173 EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM IDOSOS COMO FERRAMENTA DO CUIDADO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA RESUMO Cândida Maria Alves Soares 1 Nayara Ruas Cardoso 2 Sarah Caroline Oliveira de Souza 3 Simone de Melo Costa 4 Fabrícia Vieira de Matos 5 O presente estudo relata uma experiência de educação em saúde realizada por discentes e docentes vinculados ao Programa de Educação para o Trabalho em Saúde Vigilância em Saúde, para a promoção da saúde de idosos assistidos em uma Estratégia Saúde da Família (ESF), situada no município de Montes Claros MG. Essa experiência foi realizada durante os meses de fevereiro a junho de 2014 utilizando a estratégia de grupos de idosos. A estratégia permitiu trocas de saberes e experiências entre os participantes, consolidando o processo de ensino e aprendizagem acerca de hábitos saudáveis. Para os acadêmicos a experiência foi importante por permitir melhor compreensão da realidade e manejo de atividades educativas em grupo, no âmbito da saúde pública. PALAVRAS-CHAVE: ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA. EDUCAÇÃO EM SAÚDE. IDOSOS. INTRODUÇÃO O Sistema Único de Saúde (SUS), legitimado pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Orgânicas nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990, e nº. 8.142, de 28 de dezembro de 1990 tem como princípios doutrinários a universalidade, a equidade e a integralidade. O SUS possui como um dos seus alicerces a Atenção Primária à Saúde 1 Acadêmica do Curso de Graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES. 2 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem pela Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES. 3 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem pela Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES. 4 Doutora em Odontologia, Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. 5 Especialista em Educação Profissional na Área da Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz.
174 (APS) caracterizada como o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde (BRASIL, 2011). A APS aborda os problemas mais comuns na comunidade, oferecendo ações de prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e a qualidade de vida. Ela integra a atenção quando há mais de um problema de saúde e lida com o contexto, no qual o processo saúde-doença está inserido. Ela também influencia as respostas das pessoas aos seus quadros de morbimortalidade. É o nível que organiza e racionaliza o uso de todos os recursos, tanto básicos como especializados, guiados pela promoção, manutenção e melhora da saúde (STARFIELD, 2002). Para efetivação da APS são incluídas as ações que abrangem a prevenção e controle das doenças endêmicas, a imunização contra as principais doenças infecciosas, o tratamento apropriado de doenças prevalentes e atividades de educação em saúde (DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA, 1978). Nesse panorama, este estudo tem como objetivo relatar a experiência em atividades de educação em saúde, desenvolvidas em um grupo de idosos, no âmbito do Programa de Educação para o Trabalho em Saúde Vigilância em Saúde (PET- Saúde/VS) do Ministério da Saúde. METODOLOGIA O delineamento metodológico deste estudo se fundamentou em um estudo descritivo, do tipo relato de experiência sobre a realização de grupos de promoção da saúde voltado para idosos assistidos em três equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), situada no município de Montes Claros MG. A ESF, proposta pelo Ministério da Saúde (MS) em 1994, incorpora os princípios do SUS e está estruturada na APS. Tem por objetivo aumentar o acesso da população aos serviços de saúde, propiciando integralidade na atenção prestada. Pretende trabalhar com a responsabilização da equipe de saúde pela população adscrita, incentivando a participação popular, criação de parcerias intersetoriais e responsabilização da equipe pelo atendimento integral. Também engloba as práticas de educação e promoção da saúde, trabalhando os conteúdos de forma crítica e contextualizada (BRASIL, 1996). As atividades de educação em saúde foram desenvolvidas por docentes e discentes dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia da Universidade Estadual
175 de Montes Claros, vinculados ao PET-Saúde/VS do MS. As ações foram desenvolvidas durante os meses de fevereiro a junho de 2014, com encontros quinzenais aos sábados pela manhã. E intitulou-se a atividade de extensão como Saúde não tem Idade, no intuito de trabalhar com grupos conforme a demanda da população e temas que incentivam a busca pela saúde e qualidade de vida. O registro fotográfico foi efetuado a partir da autorização dos participantes, por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para divulgação da imagem neste trabalho científico. RESULTADOS E DISCUSSÃO O planejamento das atividades com os idosos iniciou-se a partir da demanda apresentada pelas equipes das ESFs, onde estavam sendo realizadas as atividades do PET-Saúde/VS. Os idosos foram convidados por meio de convites individuais distribuídos na Unidade e cartazes fixados em lugares públicos e estabelecimentos do bairro. Foram realizadas atividades socioeducativas, atividades físicas, dinâmicas e discussão em grupo. Os temas abordados englobaram assuntos pertinentes à faixa etária dos participantes e objetivou compartilhar o conhecimento e as experiências vivenciadas no ciclo de vida dos idosos. Na prática em saúde com o grupo de idosos foram abordados seis diferentes temas: Aprendendo uns com os outros (Figura 1), Dia Internacional da Mulher (Figura 2), Qualidade de vida (Figura 3), 5 ls da geriatria (Figura 4), Plantas medicinais (Figura 5) e, Hipertensão e diabetes (Figura 6). A educação em saúde é uma prática social que deve estar vinculada à problematização do cotidiano, com valorização da experiência de indivíduos e grupos sociais. Essa prática é representada como um processo capaz de desenvolver a reflexão e a consciência crítica das pessoas sobre as causas de seus problemas de saúde. Em adição, a educação em saúde enfatiza um discurso baseado no diálogo, de maneira que se passe a trabalhar com as pessoas e não somente para as pessoas (ALVES; AERTS, 2011). A relação de proximidade com os sujeitos, possibilitada pelo ato de cuidar, principalmente nas ações de promoção da saúde, eleva a atuação dos profissionais, referentes às questões além da doença. Essa aproximação entre profissional de saúde e sujeitos envolve aspectos que geram efeitos sobre o processo saúde-enfermidadecuidado (SOUZA et al.,2010).
176 Entre as atividades físicas realizadas pode-se citar o alongamento que permite melhorar a disposição durante o encontro e ainda o aprendizado a respeito da manutenção de uma vida saudável com exercícios físicos pertinentes para a idade. A atividade socioeducativa propiciou entretenimento, a partir de instrumentos musicais como o violão e resgate de músicas que embalaram a juventude dos participantes. Nas dinâmicas o grupo foi instigado a relembrar a história de vida, assim como alegrias vividas, que foram partilhadas com todos, propiciando melhor interação e aproximação entre os participantes. O educador não apenas educa, mas enquanto educa é educado em diálogo com o educando. Ambos são sujeitos do processo, visto que os homens se educam em comunhão (FREIRE, 2005). A prática de educação em saúde deve ser proposta como uma construção compartilhada, orientada para busca da interdisciplinaridade, autonomia e cidadania. A educação em saúde deve ainda privilegiar a interação da comunidade, em que os saberes diferentes possam transformar o contexto, no qual estão inseridos os indivíduos (ACIOLI, 2008). Nas discussões em grupos foram abordados temas que envolvem a faixa etária em questão, com assuntos que fazem parte do cotidiano. Assuntos que contemplam a prevenção de agravos e a promoção da saúde são importantes, pois sabe-se que a partir do processo de envelhecimento o organismo passa por alterações que compõem o processo fisiológico, o que pode acarretar o declínio da capacidade funcional e tornar o idoso frágil (FLORIANO et al., 2012). As práticas educativas devem ser pautadas em problemas relevantes observados no cotidiano, buscando unir o conhecimento teórico científico ao saber prático (SUDAN; CORRÊA, 2008). Essas ações são organizadas a partir da aproximação com outros sujeitos no espaço comunitário, em que se privilegiam as práticas sociais. A ação educativa deve basear-se no diálogo, nos saberes prévios dos usuários e na análise crítica da realidade. Em adição, deve-se propor uma educação que valoriza os saberes, o conhecimento da população e não somente o conhecimento técnico e científico (FALKENBERG et al., 2014). No final de cada encontro foram servidos alimentos, com representação de uma alimentação saudável, tais como suco natural, frutas, biscoitos, entre outros. Assim, permitiu-se um aprendizado vinculado à prática junto aos participantes do grupo de trabalho.
177 Para Figueiredo, Neto e Leite (2012) a educação em saúde deve ser utilizada de maneira dialógica e sistemática, inserindo os usuários em ações facilitadoras e que considerem a realidade local e suas necessidades. É importante que as práticas sejam realizadas para a população em geral, visando a promoção de saúde, e não centrada na doença, na perspectiva de romper com o paradigma biologicista e curativista. Conforme Silva, Dias e Rodrigues (2009), o empoderamento comunitário almeja a formação crítica-cidadã, de forma que as pessoas se tornem aptas a intervir de forma autônoma na realidade social. Para tanto, faz-se necessária a constante reflexão crítica acerca da prática educativa cotidiana, a fim de torná-la aplicável ao contexto dinâmico, no qual está inserido. Assim, o profissional pode levar seus clientes a intervirem nos ambientes que o cercam de forma crítico-reflexiva e transformadora, sendo que o conhecimento se apresenta como peça fundamental para elaboração do saber e não como ciência acabada. PRÁTICAS EM SAÚDE COM O GRUPO DE IDOSOS Figura 1. Grupo de Idosos Tema do Dia: Aprendendo uns com os outros. Fonte: Acervo pessoal dos autores. Figura 2. Grupo de Idosos Tema do Dia: Dia Internacional da Mulher.. Fonte: Acervo pessoal dos autores.
178 Figura 3. Grupo de Idosos Tema do Dia: Qualidade de Vida. Fonte: Acervo pessoal dos autores. Figura 4. Grupo de Idosos Tema do Dia: 5 Is da Geriatria. Fonte: Acervo pessoal dos autores. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização da educação em saúde junto ao grupo de idosos permitiu aos participantes e integrantes do PET-Saúde/VS trocas de saberes e experiências e funcionou como ferramenta do cuidado em saúde. Além disso, a atividade propiciou construção de novas amizades e incentivo à manutenção de hábitos saudáveis, o que contribui para a saúde no geral e melhora a qualidade de vida. Os participantes a partir da interação com outras pessoas compartilharam conhecimentos, tornando-se agentes transformadores do contexto em que estão inseridos, visto a possibilidade de transmitirem os assuntos abordados para a família, vizinhos e amigos. Foram encontradas algumas dificuldades para o desenvolvimento das atividades, principalmente em relação ao comparecimento sistemático dos participantes, além das datas dos encontros que se alternavam, o que poderia gerar problemas para memorização. A atividade de educação em saúde cumpriu seu papel em duplo sentido, ensino e aprendizagem, para idosos e participantes do PET-Saúde/VS. Por fim, a experiência relatada foi válida para os acadêmicos, por permitir uma formação profissional com melhor compreensão da realidade e o manejo de atividades educativas, por meio da estratégia de grupo, no âmbito da ESF.
179 REFERÊNCIAS ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública. RevBrasEnferm, v. 61, n. 1, p. 117-121, 2008. ALVES, G. G.; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 319-325, 2011. BRASIL. Conferência Nacional de Saúde. Relatório final da 10ª Conferência Nacional de Saúde, Brasília DF, 2 a 6 de setembro de 1996. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. 98p. BRASIL. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). DE ALMA-ATA, Declaração. Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde; 6-12 de setembro 1978; Alma-Ata; USSR. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. Declaração de Alma- Ata, p. 15. FALKENBERG, M. B.; MENDES, T. P. L.; MORAES, E. P.; SOUZA, E. M. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 3, p. 847-852, 2014. FIGUEIREDO, M. F. S.; NETO, J. F. R.; LEITE, M. T. S. Educação em saúde no contexto da Saúde da Família na perspectiva do usuário. Comunicação, Saúde e Educação, v.16, n.41, p.315-29, 2012. FLORIANO, L. A.; AZEVEDO, R. C. S.; REINERS, A. A. O.; SUDRÉ, M. R. S. Cuidado realizado pelo cuidador familiar ao idoso dependente, em domicílio, no contexto da Estratégia de Saúde da Família. Rev. Texto Contexto Enferm., v. 21, n. 03, p. 543-548, 2012. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 42ª ed. SILVA, C. P.; DIAS, M. S. A.; RODRIGUES, A. B. Práxis educativa em saúde dos enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, p.1453-1462, 2009. SOUZA, L. B.; TORRES, C. A.; PINHEIRO, P. N. C.; PINHEIRO, A. K. B. Práticas de educação em saúde no Brasil: a atuação da enfermagem. Rev. enferm. UERJ, v. 18, n. 1, p. 55-60, 2010. STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. 1. edição. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002. 726 p.
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