XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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Transcrição:

PROFESSORES DAS LICENCIATURAS E OS DESAFIOS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: O QUE REVELAM AS PESQUISAS Resumo Maria de Cássia Passos Brandão Gonçalves 1 Este texto apresenta os resultados parciais de um breve levantamento da produção sobre docência universitária professores das licenciaturas no Grupo de Trabalho Formação de Professores da ANPEd, no período de 2005 a 2015. O estudo teve como objetivo identificar os principais desafios enfrentados pelos professores das licenciaturas no processo de ensino-aprendizagem, a partir da análise das pesquisas realizadas sobre a docência universitária. É parte integrante dos estudos em andamento no curso de Doutorado em Educação, na Universidade do Estado da Bahia UNEB. Com base na análise de conteúdos proposta por Bardin (2006), procedeu-se a análise dos textos que envolveu três etapas: seleção inicial dos textos; pré-análise e categorização. Na primeira etapa, seleção inicial dos textos, a coleta dos artigos nos Anais da ANPEd, disponibilizados online no site dos encontros ocorridos no período de 2005 a 2015, foi realizada a partir de seis descritores, como: docência universitária, professores formadores, pedagogia universitária, professores universitários etc. Na segunda etapa, pré-análise, com a finalidade de conhecer o material e constituir um corpus para o trabalho de pesquisa, realizou-se uma leitura flutuante dos textos, nos quais foram identificados o lócus e os sujeitos da pesquisa. Na terceira etapa, categorização, com a leitura atenta dos textos identificando os dilemas, dificuldades, desafios e tensões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, abordadas, discutidas e tratadas por cada autor, foram construídas as unidades de contexto e de sentidos, originando três categorias: 1) organização e funcionamento institucional; 2) preparação para a docência universitária e 3) aspectos didáticopedagógicos. Compreender os aspectos que se apresentam em cada uma dessas categorias é o desafio para avançar na investigação que concerne ao desenvolvimento profissional de docentes universitários professores de cursos de licenciaturas. Palavras-chave: Docência Universitária. Formadores de Professores. Desenvolvimento Profissional Docente. Introdução No Brasil, a implementação da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, coordenada pela recém-criada Diretoria de Educação Básica da CAPES, com a intenção de articular três vertentes: formação de qualidade; integração entre pós-graduação, formação de professores e escola básica e, também, produção de conhecimentos, tornou a formação de professores um dos temas mais importantes da agenda da política educacional. No entanto, as políticas e programas voltados para a valorização do magistério da educação básica e da sua formação, especialmente a pedagógica, não contemplam a formação dos formadores de professores que permanece sem valorização em suas agendas e, também, na maioria das IES (MACIEL e ISAIA, 2013). 9930

2 Vale salientar que embora alguns docentes universitários tenham cursado a licenciatura e possuam um embasamento teórico mais aprofundado na área pedagógica, as pesquisas desenvolvidas no campo da docência universitária, nos últimos anos, têm suscitado o aparecimento de dificuldades, tensões e desafios, alguns dos quais serão analisados na sequência deste texto. Organização e funcionamento institucional O modelo de universidade de elite encontra-se, ainda hoje, consolidado na cultura das instituições e, de acordo com as pesquisas, algumas de suas características são:: o isolamento e solidão dos professores e a valorização da titulação e produção acadêmica. Do conjunto dos trabalhos analisados (quinze), 9 (nove) fazem referência ao isolamento e solidão dos professores vivenciados nas instituições, devido a inexistência de espaços que possibilitem a interlocução e a troca de conhecimentos pedagógicos entre os docentes. Essa cultura institucional, além de reforçar o ensino como um trabalho individual e exacerbar a competição por posições de maior prestígio e poder no campo da pesquisa, tem provocado, muitas vezes, uma crise não só profissional, mas também pessoal, como revela a pesquisa de Maciel, Isaia e Bolzan (2009, p.10), ao relatar o sentimento de uma participante da pesquisa, frente à solidão pedagógica no enfrentamento das dificuldades do trabalho de sala de aula, apesar do dez anos de experiência: [...] o trabalho com meus alunos era muito pouco e eu não tinha com quem conversar sobre isso. [...] Entrei numa crise profissional e numa crise pessoal. Outros 5 (cinco) trabalhos evidenciaram a valorização da titulação e produção acadêmica, registrando a visão hierárquica que a pesquisa assume nas instituições ao criarem critérios distintivos institucionalizados em todo o sistema e práticas da universidade,os quais desvalorizam as atividades de ensino e acentuam o conflito entre ensino e pesquisa. Preparação para a docência universitária Historicamente, a docência universitária é marcada pela ausência de uma formação específica, as pessoas se tornavam professores com base na profissão paralela que exerciam no mundo do trabalho. Atualmente, isso tem se modificado em relação a ter experiência na profissão, mas permanece, conforme demonstram as diversas pesquisas, no que concerne à formação profissional. A preparação para a docência 9931

3 universitária, de acordo com os trabalhos analisados, tem como base: as vivências formativas oriundas da trajetória de estudantes da graduação; as contribuições da pósgraduação stricto sensu, mas, sobretudo, as experiências formativas constituídas no exercício profissional. Em 7 (sete) artigos, os pesquisadores salientam que as vivências de estudantes de graduação relacionadas às práticas dos bons professores, incidem no aprendizado da docência de modos distintos, tanto como inspiração como também nos modelos a serem seguidos. No que se refere às contribuições da pós-graduação stricto sensu, 4 (quatro) trabalhos apontam que os cursos de mestrado e doutorado não possuem uma preocupação com a formação pedagógica, o enfoque dos estudos está voltado para o desenvolvimento dos conhecimentos necessários à pesquisa. Entretanto, reconhecem que cursar disciplinas que abordem o processo de ensino e aprendizagem na universidade constitui numa importante contribuição para a inserção do professor nos estudos da área pedagógica. As experiências formativas constituídas no exercício profissional são destacadas em 10 (dez) trabalhos, referindo-se à prática de sala de aula e a conhecimentos compartilhados com colegas na universidade, à participação em projetos e em outras atividades como eventos, comunidades científicas e publicações a partir do seu ingresso na universidade. Apenas 2 (dois) trabalhos mencionam a experiência no magistério na educação básica. Aspectos didático-pedagógicos Nessa dimensão, os trabalhos analisados evidenciaram que a ausência de uma formação pedagógica, mesmo para os professores que têm uma formação acadêmica completa, ou seja, com titulação de doutorado e, também, a falta de experiência profissional no campo do magistério (LIMA, 2013), concorrem para uma insegurança em relação ao fazer docente. Assim, 6 (seis) trabalhos apresentam relatos de professores que demonstram as dificuldades enfrentadas na realização de atividades básicas da profissão como: planejamento, elaboração de avaliação e gestão da sala de aula. Nesses relatos, os professores revelam, além de um desconhecimento técnico acerca de como fazer essas atividades, a inexistência de um fundamento teórico que seja capaz de possibilitá-los a investir em metodologias inovadoras que proporcionem a transformação das práticas de ensino ainda centradas na transmissão de conteúdos e no oferecimento de respostas em lugar do incentivo à elaboração de boas perguntas. A heterogeneidade das turmas, a falta de motivação e a adequação do conteúdo disciplinar à área de formação do futuro professor, também, são citadas como grandes desafios que 9932

4 geram insegurança no fazer docente. Outros 7 (sete) trabalhos, fazem referência à concepção de ensino-aprendizagem embasada na formação inicial, compreendendo o ensino como reprodução e transmissão de conhecimento realizada por meio de aulas expositivas e/ou por demonstração. E, a aprendizagem como acumulação de conhecimentos resultante de um processo que foi metodicamente organizado e acompanhado pelo professor. Considerações Finais O conjunto desses desafios, alinhado a outras discussões evidenciadas no contexto das pesquisas analisadas, permite perceber como a formação de professores universitários é uma atividade assistemática (GARCIA, 1999, p.248). E, o seu desenvolvimento depende, como apresentado no trabalho de Maciel, Isaia e Bolzan (2009), de condições objetivas e subjetivas que favoreçam uma ambiência [trans]formativa capaz de promover a aprendizagem. Entretanto, vale salientar que nem todas as IES, como revelam, em outra pesquisa, as referidas autoras Maciel e Isaia (2013), possibilitam a construção dessa ambiência. Além disso, depreende-se ainda que a origem desses desafios encontra-se nos conflitos existentes entre uma formação inicial pautada no pensamento científico clássico, edificado nos pilares da ordem, separabilidade e razão (MORIN, 2000) e uma nova visão de mundo e educação, que requer novas formas de pensar, agir e expressar. A compreensão tecnicista do planejamento e a concepção determinista de ensino-aprendizagem, cuja transmissão e acumulação de conhecimentos são resultantes de um processo metodicamente organizado e acompanhado pelo professor, exemplificam a ordem depreendida de uma visão mecânica do mundo. De forma semelhante, o foco na especialização, domínio do conhecimento da área específica, a desarticulação entre ensino e pesquisa, marcada por uma hierarquização institucional, e a disjunção entre teoria e prática, evidenciada nos modelos de ensino da formação inicial que embasam/embasaram concepções de ensinoaprendizagem, ratificam a noção de separabilidade que se encontra subjacente a esses desafios. Nesse sentido, questiona-se: Como os professores das licenciaturas podem realizar essa travessia rumo à construção dessa ambiência [trans]formativa, capaz de pensar novas lógicas de ensinar e aprender? Esse certamente se configura em um dos desafios pulsantes na docência universitária. 9933

5 Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2006. GARCIA, C. M. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Editora Porto, 1999. MORIN, E.; LE MOIGNE, J. A inteligência da complexidade. Petrópolis: Vozes, 2000. Referências dos trabalhos analisados ANDRÉ, M. E. D. A. de et al. Os saberes e o trabalho do professor formador num contexto de mudanças. Anais 33ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2010. CAMPOS, V. T. B. Formar ou preparar para a docência no ensino superior? Eis a questão. Anais 35ª Reunião ANPEd. Porto de Galinhas, 2012. FERENC, A. V. F. Narrativas de professores universitários sobre seu processo de socialização profissional. Anais 30ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2007. ISAIA, S. M. de A.; BOLZAN, D. P. V; GIORDANI, E. M. Movimentos construtivos da docência superior: delineando possíveis ciclos de vida profissional docente. Anais 30ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2007. ISAIA, S. M. de A.; MACIEL, A. M. da R; BOLZAN, D. P. V. Educação superior: a entrada na docência universitária. Anais 33ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2010. LIMA, E. F. de. Análise de necessidades formativas de docentes ingressantes numa universidade pública. Anais 36ª Reunião ANPEd. Goiânia, 2013. MACIEL, A. M. da R.; ISAIA, S. M. de A. Pedagogia universitária: construções possíveis nas diferentes áreas de conhecimento. Anais 36ª Reunião ANPEd. Goiânia, 2013. MACIEL, A. M. da R; ISAIA, S. M. de A.; BOLZAN, D. P. V. Trajetórias formativas de professores universitários: repercussões da ambiência no desenvolvimento profissional docente. Anais 32ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2009. MARTINS, R. M. A planificação docente no ensino superior. Um estudo de caso. Anais 29ª Reunião ANPEd. Caxambu 2006. NASCIMENTO, M. das G. Os formadores de professores e a constituição do habitus profissional. Anais 30ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2007. POWACZUK, A. C. H.; BOLZAN, D. P. V. Atividades de produção da docência: a professoralidade universitária. Anais 34ª Reunião ANPEd. Natal, 2011. ROCHA, A. M. C.; AGUIAR, M. da C. C. de. Aprender a ensinar, construir identidade e profissionalidade docente no contexto da universidade: uma realidade possível. Anais 35ª Reunião ANPEd. Porto de Galinhas, 2012. SARAIVA, L. C. Representações sociais da aprendizagem docente por professores universitários. Anais 30ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2007. SCHNETZLER, R. P.; CRUZ, M. N. da; MARTINS, I. C. Marcas e tensões no desenvolvimento profissional de professores do ensino superior. Anais 37ª Reunião ANPEd. Florianópolis, 2015. SILVA, R. M. G. Interações e mediações significativas na formação continuada de docentes universitários. Anais29ª Reunião ANPEd. Caxambu, 2006. 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade, da Universidade do Estado da Bahia UNEB, Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FAPESB. 9934