Olhando o Aluno Deficiente na EJA Algumas Reflexões. Lúcia Maria Santos Tinós

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Transcrição:

Olhando o Aluno Deficiente na EJA Algumas Reflexões Lúcia Maria Santos Tinós ltinos@ffclrp.usp.br

Terceiro Recorte É preciso toda uma aldeia para educar uma criança É preciso toda uma escola para desenvolver um projeto de Educação Inclusiva A EJA é inclusiva? O Sistema? A Escola? O professor?

Terceiro Recorte Olhando uma Realidade Ano Número de Registros Nome dos alunos com deficiência Tempo de Freqüência na EJA Data de Nascimento Procedência Escolar antes da EJA Diagnóstico 2004 21 21 2 17 2005 34 2006 67 67 2 34 56 2007 51 51 28 23 16 47 Total: de cada categoria 173 139 30 25 50 120 NÚMERO DE REGISTROS Foram fornecidos, somente, registros de 2004 a 2007 e os registros estavam incompletos (faltam nome, diagnóstico, etc).

Terceiro Recorte A EJA pode se transformar em uma armadilha para esses jovens? Por que? Tempo de Permanência Meses 1 ano 2 anos 3 anos 5 anos 8 anos Muitos anos Número de alunos 3 alunos 7 alunos 7 alunos 7 alunos 1 aluno 1 aluno 2 alunos

Terceiro Recorte Por que jovens e adultos com deficiência procuram a EJA? Certificação Certificado 0% Não Certificado 100% Apenas dois alunos (0,42%) com deficiência conseguiram certificação, dos 480 alunos com e sem deficiência que concluíram o primeiro segmento da EJA, nos anos de 2004 e 2006.

Terceiro Recorte Para pensar! Maneira com que são feitos (ou não) e estão organizados (ou não) os registros referentes a EJA e, particularmente, aos alunos com deficiência. As propostas referendadas pela legislação estão longe de serem efetivadas, pois não se sustentam em informações concretas da realidade de seu alunado. Produção de sujeitos invisíveis veis que não possuem cor, gênero, faixa etária específica ou mesmo, singularidades na aprendizagem.

Quarto Recorte Algumas idéias (mal)feitas sobre a educação inclusiva. (Rodrigues, 2006) Quais são as maiores dificuldades em trabalhar com os jovens e adultos deficientes em sala de aula?

Quarto Recorte A educação inclusiva é para alunos diferentes Precisamos conceber a diferença como uma construção social, histórica e socialmente situada; Diferença é uma característica Humana; A diferença não é um atributo negativo; Muitos alunos sem a condição de deficiência não aprendem se não tiverem uma atenção particular ao seu processo de aprendizagem; A EI dirigese aos diferentes, isto é... a todos os alunos. E é ministrada por diferentes, isto é... por todos os professores.

Quarto Recorte A formação para a EI acontece durante o período de formação inicial Não acontece somente na formação inicial; Cabe a formação inicial sensibilizar para as questões da EI; É na formação continuada, diante da práticas, que se pode pensar em formar para EI; Considerar a formação acadêmica, mas também, a formação profissional EI é o comprometimento com a educação de todos os alunos e de toda a escola.

Quarto Recorte O conhecimento das diferenças é o aspecto principal do currículo de formação para a EI Cursos de Formação centrados nas deficiências (modelo médico); Muitos cursos explicitam as deficiências e as dificuldades, muitas vezes, centrados em modelos mais graves; O conhecimento dos diagnósticos servem para justificar a exclusão; O professor deve conhecer as diferenças para promover a inclusão; Os cursos devem oferecer conhecimentos que permita o professor a iniciar seu processo de pesquisa sobre melhores estratégias para que todos seus alunos aprendam; Existe a necessidade de cursos que pense em criar perfis criativos para o trabalho com a EI.

Quarto Recorte Não é possível desenvolver práticas inclusivas em classes com 25 ou mais estudantes O número de alunos por sala não é determinante de uma prática inclusiva; Não podemos pensar em práticas individualizadas e sim temos que propor práticas diversificadas grupos, pares, ensino por colegas, monitoria, etc.; O foco do professor inclusivo não é seu aluno deficiente. São TODOS os seus alunos.

Quarto Recorte É mais fácil encontrar qualidade nas classes homogêneas Classe homogêneas não proporcionam situações de divergência, negação e mesmo embate próximo a realidade social; Qualidade na Educação conceito inquestionável que tem o mesmo significado para todos? Classes heterogêneas são mais próximas para uma educação de qualidade.

Quinto Recorte Conhecemos os nossos alunos? Olhamos para eles ao invés de através deles? Quem é o João Cego? Quem é a Maria Surda? Quem é a Lúcia com deficiência física? Quem é o Pedro com déficit intelectual?