NÍVEIS DE ESTRESSE EM UM GRUPO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA

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Resumo NÍVEIS DE ESTRESSE EM UM GRUPO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA Eliza Penachi 1 - UTFPR Edival Sebastião Teixeira 2 - UTFPR Eixo: Educação e Saúde Comunicação Agência Financiadora: não contou com financiamento O trabalho é um dos resultados de pesquisa cujo objetivo é analisar a ocorrência de sintomas de estresse e de burnout em estudantes de engenharia de uma universidade pública sediada no Estado do Paraná. Os participantes da investigação são estudantes dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Engenharia de Computação. Para a coleta de dados foram utilizados 3 instrumentos: um questionário informativo focado em questões sociodemográficas, bem como em dados relativos à percepção do estudante quanto a aspectos didáticos e pedagógicos do curso frequentado e ao seu grau de interesse e envolvimento com o mesmo. Para a identificação do estresse, de suas fases e predominância de sintomas foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos ISSL. Por fim, para a coleta de dados relativos à síndrome de burnout foi utilizado o Malasch Burnout Inventory Student Survey (MBI-SS), validado para estudantes brasileiros. Os dados foram colhidos no início e no final do segundo semestre letivo de 2015. Os dados analisados neste artigo são relativos aos níveis de estresse encontrados em um grupo de 13 estudantes de engenharia civil, escolhidos aleatoriamente. Os resultados que obtivemos sugerem aumentos significativos nos níveis de estresse no decorrer do semestre letivo, sendo que no início do semestre 46,15% da amostra apresentou algum nível de estresse, enquanto que no final do semestre esse índice subiu para 76,92%. Os resultados demonstram que houve aumento no nível de estresse dos estudantes no decorrer do semestre, porém quanto às fases de estresse, os índices não ultrapassaram a fase de resistência na maior parte dos estudantes da amostra. Palavras-chave: Estresse. Estudantes. Engenharia. 1Mestranda em Desenvolvimento Regional pela UTFPR. Graduação em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). E-mail: elizapenacchi@hotmail.com 2 Pós-Doutor na Área de Ciências Humanas, Psicologia e Subárea: Psicologia Ambiental pela Universidade de Évora, UE, Portugal. Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (SPV). Mestrado em Educação. Graduação em Psicologia (UFPR, Curitiba-PR, 1994) Atualmente é Professor Associado da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). E-mail: edival@utfpr.edu.br ISSN 2176-1396

7987 Introdução A questão da saúde dos atores da educação, em especial no que concerne ao estresse entre estudantes e professores é tema recorrente na literatura científica. Com efeito, temos observado na prática cotidiana sinais e ouvido queixas de estudantes que sugerem fortemente a presença de diferentes níveis de estresse e de burnout entre estudantes de cursos de engenharia no campus Pato Branco, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O fisiologista canadense Selye (1965) é conhecido por ter sido o precursor do uso do termo estresse na literatura. Na perspectiva de Selye (1965), o estresse é compreendido como uma reação de adaptação do organismo mediante estimulação interna ou externa que rompe seu estado de equilíbrio. Nesse sentido, o estresse tem um valor biológico, posto que seja um indicativo da sanidade do organismo, isto é, de sua capacidade de reação adaptada às vicissitudes do cotidiano. Todavia, quando as capacidades de adaptação não são suficientes para restaurar o equilíbrio, a continuidade do agente estressor, ou seja, do estímulo que causa o desequilíbrio, pode levar a uma série de consequências danosas ao organismo. Para Selye (1965), o processo de estresse constitui-se em três fases. A primeira, denominada de fase de alerta, decorre a partir do momento em que o organismo é exposto ao agente estressor. Nessa etapa o organismo ativa suas defesas e avalia a situação. No caso de a situação estressora ser considerada inofensiva, o equilíbrio é restabelecido e a pessoa volta ao estado anterior. Porém, se a situação for avaliada como ofensiva, o acúmulo da tensão gerada pela tentativa de adaptação pode desencadear a segunda fase, a qual foi denominada pelo autor como fase de resistência. A fase de resistência caracteriza-se, dentre outros aspectos, por uma elevação no consumo de energia do organismo em seu processo de reação ao agente estressor visando à restituição do equilíbrio. Se nesse processo o sujeito obtém sucesso, isto é, se sua capacidade de adaptação supera a intensidade do agente estressor, o equilíbrio é restabelecido. Caso contrário, o processo de estresse avança para a terceira e mais danosa fase: a fase de exaustão. Na fase de exaustão pode ocorrer uma falha generalizada dos mecanismos de adaptação, a qual se manifesta pela intensificação de sintomas físicos e psíquicos comprometendo o desempenho do sujeito em suas atividades cotidianas, por um lado, e, por outro, deixando vulnerável a diversas doenças, inclusive as de origem infecciosa (LIPP e MALAGRIS, 2001). No que diz respeito às atividades cuja carga cognitiva é acentuada, podem ocorrer quedas sensíveis na capacidade de concentração e na memória. Se o organismo não

7988 consegue voltar ao estado de equilíbrio, a deterioração consequente à cronicidade da fase de exaustão pode levá-lo a morte. Estudos clínicos recentes (LIPP, 2014) permitiram acrescentar mais uma fase ao modelo trifásico de Selye. Trata-se da fase denominada pela autora dessas investigações como fase de quase-exaustão, a qual se situa entre a segunda e a terceira fase descritas por Selye (1965). Essa fase advém a partir do momento em que o organismo não consegue se adaptar ao agente estressor e caracteriza-se pelo aparecimento de doenças pelo comprometimento das defesas imunológicas, bem como por grande comprometimento da produtividade do sujeito (MALAGRIS e FIORITO, 2006; MALAGRIS et al, 2009; LIPP, 2014) em diversas áreas e abalo consistente da resistência física e emocional (MALAGRIS et al, 2009). O problema do estresse em universitários de graduação e de pós-graduação de vários cursos, em especial na área de saúde, tem sido objeto de variados estudos (GUIMARÃES, 2006; MALAGRIS, et al, 2009; AZAMBUJA, 2013; THOMAZ, ROCHA e NETO, 2011; CIA e YOSHIDA, 2012). Guimarães (2006) conduziu um estudo com 413 estudantes de medicina e encontrou a presença de estresse em 58,83% de sua amostra, sendo a incidência menor em alunos de primeiro ano e maior em alunos do quinto ano, cujas diferenças encontradas pela autora foram estatisticamente significantes. Quanto ao sexo, as moças estavam mais estressadas que os rapazes e quanto aos sintomas houve franco predomínio (88,19%) dos de natureza psíquica. Na pesquisa de Lameu, Salazar e Souza (2016) sobre a prevalência de sintomas de stress entre os estudantes, realizada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com 635 participantes. A prevalência de estresse encontrada foi de 50%. Houve maior ocorrência de estresse em alunos que moram em residências estudantis públicas ou privadas e que tinham menos contato com a família. Os autores sugerem a importância da convivência com a família como aliado no controle do estresse, pois identificaram uma menor ocorrência de estresse em alunos que residem e/ou visitam a família com maior frequência. Por sua vez, Malagris et al (2009) em sua investigação com estudantes de pósgraduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, identificaram que mais da metade dos estudantes pesquisados estavam estressados e que os índices de estresse mais elevados foram encontrados no Centro de Ciências da Matemática e da Natureza e no Centro Tecnológico, com 82,4% e 61% respectivamente; e os menores índices foram encontrados no Centro de Letras e Artes e Centro de Filosofia e Ciências Humanas (55%) e no Centro de Ciências Jurídicas e

7989 Econômicas e Centro de Ciências da Saúde, com 50%. Ou seja, valores bastante preocupantes em todos os espaços, estudantes e cursos investigados, ainda que se destaquem mais negativamente os centros de ciências ditas duras. Além dos elevados índices encontrados, os autores concluíram também que os estudantes estressados de sua pesquisa se encontram, em sua maioria, na segunda fase do estresse e que há mais mulheres que homens estressados (MALAGRIS et al, 2009). Azambuja (2013), em uma pesquisa longitudinal, avaliou um grupo de estudantes de psicologia buscando identificar variáveis intervenientes nos níveis de estresse e de qualidade de vida. Dentre as principais conclusões do estudo, destaca-se a confirmação de que a frequência ao ensino superior desencadeia uma necessidade de adaptação que pode gerar complicações que repercutem negativamente nos níveis de estresse e de qualidade vida. A pesquisa de Cia e Yoshida (2012) teve uma amostra de 85 universitários de diferentes cursos de universidade privada Pontifícia Universidade Católica- PUC - Campinas, dos quais 41 são mulheres e 44 são homens, dos cursos de Educação Física (n=38), Enfermagem (n=13), Engenharia Elétrica (n=8), Engenharia de Telecomunicações (n=9) e Medicina (n=17). Estudantes de enfermagem, medicina e engenharia elétrica apresentaram altos índices de estresse, respectivamente 77%, 70,6% e 62,5%. Os estudantes de Educação física apresentaram os menores índices de stress, 26,3%. Os autores creditam esses resultados às maiores exigências a que estão submetidos os estudantes de alguns cursos, em termos de dificuldades e responsabilidades ao longo do curso. Mondardo, e Pedon (2012) realizaram uma pesquisa afim de relacionar estresse e desempenho acadêmico. Com 192 universitários de uma Instituição de Ensino Superior (IES) da região noroeste do Rio Grande do Sul. Os resultados mostraram que a maioria da amostra (74%) possui estresse, não trabalha fora, são solteiros e não possuem filhos. Vale salientar que, a coleta de dados foi realizada 2 semanas antes de encerrar-se o semestre. E a análise estatística demonstrou não haver associação significativa entre estresse e desempenho acadêmico. Embora a maioria dos estudantes apresentem sinais significativos de estresse, este parece não estar, influenciando diretamente na vida acadêmica dos estudantes, os autores acreditam que o fato de não trabalharem ou terem filhos pode contribuir para que mantenham o desempenho, apesar do estresse.

7990 Especificamente no tocante a estresse em estudantes de engenharia, destacamos o estudo conduzido por Thomaz, Rocha e Neto (2011) o qual envolveu 84 estudantes dessa área em uma universidade sediada em Curitiba. Esses autores constataram que 61% de sua amostra apresenta estresse em algum grau. Dentre esses, 54% se encontram nas fases de alerta ou resistência, 5% na fase de quase-exaustão e 2% na fase de exaustão. Quanto aos sintomas, a exemplo do que ocorreu com estudantes de medicina (GUIMARÃES, 2006), o predomínio também foi dos de natureza psíquica. Um dado que chama atenção nesse estudo tem a ver com fato de seus autores terem identificado que dentre os estudantes estressados 59% estão fazendo estágio, 71% estão satisfeitos com o curso e 17% deles pensam em desistir do curso (THOMAZ, ROCHA e NETO, 2011, p. 84-85). Thomaz, Rocha e Neto (2011) sugerem um conjunto de fatores que consideram mais relevantes dentre os que podem estar ligados ao estresse nos estudantes pesquisados. Os autores em questão agrupam esses fatores do seguinte modo: fatores psicológicos ou pessoais; fatores relacionados aos primeiros anos do curso; fatores relacionados ao currículo do curso; fatores pedagógicos e estruturais e fatores socioeconômicos. Por sua vez, CIA e YOSHIDA (2012), encontraram resultados semelhantes aos de THOMAZ, ROCHA e NETO (2011) em estudantes de engenharia elétrica, sendo que os autores identificaram estresse em 62,5% de sua amostra, dos quais 50% estavam na fase de resistência e 12,5% na fase de alerta. O presente trabalho é um dos resultados de pesquisa cujo objetivo é analisar a ocorrência de sintomas de estresse e de burnout em estudantes de engenharia de uma universidade pública sediada no Estado do Paraná. Os participantes da investigação são estudantes dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Engenharia de Computação. A diferença deste estudo em relação aos mencionados antes consiste em que nesta investigação os dados são colhidos em dois momentos distintos, no início e no final de cada semestre letivo nos quatro cursos. Neste artigo são discutidos resultados relativos aos níveis de estresse encontrados em um grupo de 13 estudantes de engenharia civil, escolhidos aleatoriamente. Metodologia Para a coleta de dados foram utilizados três instrumentos: questionário informativo, inventário de sintomas de estresse e inventário e burnout. A coleta ocorreu em sala de aula no

7991 começo e no final do segundo semestre letivo de 2015. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A coleta de dados foi realizada em duas sessões, a primeira em 10 de agosto do ano de 2015 e a segunda três meses depois, em 16 de novembro de 2015. Através do questionário informativo (QI) foram obtidos dados sociodemográficos, tais como sexo, idade, estado civil, renda pessoal, se reside com a família, se reside na cidade onde estuda e a família em outra cidade, se reside sozinho na cidade onde estuda ou se a residência é coletiva, se acessa alguma política pública de auxilio estudantil, dentre outros. Com esse instrumento, ainda, foram colhidos dados relativos à percepção do estudante quanto a aspectos didáticos e pedagógicos do curso frequentado, bem como o seu grau de interesse e envolvimento com o mesmo. Para a identificação do estresse, de suas fases e predominância de sintomas foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos ISSL (LIPP, 2014). Esse instrumento tem sido de ampla escolha na investigação sobre estresse em adultos no Brasil, como se pode observar nos trabalhos de Guimarães (2006), Malagris e Fiorito (2006), Malagris et al (2009), Thomaz, Rocha e Neto (2011) Azambuja (2013). O ISSL é um instrumento composto por seis quadros, relativos às fases do estresse tal como descritas por Lipp (2014): alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão. O instrumento constitui-se por três quadros, o primeiro quadro relaciona os sintomas apresentados nas últimas 24 horas e contém 15 itens referentes à sintomatologia (12 sintomas físicos e 3 psicológicos), correspondentes à fase de alerta. O segundo quadro também traz 15 sintomas referentes aos sintomas apresentados durante o último mês (10 físicos e 5 psicológicos), e corresponde às fases de resistência e quase-exaustão. O terceiro quadro contém 23 sintomas, (12 físicos e 11 psicológicos) correspondentes aos sintomas apresentados nos últimos três meses, que caracterizam a fase de exaustão. A avaliação da fase de estresse se dá pelo escore bruto dos sintomas apresentados em cada quadro de acordo com os critérios de correção. Para coleta de dados relativos à síndrome de burnout foi utilizado o Malasch Burnout Inventory Student Survey (MBI-SS), validado para estudantes brasileiros (CARLOTTO; CAMARA, 2006) e para estudantes portugueses (MAROCO; TECEDEIRO, 2009). Esse instrumento é composto por 15 itens, dos quais cinco se referem à dimensão de Exaustão Emocional, quatro à dimensão Descrença e seis à dimensão de Baixa Eficácia Profissional (CARLOTTO; CAMARA, 2006). Esse tem sido o instrumento de escolha de muitos estudos

7992 pela sua ampla utilização no Brasil, a exemplo dos trabalhos de Carlotto, Nakamura e Câmara (2006) e Curz et al (2014). Neste artigo, como já dito, são discutidos dados relativos apenas aos níveis de estresse de um grupo de 13 estudantes do curso de Engenharia civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná do campus de Pato Branco. Foram incluídos na amostra os estudantes que estavam presentes e responderam ao questionário nos dois momentos, para que fosse possível realizar um comparativo dentre os mesmos sujeitos em dois momentos diferentes do semestre acadêmico. Os dados foram analisados de acordo com a estatística descritiva, em que se identificaram as frequências de estresse e seus respectivos níveis, conforme os objetivos apontados e a amostra foi aleatória e por conveniência. Resultados e Discussão Os resultados ora apresentados e discutidos referem-se aos níveis de estresse em um grupo formado por 9 sujeitos do sexo masculino e 4 do sexo feminino, com idades variando de 18 a 23 anos. Nenhum dos estudantes contribui com a renda familiar ou necessita trabalhar durante o curso. No momento da coleta de dados nenhum dos participantes fazia estágio curricular, nem participava de programas como PIBIC, PIBID ou de projetos de extensão acadêmica. A maioria dos estudantes não reside com a família, 62% da amostra, pois passaram a residir na cidade onde se situa a universidade para frequentar o curso de engenharia civil. No início do semestre 46,15% da amostra apresentou algum nível de estresse, enquanto que no final do semestre esse índice subiu para 76,92%. O índice encontrado na segunda coleta de dados é alto em relação aos índices encontrados na literatura, porém se aproxima de índices encontrados por Cia e Yoshida (2012) no curso de medicina e também se assemelha aos índices encontrados por Mondardo, e Pedon (2012) que coletaram dados no final do semestre letivo. Os resultados obtidos indicam que houve elevação nos níveis de estresse, 76,92% (n = 10) dos estudantes apresentaram aumento no período decorrido entre o começo e o final do segundo semestre letivo de 2015, conforme se observa na figura 1. Apenas 3 estudantes da amostra não tiveram os seus níveis de estresse aumentados entre o primeiro e o segundo momentos da pesquisa. O estudante número 1, que foi o único que teve os níveis de estresse diminuídos durante o semestre, pois apresentava estresse em fase de

NÍVEL DE ESTRESSE 7993 resistência (17%) no início do semestre e no final do semestre não apresentava mais níveis de estresse. Juntamente com os dois estudantes que se mantiveram sem estresse nas duas coletas de dados, estudantes 11 e 13. Os resultados apresentados na figura 1 também demonstram que há diferença quanto a elevação dos níveis de estresse segundo o sexo. No caso masculino, observam-se mudanças para maior. Contudo, excetuando-se o caso do sujeito 4, a variação nos demais rapazes foi menor quando comparada aos casos das moças, sujeitos 2, 6, 8 e 12. Esses dados sugerem que houve um aumento mais intenso de estresse nas estudantes do sexo feminino. Figura 1 - Apresentação a variação do nível de estresse dos participantes durante o semestre V AR I AÇ ÃO D O N Í V E L D E E S T R E S S E Inicio do semestre Final do semetre 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 50 58 42 44 25 33 17 25 17 0 8 8 8 8 8 8 8 0 0 0 0 0 0 0 M F M M M F M F M M M F M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 PARTICIPANTES Fonte: Os autores. No que concerne às fases de estresse, os resultados que obtivemos demonstram que na amostra analisada houve agravamento no decorrer do semestre letivo, conforme se observa na tabela 1. Tabela 1 Resultados da incidência de estresse e em que fases se encontram Fases de estresse Coleta Sem estresse Alerta Resistência Quase Exaustão Exaustão Início do semestre 53,84 7,70 38,46 0 0 Final do semestre 23,07 0 69,23 7,70 0 Fonte: Os autores.

7994 Entre os estudantes que apresentaram estresse na primeira coleta de dados, somente um estudante não estava na fase de resistência, porém apresentou níveis correspondente a fase de alerta. Já no segundo momento, um sujeito foi classificado na fase de quase exaustão (estudante 8), o que é mais preocupante. Todos os demais estudantes que apresentaram estresse neste momento estavam na fase de resistência. Esse achado é corroborado por outros estudos como os de Thomaz, Rocha e Neto (2011); Cia e Yoshida (2012); Mondardo, e Pedon (2012); Lameu, Salazar e Souza (2016), nos quais a maioria dos estudantes que apresentaram níveis de estresse encontravam-se na fase de resistência. O sujeito 8, é do sexo feminino, tinha 20 anos de idade na ocasião da coleta de dados e residia com a própria família. No início do semestre a estudante estava na fase de resistência e no final do semestre o quadro evoluíra para a fase de quase exaustão. Entre estressores relatados pela participante estão a dificuldade com disciplinas típicas da engenharia e problemas com a didática dos professores. Por outro lado, a mesma classifica como muito altos o seu interesse, envolvimento e satisfação com o curso, embora tenha dificuldades para manter o seu desempenho e acompanhar o ritmo das aprendizagens. Esses resultados são compatíveis com os encontrados na literatura, tal como nos estudos de Guimarães (2006); Lameu, Salazar e Souza (2016) e Thomaz, Rocha e Neto (2011). O questionário que utilizamos buscava identificar se os estudantes mantinham atividades regulares fora da universidade, atividades como a prática esportiva, participação em grupos de igreja, entre outras. Os resultados obtidos mostram que 53,84% dos estudantes praticam alguma atividade regular além da universidade, são eles os estudantes 3,4,5,6,11,12 e 13. Entre eles estão os que se mantiveram sem estresse nas duas coletas de dados, 11 e 13. E alguns dos que tiveram aumentos pouco expressivos, como os estudantes 3, 5 e 12. A atividade regular mais apontada pelos estudantes foi a prática esportiva. Por conseguinte, pode-se supor como hipótese para investigação mais aprofundada, a possibilidade do caráter preventivo ao estresse que têm as práticas esportivas e ou as práticas em grupos sociais fora do ambiente universitário. Com relação aos sintomas mais indicados pelos estudantes, os de tipo psicológico são de maior ocorrência comparativamente aos sintomas físicos, nas duas coletas, tal como se

7995 observa nos resultados obtidos por Guimarães (2006); Thomaz, Rocha e Neto (2011); Lameu, Salazar e Souza (2016) e Mondardo e Pedon (2012). Dentre os sintomas físicos encontrados, cansaço constante foi indicado por 12 participantes, ou seja, quase todos tiveram este sintoma experimentado na última semana. Foi frequente também a ocorrência de sensação de desgaste físico constante e mudança de apetite. Já no que diz respeito aos sintomas psicológicos foram encontrados com frequência sensibilidade excessiva (muito nervoso) e pensar constantemente em um assunto só. Sobre as dificuldades do curso, entre as mais citadas pelos estudantes, estão: falta de tempo para estudar fora da universidade (n=5) e Dificuldade de adaptação por morar longe da família (n=4). Entre os problemas mais citados estão: problemas com a didática dos professores (n=8); poucas disciplinas aplicadas nos períodos iniciais (n=7); excesso de trabalhos e provas (n=7) e carga horária excessiva em sala de aula (n=5). Os estudantes 11 e 13, correspondem aos que se mantiveram sem estresse nas duas coletas de dados, sobre eles, é possível observar que ambos são do sexo masculino, praticam atividade esportiva ou recreativa com regularidade, se descrevem com alto envolvimento com o curso, algo grau de satisfação e com a maior parte das expectativas sobre o curso atendidas. A maioria dos estudantes da amostra demonstrou altos índices de envolvimento e satisfação em relação ao curso, apenas um estudante manifestou baixo envolvimento, o estudante número 10. Este estudante não apresentava estresse na primeira coleta de dados e somente apresentou um discreto nível de estresse na segunda coleta. Por outro lado, o mesmo, também declarou incerteza quanto ao curso e interesse em mudar de curso. Assim, esses resultados, tal como os que foram obtidos no estudo conduzido por Thomaz, Rocha e Neto (2011), que demonstram que o envolvimento com o curso é um dos fatores importantes no processo de desenvolvimento do estresse. Isto é, quanto maior o envolvimento, maior a expectativa, e vice-versa, de modo que qualquer revés, tal como uma dificuldade de natureza didático pedagógica, como alguma frustração por não obter desempenho esperado, por exemplo, pode potencializar o surgimento do estresse. Considerações finais Os resultados obtidos neste estudo demonstram que os índices de estresse se elevaram muito no decorrer do semestre. No início do semestre 46,15% da amostra apresentou algum

7996 nível de estresse, enquanto que no final do semestre esse índice subiu para 76,92%. Assim, o aumento na incidência de estresse encontrado neste estudo parece mais elevado do os índices encontrados na literatura. O fato de a incidência de estresse ter se mantido, na maioria da amostra, no nível de resistência dentro do semestre parece em si um dado positivo. Todavia, o aumento expressivo na evolução dos casos de uma fase menos problemática para uma fase mais problemática, é um sinal de alerta para a importância de se desenvolverem ações preventivas, tendo em vista que os acadêmicos desta amostra ainda estão no terceiro período e que ainda têm um longo caminho a percorrer ao longo da graduação. É possível formular hipóteses explicativas para o alto índice de estresse encontrado e para o aumento dos níveis de estresse ao longo do semestre, o nível de exigência do curso, a grande quantidade de provas e trabalhos, a extensa carga horária, a falta de tempo, a adaptação longe da família, assim como a dinâmica dos professores, que apareceram como dificuldades encontradas no curso podem ser considerados fatores estressores. Pesquisas indicaram uma maior prevalência de estresse entre estudantes que não residem com as famílias, este pode ser um dos fatores que contribue para a existência de estresse, tendo em vista que mais da metade dos participantes não reside com familiares. Contudo, são necessários estudos mais abrangentes sobre o tema, para que se possa não somente estimar a prevalência de estresse, como também identificar os fatores que predispõem a ocorrência do estresse e sua influência na saúde mental dos estudantes. Esses estudos são muito úteis, uma vez que a identificação do estresse e, sobretudo, dos agentes estressores, pode suscitar o desenvolvimento de estratégias de prevenção a malefícios à saúde do estudante. REFERÊNCIAS AZAMBUJA, D.A.R. um estudo longitudinal acerca das variáveis inferentes na qualidade de vida e estresse de universitários do curso de psicologia. Anais do Conic-Semesp. Volume 1, Faculdade Anhanguera de Campinas. 2013. CARLOTTO, M.S.; CÂMARA, S.G. Características psicométricas do Maslach Burnout Inventory - Student Survey (MBI-SS) em estudantes universitários brasileiros. Psico-USF, v. 11, n. 2, p. 167-173, jul./dez. 2006.

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