FILOSOFIA COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA

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Transcrição:

COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA Pode-se afirmar que a prova não apresentou melhorias nem ficou aquém de suas versões anteriores. Os candidatos, sem dúvida, esperavam algo melhor, mais contextualizado, mais esclarecedor, mais conscientizante, mais politizante, mais próprio e adequado a sua visão de mundo. Mas, não devem ter ficado de todo surpresos, afinal a prova de Filosofia tem sido essa coisa insossa e descompromissada, conforme temos presenciado nesses anos. Decepcionante é pouco para comentar uma prova que, em princípio, deveria ser tão relevante para pelo menos dois importantes cursos, como Direito e Medicina. Doce ilusão! Continuamos esperando uma postura mais engajada com a necessidade urgente de politização e conscientização tão desejada para nosso ensino. Continuamos esperando uma postura mais adequada à dimensão do Ensino Médio e à aspiração de milhares de jovens que se dedicam aos estudos para ingressar nessa tão prestigiada universidade. Continuamos esperando que os professores elaboradores desçam das alturas de sua torre de marfim e passem a encarar de frente e responsavelmente a real situação do Ensino Médio e a necessidade urgente de que a Universidade ofereça uma bússola orientadora para os estudantes. Enfim, esperamos uma prova que valorize a reflexão criadora de otimismo, inteligência, valores e esperança e não uma prova medíocre e descontextualizada, conforme acabamos de presenciar. Professores de Filosofia do Curso Positivo. 1

Comentário preliminar para as questões 01 e 02 Para encaminhar uma resposta para estas questões, é importante considerar como Platão concebe a alma humana e sua estrutura tripartida: desejo, emoção e razão (ou medida). Assim, as opiniões que temos sobre as coisas se formam a partir da ilusão que nossos sentidos apresentam. Ou seja, as opiniões não são produções da alma racional, mas sim, produções da parte emotiva, que está fortemente ligada aos sentidos. A ilusão de ótica, por exemplo, não é uma falha da razão, mas sim, uma ilusão criada pela visão que não consegue compreender o que está por trás daquilo que vê. Olhamos para a Lua e a vemos bem pequena no céu (ilusão). Nossa razão, no entanto, nos informa que ela é muito maior que os olhos mostram. É na parte emotiva da alma, portanto, onde nascem todas as nossas opiniões (doxa). Segundo a classificação platônica da alma, essa parte não oferece conhecimentos seguros sobre a realidade, pois pode facilmente confundir as pessoas despreparadas racionalmente. Platão afirma: a razão como medida. As palavras peso, medida e cálculo estão todas dando sentido ao conceito de razão. 01. Segundo o texto apresentado, o sujeito que observa pode ser caracterizado por sua percepção sensorial, que lhe oferece conhecimentos relativos e inseguros, e por sua capacidade racional, que dá crédito à medida e ao cálculo e lhe apresenta o objeto como ele realmente é. 2

Um dos fundamentos da afirmação platônica de uma das partes ser melhor do que outra pode ser encontrada na expressão: Não afirmamos que a mesma parte [da alma] não pode ter, ao mesmo tempo, opiniões contrárias sobre as mesmas coisas? Assim, a parte emotiva da alma pode achar um mesmo objeto grande ou pequeno, enquanto que a parte racional, através da medida e do cálculo, tem a noção exata do tamanho deste mesmo objeto. A questão explora mais uma vez um excerto do capítulo XXV e a relação entre a natureza e as circunstâncias, destacando o conselho de Maquiavel de que o Príncipe deve adaptar-se às particularidades das coisas. 3

Comentário preliminar para as questões 4, 5 e 6. A prova escolheu um excerto da parte 6 da obra sem referenciar! e sem contextualizar, dando ao aluno unicamente a oportunidade de pensar somente em torno do excerto em si. Julgamos esta opção empobrecedora, visto que nossos alunos foram preparados para reconhecer e analisar contextos, textos, conceitos e relações sobre as principais questões apresentadas pela obra. A questão proporcionou tão somente uma referência restrita ao próprio texto. As escolas, do que se pode depreender do excerto, buscam a verossimilhança e não a verdade e procuram vencer e não contribuir para um resultado comum, o que, para Descartes, não ajuda ao seu propósito, daí ele desconsiderar essas opiniões. Bom, só pode ser as funções dos advogados e dos juízes. A relação entre eles se dá pela natureza de suas funções e pelo fato de pertencerem ao mesmo campo de conhecimento. A função dos advogados que a de defender um ponto de vista e a dos juízes que é a de equilibrar demandas diferentes, apresentando a melhor decisão neste sentido. No campo específico de Direito, nenhuma das funções esta relacionada com a verdade. Uma com o convencimento e outra com a paz social. Trata-se, no entanto e é evidente de uma metáfora. A pergunta é meio sem sentido e sem propósito. Uma pena! Como a questão anterior, o que seria necessário estudar para responder a esta questão? Quanta dedicação desperdiçada! E onde reside a objetividade desta pergunta? O que poderia responder? Que um advogado, acostumado a defender opiniões, pontos de vista, buscando o convencimento ao invés da verdade não saberia assumir a função de quem decide o que é verdadeiro, de colaborar para o projeto coletivo aos invés de defender um interesse parcial. Muito bem, mas e daí? 4

A primazia no julgamento dos objetos cabe a arte que visa ao uso. Aquele que usa o objeto conhece sua essência e sabe como dar as devidas orientações para que o fabricante faça o objeto da forma mais perfeita possível. 5

Sem dúvida, a elaboração das questões sobre Maquiavel são bem distintas das de Descartes, buscando explorar os aspectos mais relevantes da obra. Neste caso, os excertos referiam-se a convicção de que, para Maquiavel, os homens são volúveis, e o Príncipe deve levar sempre essa máxima em consideração para governar. 6

A noção de coerência é usada para demonstrar a impossibilidade de uma visão definitiva e acabada sobre o mundo, uma vez que este mundo não apresenta em si mesmo uma coerência entre as suas partes, afinal é o próprio homem que dá sentido ao mundo. A pretensa coerência que distingue o pensamento do sadio, adulto e civilizado do pensamento da criança, do primitivo e do doente, não coloca este adulto e civilizado numa posição privilegiada. Esta pretensa coerência coloca o adulto civilizado apenas numa determinada perspectiva diante da realidade. 7