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Transcrição:

CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS LISIANE DE OLIVEIRA BRUSTOLONI (depoimento) 2012 CEME-ESEF-UFRGS

FICHA TÉCNICA Projeto: Garimpando Memórias Número da entrevista: E-261 Entrevistado: Nascimento: 15/05/1970 Local da entrevista: no local de trabalho da entrevistada Entrevistador/a: José Patrício Cunha Pinheiro Data da entrevista: 06/02/12 Transcrição: Carina Kaiser Miranda da Silva Copidesque e Pesquisa: Silvana Vilodre Goellner e José Patrício Cunha Pinheiro Total de gravação: 18 minutos e 42 segundos Páginas Digitadas: 7 Observações: A entrevistada realizou algumas alterações após a leitura da entrevista transcrita. Entrevista realizada para a produção da pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso de José Patrício Cunha Pinheiro intitulado A História da Maratona de Porto Alegre e sua Contribuição para a Popularização das Corridas de Rua na Cidade desenvolvido na Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Centro de Memória do Esporte está autorizado a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, este depoimento de cunho documental e histórico. É permitida a citação no todo ou em parte desde que a fonte seja mencionada.

Sumário Motivo que a levou iniciar suas atividades esportivas; Incentivos recebidos; Transição para corridas de longa distância; A primeira maratona; Organização da Maratona de Porto Alegre; O incentivo do público, patrocínios para a realização do evento; Participação das mulheres na Maratona de Porto Alegre.

1 Porto Alegre, 6 de fevereiro de 2012. Entrevista com a cargo do pesquisador José Patrício Pinheiro para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte. J.P. Bom dia Lisiane, eu gostaria que você dissesse seu nome completo, sua profissão e sua data de nascimento. L.B. Meu nome é, eu sou dentista e nasci em 15 de maio de 1970. J.P. Em Porto Alegre mesmo? L.B. Em Porto Alegre. J.P. Quando começou o seu interesse pelo esporte de corrida? Isso teve alguma influência de algum familiar ou de alguém que você tenha de inspiração para começar correr? Você praticou outros esportes antes da corrida? L.B. Não, na realidade eu sempre admirei as pessoas que corriam, mas eu nunca tinha corrido. O que me motivou a entrar na corrida foi a perda de peso; eu precisava perder peso em 2006, porque eu tinha tido uma gestação e foi uma coisa natural, comecei caminhando, e da caminhada uns trotezinhos e acabei correndo e gostei do que a corrida proporcionava. Ninguém me influenciou, não tinha ninguém na família. J.P. Qual era o conhecimento de corrida antes como esporte? L.M. Nenhum, não tinha nenhum conhecimento. Eu comecei fazendo caminhada ali no CETE 1 e um rapaz que treinava ali um dia me abordou e me perguntou se eu tinha interesse de conhecer a corrida. Foi o Arthur Kautzmann 2, ele tem um grupo de corrida e me perguntou: Olha poderias fazer melhor do que tu estás fazendo, eu tenho um grupo de 1 Centro Estadual de Treinamento Esportivo, administrado pela Fundação de Esporte e Lazer do RS (FUNDERGS) 2 Professor de Educação Física, graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul-PUCRS.

2 corrida. Eu nunca imaginei que eu pudesse correr. E eu disse: Não vou conseguir. E ele disse: Vai conseguir sim, a gente vai começar devagarzinho se tu tiveres vontade eu posso te dar algumas dicas, um tipo de um treino. Foi assim que eu comecei. J.P. E como se deu esta transição de caminhadas para a inserção aos poucos da corrida para correr maratonas, como se deu isso? L.B. Eu acredito que seria evolução natural, começa correr... Eu sempre tive facilidade, desde o início: em um mês e meio de corrida eu já fiz a minha primeira prova de cinco quilômetros, e ai depois eu passei para dez, ai tu começas a querer baixar tempo e quando vês que não consegue baixar muito o tempo dos dez, começa a procurar distâncias maiores. E foi assim, a vontade de fazer uma meia maratona e, quando eu fui me inscrever na meia maratona, não tinha mais vaga e acabei me inscrevendo na maratona, foi assim [risos]. J.P. Tivesses um começo diferente de outras pessoas que eu conheço. Mas me diga uma coisa: Como foi a sensação de ter feito a primeira maratona e a ter completado. L.B. Maravilhosa, eu terminei sabendo que era a primeira de muitas, que eu, ainda, ia querer fazer outra. Terminei completa, bem e feliz, foi perfeita para mim. A minha primeira maratona eu fiz em quatro horas e dez minutos, mas sem nenhuma dor, nada. J.P. De lá para cá, quantas maratonas tu já fizestes e tu participaste todos os anos da Maratona de Porto Alegre? L.B. Todos os anos de lá para cá eu participo, mas a Maratona de Porto Alegre eu só corri uma, as outras eu fiz meia-maratona. J.P. Quando começou tudo isso? Tu tens a data mais precisa? L.B. Em 2008, eu corri meia maratona na Maratona de Porto Alegre. Em 2009 eu corri a Maratona. Em 2010 eu corri meia-maratona e em 2011 eu não corri porque estava machucada. Então, a minha primeira meia maratona foi em 2008.

3 J.P. Agora um pouco sobre os eventos de maratona: O que tu achas do nosso evento, da Maratona de Porto Alegre? Provavelmente tu já deves ter corrido alguma maratona fora ou alguma maratona que não seja aqui em Porto Alegre. L.B. Eu acho que o evento é bem organizado. No entanto, eu acho que falta muito apoio, muito incentivo da própria população que não valoriza o atleta corredor de rua; as pessoas não saem à rua como em outras cidades, não fazem festa. A Maratona de Porto Alegre poderia ser melhor explorada no ponto de vista turístico, ia ser um grande evento, mas eu acho que do jeito que está ela nunca vai ser grande. J.P. Pelo pouco tempo que tu tens como atleta, o que tu achas da premiação para os atletas corredores da Maratona, premiação masculina e feminina, o que tu acha disso? L.B. Olha me agrada. Até porque, como eu não sou uma atleta de elite, todas as vezes que eu participei sendo meia-maratona ou a própria Maratona eu acabei conseguindo uma classificação no pódio em função de ter premiação por categoria e para a meia-maratona também premiar na geral. Acho que nesse aspecto ela é até bem organizada, com relação a valores, porque ela é muito pequena não chega a ter três mil atletas, eu acho que paga na proporção. Óbvio que não é uma grande premiação, talvez se tivessem mais atletas inscritos a premiação poderia ser maior e atraísse realmente corredores de ponta, mas acho que está bom. J.P. Você me falou e uma das respostas já deu a entender sobre a participação do público. Gostaria que você me falasse mais sobre esta participação, você acha que o público deve ser incentivado a participar. O que estaria faltando para que o público seja mais participativo nas nossas maratonas. L.B. Eu acho que está faltando realmente é isso, vincular a Maratona a um evento turístico. Fazer com que a população entenda que aquilo ali pode trazer lucro para a cidade e, na realidade traz, porque o corredor gasta, quem viaja para correr uma maratona sabe que a gente gasta, consome. Eu acho que a população não poderia achar que o corredor é um inimigo e buzinar, reclamar porque o trânsito fica trancado, eu acho que tinha que sair a rua para apoiar e incentivar. Quem deve fazer este trabalho, acredito que principalmente,

4 são as autoridades, pessoal da Secretaria do Turismo: começar a incentivar, fazer com que a população, a Prefeitura faça alguma coisa; eu acho que deve partir da cidade, do governo da cidade. J.P. No dia da Maratona ocorrem outras corridas simultaneamente ou corridas de revezamento. Você acha que isso ajuda a promover mais a Maratona ou atrapalha o andamento da Maratona em si para os atletas? L.B. Ajuda a promover, porque infelizmente como é uma maratona pequena... Acho que Porto Alegre - no momento em que não divulga tanto, não incentiva tanto - não teria condições de fazer só uma maratona. Eu acho que isso ajuda para que eles obtenham recursos, para que o evento aconteça. Mas eu acho que seria interessante para que ela fosse uma grande maratona e que fosse só a Maratona de Porto Alegre e que não tivesse essas corridas de revezamento; seria legal que fosse só Maratona, mas daí tem que ver a viabilidade disso. J.P. Comparando a Maratona de Porto Alegre com outras maratonas que tu já fizestes fora daqui, o que tu achas da organização das nossas provas comparadas a outras maratonas? L.B. É bem diferente, eu fiz duas maratonas fora: fiz em Orlando e fiz em Berlim, são mega maratonas, com vinte mil, quarenta mil participantes. Elas têm outra estrutura de organização para essa quantidade de pessoas, a nossa maratona é muito triste, porque tem trechos que a gente não vê ninguém, nem nas ruas, nem correndo... Dá uma sensação de solidão! J.B. E sobre a organização? L.B. Embora nossa maratona seja pequena, mas ela vem melhorando; eu noto que aumentaram os postos de água, eu lembro que isso já se comentava, que antigamente cada corredor era responsável por sua própria hidratação durante todo o percurso. Hoje em dia não: hoje tem todo um suporte, tem atendimento médico, ela é bem organizada neste sentido. Realmente o que eu noto mais é a falta de apoio da população, que nesse ano que

5 passou, eu pude acompanhar de bicicleta, era o meu marido que estava fazendo a Maratona e em diversos pontos em que o trânsito foi bloqueado, os motoristas buzinavam muito, reclamavam e mandavam os corredores irem para casa, ter o que fazer. Então, eu acho isso uma coisa muito ruim, essa atitude negativa da população, não tem a ver com organização. J.M Essa atitude seria uma falta de educação ou então a falta de uma cultura esportiva na cidade? L.B. Justamente, eu acho que de cultura esportiva, aqui infelizmente como em todo o Brasil, se não é futebol não é esporte. Eu acho que a cultura que tem que mudar, as pessoas tem que começar a ver que isso é uma coisa que está crescendo no mundo inteiro e está crescendo muito aqui. A corrida de rua tomou um vulto enorme, a população tem que começar a apoiar, todo mundo conhece alguém que corre. Daqui a pouco a população vai ter que entender que isso só vai trazer benefício para a cidade, não tem porque tratar como um problema. J.P. Em sua opinião, você acha que a Maratona de Porto Alegre ajuda a popularizar mais o movimento de corrida? Inclusive nós estamos aqui com uma enxurrada de eventos de corrida. Você acha que a Maratona, de certa forma, influenciou e é parceira neste sentido para poder aumentar o número de pessoas correndo? L.B. Eu acho que sim, porque a maioria dos corredores - uma grande parte pelo menos - entra neste circuito de corridas que agora acontece muito seguido aqui, ambicionando um dia fazer uma maratona. E é muito triste não ter isso na cidade; eu acho que a maratona ajuda porque é um item motivacional é uma coisa a mais para aquela pessoa que busca melhorar. Começa correndo nessas corridas de cinco, dez quilômetros daqui a pouco já começa, poxa, mas é legal fazer uma meia-maratona ou uma maratona. J.P. Tu já destes várias opiniões sobre esse crescimento da Maratona de Porto Alegre, esse participação do público. Tu saberias citar alguns fatores que poderiam contribuir para que a nossa Maratona tivesse uma participação maior tanto de atletas como também de público.

6 L.P. Para trazer atletas eu acho que teria que ser uma premiação maior; a premiação para atletas eu acho que é muito baixa, acaba não trazendo, não chamando atenção, ninguém vai sair de um outro país para vir para cá por isso. J.P. E sobre a participação feminina, você acha que tem um número razoável? Poderia ter mais? A mulher está participando bastante e tomando conta deste espaço na maratona? L.B. Eu acho que sim. Eu acho que ano a ano, cada vez mais mulheres participam, mulheres muito boas, e a tendência aumentar é cada vez mais este número de mulheres. Ontem até saiu na Zero Hora no Caderno Donna 3, um especial a respeito das corridas. Então, acho que isso é uma atitude boa, isso faz com que as pessoas se interessem pela corrida, principalmente as mulheres, porque é um esporte que só traz benefícios. A gente perde peso muito rápido, para mulher isso é um ponto favorável e maratona, então, o treino para a maratona é tudo de bom, acho que as mulheres estão muito interessadas. J.P. Nota-se que sempre houve reclamação sobre isso, que as mulheres são mais atarefadas, principalmente a mulher moderna, que tem seu trabalho fora, tem seu trabalho em casa e agora acrescentar mais o treino para uma maratona. Como conciliar tudo isso? L.B. Bom, eu sou suspeita porque eu sou mulher, mas eu vou te dizer que mulher consegue tudo que quer. A gente dá um jeito: acorda mais cedo ou vai dormir um pouquinho menos na semana; abre mão, às vezes, de algumas outras coisas, mas tempo não é motivo, tempo sempre se consegue para treinar. J.B. Para finalizar eu gostaria de perguntar o que tu achas desta Maratona ser organizada por um grupo de corredores, ou isso é indiferente, poderia ser qualquer organizador? L.B. Eu acho que o Clube de Corredores 4 seria o mais perfeito organizador possível; um clube de corredores, porque eles são corredores. Talvez eles devessem buscar patrocínios de peso, buscar realmente. Talvez isso fizesse a diferença: patrocínios de grandes 3 Suplemento do Jornal Zero Hora dirigido ao público feminino. 4 Clube de Corredores de Porto Alegre (CORPA), organizador da Maratona de Porto Alegre.

7 empresas, vários patrocínios para fazer a Maratona realmente funcionar e fazer um evento grande. Mas o Clube dos Corredores, eu acho, que é o melhor organizador possível. Porque são corredores, eles entendem as necessidades dos demais corredores; eu acho muito melhor tu pegares um corredor para organizar este evento do que uma pessoa que nunca correu na vida, mas eu acho que eles têm que ter parcerias. Falta talvez mais incentivo dos patrocinadores, não sei qual a influência que eles teriam para isso, mas eu acho que é patrocínio. J.P. Lisiane eu agradeço, tu tens mais alguma mensagem principalmente para as mulheres maratonistas? L.B. Eu te peço desculpas se eu não fui muito clara em alguns aspectos, mas a minha mensagem fica sendo de que correr é muito bom, independente se é para homem ou para mulher e fazer uma maratona eu acho que é o curso natural da coisa e todas as corredoras deveriam ao menos um dia correr uma maratona. [FINAL DO DEPOIMENTO]