Licenciamento ambiental: Distribuição de competências e responsabilidades

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Transcrição:

Licenciamento ambiental: Distribuição de competências e responsabilidades II Seminário Setorial Legislação Ambiental para o Setor Elétrico Édis Milaré 29.08.2011 milare@milare.adv.br www.milare.adv.br

I. LICENCIAMENTO AMBIENTAL 1. Razão da exigência A qualificação do meio ambiente como patrimônio público (art. 2º, I, da Lei 6.938/1981) ou bem de uso comum do povo (art. 225, caput, da Constituição Federal).

2. Base legal Lei 6.938/1981 (arts. 9º, III e IV, e 10); Const. Federal (art. 23, VI e único); Decreto 99.274/1990 (art. 17 a 22); Res. CONAMA 001/1986 (Procedimentos relativos a EIA-RIMA); Res. CONAMA 009/1987 (Audiências públicas); e Res. CONAMA 237/1997 (Sistematização do licenciamento ambiental nos três níveis de poder).

3. Instrumento da PNMA Lei 6.938/1981, art. 9º, IV. AIA como pressuposto. Não deve ser considerado como obstáculo teimoso ao desenvolvimento, nem objeto de barganha, dado que é patrimônio da coletividade e bem inegociável.

II. CRITÉRIOS PARA A FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO 1. O critério legal (competência cumulativa) Funda-se no alcance dos impactos ambientais : C.F., art. 23, VI. Lei 6.938/1981, art. 10 e 4º (com redação da Lei 7.804/1989). Dec. 99.274/1990, arts. 17 a 22.

2. O critério da Res. CONAMA 237/1997 (competência única) Critério misto: abrangência do impacto, localização, natureza ou dominialidade do bem. Único nível de competência (art.7º) = inconstitucional e ilegal por usurpar à Constituição competência que esta atribui aos entes federados e por afronta aos arts. 8º, I e 10 da Lei 6938/1981

3. O critério do PLC 12-B/2003 (Câmara dos Deputados) e 1/2010 (Senado Federal) Referenda o critério misto alvitrado pela Res. 237/ 1997 (arts. 7º, 8º, 9º e 10).

4. A questão da competência supletiva Ocorre em duas hipóteses: (i) impactos significativos de âmbito nacional ou regional, e (ii) não observância de prazos legais. Confira-se: 4.1. Lei 6.938/1981, art. 10, 4º : Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente- SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis- IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (...) 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis- IBAMA o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional..

4.2. Res. CONAMA 237/1997, art. 16: Art. 16. O não cumprimento dos prazos estipulados nos arts. 14 e 15, respectivamente, sujeitará o licenciamento à ação do órgão que detenha competência para atuar supletivamente e o empreendedor ao arquivamento de seu pedido de licença. Competência supletiva não significa competência corretiva, pois a Constituição, ao prever a competência comum em matéria ambiental, não pretendeu transformar a União em fiscal dos Estados e Municípios e viceversa. Ao contrário, o objetivo é que eles ajam em harmonia, formando um sistema.

III. RESPONSABILIDADES: 1. O Senhor do licenciamento O Poder Público é o senhor do policiamento das questões ambientais; o Ministério Público é o legitimado processualmente para mover as medidas judiciais, mas não é o senhor administrativo do licenciamento ambiental (STJ, REsp. nº 763.377/RJ, rel. Min. Francisco Falcão, 1ª T., DJU 27.08.2007). 2. As recomendações Ministeriais Lei 8.625, de 12.12.1993 (LONMP), art. 27, IV; Lei Complementar 75 de 20.05.1993 (LONMPU), art. 6º, XX. 3. A IN IBAMA 11, de 22.11.2010 Comissão de Avaliação e Aprovação de Licenças Ambientais.

IV. PROPOSIÇÃO: Instituir um mecanismo permanente de consulta entre os órgãos do SISNAMA no começo do procedimento (troca de informações para decisão sobre competência); e Estimular os convênios de cooperação entre os órgãos estaduais, municipais e o IBAMA (buscando definir procedimentos para o licenciamento conjunto de forma a evitar conflitos e ampliar a cooperação).