A LEITURA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO.



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Transcrição:

A LEITURA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO. FÉ DE SOUZA FREITAS. (ESCOLA MUNICIPAL SÃO JOÃO.). Resumo O presente trabalho tem como objeto de pesquisa analisar e refletir a respeito dos processos de leitura e de letramento desenvolvidos na sala de aula e em meios populares, investigando as práticas sociais de leitura que fazem parte do contexto dos alunos e suas relações com as práticas desenvolvidas numa escola de periferia na cidade de Três Lagoas MS. Somos sabedores de que a escola é uma instituição social e como tal tem por finalidade promover a educação em consonância com a família, considerando os eventos de letramento ocorridos no contexto não formal. Para dar conta de tais objetivos propomos um estudo de caso onde os dados coletados serão transcritos, interpretados e analisados sob a perspectiva de uma metodologia de abordagem qualitativa. Como fonte de coleta de dados temos usado a observação in loco participante na casa dos alunos, investigando os instrumentos de leitura utilizados no cotidiano familiar e no contexto escolar. O registro no diário de campo; a análise dos aspectos que norteiam o trabalho do professor, por meio de entrevista e análise documental tais como: projeto político pedagógico, regimento escolar, projetos pedagógicos, fichas individuais de alunos, planejamento curricular, planos de aula, e outros documentos que podem surgir durante esta fase da pesquisa. Acreditamos que necessário se faz um estudo sobre o papel do educador e de seus processos para compreender a transformação da escolarização tanto dentro das escolas quanto nos meios populares, nos âmbitos intra e extra escolares, bem como as contribuições e a qualidade das interações entre família e escola no processo de letramento, uma vez que o contexto familiar está intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento da criança, considerando família e escola responsáveis pela transmissão cultural e construção de saberes. Palavras chave: leitura práticas de letramento, educação não formal. Palavras-chave: leitura,, práticas de letramento,, educação não formal.. A leitura e o processo de alfabetização e letramento Introdução: Os discursos sobre a qualidade da educação ocuparam espaços privilegiados nos debates educacionais principalmente a partir dos anos 1990, pois neste período já estão se acalorando as discussões em torno da nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que é a lei 9394/96. Após a implantação da LDB todo o ensino público, passou por profundas modificações, sendo que alguns dos temas discutidos foram a melhoria da qualidade na educação e reduções dos altos índices de analfabetismo, entre outros. Os estabelecimentos de ensino que oferecem educação infantil e ensino fundamental passaram por uma fase de extensa expansão em relação ao número de alunos das camadas populares tendo acesso às escolas. Foi necessário um olhar

direcionado à garantia e permanência deste aluno - com o intuito também de não sobrecarregar os índices de evasão escolar e repetência nos escolas públicas brasileiras. Ainda nos dias atuais a precariedade do sistema de ensino público, associada ao reduzido número de atendimento efetivo da população em idade escolar e acrescentando ainda uma outra parcela que resulta dos índices de evasão e repetência, instala dentro de nossas escolas o fracasso escolar. O INAF (Indicador Nacional de alfabetismo funcional, índice criado pelo instituto Paulo Montenegro com o intuito de medir os níveis de alfabetismo funcional da população brasileira de 15 a 64 anos) publicou os seguintes dados: O INAF Leitura e Escrita 2005 aponta que no Brasil há 7% de analfabetos, 30% de alfabetizados de nível rudimentar (conseguem localizar informações explícitas em textos muito curtos), 38% de nível básico (localizam informações em textos curtos a médios) e 26% de nível pleno (domínio completo das habilidades). Analisar criticamente estes dados necessita um olhar também direcionado para a formação desses alfabetizandos, considerando ser fundamental o seu acesso aos mais variados materiais impressos e outras fontes de informação sobre diferentes assuntos e/ou participação em eventos de letramento extra - escolares. Qualidade no ensino não pode ser medida, fundamentalmente em função do que cada estabelecimento de ensino oferece aos seus alunos. Neste contexto deve-se também fazer reflexões sobre o apoio que o poder público oferece a estas determinadas instituições e principalmente aos docentes, discentes, assim como também aos gestores e demais funcionários. É exatamente a questão da qualidade de ensino nos anos iniciais, e a alfabetização e o letramento em meios populares, que o referido texto pretende discutir. Somos sabedores que a escola é uma instituição social e como tal tem por finalidade promover a educação que é um direito de todos, em consonância com a família, e sendo assim, considero parte integrante do processo de construção da aprendizagem, de maneira significativa a valorização dos eventos de letramento ocorridos no contexto não formal. Assim, temos como objetivo em nossa pesquisa analisar e refletir a respeito dos processos de leitura e de letramento desenvolvidos na sala de aula e em meios populares, investigando as práticas sociais de leitura que fazem parte do contexto dos alunos e suas relações com as práticas desenvolvidas numa instituição escolar de periferia na cidade de Três Lagoas-MS. Buscamos com o trabalho investigativo em curso responder as seguintes questões: -Quais conhecimentos teóricos relacionados à alfabetização e ao letramento que sustentam a prática dos professores envolvidos na pesquisa? -Quais são as leituras que o professor realiza como investimento na sua própria formação?

-De que forma as famílias dos alunos das camadas populares contribuem com o processo de alfabetização e letramento de seus filhos? -Como o professor realiza práticas de letramento em sala de aula e seus registros? Nos limites deste texto iremos apresentar um pouco do referencial teórico com o qual estamos trabalhando e o percurso metodológico que pretendemos seguir. Discussão teórica O discurso da não participação dos pais na vida escolar dos alunos pertencentes às camadas populares, não exclui a instituição escolar da sua parcela de responsabilidade na dificuldade que ela tem em desenvolver sua função social, sendo esta parte essencial na continuação do processo de introdução das crianças ao mundo convencionalmente escrito. Temos conhecimento que esta tarefa não é tão fácil de ser desenvolvida, mas, como a educação também é em si um ato político, penso ser mais plausível fazermos a política em favor da educação das camadas populares, pois são estes que tem a educação quase que como única possibilidade de acesso ao conhecimento socialmente elaborado. Observar o sucesso na escolaridade entre os alunos das famílias de classes escolarizadas não muda a realidade do ensino das escolas públicas, nem serve de parâmetro para justificar o insucesso escolar dos muitos alunos provenientes das camadas populares, mesmo porque as condições de acesso, as oportunidades de conhecimento de outras culturas são bem variadas, assim como o investimento que os pais fazem na formação de seus filhos. Muitos alunos das camadas escolarizadas não precisam da escola como única referência para o acesso ao conhecimento. Isso faz diferença não no investimento em educação, mas na qualidade desta educação, isto, considerando que os pais de alunos das camadas populares também investem na educação de seus filhos, mesmo não sendo este investimento, exclusivamente, financeiro. Quando discutimos a questão do acesso das camadas populares ao conhecimento socialmente construído se faz importante discutirmos a questão da alfabetização e do letramento, tendo em vista que estes são fundamentais para acesso a outros conhecimentos. Atualmente o letramento é alvo de muitas discussões e interpretações, mas como já é de conhecimento de muitos foi na segunda metade dos anos 1980 que esta palavra surgiu nos discursos dos pesquisadores, tanto das ciências lingüísticas quanto da educação (ver Soares, 1998, p.15). Abordar o tema letramento e alfabetização nos anos iniciais do processo de escolarização requer conhecimentos dos conceitos de alfabetização e letramento e ainda de como a leitura pode auxiliar esses dois processos que se diferem, porém se complementam. A palavra letramento, intensifica a idéia de alfabetização, compreendendo não apenas a aprendizagem da tecnologia do ler e escrever. Segundo a pesquisadora Magda Soares (1998), letramento abrange o uso desse conhecimento, é o "estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita" (p. 47).

Ainda conforme a autora podemos fazer a seguinte diferenciação: "Alfabetização: ação de ensinar/aprender a ler e a escrever." "Letramento: estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita." (SOARES, 1998, p. 47). Atualmente, reconhecemos que garantir ao educando a aprendizagem escolar, o que outrora fora básico no processo de ensino e aprendizagem, tornou-se um desafio para os educadores, os quais, infelizmente, em sua maioria, tornam-se meros transmissores do modelo imposto pelo sistema padrão de ensino, o que por meio de diversas interpretações equivocadas, não promovem o letramento, ficando este letramento desenvolvido na escola distante, longe de atingir um nível qualitativo ou ao menos próximo do que se estabelece como nível adequado, que é o de formar seres humanos que saibam fazer uso da leitura e da escrita com competência e que a reconheçam como prática social e por conseqüência cultural. As experiências de letramento às quais as crianças têm acesso são bem variadas de acordo com o grupo a que elas pertencem. Contudo, as deficiências do sistema escolar na formação de cidadãos letrados não se dão somente pelo fato de o professor não ser um legítimo representante da cultura letrada, mas, pela associação deste aspecto a outros, inclusive a falta de um currículo que verdadeiramente capacite-o para o exercício efetivo do ensino. Conforme Elizabete D Ângelo Serra, (RIBEIRO, 2001) "A ausência de um entorno cultural variado e de qualidade é a parte obscura da educação oferecida à maioria" (p. 65). Fazendo um breve detour sobre a história da educação brasileira desde o seu surgimento percebemos que ainda hoje a educação é privilégio dos poucos que pertencem a camadas sociais mais elevadas, restando às camadas populares a esperança de construir por meio da educação, mas não só por ela evidentemente, um novo mundo, uma nova sociedade. Há tempos o homem já tinha a necessidade de aprender a ler e escrever, hoje então na sociedade moderna e capitalista esta necessidade se torna gritante sendo tão importante quanto o ato de se alimentar. Ainda restam muitas dúvidas sobre a qualidade da aprendizagem a que tem acesso aquela pequena fatia da população de camadas populares que tem condições de acesso e permanência na escola. A instituição escolar que oferece atendimento às crianças de educação infantil, hoje está alfabetizando e letrando seus alunos, oferecendo a eles condições de fazer uso social, dos conhecimentos que ela lhes ensina ou somente desenvolvendo o processo de aculturação do homem nas tradições e costumes do poder capitalista que temos atualmente? É no cotidiano da sala de aula que se desenvolve o trabalho pedagógico, local este onde o professor tem a possibilidade de executar de forma prática seus saberes, articulando o seu trabalho com os propósitos da educação. Considero que discutir as práticas de alfabetização e os eventos de letramento são dois fatores intrinsecamente relacionados, uma vez que a escola necessita da participação efetiva dos pais durante todo o processo de escolarização de seus

filhos. Visto sobre esta ótica, o ensino, a escola como local de reflexão e socialização dos conhecimentos socialmente acumulados pela sociedade precisa também conhecer, valorizar e desenvolver práticas que vão ao encontro das reais necessidades de seus alunos. Percurso metodológico pretendido Os autores Bogdan e Biklen (1988) descrevem a pesquisa qualitativa como tendo um ambiente natural como sua fonte de coleta direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Conforme expressa Lüdke e André (1986), a pesquisa qualitativa está relacionada à técnica de coleta de dados e ao tipo de dado obtido. (In: CORTELAZZO e ROMANOWSKI, p. 40). A diversidade de informações obtidas pelos instrumentos de coleta dos dados enriquece a análise e interpretação dos mesmos oportunizando melhor compreensão da realidade. As pesquisas qualitativas realizadas na área da educação utilizam-se muito do estudo de caso; o local selecionado para o desenvolvimento da pesquisa pode ter uma relação direta com o pesquisador. Neste caso, deve-se ter a preocupação para que o pesquisador não interfira na escolha dos investigados ou no direcionamento das análises dos dados obtidos. Após a coleta dos dados os mesmos serão transcritos para análise e interpretação sendo que esta deve acontecer de modo imparcial, sem a interferência do investigador, o que não impossibilita consulta em outras pesquisas semelhantes. O Centro de Educação Infantil (C.E.I.) selecionado para o desenvolvimento do projeto aqui exposto, representa a realidade educacional brasileira, com uma imensa desigualdade nos conhecimentos, na leitura e na escrita. Este C.E.I. foi fundado no ano de 1993 e no ano de 2006 a comunidade foi contemplada com a construção de um novo prédio para funcionamento desta instituição que desde a sua inauguração funcionava em um prédio que não pertencia à prefeitura municipal. Neste ano 2009 este estabelecimento de ensino oferece atendimento em Berçário, Maternal I, II, e III e Pré I. Atualmente o C.E.I. conta com 09 salas de aulas, 01 sala de direção onde também funciona a secretaria, 01 sala de coordenação, 02 salas de vídeo, 01 sala adaptada de recepção, na qual funciona a sala de professores e também sala de coordenação, 01 lavanderia, 01 cozinha. O centro não possui biblioteca, porém possui um acervo de livros catalogados, o qual todos os professores têm acesso. O pátio do C.E.I. é amplo, arborizado recentemente, sendo que neste momento ainda não se pode desfrutar das sombras das árvores. Para a segurança das crianças os portões são sempre trancados e conta-se com a presença de um porteiro; os espaços dentro da instituição são bem decorados e o número de alunos por sala, em média é de 25 a 28.

Parte de seus funcionários é concursada, e outra parte convocada, todos pela prefeitura municipal. Os sujeitos investigados nesta pesquisa são 03 professoras que trabalham na referida instituição escolar, atuando nas salas de Pré I que atendem a crianças na faixa etária de 04 a 05 anos. Este Centro de Educação Infantil localiza-se na periferia da cidade de Três Lagoas- MS e oferece atendimento às crianças de camadas populares, as quais em sua maioria são filhos de pais que trabalham no comércio local, nas empresas que atualmente estão se instalando no município, ou ainda de mães que são empregadas domésticas. Os procedimentos investigativos: A pesquisa aqui exposta será desenvolvida em três momentos, sendo: 1º momento - levantamento bibliográfico a respeito dos temas leitura, alfabetização e letramento. * Pesquisa bibliográfica: "se refere aos estudos investigativos que tem como base fontes de referência tais como livros e periódicos. Seu objetivo é auxiliar na análise e na compreensão de um tema, contribuindo para explicar um problema a partir das inferências teóricas obtidas nas leituras" (CORTELAZZO e ROMANOWSKI, 2007, p. 38). 2º momento - observação dentro da sala de aula nas aulas planejadas para leitura. * A observação é um estudo que se faz por meio de registros metódicos com planejamento e roteiro organizado que contemple as intenções da pesquisa. 3º momento - Aplicar questionários semi-estruturados aos sujeitos investigados, e posteriormente, análise dos dados obtidos. * O questionário é um instrumento utilizado para coleta de dados, com perguntas abertas, fechadas ou mistas, que é elaborado pelo investigador para ser respondido pelos sujeitos investigados. Ao se elaborar este instrumento de pesquisa o investigador deverá utilizar uma linguagem direta para que as questões sejam compreendidas e respondidas com clareza. O questionário deve conter alguns itens, tais como: Carta de consentimento e orientações para o seu preenchimento. Outro fator importantíssimo é a preservação do sigilo das respostas, sendo que o mais importante não é identificar os sujeitos investigados, importante também se faz incluir questões nas quais seja identificada a escolarização, formação profissional dos sujeitos investigados, sexo, tempo e atuação profissional. Compreendo que a formação relaciona-se com o trabalho de pesquisa e favorece o processo de ensino contribuindo, de maneira significativa, para o crescimento profissional, individual e coletivo tanto do educador quanto de seus alunos durante o processo de ensino e aprendizagem. Para investigar processos de leitura na sala de aula de alfabetização e refletir sobre a questão acima colocada, proponho-me a realizar uma abordagem qualitativa de pesquisa com foco no estudo de caso, que será realizada no ambiente escolar, especificamente, na sala de aula, um espaço dinâmico e complexo, gerador de

diferentes situações entre os alunos sujeitos deste contexto e o trabalho do professor, que é o fazer pedagógico. Lüdke e André (1986) justificam a escolha deste método para a pesquisa no campo educacional: "o estudo de caso é o que se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada" (p. 18). Argumenta André (2002) que a pesquisa possibilita entender a prática e constituir indicativos teóricos sobre o saber docente, além de contribuir com o processo de profissionalização e autonomia do professor (In: CORTELAZZO e ROMANOWSKI, 2007, p. 14). Os dados coletados serão transcritos, interpretados e analisados. Usarei como fonte de coleta de dados a "observação in loco participante no cotidiano escolar". Importante se faz mencionar que o presente trabalho aqui exposto é parte de uma pesquisa de mestrado que atualmente encontra-se na fase de levantamento teórico para posteriormente fazer a coleta e interpretação dos dados. Considerações finais Ao longo de nossas vidas conhecemos a realidade de muitos adultos que não tiveram acesso à escolarização, e agora em pleno século XXI - com tantas políticas públicas direcionadas à educação, investimentos, mesmos que estes sejam parcos, não podemos deixar de reconhecê-los - continuamos tendo altos índices de repetência e insucesso escolar. Não quero ter o sentimento de que a realidade educacional que temos atualmente seja responsabilidade exclusivamente do professor, contudo, também não posso eximi-lo de sua parcela de responsabilidade afinal sou professora, me sinto parte importante do processo de formação do ser humano e também do não sucesso daqueles que estão dentro das escolas, tendo acesso e oportunidade de permanência e infelizmente estando à margem do processo de construção da aprendizagem. Através da investigação teórica que estamos realizando podemos concluir até o momento que os pais das crianças oriundas das camadas populares fazem sim investimento na escolarização de seus filhos, cabendo à instituição escolar dar continuidade a este processo, contextualizá-lo e valorizar a contribuição dos pais conduzindo-os ao sentimento de responsáveis e parceiros da escola durante toda a trajetória escolar de seus filhos. Por falar em escolarização de camadas populares, não posso deixar de citar o grande educador Paulo Freire: "Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito que o homem pode realmente conhecer". Temos a consciência de que um caminho muito extenso ainda precisa ser percorrido, precisamos saber, dentre outros assuntos: o que e como se faz leitura na sala de aula? Para que se lê na escola? Essas inquietações não pairam por aí, discutiremos aspectos relevantes como a utilização e a qualidade do acervo que as crianças têm acesso, por exemplo.

Numa realidade em que a necessidade é sempre muito maior, as instituições e seus profissionais estão sempre trabalhando no limite de seus esforços, procurando fazer da educação instrumento de conquista, e de novos desafios. Referências Bibliográficas BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari K. A investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. CORTELAZZO, Iolanda Bueno de Camargo / ROMANOWSKI Joana Paulin, Pesquisa e Prática Profissional: Organização da Escola, IBPEX, 2007. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. RIBEIRO, V. M. (org). Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. http://educarparacrescer.abril.com.br/indicadores/materias_295174.shtml Acesso em 18/07/09.