A assinatura do autor por SIGURD ROBERTO BENGTSSON:7622 <SBE@TJPR.JUS.BR> é inválida APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.263.323-3, DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CORNÉLIO PROCÓPIO - PARANÁ. APELANTE : ESTADO DO PARANÁ APELADO : Y.A.F. E OUTROS. RELATOR : DES. SIGURD ROBERTO BENGTSSON REVISOR : DES. RUY MUGGIATI APELAÇÃO CIVIL. SOBREPARTILHA. ARROLAMENTO SUMÁRIO. HOMOLOGAÇÃO DE ADJUDICAÇÃO SEGUIDA DE EXPEDIÇÃO DE CARTA DE ADJUDICAÇÃO SEM OITIVA DA FAZENDA PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO DO ENTE FAZENDÁRIO SOBRE QUITAÇÃO DO ITCMD QUE ANTECEDE À EXPEDIÇÃO DA CARTA. CONDIÇÃO QUE DEVE SER RESPEITADA. INTELIGÊNCIA DO ART. 1.031, CAPUT E 2º, DO CPC. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS DESTE TRIBUNAL E DO STJ EM RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO DE APELAÇÃO QUE SE CONHECE PARA, NO MÉRITO, DAR PARCIAL PROVIMENTO. I RELATÓRIO. Trata-se de Apelação nº 1.263.323-3, da 1ª Vara Cível da Comarca de Cornélio Procópio, interposta nos autos de sobrepartilha pelo Estado do Paraná da sentença de (fls. 73/74-TJ) que homologou a partilha, constando escritura pública de cessão e transferência de direitos a respeito de bem imóvel deixado por Hélio Fernandes Ibanhes em favor de José Paulo Página 1 de 8 1
Garcia Pedriali, determinando a expedição da carta de adjudicação. O Estado do Paraná interpôs apelação (fls. 87/91) sustentando que: i) necessária anuência da Fazenda Pública acerca da quitação dos débitos tributários; ii) a prova da quitação dos débitos tributários é condição para expedição do formal de partilha/carta de adjudicação; iii) realizado o fato gerador do imposto ITCMD, necessário o pagamento do tributo; iv) deve ser declarada a nulidade do ato de expedição da carta de adjudicação, suspendendo o feito até prova da quitação dos débitos de ITCMD. O apelado apresentou contrarrazões às fls. 98/102, insurgindo-se às razões da apelação, defendendo que a discussão acerca do pagamento do ITCMD deve se dar pela via administrativa. O Ministério Público manifestou-se a favor do desprovimento do recurso, fundamentando que a discussão referente às questões tributárias não têm espaço mno procedimento do arrolamento. É o relatório. II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO. Presentes os pressupostos de admissibilidade intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo ou extintivo) e extrínsecos (tempestividade e regularidade formal), conheço do recurso e passo à análise do mérito. Página 2 de 8 2
II. 1 MÉRITO. O apelante (Fazenda Pública) sustenta que não poderia ter sido determinada a expedição da carta de adjudicação sem prévia sua prévia oitiva para averiguação da quitação dos débitos tributários. Assiste razão ao apelante. De fato, a prova da quitação do ITCMD é condição para expedição de formal de partilha ou carta de adjudicação e, para tanto, necessária intimação da Fazenda Pública para informar se houve o pagamento. É o que preconiza o art. 1.031, caput e 2º, do CPC: Art. 1.031, CPC: A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos do art. 2.015 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts. 1.032 a 1.035 desta Lei. 2 o Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou adjudicação, o respectivo formal, bem como os alvarás referentes aos bens por ele abrangidos, só serão expedidos e entregues às partes após a comprovação, verificada pela Fazenda Pública, do pagamento de todos os tributos. Página 3 de 8 3
Note-se que a Fazenda Pública apenas se manifesta no processo de arrolamento após prolação da sentença de homologação, e isso se dá pelo único fato de se averiguar a quitação do débito tributário. Oliveira: Nas palavras de Sebastião Amorim e Euclides de Tenha-se em mente que o artigo 1.031 do Código de Processo Civil condiciona a homologação da partilha amigável à prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas. E o parágrafo 2º desse artigo, acrescido por força da Lei 9.280/96, reforça a posição da Fazenda, ao exigir que seja intimada a verificar o pagamento de todos os tributos, após o trânsito em julgado da sentença, para que, só então, se expeça formal de partilha ou carta de adjudicação. 1 Portanto, a homologação da adjudicação não pressupõe atendimento às obrigações tributárias acessórias referentes ao imposto, mas deve constar nos autos a prova do pagamento para que se expeça o formal de partilha ou carta de adjudicação. Representativo de Controvérsia: Neste sentido já manifestou-se o STJ em Recurso PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. ARROLAMENTO SUMÁRIO POST MORTEM. RECONHECIMENTO JUDICIAL DA ISENÇÃO DO ITCMD. 1 AMORIM, Sebastião Luiz. Inventários e partilhas: direito das sucessões: teoria e prática/ Sebastião Luiz Amorim, Euclides Benedito de Oliveira. 13.ed., rev. e ampl. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2000, p. 308. 4 Página 4 de 8
IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 179, DO CTN. (...) 9. Outrossim, é certo que, antes do trânsito em julgado da sentença de homologação da partilha ou adjudicação (proferida no procedimento de arrolamento sumário), inexiste intervenção da Fazenda Pública, a qual, contudo, condiciona a expedição dos respectivos formais, à luz do disposto no 2º, do artigo 1.031, do CPC, verbis: "Art. 1.031. (...) 2o Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou adjudicação, o respectivo formal, bem como os alvarás referentes aos bens por ele abrangidos, só serão expedidos e entregues às partes após a comprovação, verificada pela Fazenda Pública, do pagamento de todos os tributos. (Incluído pela Lei nº 9.280, de 30.5.1996)" (...). (REsp 1150356/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/08/2010, DJe 25/08/2010). Também sendo o entendimento deste Tribunal: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ARROLAMENTO SUMÁRIO - EXPEDIÇÃO DO FORMAL DE PARTILHA - PARCELAMENTO DO ITCMD NÃO EQUIVALE AO SEU PAGAMENTO - NECESSÁRIA QUITAÇÃO INTEGRAL DAS PARCELAS DO TRIBUTO PARA QUE SEJA DEFERIDA A PRETENSÃO DA PARTE - PRECEDENTE DESTA CÂMARA - DECISÃO REFORMADA. I- Formal de Partilha. Recolhimento do ITCMD como condição. Conforme o entendimento da Corte Superior formulado pela sistemática do art. 543-C do CPC, descabe "... no procedimento de arrolamento sumário, discussão a respeito do ITCMD ou da exigência de Página 5 de 8 5
documentos pelo Fisco. A homologação da partilha não pressupõe atendimento a obrigações tributárias acessórias relativas ao imposto sobre transmissão ou à ratificação dos valores pelo Fisco estadual. (...) Somente após o trânsito em julgado da sentença homologatória é que a Fazenda verificará a correção dos montantes recolhidos, como condição para a expedição e a entrega do formal de partilha e dos alvarás (art. 1.031, 2º, do CPC)." (STJ - EDcl no REsp 1252995/SP). II- Parcelamento do ITCMD. Necessária quitação integral das parcelas. No caso em mesa, muito embora tenham os agravados comprovado o parcelamento da obrigação fiscal imposta, enquanto não quitadas todas as parcelas, impossível a expedição do formal de partilha. Com efeito, o ato de parcelar não implica quitação do débito. RECURSO PROVIDO. (TJPR - 11ª C.Cível - AI - 944176-5 - Castro - Rel.: Gamaliel Seme Scaff - Unânime - - J. 20.03.2013). Ao contrário do que determina a lei processual, o magistrado quando da homologação da adjudicação, deixou de intimar a Fazenda Pública acerca da quitação dos débitos tributários e, de forma automática, determinou a expedição da carta de adjudicação, o que não se pode admitir. Desta forma, merece parcial reforma a sentença recorrida, ante a ausência de intimação da Fazenda Pública para que informasse eventual quitação do ITCMD e também pelo fato e ter expedido carta de adjudicação sem prova desta quitação. Página 6 de 8 6
Considerando o tempo já transcorrido da expedição da carta, não há mais como recolhê-la, de maneira que o melhor diante das peculiaridades do caso concreto, é condicionar o seu registro mediante o prévio recolhimento do tributo. II. 2 CONCLUSÃO. Conforme fundamentado nesta decisão, voto no sentido de conhecer do recurso para, no mérito, dar parcial provimento, condicionando o registro da carta ao prévio recolhimento do imposto, devendo o juízo a quo oficiar o Registrador Imobiliário para que obedeça essa decisão. III DISPOSITIVO. Acordam os Desembargadores da 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e dar provimento ao recurso de apelação interposto, nos termos do voto do Relator. Participaram da sessão e acompanharam o voto do Relator os Desembargadores Ruy Muggiati e Lenice Bodstein. Oficie-se o registrador. Página 7 de 8 7
Curitiba, 22 de abril de 2015. SIGURD ROBERTO BENGTSSON DESEMBARGADOR Página 8 de 8 8