperado pelas professoras, conclusão tirada por elas próprias. Reafirmando assim, que uma pessoa adquire uma língua estrangeira quando a aula a que participa atinge seus objetivos como aprendiz. Para isso as atividades devem ser motivadoras e interessantes e o material didático deve ser adequado ao perfil sócio-cultural e etário do aluno. 4

PALAVRAS-CHAVE: objetivos; material didático, atividades ANEXO. Pesquisa realizada com os alunos da quinta série: 1 - Qual a importância do ensino do inglês na escola? Aprender uma língua diferente - 28,57% Mercado de trabalho - 28,57% Viajar - 14,28% "Legal" - 14,28% Não responderam - 14,28% 2 - Você usa fora da sala de aula o que você aprende na aula de inglês? Onde? Não - 57,14% Sim - 42,85 em casa e na internet 3 - O que você espera da aula de inglês, habilidade na foram oral ou escrita? As duas - 28.57% Oral - 28.57% Pouco/nada - 42.85% 4 - O que você sugere (atividades) para deixar a aula de inglês mais interessante? Aula mais animadas - 28.57% Brincadeiras competitivas - 14.28% Aulas fora da sala - 14.28% Músicas - 14.28% Nada - 28.57% 5 - Você acha importante saber gramática para aprender a língua inglesa? Sim - 85.71% Não sabe - 14.28% 6 - Como é a abordagem da gramática na sala de aula? Satisfatória - 28.57% Brincando - 28.57% Legal - 42.85% 7 - Como é a sua participação nas aulas de língua inglesa? Não sei - 14.28% Ruim - 28.57% Boa - 28.57% Razoável - 28.57% 8 - Quais são suas maiores dificuldades nas avaliações da língua inglesa? Ortografia - 28.57% Tudo - 28.57% Vocabulário - 28.57% 5

Não sei - 14.28% Pesquisa realizada com os alunos da quarta fase: 1 - Qual a importância do ensino do espanhol na escola? Turismo - 30.7% Mercado de trabalho - 30.7% Língua muito conhecida/comunicação - 23.07% 2 - Você usa fora da sala de aula o que você aprende na aula de espanhol? Onde? Dificilmente -15.38% com amigos Não - 46.15% Sim - 38.46% na internet (bate-papo), filmes, férias, livros. 3 - O que você espera da aula de espanhol, habilidade na foram oral ou escrita? As duas - 53.84% Oral - 30.7% Escrita - 15.38% 4 - O que você sugere (atividades) para deixar a aula de espanhol mais interessante? Nada - 7.6% Dinâmicas interativas - 23.07% Autoridade da professora - 7.6% Atividades fora da sala - 15.38% Palestras com falantes nativo na língua - 7.6% Músicas, filmes, revistas - 23.07% 5 - Você acha importante saber gramática para aprender a língua espanhola? Sim - 76.92% Não muito - 7.6% Não - 7.6% 6 - Como é a abordagem da gramática na sala de aula? Ótima - 7.6% Boa - 30.7% Razoável - 38.46% Ruim - 15.38% Exercícios de fixação - 7.6% 7 - Como é a sua participação nas aulas de língua espanhola? Boa - 46.15% Pequena - 38.46% Razoável - 7.6% Ruim - 7.6% 6

8 - Quais são suas maiores dificuldades nas avaliações da língua espanhola? Nenhuma - 23.07% Poucas - 7.6% Gramática - 22.44% Escrever - 23.07% Vocabulário -15.38% Oralidade - 7.6% Verbos - 7.6% REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOHN, H e SOUZA, O. (Orgs.).Faces do Saber. Florianópolis: Editora Insular, 2002. BOHN, H e VANDRESEN, P. (Orgs.). Tópicos de Lingüística aplicada. O ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998. BRAIT, B. (Org.).Bakhtin, Dialogismo e Construção do Sentido. Campinas: Editora UNICAMP, 1997. COSTA, M. J. D., ZIPSER, M. E.... (Orgs.). Línguas: ensino e ações. Florianópolis: UFSC/NUSPPLE, 2002. PCNs Língua estrangeira: Secretaria Estadual de Educação de Santa Castarina. Florianópolis, 1996. 7